"Todos os problemas de organização são problemas políticos." (Antônio Gramsci)
A Articulação de Esquerda comete o mesmo grave erro de todas as demais tendências, que é o desprezo pela organização da base partidária. Parece que ainda não entendeu que a falta de uma política global para a administração das instâncias de base, compromete o funcionamento da democracia partidária e anula completamente a capacidade de o partido promover ações coletivas de impacto social e político proporcional ao seu número de filiados em cada região.
Concordo com a AE, que "reeleger Dilma em condições dela fazer um segundo mandato superior ao atual exigirá uma ação do conjunto do Partido". Mas como é que o conjunto do partido vai poder agir, de forma articulada, se as zonais continuarem desorganizadas, como agora, com filiados dispersos, que nunca são procurados por seus dirigentes e que não dispõem de nenhum canal de comunicação seguro e permanente com eles e com os demais filiados?
Não só Valter Pomar e sua Articulação de Esquerda, mas o conjunto das lideranças e tendências do Partido dos Trabalhadores e de toda a esquerda brasileira, erram ao restringir o foco de suas atenções às divergências programáticas e de estratégias e táticas, deixando de lado ou tratando apenas superficialmente os temas relacionados à organização partidária e à organização da classe trabalhadora para a luta coletiva institucional e social.
Sabedoria, muitas vezes, é apenas se render ao óbvio. Gramsci foi, neste sentido, sábio, quando disse em seu "La Costruzione del Partito Comunista", que "todos os problemas de organização são problemas políticos". Quando é que nós do PT vamos acordar prá isto?
Quando é que vamos despertar para a realidade de que, cada vez mais, os avanços de nosso governo dependerão de nossas próprias forças e de que a nossa força política, cada vez mais, só poderá vir da mobilização de uma base partidária e de uma base social que precisam estar muito bem organizadas prá serem capazes de influir no processo político do país?
O PT precisa de um pacto interno pela organização do partido. Nós precisamos, urgentemente, de uma política global que nos torne capazes de administrar esse imenso potencial de recursos humanos e materiais que temos em nossa base de mais de um 1,5 milhão de filiados. Desorganizados como estamos, não há fórmula programática ou estratégia política criativa que salve o nosso governo de uma previsível interrupção do processo de mudanças iniciado em 2003.
Todos temos acordo de que é preciso superar a aliança institucional com o PMDB. Mas para isso é preciso, antes, construir uma sólida aliança social com o povo. Chegamos a um ponto de nossa trajetória em que a realidade exige de nós que sejamos, prá valer, aquele partido democrático, de massas e de quadros, militante e dirigente, da resolução política do nosso 3º Congresso. Mas, sem organização, por maior que seja o nosso contingente de filiados, nós nunca vamos conseguir ser este partido.
Por isso, é que, a meu ver, o foco e a prioridade do PT neste ano de 2014, que se inicia, deve ser a questão organizativa, porque, repito, só com organização - ou administração, como eu prefiro - é que se pode garantir o funcionamento da democracia partidária e a capacidade de o partido intervir coletivamente na sociedade, assumindo o seu papel de dirigente das lutas dos trabalhadores de esquerda, no rumo do socialismo democrático.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.