"A rua" do PT é a sua base de filiados. Enquanto esta base não se manifestar, nada vai mudar prá valer no partido. Não basta, como muitos pensam, mudar a cúpula, elegendo no PED uma nova composição dirigente. Tampouco me parece que o problema seja o Estatuto, quase todo concebido precisamente no tempo em que o PT foi mais democrático. Mudar a direção e reformar o Estatuto pode ajudar, mas não resolve. Porque o grande problema do PT é, na verdade, a cultura política alienígena de que ele se impregnou, da base à cúpula, desde que substituiu a luta social pela luta institucional.
Eu diria que nós somos um partido politicamente intoxicado e que a nossa desintoxicação tem que começar necessariamente por uma mudança radical de mentalidade e de hábitos. A base, por estar com os pés no chão do mundo real, bem abaixo e distante da atmosfera viciada das instituições burguesas, é sempre menos afetada do que a elite partidária, pelos venenos da acomodação e do burocratismo. Por isso é da base, mais do que da cúpula altamente contaminada, que mais se pode esperar uma tomada de consciência e uma reação a estes problemas.
Sejamos, então, aqui, na 1ª zonal, o PT que nós queremos para o Brasil. Porque o PT daqui não é hoje senão o que fizemos dele, e não será amanhã nada além daquilo que decidirmos fazer dele agora. Em qualquer lugar do Brasil, o PT será sempre aquilo que dele fizerem os seus filiados de base locais. A missão, portanto, de renovar a mentalidade e os hábitos do PT das zonas sul e centro do Rio, é nossa, dos filiados de base do 1º Diretório Zonal. Se nós não fizermos isto, ninguém vai fazer por nós. Não esperemos, pois, pelo PED. Comecemos hoje mesmo a revolucionar o partido a partir daqui, do lugar onde estamos.
O PT democrático, de massas e de quadros, militante e dirigente, do Estatuto, só poderá virar realidade se houver uma política administrativa adequada a estes objetivos e militantes dispostos a botá-la em prática. O que estamos esperando para começar a discutir seriamente a administração da zonal? Quantos de nós, desta lista, estamos verdadeiramente dispostos a assumir compromisso com uma rotina diária de tarefas para o partido? Nós, companheiras e companheiros, temos que encarnar urgentemente aquele espírito jovem, decidido e disponível, que animou os fundadores do PT, para reconstruirmos o partido agora, depois de três décadas de lutas.
A substituição da luta social pela luta parlamentar, a que o PT se submeteu, contra a própria vocação, durante quase dois terços de sua história, trouxe para o partido importantes vitórias, mas também gravíssimos prejuízos, como o elevado grau de degeneração de sua cultura política e o comprometimento quase que absoluto da organização de sua base de filiados. Estas quase duas décadas de dieta exclusivamente institucional fizeram no PT o estrago de mil bombas atômicas. Somos um partido estruturalmente frágil porque deliberadamente permitimos a corrupção da nossa cultura política e da nossa organização, a deformação da nossa mentalidade e dos nossos hábitos políticos originais.
Temos agora diante de nós, portanto, o desafio histórico de recuperar a cultura e a organização do maior partido da esquerda democrática do mundo. E para o bom desempenho desta grandiosa missão, feita de tarefas típicas da Construção Partidária, nós não precisamos daquele espírito de soldados combativos, tão necessário em outras circunstâncias. Precisamos, mais que tudo, do espírito de operários diligentes. Porque é disso que o partido precisa agora: de operários que se comprometam com a sua reconstrução. Quantos de nós nos dispomos a ser operários da reconstrução do PT nas zonas sul e centro do Rio? Quem se dispõem a participar, desde agora, do planejamento, organização e execução desta obra e do controle rigoroso dos resultados, em cada uma de suas etapas? É esta a reflexão que temos que fazer agora, nessa lista do 1º Diretório Zonal.
Abraços a todos.
Silvio Melgarejo
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