Por questões de segurança, alguns dados citados na mensagem original estão sendo omitidos nesta edição pública e substituídos por asteriscos (*).
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Maria Ponciano.
Ninguém, que esteja fora dessa lista de e-mails e fora da página da zonal no Facebook, recebe "programação" nenhuma (informes do diretório). Você não sabia disso? Pois é assim mesmo que a coisa funciona por aqui, desde sempre.
O que tenho dito é que, no levantamento que fiz no cadastro do PT, identifiquei (*) mil filiados com endereços nos 17 bairros da Zona Sul, mais Glória, Santa Teresa e Centro. O diretório tem 253 desses filiados nesta lista de e-mails em que estamos e 433, em tese, na página do Facebook.
Digo "em tese", porque a maioria desses 433 participantes da comunidade do Facebook, na verdade, nem pertence à zonal.
Apenas 253 e 433 filiados, num universo de (*) mil. É muito pouco, você não acha?
Aí eu te pergunto. E os mais de (*) mil filiados da zonal que estão fora da lista de e-mails e do Facebook?
Eu te digo companheira. Estes milhares estão dispersos e sem comunicação nenhuma com o partido. Culpa deles? Não!!! Culpa do partido, mais especificamente, de seus dirigentes, que tem sido inoperantes.
Diz o Artigo 88, letra "g", do Estatuto do PT:
"Compete à Comissão Executiva Zonal (...) informar e atualizar TODOS os filiados e filiadas sobre políticas, propostas, publicações, materiais e demais iniciativas do Partido".
Destaco o "TODOS".
Isso nunca foi feito no PT, Maria Ponciano, nem no nosso tempo, que é o tempo de quase todos aqui.
E por que isso nunca foi feito?
Por falta de organização das instâncias e por falta de disciplina de seus dirigentes. Isso é evidente.
Era atribuição minha tentar organizar um cadastro de filiados da zonal que permitisse que estes filiados fossem procurados? Não. Era uma obrigação dos filiados que se candidataram e foram eleitos para dirigir esta zonal. Só que nunca, nenhum deles, assumiu, de fato, essa responsabilidade.
O que diz o Artigo 87, letra "c", do Estatuto do PT?
"Compete aos Diretórios Zonais (...) manter em dia o cadastramento dos filiados e filiadas do Zonal".Mais claro, impossível.
Mas, mesmo que a atualização permanente do cadastro de filiados não estivesse explicitamente prevista no Estatuto como dever dos dirigentes das zonais, esta deveria ser considerada pelos dirigentes uma tarefa prioritária, já que a existência de um cadastro atualizado de filiados é condição básica, inescapável, para o cumprimento de todas as demais atribuições desses dirigentes, previstas ou não no Estatuto.
Me deu um trabalho gigantesco pegar a listagem que obtive no Diretório Municipal, com dados completamente bagunçados de cerca de 53 mil filiados de todo o município do Rio, separar apenas os que tinham endereço nos bairros das Zonas Sul e Centro, que eu acreditava constituírem a base territorial do 1º Diretório, e depois ainda montar listagens por bairro, agrupando filiados por logradouro, CEP, edificação e unidade habitacional.
Levei meses fazendo isso e, acredite, não me arrependo. Não era esta, certamente, uma atribuição estatutária minha. Mas eu julgo ter cumprido um dever político de militante, para tentar quebrar a inércia da paralisia que domina este diretório e, consequentemente, toda a sua base.
Passei meses falando aqui, sem ser ouvido. Por isso, em dado momento, resolvi ir das palavras aos atos. Acreditava que só assim talvez fosse possível contagiar companheiros e companheiras visivelmente acomodados a uma dinâmica partidária viciada que, ao longo de décadas, vem impedindo o PT de se construir, nas zonas Sul e Centro do Rio, como aquele partido democrático, de massas e de quadros, militante e dirigente, que as resoluções de seus congressos e encontros nacionais determinam que ele seja.
Não me iludo, porém. Sei que a construção desse partido não depende só de mim. Fiz o que me foi possível e já encaminhei à presidenta do diretório o resultado do meu esforço. De posse desse material, não há razão nenhuma que justifique o adiamento da ida do diretório ao encontro de sua base. A única explicação para se adiar esse encontro é a tal da inércia da paralisia que domina as vontades dos nossos dirigentes.
Portanto, eu e o Estatuto do PT concordamos contigo, Maria Ponciano. Você está certíssima. Os (*) filiados da Glória, assim como os demais filiados, residentes nos outros bairros da zonal, deveriam sim receber informações do diretório. Nisso estamos de acordo. Só não concordo com essa sua ideia de que o diretório tem que "ficar esperando eles chegarem". Prá mim, o dirigente partidário é quem tem a obrigação de procurar o filiado de sua base, não o contrário.
Dirigente, num partido como o PT, tem que fazer trabalho de base. Não pode ficar sentado esperando que a base venha ao seu encontro. Isso é uma atitude típica de burocrata. O PT nunca vai ser um partido democrático, militante e dirigente, se não tiver dirigentes militantes, que tenham a disciplina do trabalho cotidiano de base. É pela falta crônica de presença da direção na base, que o PT está como está, com uma militância cada vez mais velha e minguada.
O partido, dirigido desta forma, não garante direitos e não cobra deveres do filiados, não garante o funcionamento de sua democracia interna e não tem o menor poder de ação prática. Veja que, mesmo tratando a campanha de coleta de assinaturas para o projeto de lei iniciativa popular da Reforma Política como uma de suas prioridades, desde o ano passado, o PT não conseguiu até hoje pegar as assinaturas sequer da totalidade dos seus filiados. E isto se deve, exatamente, à falta permanente de contato entre a direção e a base partidária.
Se a direção não vai à base, companheira, o partido não funciona. E é isso o que está acontecendo. O 1º Diretório Zonal não está funcionando como instância partidária porque não se comunica NUNCA com a quase totalidade de sua base de filiados.
Agora, o dirigente nunca vai dar conta de uma base de milhares de filiados se não tiver consigo, atuando, sob seu comando, uma vanguarda militante disposta a suar a camisa junto com ele. Quando os documentos oficiais do PT dizem que o PT tem que ser um partido de massas e de quadros, entende-se que os quadros, que são os militantes mais qualificados e dedicados, têm a função de organizar e dirigir a massa de filiados na execução dos planos de ação estabelecidos pelas instâncias partidárias superiores.
Tudo que tenho dito aqui tem o propósito de sensibilizar não só os dirigentes da zonal, mas também e sobretudo a sua vanguarda, para que essa vanguarda cobre dos dirigentes, como é direito seu assegurado pelo Estatuto, ou forje uma nova direção partidária alternativa, para realizar as tarefas que a direção oficial não esteja sendo capaz de cumprir.
O que propus a Náustria, Maria Ponciano, não é algo que eu considere atribuição política apenas dela. É uma atribuição que considero que é de todo e qualquer militante que esteja realmente comprometido com a construção do PT. E essa atribuição, nada mais é do que, simplesmente, fazer trabalho de base. É só isso. Primeiro junto aos filiados do partido. Depois junto aos trabalhadores lá fora, que não são filiados.
A proposta que fiz a Náustria, de trabalho de base na Glória, é a mesma que faço aos vizinhos dela, Joylce e Flávio Lomeu, a mesma que faço a você, para que atue no Flamengo, se não tiver se mudado, e a mesma que, com ou sem ajuda, vou tentar implementar aqui em Botafogo, bairro onde moro.
O problema que nós temos aqui é mais do que a simples cobrança de responsabilidades estatutariamente previstas e que não estão sendo assumidas. Trata-se, em verdade, é de avaliar honestamente o grau de compromisso que cada um de nós, filiados de base ou dirigentes, tem com a construção do partido nas zonas sul e centro do Rio.
Quem, afinal, na prática, vai assumir essa responsabilidade, arregaçar as mangas e botar mãos à obra? E quem vai lavar as mãos, fingir-se de surdo ou desentendido e sair de fininho?
Estas, Maria Ponciano, é que são as perguntas que precisam ser respondidas por todos e por cada um de nós. Porque desde o nosso tempo, que é o tempo de quase todos aqui, as pessoas se candidatam, são eleitas dirigentes e depois saem de fininho, deixando os barcos que tinham que comandar à deriva. E dane-se o PT e danem-se os filiados da base.
Só tem um jeito disso mudar, companheira. Com a auto-organização dos filiados de base e com a cobrança da base organizada aos dirigentes de suas instâncias. Sem essa pressão de baixo para cima, que é saudável para o partido, os dirigentes tendem quase sempre a se acomodar.
Nós, da 1ª zonal, temos que ter essa cultura, de nos cobrarmos, uns dos outros, comprometimento, dedicação e disciplina. Mas temos, também, que estar atentos para a diferença, quase sempre ignorada, entre ser mero cabo eleitoral e militante socialista. Caso contrário, como organização, nós vamos fracassar; nós nunca vamos conseguir, de fato, cumprir nossa missão de construir um PT, aqui, que possa ser efetivamente dirigente da luta dos trabalhadores pelo socialismo democrático.
Porque não se conquista o socialismo através unicamente do voto. Portanto, não se conquista o socialismo só com cabos e comitês eleitorais. Isso quer dizer que um diretório zonal petista não pode funcionar apenas como comitê eleitoral. E um militante petista não pode se permitir, jamais, atuar apenas como cabo eleitoral. Infelizmente, o que mais tem se visto no PT é esse rebaixamento das funções do diretório e do militante, como decorrência natural de uma generalizada ignorância quanto aos reais objetivos estratégicos do PT. Há, portanto, a meu ver, um grave problema de fundo na formação política do partido, que está na raiz dessa perigosa degeneração que eu aponto. Mas esta é uma outra conversa.
Um abraço, companheira.
Silvio Melgarejo
20/09/2014
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