(Mensagem enviada em 29 de janeiro de 2014 à lista de e-mails do 1º Diretório Zonal e publicada em sua página na web com os números 15306 e 15 308. Trata-se de resposta ao comentário de um companheiro)
Carlos.
Pros núcleos serem instâncias "de vivificação da democracia interna partidária", primeiro eles precisam existir e funcionar plenamente, o que raramente ocorre no PT. Eu quero que os núcleos se multipliquem e que funcionem bem, por isso faço esse esforço para identificar as razões que tem impossibilitado que isso aconteça. Busco soluções para os problemas que vejo, e que são comprovadamente tão antigos quanto o próprio PT, e, nessa busca, dou ênfase à questão administrativa por duas razões. A primeira é que ela é uma dimensão da atividade partidária que historicamente tem estado inteiramente ausente da pauta de debates do partido. E a segunda é que eu realmente vejo a questão administrativa como o cerne do problema organizativo do PT, que, há tantos anos, tem impedido o funcionamento de sua estrutura de diretórios e núcleos, de maneira minimamente satisfatória.
Há duas coisas que você está deixando de considerar, Carlos Kalifa. A primeira, é que eu cito a resolução do 5º Encontro Nacional, de 1987, que diz, textualmente, que "os núcleos estão abandonados" e que "são poucos e, na maioria das vezes, precários, havendo uma enorme distância entre os nossos desejos e a realidade". Veja bem, essa já era a situação dos núcleos em 1987. Diz, ainda, a resolução, que os problemas começaram já em 1982, quando o PT tinha apenas 2 anos de existência. Esse registro histórico, não pode ser simplesmente ignorado, e a verdade é que ele invalida a tese defendida por você e por outros de que o partido se burocratizou, por uma opção política da maioria dirigente, só a partir de 1995.
Outra coisa que você desconsidera, é que a CNB, ex-Campo Majoritário e ex-Articulação, não é e nunca foi maioria em todos os diretórios e núcleos de base do país e, pelos informes que se tem, a precariedade do funcionamento das instâncias partidárias é generalizada. Não me consta, que diretórios e núcleos dirigidos por outras tendências tenham desempenhos melhores do que os dirigidos pela CNB. Como se explica isso? A única explicação é de que o problema não é de orientação politica, a não ser que se admita que todas as tendências possam estar politicamente erradas. Não me parece ser este o caso. Ao contrário, o que me parece é que todas as tendências estão administrativamente erradas, isto sim, e que elas estão sendo igualmente incompetentes para garantir às instâncias que dirigem a democracia interna e o poder de ação que as capacitariam para se constituírem como forças políticas reais nas regiões em que se situam.
A política, como outras atividades humanas, tem uma dimensão teórica e uma dimensão prática que precisam andar em sintonia. O problema do PT não está na teoria, está na prática. Nós idealizamos um partido de núcleos com ampla e intensa participação da base de filiados, mas nunca - repito: NUNCA - conseguimos botar isso em prática. A teoria é ótima, mas não tem conseguido ser realizada por ninguém - repito: NINGUÉM - dentro deste partido. E ninguém nunca conseguiu transformar a política de núcleos de base em realidade porque nunca ninguém admitiu que as instâncias do partido, todas, precisam de PLANEJAMENTO, ORGANIZAÇÃO, LIDERANÇA e CONTROLE, para funcionar. Ou seja, ninguém nunca admitiu que as instâncias, como organizações que são, não dependem prá viver só de política, precisam também de administração.
A sua reação, Carlos Kalifa, sugere três interpretações. Ou você acha que o PT está sendo muito bem administrado, ou você acha que o PT não precisa ser administrado, ou você não sabe o que é administração. Você me acusa de atacar o pressuposto do núcleo de base como instância de realização da democracia partidária, só porque eu levanto e dou ênfase a um tema ao qual o partido nunca, em tempo algum, deu a menor atenção. Parece que a administração partidária é mesmo um tabu, dentro do PT. E o mais incrível é que a oposição mais radical a que se faça essa discussão, venha exatamente dos que cobram do governo e do partido uma radicalização de programa e de estratégia. Como se isso fosse viável sem uma correspondente radicalização da política organizativa do próprio partido, algo que, evidentemente, não pode deixar de começar por um bom planejamento, como ensina a Administração.
Eu nunca quis substituir a política pela administração. O título do meu texto coloca a administração como aliada, não como substituta da política. Não há exagero na minha proposta de discutir a dimensão administrativa da atividade partidária. Exagero é simplesmente negar essa discussão e tratar os que a propõem como hereges. O PT precisa tirar os antolhos que limitam seu campo de visão aos temas relacionados apenas a programa e estratégia. Porque programa e estratégia precisam de partido organizado prá se realizarem, mas não organizam partido. O que organiza um partido é uma boa administração, como ocorre em qualquer organização.
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