quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Re: O mito do "partido dos núcleos" e a Administração como aliada da prática política. (3)

(Mensagem enviada em 30 de janeiro de 2014 à lista de e-mails do 1º Diretório Zonal e publicada em sua página na web com o número 15312. Trata-se de resposta ao comentário de um companheiro)

Carlos.

Dou ênfase ao que falta, na tentativa de botar algum equilíbrio na discussão que se faz no partido. O debate político e ideológico nunca deixou de existir e continua correndo solto. O debate sobre as questões administrativas, este sim é que está, e sempre esteve, completamente ausente. E precisa ser resgatado. Você e outros não querem discutir o tema da administração partidária e reagem obstinada e violentamente a qualquer tentativa que se faça de tratar desse assunto. É um tabu.

Você pergunta:
"a presença de uma burocracia especializada ou de líderes com vocação (Weber), bem como a implantação de processos organizativos tendo aparentemente como base a teoria de sistemas (Parsons?) seriam suficientes para o cumprimento daquela finalidade em particular (democracia interna)?"
Eu te respondo: não; mas são indispensáveis. Se há duas condições para que se alcance um objetivo e não se atende a uma delas, o objetivo não poderá ser alcançado. A política sozinha, sem a administração, não garante o funcionamento da democracia partidária. Porque ambas, política e administração, são condições para que haja democracia partidária. Veja que, talvez não por acaso, você evitou tratar de um parágrafo do meu texto que mostra exatamente isso. Reproduzo:
"Outra coisa que você desconsidera, é que a CNB, ex-Campo Majoritário e ex-Articulação, não é e nunca foi maioria em todos os diretórios e núcleos de base do país e, pelos informes que se tem, a precariedade do funcionamento das instâncias partidárias é generalizada. Não me consta, que diretórios e núcleos dirigidos por outras tendências tenham desempenhos melhores do que os dirigidos pela CNB. Como se explica isso? A única explicação é de que o problema não é de orientação politica, a não ser que se admita que todas as tendências possam estar politicamente erradas. Não me parece ser este o caso. Ao contrário, o que me parece é que todas as tendências estão administrativamente erradas, isto sim, e que elas estão sendo igualmente incompetentes para garantir às instâncias que dirigem a democracia interna e o poder de ação que as capacitariam para se constituírem como forças políticas reais nas regiões em que se situam."
Eu gostaria que você tivesse comentado o parágrafo acima. Mas, infelizmente, você preferiu ignorá-lo.

Quero destacar uma afirmação sua com a qual tenho inteira discordância. Você diz:
"Se um dia o PT funcionasse com uma coleção de núcleos - vivos, democráticos e dirigentes - um processo de ruptura em caráter socialista estaria posto objetivamente na sociedade."
Se os núcleos funcionassem como idealizados, o PT seria um partido democrático em suas relações internas. E só. A democracia partidária não é efeito, nem causa que leve a uma revolução socialista, porque não altera significativamente, nem depende da conjuntura política externa ao partido. Em 1987 estava em plena vigência a Assembléia Constituinte que elaborou a Constituição de 88, o Brasil vivia um período de efervescência política e ascenso do movimento de massas. E, no entanto, o que diz a resolução do 5º Encontro Nacional do PT, que se deu naquele ano? Que os núcleos de base de então eram poucos e precários, que estavam abandonados. Prova de que a conjuntura política do país não teve como efeito uma vitalização maior dos núcleos.

Em outro trecho, você diz:
"De outra parte, uma analise pretérita à 1995 não invalida meu argumento, pelo contrário, só demonstra que o núcleo dirigente desse campo não reverteu esse quadro."
Concordo. O núcleo dirigente de 1995 realmente não reverteu um quadro que - é bom que se destaque - era muitíssimo anterior à sua posse. Segundo a resolução do 5º Encontro, tudo começa em 1982. Ou seja, o partido se burocratizou muito precocemente - com apenas dois anos de existência -, mais de uma década antes do momento apontado por você e outros como o do início da burocratização do PT. Portanto, a análise pretérita a 1995 invalida sim a sua tese, que é a de que o ponto de inflexão burocrática teria se dado no ano de 1995.

Não, Carlos Kalifa, eu não sou nenhum Peter Drucker, nem pretendo ser ou aparentar ser. Apenas duvido que você e outros companheiros muito bem sucedidos em suas carreiras profissionais, pelos próprios méritos, tenham conseguido chegar tão longe sem terem aplicado em suas vidas - mesmo que intuitivamente - conceitos e técnicas ensinados pela Administração. Eu duvido que você e todos os demais que nos leem, deixem, por exemplo, de planejar a própria vida doméstica e profissional, porque todos sabem da importância do planejamento para que qualquer coisa tenha chance de dar certo. E, no entanto, parecem crer que o PT não precisa de planejamento. Transformaram, inclusive, a Administração Partidária num tabu. Sinto-me o próprio Giordano Bruno a desafiar concepções dogmáticas. Política, sim; administração, nunca: esta é a regra. Que eu espero ver superada.

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