sábado, 13 de julho de 2013

Re: O "não-debate" da lista de e-mails da 1ª zonal. (3)

(Mensagem enviada em 13 de julho de 2013 à lista de e-mails do 1º Diretório Zonal e publicada em sua página na web com o número 13666. Trata-se de resposta ao comentário de um companheiro)

Mas, pensando bem, Guilherme, o principal problema não é a interface do site de relacionamentos que usamos. O problema maior é político mesmo. Há uma deliberada sabotagem do debate público por aqui.

O companheiro Ricardo Quiroga, por exemplo, me disse pelo Facebook que "ninguém rebate os e-mails" da companheira Eugênia Loureiro, porque ela faz críticas que ofendem aos críticos dos governos petistas e das direções municipal, estadual e nacional do PT. Agora ele resolveu não "rebater" também os meus e-mails, porque lhe faço críticas. Talvez se sinta igualmente ofendido por mim. Isso demonstra uma falta de espírito democrático imensa do companheiro Ricardo Quiroga. Ele, como dirigente, deveria dar melhor exemplo, e não interditar o debate que lhe proponho, pelo sistemático silêncio ante as reiteradas tentativas que tenho feito de dialogar publicamente. Por que só no Facebook podíamos conversar, às vezes, por horas? Por que aqui há essa indisponibilidade?

Digo mais. É flagrante o tratamento diferenciado que este filiado de base está recebendo do presidente de sua zonal nesta lista.  E olha que o companheiro Ricardo Quiroga é candidato a presidente do Diretório Municipal. Talvez por isso mesmo, esteja tendo essa atitude comigo. Não devo estar fazendo muito bem à sua campanha quando falo insistentemente nos graves problemas administrativos da zonal que ele preside. Se estou errado em minhas análises, que me contestem, ele e seus aliados. Vamos debater abertamente, em público, de maneira leal e transparente. Destruam os meus argumentos, me desmintam, mas não façam esse papelão de tentar matar de inanição o debate que proponho, negando-me respostas.

Acusam amiúde a companheira Eugênia Loureiro de interditar o debate político com sua suposta truculência verbal. Pois eu lhes digo, que mal maior fazem à democracia do partido, os que cercam as críticas dela de indiferença, adotando uma criminosa lei do silêncio para abortar discussões inconvenientes. A palavra é o principal instrumento da ação política, e a mais importante ação política que existe nos regimes democráticos é o debate público de ideias. A ausência de debate público é um sintoma altamente relevante da falta de democracia numa organização. E aqui, Guilherme, infelizmente nós não temos debate público. Pode-se, em parte, atribuir isto a razões de natureza prática, como a apontada por você, e com a qual eu concordo. Mas há, acima disso, estou certo, um problema político.

Parece que temos aqui, na maior parte do tempo, um acordo tácito, um pacto de silêncio, de não "agressão", entre os dois principais grupos litigantes da zonal. Com isso eles acabam levando toda a atividade política, do palco para os bastidores, substituindo, por exemplo, a lista pública de e-mails pelas mensagens privadas no Facebook, como preferiu fazer comigo o companheiro Ricardo Quiroga.

Eu quero debater política em público e, de preferência, por escrito, para não ficar sujeito à distorção de minhas palavras. Gostaria de publicar aqui toda a conversa que tive com o companheiro Ricardo Quiroga no Facebook, para demonstrar a todos que não minto, e que tudo o que aqui e agora falo, disse antes, a ele no Facebook. Ele não gostou do que eu disse lá, menos ainda de eu ter tornado pública a nossa conversa. Por isso parou de responder às mensagens que lhe dirijo aqui.

Sou um filiado de base independente, sem vínculo, portanto, com qualquer tendência, e novo na zonal. Isso de uma certa forma me deixa em desvantagem em relação às correntes existentes, mas também me garante liberdade para expressar meus juízos, algo que o compromisso com uma tendência costuma comprometer. Já fiz parte, no passado, de uma tendência do PT, por isso sei do limite que isso às vezes representa. Nem sempre a conveniência da tendência coincide com a conveniência do partido.

Minha condição de independente, dentro do PT, me permite, portanto, tratar Chico e Francisco da mesma forma, sem perder de vista os interesses do partido. Isso não quer dizer que eu seja contra as tendências, nem que nunca integraria uma. O que eu sou contra é à burocratização das disputas entre as tendências, quando elas substituem o debate público de ideias para a formação de consensos, pelos conchavos sem transparência, feitos à sombra e na surdina, longe dos olhos e ouvidos do público. Prá que tanto segredo, afinal? Na democracia, as convergências devem surgir, naturalmente, no palco dos debates públicos, e não ser previamente combinadas na escuridão da coxia. É no conchavo que vicejam os acordos mais espúrios da política. Por isso, sobre essa prática recaem sempre as mais justas suspeitas.

Democracia é a construção de consensos através do debate público de ideias. A falta de debate público entre direção e base partidária tem tornado o PT tão semelhante ao PMDB quanto a renúncia a um programa de governo mais radical. Se nós não formos radicalmente democráticos, nosso radicalismo programático, banhado na gosma do fisiologismo e do burocratismo, nunca sairá do discurso para a prática. Porque sem democracia não se constrói consensos reais num partido de esquerda. E sem consensos reais não se garante unidade de ação para a disputa da hegemonia com a direita e com a burguesia na sociedade.

Democracia partidária pressupõem, portanto, antes de tudo, a prática permanente do debate público de ideias. Debater ou não debater é uma escolha política. E é essa opção da maioria dos companheiros desta lista pelo "não-debate", que me faz sentir que estamos em campos opostos, já que eu quero o debate, porque quero um PT democrático e não consigo conceber uma democracia sem debate político público e permanente.

Portanto, Guilherme, me parece que o "não-debate" é uma escolha política, que tem muito pouco a ver com o tipo de site de relacionamento usado para comunicação entre os filiados do 1º Diretório. Poderíamos estar no Orkut ou Facebook, que as minhas mensagens e as mensagens da companheira Eugênia Loureiro continuariam a ser ignoradas pelo companheiro Ricardo Quiroga, mesmo quando dirigidas nominalmente a ele, porque esta é a sua escolha política. Reconheço que é um direito dele. Mas lamento que no PT ainda haja espaço para uma cultura política tão autoritária. Esse tipo de atitude, ainda mais quando parte de um dirigente, é um tiro com silenciador no coração da democracia partidária.

Um abraço.

Silvio Melgarejo

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.