terça-feira, 23 de setembro de 2014

Anarquistas que confiam no Estado?

Ontem, 22/9/2014, num debate sobre a atuação dos Black Blocs, disse um participante, chamado Alexandre, o seguinte:
"uma vez diziam que a CUT chamar greve geral era coisa de baderneiro, que estudante fazer protesto contra o aumento de mensalidades e parar as aulas nas universidade era coisa de arruaceiro. Eu me preocupo com os rótulos fáceis."
Respondi-lhe:
"Me preocupam as comparações descabidas. Greve é greve. Depredação e provocação deliberada de confronto com a polícia é outra."
Disse, então, Alexandre:
"Nas greves gerais do final dos anos 1980 teve muito confronto com a polícia, principalmente nos piquetes de porta de fabrica onde eles estavam garantindo o 'direito de ir e vir' dos furas greves. Eu, inclusive, fui alvo de muitos desses conflitos tentando garantir o direito dos trabalhadores fazerem greve.  Ah, nem vou falar do 'vandalismo' de queimar o relógio dos 500 anos da Globo ou do 'vandalismo' cometido pela Via Campesina numa fazendo de transgênicos em 2003"
Eu ponderei:
"São contextos completamente distintos. Nos casos citados a violência é defensiva e a depredação direcionada. Nos casos presentes o confronto violento é deliberadamente provocado e a depredação é generalizada. Não vejo muita diferença entre Black Boc e uma torcida organizada em fúria."
Alexandre retrucou:
"Quem esteve nas ruas no dia 17 percebeu a diferença bem clara entre os dois. Pelo menos em Porto Alegre uma torcida organizada (que estava de máscara mas com vestimentas do clube) foi contratada para espalhar o terror no ato e caçar, essa é a palavra correta, caçar os militantes de movimento social. Até mesmo a FAG (Federação Anarquista Gaúcha) ficou encurralada com essa prática pois, entre essa turba, tinham muitos nazifacistas. Nesse dia os atos de 'depredação' foram generalizados e na maioria eram saques a lojas. É muito fácil saber quem é um e quem é outro. 

Qualquer burguês inteligente é contra a organização de grupos revolucionários pois sabem que os alvos deles são os aparatos da burguesia. Mas eles não são nada contrários a turbas enfurecidas pois na barbárie é a classe trabalhadora que não tem condições de se defender."
Perguntei-lhe, então:
"Você quer dizer que o Black Boc é um grupo revolucionário, Alexandre?"
Ele respondeu:
"Só não enxerga quem não quer. Isso não quer dizer que vc precise concordar com eles. Eu não concordo, mas entendo o que está acontecendo. 

Só para fazer outra correlação e o caso do Césare Battisti que era do Proletários Armados pelo Povo (PAC) que foi um dos numerosos grupos armados oriundos de uma vertente do movimento autônomo denominada Autonomia Operária (em italiano, Autonomia Operaia). Diferentemente das Brigadas Vermelhas, os PAC eram um grupo pouco estruturado, de organização horizontal, com vários núcleos independentes que podiam conduzir ações independentes e reivindicá-las como sendo ações dos PAC."
Retruquei:
"Enxergar o que? O que está acontecendo a seu ver?"
O companheiro Diogo Costa, então, postou o seguinte comentário:
"O Black Bloc é um grupo anarquista. Anarcoprimitivista. Rejeitam todos os partidos de esquerda, bem como rejeitam também todas as experiências socialistas e comunistas tidas e havidas no século XX. Odeiam Karl Marx e pretendem 'destruir o estado', como se isso acabasse, num passe de mágica, com a luta de classes... Com esse povo aí só é possível estabelecer uma ou outra aliança tática. Estratégica, nunca."
Sobre este anarquismo dos Black Blocs, comentei:
"O que eu acho engraçado é que os caras chamam o Estado para o confronto violento contando exatamente com os limites legais que Estado tem que obedecer para o uso da violência. Ou seja, eles demonstram de fato uma tremenda confiança nas instituições que dizem condenar e querer destruir. Que porra de anarquismo é esse?"

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