(Mensagem enviada à lista de e-mails do 1º Diretório Zonal e publicada em sua página na web em 5 de julho de 2013, com o número 13509. Trata-se de resposta ao comentário de uma companheira)
Divergência, Eide, nunca pode ser considerada problema num partido democrático. Problema é quando, num partido, a democracia é de poucos. Pior ainda quando estes poucos não fazem questão de deixar de ser poucos. Eu tenho certeza de que este não é o caso do PT do Rio e deste Diretório Zonal. Para mim o que há é uma imensa falta de compreensão quanto à importância da organização para um partido de esquerda que tem os objetivos que nós temos.
Você está absolutamente correta quando diz que "parece que o Partido não quer mobilizar, por isso não quer se organizar". Tem razão quando diz também que "uma coisa leva a outra que leva a uma". De fato, toda organização é uma associação de intenções e de esforços para alcançar um objetivo comum. Se não há objetivo a ser perseguido, prá que organização?
Há quase duas décadas, o objetivo do PT tem sido unicamente ganhar eleições e governar. Prá se tornar competitivo, o partido incorporou a tecnologia das campanhas eleitorais dos partidos tradicionais, adequada às regras do sistema eleitoral vigente e, por isso mesmo, comprovadamente eficiente. Essa tecnologia de campanha dispensa fatores como democracia partidária e mobilização de militantes, salvo em casos de risco iminente de derrota, como algumas vezes vimos. Aí tocam os berrantes, os dirigentes, convocando a boiada. Aí a militância é lembrada.
Nessas quase duas décadas, portanto, o PT não investiu na organização de seus filiados, porque, de fato, não queria mobilizar ninguém prá nada, já que optara por jogar o jogo político exclusivamente na institucionalidade. Apostando tudo na confiabilidade das instituições democráticas burguesas, o partido parece ter despertado, no susto, depois do duro golpe da condenação sem provas dos réus do mensalão, pelo Supremo Tribunal Federal. A constatação de que a direita havia radicalizado e avançado na sordidez dos seus ataques muito além do se supunha possível, obrigou a direção do PT a rever a estratégia até então adotada para não sofrer novas derrotas.
Só que não se muda uma cultura de quase duas décadas em dois meses, nem se consegue mover em dois meses, uma máquina parada a quase duas décadas. Em maio deste ano, a direção do partido convocou a militância, e a nossa presidenta da república convocou o povo brasileiro, a se mobilizarem pela aprovação no Congresso de três projetos de lei, dois deles de iniciativa popular. Quantas vezes você, Eide, e os demais companheiros, viram algo assim acontecer nos últimos 20 anos? O PT convocando o povo e seus filiados a atuarem fora de período eleitoral? Não me lembro de qual foi a última vez que vi isso acontecer.
Por isso estou convencido de que a direção do PT realmente decidiu mudar de estratégia. Só que o partido ainda não conseguiu vencer a inércia do longo período de paralisia. Daqui da base, não vejo nenhuma alteração significativa no padrão de comportamento das direções zonais e municipal. Tudo inerte como dantes, a base de filiados segue sendo uma imensa reserva inexplorada de militantes e quadros, que ninguém se anima sequer a estudar prá conhecer, avaliar o potencial e desenvolver projetos de "extração", como se faz com as jazidas de minério. O azar do PT é que mal começou a fazer seu giro estratégico e foi abalroado pelas megamanifestações de junho. Sinal de que a decisão de mudar chegou tarde. Esse atraso acabou expondo o partido e seu governo a pressões e riscos altíssimos que nos obrigam a aguçar o senso de urgência e de alerta, para acelerar e completar o giro estratégico iniciado, afim de superar a crise e dar um salto na realização do seu projeto
O PT tem hoje objetivos nacionais claríssimos pelos quais sua direção nacional tem chamado a militância a se mobilizar. Em nível local, nunca nos faltaram causas por que lutar. Toda a ampla pauta da cidadania e dos direitos humanos tem, nas ruas e praças dos bairros, o melhor ambiente para a sua expressão e defesa. Só que todo impulso, energia e combatividade tendem se esgotar ou pulverizar, quando não orientados para ações planejadas, organizadas, dirigidas e controladas. Ou seja, todo recurso (humano, material ou financeiro) tende a se perder se não for bem administrado. Por isso eu insisto em que a palavra de ordem que a nossa zonal tem que incorporar, como expressão de uma compreensão e de uma decisão política, pela adoção de uma diretriz prática, é a palavra de ordem "Administrar prá democratizar e lutar". O 1º Diretório Zonal precisa planejar suas ações, organizar seus recursos, dirigir a implementação das ações planejadas, e controlar e avaliar permanentemente as execuções e os resultados dessas ações.
Já que você dá a "maior força" para a organização da zonal, Eide, eu peço a você que dê uma lida nas propostas que eu enviei recentemente para a lista, e que dê sua opinião. Se, em algum ponto, a minha redação não estiver muito clara, me diga que eu terei imenso prazer em tentar esclarecer. Se não gostar, pode detonar. Eu tô apresentando a minha opinião e as minhas propostas aqui, exatamente para provocar o debate sobre esse tema, que cada vez mais me convenço ser o mais importante para o PT na atual conjuntura. Vão os links abaixo.
Um abraço.
Silvio Melgarejo
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Reflexões e propostas para a administração do 1º Diretório Zonal do PT-Rio/RJ
http://silviomelgarejo.blogspot.com.br/2014/09/reflexoes-e-propostas-para.html
http://silviomelgarejo.blogspot.com.br/2013/07/reflexoes-e-propostas-para.html
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