(Mensagem enviada em 22 de setembro de 2014 à lista de e-mails do 1º Diretório Zonal e publicada em sua página na web com o número 16040 e com o título "Re: 'A política, sem polêmica, é a arma das elites'. Trata-se de resposta ao comentário de um companheiro)
Marcos Zarahi.
Há poucos dias, a imprensa noticiou, sem o devido destaque, por razões óbvias, que o Brasil saiu do mapa da fome da ONU.
Quem é esquerda de verdade não pode desprezar um feito desses.
E quem tirou o Brasil do mapa da fome da ONU foram os governos Lula e Dilma, do PT.
O PT, portanto, está fazendo História, companheiro. Mas, como dizia o velho Marx, cuja leitura você acaba de recomendar, "os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado".
Você já leu isso, não. Pois, então. Foi isso o que o PT fez no governo. Atuou conforme circunstâncias que não escolheu, mas que não poderia de maneira nenhuma ignorar. E resultados como este, anunciado pela ONU e divulgado pela imprensa, mostram que o partido fez o que deveria e poderia fazer até aqui. O problema é o futuro.
Os próximos avanços que precisam ser feitos exigem que o PT se construa efetivamente como um partido capaz de organizar, mobilizar e dirigir as massas trabalhadoras, porque das massas organizadas e mobilizadas é que vão depender unicamente, a partir de agora, tanto a governabilidade da nova gestão de Dilma, quanto a realização de reformas fundamentais como a Reforma Política e a Democratização da Mídia.
A única base política segura que Dilma pode ter para dar novos e decisivos passos é a base de um partido que seja democrático, de massas e de quadros, de um partido que seja realmente militante para ser efetivamente dirigente das lutas do povo, no rumo do socialismo democrático. Esse partido é o PT e tem que ser construído agora, sem demora, para que Dilma não fique refém do PMDB e das bancadas conservadoras e para que o projeto petista não seja inviabilizado em seu segundo mandato, por falta de sustentação social e política.
O PT errou e erra, sim, Marcos Zarahi. Mas não na política de alianças. Porque foi esta política de alianças, que tantos condenam, que permitiu que o PT no governo alcançasse os seus maiores êxitos no campo social.
O verdadeiro erro do PT, o erro que pode ser mais prejudicial a ele mesmo e aos trabalhadores, é deixar de formular e implementar uma política de construção partidária capaz de torná-lo aquele partido democrático, de massas e de quadros, militante e dirigente, que a classe trabalhadora brasileira precisa, para lutar contra a burguesia, conquistar o poder político e construir o socialismo democrático.
O PT não tem uma política de construção partidária. É o que se vê claramente aqui no 1º Diretório Zonal. Sem política de construção partidária não se constrói um partido. E aí é que nós temos um gravíssimo problema. Porque, sem o respaldo das massas mobilizadas, sob o comando de um partido forte, que seja capaz de dirigi-las, tende o próximo mandato de Dilma a ser triturado pela direita midiática e engolido pelas forças conservadoras do Congresso.
Não há, infelizmente, nenhuma tendência dentro do PT, que eu conheça, que esteja sendo capaz de ver isso Nenhuma tendência tem levado a sério a questão da construção partidária. Nesse ponto, igualam-se todas no mesmo perigoso conservadorismo.
Se amanhã voltarem as massas às ruas, como fizeram em 2013, o PT será de novo pego de surpresa e, de novo, como então, será mero coadjuvante, atônito, irrelevante e indesejado.
O maior erro do PT, Marcos Zarahi, é, antes, o maior erro dos petistas.
E o maior erro dos petistas é não construir o PT como partido dirigente. Esse é o nosso maior problema.
Um abraço, companheiro.
Silvio Melgarejo
22/09/2014
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