quarta-feira, 14 de maio de 2014

Capítulo 2 - Influência da organização militar na Administração: De Sun Tzu a Henri Fayol.

Da Parte 1 do Projeto Ação PT de Diretório Zonal

Desde a antiguidade, os homens criaram organizações para os mais diferentes fins, desde grandes obras de engenharia até guerras para defesa ou conquista de territórios. Os exércitos estão entre as mais antigas e bem sucedidas organizações já criadas e, certamente por isso, acabaram tendo muitos dos conceitos e processos usados em sua administração assimilados pelas teorias administrativas surgidas no início do século 20.

Durante muitos séculos, as únicas organizações de grande porte existentes, além da Igreja Católica, eram as organizações militares. Nenhuma outra organização, nem a própria Igreja, comparava-se, em dimensões e complexidade, àqueles exércitos de milhares e até centenas de milhares de homens em ação. Era preciso uma enorme capacidade de gestão de grandes volumes de recursos materiais e humanos para deles tirar o melhor proveito em favor dos objetivos traçados pelos soberanos.

Planejamento, organização, direção e controle, unidade de comando, hierarquia da autoridade e dos objetivos, estratégia e tática, divisão do trabalho, especialização e departamentalização, tudo isto, todos estes conceitos foram desenvolvidos, ao longo de séculos de guerras, pelas organizações militares, e hoje se acham presentes em toda organização civil de grande, médio ou pequeno porte, independentemente dos fins a que se destinem.

A organização militar foi um dos primeiros grandes laboratórios de pesquisa da administração. Os generais talvez tenham sido os seus primeiros teóricos. E o primeiro manual de administração foi, possivelmente, "A arte da guerra", do general chinês, Sun Tzu, escrito há mais de dois mil anos. As lições de Sun Tzu, ao longo do tempo, tiveram seu valor experimentado por incontáveis comandantes e hoje são referências para teóricos, professores e estudantes de Administração. A administração civil deve muito do que sabe hoje, portanto, à organização militar.

Como ciência e disciplina acadêmica, a Administração é, realmente, bastante recente. Mas sempre houve administração e administradores, principalmente em ambientes como as organizações militares, que desde sempre tiveram a obrigação de funcionar bem e apresentar bons resultados, por serem bases importantes do poder dos povos e seus governantes. 

Pensar na melhor forma de montar um exército, mantê-lo e conduzi-lo durante uma guerra, foi ocupação de muita gente, durante muito tempo, ao longo da História. Os resultados desta busca, feita de incontáveis experiências, bem e mal sucedidas, nos quartéis e nos campos de batalha, foram incorporados às tradições militares e acabaram inspirando a concepção das primeiras teorias administrativas do século 20.

Fundador da Teoria Clássica da Administração, o francês, Henri Fayol, estabeleceu as cinco funções do administrador dentro de uma estrutura organizacional e os 14 princípios gerais da administração, claramente inspirado na organização militar. Segundo ele, as cinco funções do administrador são:

- Prever e planejar (prévoir - visualizar o futuro e traçar o programa de ação)

- Organizar (organiser - constituir o duplo organismo material e social da empresa)

- Comandar (commander - dirigir e orientar a organização)

- Coordenar (coordonner - unir e harmonizar os atos e esforços coletivos)

- Controlar (contrôler - verificar se as normas e regras estabelecidas estão sendo seguidas)

Até hoje, estas 5 funções são identificadas por suas iniciais POCCC ou PO3C. Bem desempenhadas, elas conduziriam a uma administração eficaz das atividades da organização. Posteriormente, as funções de Comando e Coordenação foram reunidas pelos teóricos sob o nome de Direção, passando as iniciais para PODC - Planejar, Organizar, Dirigir e Controlar - ou POEA - Planejar, Organizar, Executar e Avaliar.

Já os 14 Princípios Gerais da Administração, foram apresentados por Fayol em seu livro "Administração Industrial e Geral", lançado em 1916. São os seguintes:

1 - Divisão e especialização do trabalho
“A divisão do trabalho tem por finalidade produzir mais e melhor, com o mesmo esforço. O operário que faz todos os dias a mesma peça e o chefe que trata constantemente dos mesmo negócios adquirem mais habilidade, mais segurança e mais precisão e, consequentemente, aumentam de rendimento.” (Fayol)
Um trabalhador produzirá mais e melhor se seu esforço for concentrado na execução de apenas uma parte do trabalho a ser realizado e não na execução do trabalho todo. A divisão do trabalho cria especialidades e especialistas na execução de determinadas tarefas, o que garante maior eficácia e eficiência na realização dessas tarefas.

2 - Autoridade e Responsabilidade
“A autoridade consiste no direito de mandar e no poder de se fazer obedecer. Não se concebe autoridade sem responsabilidade, isto é, sem a sansão que acompanha o exercício do poder.” (Fayol)
Autoridade é o direito de dar ordens e o poder de ser obedecido. Responsabilidade é o dever de prestar contas pelos próprios atos, inclusive no uso da autoridade.

3  - Disciplina
“A disciplina consiste, essencialmente, na obediência, na assiduidade, na atividade, na presença e nos sinais exteriores de respeito demonstrados segundo as convenções estabelecidas entre a empresa e seus agentes.” (Fayol)
Disciplina é respeitar regras e cumprir deveres.

4 - Unidade de Comando
“Para a execução de um ato qualquer, um agente deve receber ordens somente de um chefe.” (Fayol)
Cada indivíduo deve receber ordens de um único superior.

5 - Unidade de Direção
“Um só chefe e um só programa para um conjunto de operações que visam ao mesmo objetivo.” (Fayol)
Todas as unidades da organização devem seguir em direção aos mesmos objetivos através de um esforço coordenado.

6 - Subordinação do Interesse Individual ao Interesse Geral
“Este princípio lembra que o interesse de um agente ou de um grupo de agentes não deve prevalecer sobre o interesse da empresa.” (Fayol)
Os interesses da organização devem estar acima dos interesses particulares de seus membros e das unidades que a compõem..

7 - Remuneração do Pessoal
“A remuneração do pessoal é o prêmio pelo serviço prestado. Deve ser equitativa e, tanto quanto possível, satisfazer ao mesmo tempo ao pessoal e à empresa, ao empregador a ao empregado. O patrão, no próprio interesse do negócio, deve cuidar da saúde, do vigor físico, da instrução, da moralidade e da estabilidade de seu pessoal.” (Fayol)
8 - Centralização

Concentração da autoridade no topo da hierarquia da organização.

9 - Hierarquia
“Constitui a hierarquia a série dos chefes que vai da autoridade superior aos agentes inferiores.” (Fayol)
10 - Ordem
“Um lugar para cada coisa e cada coisa em seu lugar (ordem material), e um lugar para cada pessoa e cada pessoa em seu lugar (ordem social). Para que impere a ordem material é preciso que um lugar tenha sido reservado para cada objeto e que todo objeto esteja no lugar que lhe foi designado; para a ordem social, que um lugar seja reservado a cada agente e que cada agente esteja no lugar que lhe foi destinado.” (Fayol)
Um tempo e um lugar para cada coisa ou pessoa e cada coisa ou pessoa em seu devido tempo e lugar.

11 - Equidade
“Para que o pessoal seja estimulado a empregar no exercício de suas funções toda a boa vontade e o devotamento de que é capaz, é preciso que sejam tratados com benevolência; e equidade resulta da combinação da benevolência com a justiça. A equidade exige em sua aplicação, muito bom senso, muita experiência e muita vontade.” (Fayol)
12 - Estabilidade do Pessoal
“Um agente precisa de tempo para iniciar-se em uma nova função e chegar a desempenhá-la bem. Se ele for deslocado assim que sua iniciação acabar ou antes que ela termine, não terá tido tempo de prestar serviço apreciável e, se a mesma coisa se repetir indefinidamente, a função jamais será bem desempenhada.” (Fayol)
13 - Iniciativa
“Conceber um plano e assegurar-lhe o sucesso é uma das mais vivas satisfações que o homem inteligente pode experimentar; é, também, um dos mais fortes estimuladores da atividade humana. Essa possibilidade de conceber e de executar é o que se chama de iniciativa. A liberdade de propor e de executar são, também, cada uma de per si, elementos de iniciativa.” (Fayol)
14 - União do Pessoal
“A harmonia e a união do pessoal de uma empresa são grande fonte de vitalidade para ela. É necessário, pois, realizar esforços para estabelecê-la.” (Fayol)
As 5 funções do administrador e os 14 princípios da administração enunciados por Henri Fayol continuam presentes na administração das organizações atuais. Mas, muito antes de serem enunciados, já faziam parte, em boa medida, da receita de um lendário general chinês, chamado Sun Tzu, de como alcançar a vitória militar. Em seu livro “A arte da guerra”, considerado o mais antigo tratado militar do mundo, Sun Tzu refere-se à maior parte destes princípios, assim como a uma série de condutas claramente correspondentes às funções administrativas de planejar, organizar, dirigir e controlar, definidas pelos teóricos do século 20. Quatro séculos antes de Cristo, ele já demonstrava a compreensão e a convicção de que, para ser vitorioso nos campos de batalha, não bastam ao general arrojo e valentia, é preciso também que saiba administrar muito bem o seu exército. Fayol tinha o mesmo entendimento em relação à organização empresarial. Não basta uma boa ideia, a posse dos meios para realizá-la e disposição para o trabalho. É preciso planejamento, organização, direção e controle, numa palavra, administração.


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