Olá, Marcos Zarahi. Vamos polemizar?
Observo, em primeiro lugar, companheiro, que, assim como a mídia oposicionista, você desconsidera em sua análise, quatro importantes elementos da atual conjuntura. As realizações dos governos petistas em suas reais dimensões, a crise econômica mundial, o Pré-Sal e a correlação de forças políticas na sociedade e no Congresso.
É verdade que Lula e Dilma tiraram milhões de brasileiros da miséria e o Brasil do mapa da fome da ONU. Mas não foi só isso. Geraram também milhões de novos empregos formais, elevaram o poder de compra do salário mínimo em 70%, proporcionaram aumento real de salário, todos os anos, a quase todas as categorias de trabalhadores, e ainda ampliaram direitos sociais, como no caso dos trabalhadores domésticos.
Tudo isso, em plena crise econômica mundial, quando, até nos países mais ricos, os trabalhadores tem sido massacrados pelo desemprego, pelo arrocho salarial e pela redução de direitos sociais e trabalhistas, em decorrência de políticas econômicas de austeridade que Lula e Dilma corajosamente se recusaram a aplicar por aqui.
O Brasil, portanto, não é só um modelo para o mundo de política bem sucedida de combate à pobreza. É também um modelo para o mundo de política econômica bem sucedida de combate à crise. Um modelo que tem se baseado na preservação dos investimentos nas áreas social e de infraestrutura e na proteção ao emprego, ao salário e aos direitos dos trabalhadores. Foi isso o que Dilma quis dizer quando afirmou, em recentes entrevistas, que seu governo tem feito uma política econômica defensiva. Defensiva dos projetos estratégicos do Brasil e defensiva dos interesses e direitos dos trabalhadores brasileiros.
O outro elemento da conjuntura que você ignora é o Pré-Sal. É ele que vai garantir recursos para revolucionar a educação e a saúde no país, nos próximos anos, além de criar uma cadeia produtiva que vai gerar milhares de novos empregos, nos mais diferentes setores da economia. Com mais riqueza sendo produzida no país, maior será a arrecadação de impostos e, portanto, o volume de recursos da União, dos estados e dos municípios.
E o outro fator que você desconsidera é a correlação de forças. Nos dois parágrafos a seguir você mostra, apesar de tantas vezes já termos falado sobre isso, que ainda não entendeu essa variável da luta de classes e sua importância na definição das ações políticas mais adequadas - ou seja, com maiores chances de êxito - em cada diferente conjuntura. Você diz:
"Como se vê, temos soluções para os graves problemas de desinvestimento no âmbito da políticas públicas, porém, sem coragem e ousadia não conseguiremos atingir as metas acelerando os investimentos pois haveria de ter coragem para fazê-lo.
Neste ponto, o partido submeteu-se à lógica da dominação e subordinação de seus movimentos e ações à lógica da correlação de força que julga desfavorável e está demonstrado no âmbito da gestão das políticas públicas pois soluções existem mas há de se ter coragem para implementá-las."
(Marcos Zarahi)Há duas interpretações possíveis para o que se lê acima.
A primeira seria a de que você considera irrelevante, para a definição das ações do governo, a análise da relação mútua entre as forças políticas das classes em disputa no governo, no Estado e na sociedade, mais conhecida como correlação de forças. Só há duas explicações possíveis para esse seu entendimento: ou você ignora a existência da luta de classes dentro do próprio governo, dentro do Estado e na sociedade, ou acredita que o presidente da república está acima da luta de classes e imune aos seus efeitos.
A outra leitura possível seria de que você considera relevante a correlação de forças, mas ou:
1) julga que PT e governo a tem avaliado mal nos últimos 12 anos, ou seja, acha que a correlação de forças nos governos Lula e Dilma permitiria que eles tivessem feito muito mais do que fizeram; ou
2) admite que a correlação de forças tem sido desfavorável a maiores avanços, mas crê que ações "ousadas e corajosas" de Lula e Dilma bastariam para inverter essa correlação de forças e forjar, por si sós, novas bases de sustentação social e política para seus governos.Estas posições sugerem duas boas discussões. A primeira é: como se avalia, afinal, a correlação de forças? E a segunda: quanto custa e quem paga por uma aventura política mal sucedida de um presidente da república?
Além destas, uma outra pergunta te faço, Marcos Zarahi, para que você pense. Sabendo que a esquerda não tem nem 1/3 das cadeiras do parlamento brasileiro, você acredita mesmo que Lula e Dilma teriam tido condições de concluírem seus mandatos com tamanho êxito, sem o apoio do PMDB e dos demais partidos de suas respectivas bases no Congresso?
Estamos avançando, companheiro, de forma gradual, mas consistente, segura e responsável. Há um processo de mudanças no país em curso, que não parou nem durante a crise que abalou o mundo. O Brasil não se abalou. O Brasil não parou. O Brasil não se curvou à crise. E o Brasil não se abalou, não parou e não se curvou à crise, exatamente porque Lula e Dilma tiveram a ousadia e a coragem de dizer não aos que apregoavam cortes de investimentos e de gastos públicos como remédio, a exemplo do que fizeram os governos da Europa, com os resultados que todos conhecem para os trabalhadores de lá. Mas só puderam, os nossos presidentes, dizer não aos pregoeiros neoliberais, porque tiveram, neste ato, o respaldo de suas bases de sustentação no parlamento.
Portanto, Marcos, até agora a política de alianças que fizemos tem sido extremamente útil à defesa, em que nos empenhamos, dos interesses e dos direitos dos trabalhadores brasileiros. O problema, como disse antes, é o futuro. Os partidos que formam a atual maioria, que até agora nos tem sido útil, deixarão de nos apoiar quando tivermos que ferir os interesses das empresas que lhes patrocinam. A partir daí votarão contra nós.
A continuidade do processo de mudanças no segundo mandato de Dilma dependerá, portanto, da formação de uma nova maioria. Mas não qualquer maioria, nem maioria apenas no parlamento. Será preciso formar uma nova maioria no Congresso que seja de esquerda, mas também uma maioria de esquerda na sociedade que seja realmente militante, para juntas darem suporte político à presidenta em suas iniciativas. E essas novas maiorias de esquerda, na sociedade e no parlamento, só poderão ser formadas:
1) com a realização de uma Reforma Política que livre os processos eleitorais da influência do poder econômico;Não é atoa que você e muitos outros companheiros secundarizam os temas da Reforma Política, da Democratização da Mídia e da Construção Partidária. É porque não entendem, antes, a importância da correlação de forças como variável decisiva da luta de classes e depois, como estes três objetivos, a Reforma Política, a Democratização da Mídia e a construção do partido, em sendo alcançados, podem gerar condições favoráveis à construção de correlações de forças políticas, na sociedade e no Estado, favoráveis ao avanço do projeto petista.
2) com a aprovação de uma lei que dê fim à censura e ao controle de conteúdo imposto pela burguesia nos meios de comunicação eletrônica; e
3) com a construção do PT como partido militante de massas, capaz de organizar e dirigir amplas, intensas e permanentes mobilizações da classe trabalhadora.
Só um partido de massas militante e muito bem organizado, numa sociedade dotada de processos eleitorais e de uma mídia eletrônica de massas livres do domínio do poder econômico da burguesia, será capaz de mudar a correlação de forças do país e imprimir maior celeridade às mudanças que já estão em curso, no rumo do socialismo democrático.
Resumindo. Para avançar mais é preciso mudar a correlação de forças políticas em favor do projeto da esquerda democrática. E, para mudar a correlação de forças em favor da esquerda é preciso construir o PT como partido militante de massas e livrar os processos eleitorais e as mídias eletrônicas do controle da burguesia. Por isso, estes devem ser os principais objetivos da militância petista depois da reeleição de Dilma. A Reforma Política, a Democratização da Mídia e a construção do PT como partido militante de massas, capaz de dirigir as mobilizações dos trabalhadores. Nesses três objetivos é que devemos estar focados no próximo período. Tudo mais é secundário.
Um abraço, companheiro. Espero ter sido claro.
Silvio Melgarejo
26/09/2014
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