Prezados companheiros e companheiras do PT do Rio de Janeiro.
Antes de ler a mensagem que lhes envio, peço que assistam com atenção os quatro vídeos abaixo, da série “O Rio na lama”, da TV Record, produzida pelo jornalista Luiz Carlos Azenha. Eles justificam a segunda assertiva do título desta nota.
A série completa está aqui
http://noticias.r7.com/jornal-da-record/serie/o-rio-de-janeiro-na-lama/
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Jorge Picciani, Rei da Brita, o homem que está comprando o PT do Rio |
Passo, então, ao que tenho a dizer.
O que acontece, companheiros, quando uma pessoa intoxicada decide, movida pelo vício, continuar fazendo uso da substância que lhe devasta a saúde? Pode até morrer, penso eu. Pois, lendo a ata da reunião do 1º Diretório Zonal do dia 16 de novembro último, foi exatamente esta a imagem que me ocorreu. A de um partido, o PT, gravemente intoxicado pelo fisiologismo e burocratismo típicos dos partidos burgueses mais tradicionais e decidido a continuar se envenenando.
Reproduzindo o modo de agir da direção nacional do partido, nossas direções regional, municipal e zonal iniciam a implementação da tática eleitoral para 2016 sem mostrar a menor preocupação em saber se a base do partido concorda. Já tomaram a decisão. O candidato do PT para prefeito do Rio de Janeiro é Pedro do Paulo, do PMDB, e está acabado. Esta reunião que fizeram teve como único e evidente objetivo fazer na zonal um primeiro movimento para tentar o impossível, que é convencer a base do partido a abraçar esta candidatura que não tem a menor identificação com o ideário petista e que por isso mesmo já causa constrangimento e repulsa na nossa militância.
O segundo movimento conhecido desta campanha interna pró PMDB foi uma verdadeira aberração. O presidente estadual do partido transformou uma plenária para novos filiados de Bangu num encontro com o candidato Pedro Paulo, fato denunciado em nota pelo núcleo Largo do Machado e comprovado pela foto abaixo, onde se vê o presidente do Diretório Estadual, Washington Quaquá - de pé com o microfone -, e o presidente do Diretório Municipal, Bob Calazans - sentado no canto, à direita -. E vejam quem está na mesa da plenária para novos filiados do PT de Bangu. Ali, de branco, sentado à esquerda, o convidado de honra, Pedro Paulo, do PMDB.
Fisiologismo: Tudo por um mandato ou um cargo
Fisiologismo é um tipo de relação de poder político em que ações políticas e decisões são tomadas em troca de favores, favorecimentos e outros benefícios a interesses privados, em detrimento do bem comum. É um fenômeno que ocorre freqüentemente em Parlamentos, mas também no Executivo, e está estreitamente associado à corrupção política, uma vez que os partidos políticos fisiologistas apoiam qualquer governo - independentemente da coerência entre as ideologias ou planos programáticos - apenas para conseguir concessões deste em negociações delicadas.(Wikipédia)
“... hoje a gente só pensa em cargo,
a gente só pensa em emprego,
a gente só pensa em ser eleito...”
(Lula)
a gente só pensa em emprego,
a gente só pensa em ser eleito...”
(Lula)
O acordo feito com o PMDB, pelo que foi dito na reunião da 1ª zonal e pelas notícias que se vê na imprensa, não se deu em torno de um programa coerente com o projeto estratégico do PT. Deu-se como resultado da barganha por mandatos e cargos, sem a menor transparência, às ocultas, como de costume nas transações interpartidárias da cultura política que hoje a maioria dos petistas e da classe trabalhadora repudia. Foi esse tipo de método de construção de acordos eleitorais que expôs o PT à ação oportunista dos seus inimigos da direita. E foi esse tipo de método de construção de acordos pela governabilidade que corrompeu a identidade do PT e o tornou refém de chantagistas. Destaco três trechos do texto da ata da reunião de 16 de novembro do 1º Diretório Zonal do Rio de Janeiro/RJ:
1º - "Informou ainda, que pelas informações que havia recebido, a aliança com o PMDB já havia sido acertada pela direção municipal com a cessão de 2 secretarias ao nosso Partido, (...)"O presidente do diretório municipal do PT do Rio, Bob Calazans, não disse, mas o acordo envolve também a volta do PT ao governo estadual, do qual o partido havia se desvinculado quando lançou a candidatura de Lindbergh na eleição passada. Duas secretarias, ainda não se sabe de que, devem ter titulares petistas a partir deste início de ano, é o que informa o jornal O Dia nas reportagens que reproduzo abaixo, dos dias 25 de março e 5 de setembro de 2015.
2º - "Informou que houve reunião com o peemedebista Pedro Paulo e o mesmo deve trazer 15 candidatos para o nosso Partido com votos suficientes para ajudar ao PT alcançar o coeficiente eleitoral, (...)"
3º - "(...) que temos no atual Governo 3 secretarias e uma fundação."
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25/03/2015
PT volta ao governo Pezão e ganhará duas secretarias
Acordo entre Quaquá e Picciani prevê cargos para Benedita e Rosângela Zeidan
EDUARDO MIRANDA
Rio - Afastados há mais um ano, PT e PMDB do Rio de Janeiro estão reatando a aliança desfeita em 2014, antes do lançamento da candidatura de Lindbergh Farias (PT) ao governo do estado. Nos próximos dias, o presidente regional do PT e prefeito de Maricá, Washington Quaquá, anunciará que os partidos fizeram as pazes. As conversas entre ele e o presidente do PMDB-RJ, deputado Jorge Picciani, caminham para que o PT tenha duas secretarias no governo de Luiz Fernando Pezão.
A deputada estadual Rosângela Zeidan (PT), mulher de Quaquá, assumiria a Secretaria de Assistência Social, e a deputada federal Benedita da Silva (PT), a de Cultura. Quaquá não comenta o assunto publicamente, já que a volta ao governo peemedebista só deve ser em junho, para esperar o avanço das investigações da operação Lava Jato e o congresso nacional do PT. O prefeito quer usar o evento para recompor as bases e determinar os motivos da volta a um governo fluminense do PMDB.
Entre os argumentos de Quaquá está o esforço pela aliança nacional entre os partidos, para manter a governabilidade da presidenta Dilma Rousseff, e rechaçar os fantasmas da chapa ‘Aezão’ (Aécio e Pezão, na eleição passada). O acordo inclui o apoio do PT à candidatura do deputado federal Pedro Paulo (PMDB-RJ) à Prefeitura do Rio. E o do PMDB ao PT, em 2016, em Maricá.
A escolha de Rosângela para uma das secretarias de Pezão abrirá vaga na Assembleia Legislativa para o suplente Gilberto Palmares, secretário de Administração de Maricá e aliado de Quaquá. Já Benedita seria substituída na Câmara dos Deputados por Wadih Damous. Ela já foi secretária de Assistência Social e Direitos Humanos do ex-governador Sergio Cabral (PMDB).
http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-03-25/pt-volta-ao-governo-pezao-e-ganhara-duas-secretarias.html
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Quaquá, Zeidan e Picciani |
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05/09/2015
PT com ida certa para o governo Pezão
Partido aposta que novos prováveis secretários serão os deputados estaduais Zaqueu Teixeira e Zeidan
FERNANDO MOLICA
Rio - O PT dá como certa a ida do partido, em janeiro, para o governo Pezão. Os prováveis novos secretários são os deputados estaduais Zaqueu Teixeira e Zeidan, que representam as duas alas petistas na Assembleia Legislativa. Zaqueu tem boas relações com o PMDB; Zeidan é casada com o presidente regional do partido, Washington Quaquá.
É provável que eles fiquem com as secretarias de Cultura e Assistência Social: como não são ocupadas por políticos, fica mais fácil mudar seus titulares sem gerar problemas.
Fora do jogo
A ida do PT para o governo deverá implodir a candidatura de Zaqueu à Prefeitura de Queimados. Quaquá articula o apoio do partido ao PMDB.
Em paz com Paes
Depois de uma conversa com Eduardo Paes, Quaquá voltou atrás na intenção de, em 2016, não apoiar o candidato do PMDB à Prefeitura do Rio caso seu partido fique sem a vaga de vice.
Diz que a decisão tem a ver com a necessidade de garantir a governabilidade de Dilma Rousseff — alega que Jorge Picciani, presidente do PMDB-RJ, virou interlocutor importante da presidenta.
http://odia.ig.com.br/noticia/rio-de-janeiro/2015-09-05/pt-com-ida-certa-para-o-governo-pezao.html
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Lula reconhece fisiologismo do PT e lança um desafio aos dirigentes
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Lula, na Conferência Novos Caminhos da Democracia, promovida pelo Instituto Lula, em 23 de junho de 2015 |
"Nós temos que definir
se nós queremos salvar
a nossa pele e os nossos cargos
ou queremos salvar
o nosso projeto."
(Lula)
E agora peço que leiam os trechos abaixo de uma palestra que Lula deu no seu instituto em agosto do ano passado. Disse o ex-presidente:
“Eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia. Tá?Destaco a seguinte afirmação de Lula:
Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos, como é que a gente chorava quando a gente mesmo falava.
Nós chorava de nós mesmos, ou seja... tal era a crença.
Hoje, nós precisamos [re]construir isso, porque hoje a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito, ninguém hoje trabalha mais de graça...
Antigamente esse partido ia fazer qualquer coisa na rua, colocava 2, 3 mil pessoas na rua, cada um vestido com a camisa do partido, cada um carregando a bandeira do partido...
Hoje, se os candidatos [parlamentares] não liberarem as pessoas do gabinete dele, ninguém vai, porque as pessoas agora só querem ir ganhando.
É o vício do partido que cresceu e que chegou ao poder.
Ou seja, o PT precisa, nesse novo momento, o PT precisa construir uma nova utopia.
Eu estive esta semana numa reunião, 5ª feira, com um pessoal, com um grupo de católicos da periferia de São Paulo.
Todos, todos, sem distinção, ajudaram a fundar o PT em 1980.
Então, um deles disse o seguinte: 'como é que a gente pode falar em renovação, se não tem nenhum novo aqui, só nós mesmos?'.
Ou seja, nós não conseguimos criar um jovem sequer prá vir no nosso lugar.
Então eu acho que o PT, que já foi um partido que tinha uma maioria com menos de 30 anos de idade participando, hoje eu acho que o PT deve ter bem menos, deve ter aí, quem sabe uns 15 ou 20 por cento, o PT precisa, urgentemente, voltar a falar prá juventude tomar conta do PT.
O PT tá velho... olha, eu, que sou a figura proeminente do PT, tenho 69, já tô cansado, já tô falando as mesmas coisas que eu falava em 80...
Então, eu fico pensando se não tá na hora da gente fazer uma revolução nesse partido, uma revolução interna, e colocar gente nova, gente que pensa diferente, gente mais ousada, gente com mais coragem do que a gente.
Nós temos que definir se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou queremos salvar o nosso projeto.
E eu acho que nós precisamos, no fundo, no fundo, criar um novo projeto de organização partidária nesse país.”
(Trecho da palestra de Lula, na Conferência Novos Caminhos da Democracia, promovida pelo Instituto Lula, em 23 de junho de 2015)
Notícia do Jornal da Bandhttp://noticias.uol.com.br/ultimas-noticias/agencia-estado/2015/06/22/lula-diz-que-pt-perdeu-parte-do-sonho-e-da-utopia.htm
Palestra completahttps://soundcloud.com/institutolula/lula-faz-a-fala-de-encerramento-do-encontro-novos-desafios-da-democracia
E pergunto aos companheiros:"Nós temos que definir se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou queremos salvar o nosso projeto." (Lula)
O que vamos salvar com esta política de alianças que insistimos em manter nacionalmente e em especial aqui no Rio de Janeiro? E ainda mais com estes critérios e métodos tão contrários aos nossos mais caros princípios?A quem esta política realmente tem servido e a quem servirá se continuarmos com ela?
Recuperação da confiança dos trabalhadores e luta pelas reformas estruturais
A salvação do projeto petista, iniciado em 2003 com o governo Lula, depende hoje, indiscutivelmente, de duas condições:
1º - A recuperação da confiança dos trabalhadores na integridade ética do PT, abalada pela sistemática exploração juridicomidiática de fatos ocorridos na relação nada transparente que o PT se permitiu manter com empresas e partidos burgueses; ePara a realização destes dois objetivos, o PMDB é o pior aliado que o PT pode ter. Porque além de ser um partido essencialmente corrupto, viciado nas mais condenáveis práticas da cultura política dos partidos burgueses, é um partido que se opõe radicalmente a todas as reformas estruturais que o PT propõe. Em maio de 2014, o PT realizou o seu 14º Encontro Nacional, onde aprovou uma resolução intitulada “Diretrizes de Programa de Governo”, em que diz:
2º - A realização de reformas estruturais que permitam a consolidação das atuais políticas públicas e um avanço mais célere e consistente no processo de democratização social e política do país.
“Para continuar democratizando o país, ampliando o bem-estar social e trilhando um caminho democrático-popular de desenvolvimento sustentável, defendemos um conjunto de mudanças estruturais, entre as quais a reforma agrária e a reforma urbana, a reforma política e a democratização dos meios de comunicação, a reforma tributária e a ampliação dos direitos públicos universais, aprofundar a soberania nacional, a integração latino-americana e caribenha e nossa participação nos BRICS como parte da construção de uma nova ordem mundial.No mesmo encontro, o PT aprovou a “Resolução sobre tática eleitoral e política de alianças”, do qual vale a pena destacar os seguintes trechos:
No segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff, portanto, é chegada a hora das reformas democráticas e populares, para consolidar as políticas bem sucedidas que empreendemos e para deslanchar novas políticas de democratização da renda, da riqueza e do poder.”
“A continuidade – e, sobretudo, o avanço – do nosso projeto está vinculada à nossa capacidade de fortalecer um bloco de esquerda e progressista, amparado nos movimento sociais, na intelectualidade e em todos os setores comprometidos com o processo de transformações econômicas, políticas, sociais e culturais implementadas pelos governos Lula e Dilma.
A existência deste bloco democrático e popular é fundamental para agregar outras forças políticas e sociais de centro, numa ampla frente que apoie a eleição e o segundo mandato da presidenta Dilma.
(…)
As manifestações de junho de 2013 demonstraram e o amplo processo de discussões que o PT vem promovendo confirmaram que há um sentimento de urgência em favor de mudanças mais profundas e rápidas.
O fato é que, após mais de uma década de melhorias sociais relevantes, a população reivindica reformas, todas contidas em nosso programa, como é o caso exemplar da reforma política, a democratização da comunicação, a reforma agrária, a reforma urbana e a reforma tributária.”
Aliança com o PMDB: governabilidade para o retrocesso
Ora, companheiros, se o PT reconhece o anseio popular por mudanças mais céleres, mais amplas e mais profundas, e se sabe que só será possível corresponder a este anseio dando início às reformas estruturais do seu programa, para consolidar as atuais políticas públicas e avançar no seu projeto de transformações do país, como pode manter-se aliado a um partido como o PMDB que é um opositor ferrenho destas reformas?
Alega-se que a aliança com o PMDB é importante para garantir a governabilidade. Mas, que governabilidade? Governabilidade para realizar qual programa? Foi importante a coalizão com o PMDB para viabilizar a implantação de algumas de nossas políticas públicas? Sim, foi importante. Mas o próprio PT já reconhece, nesta resolução do 14º Encontro, que elas já não bastam, que os trabalhadores querem mais.
E vê-se agora que mesmo estas políticas públicas estão sob grave ameaça de serem extintas, exatamente pela falta das reformas estruturais. Portanto, o PMDB, que antes contribuiu para a implantação das nossas políticas públicas, hoje, pela oposição que faz às reformas, representa, para a continuidade delas, um obstáculo.
Só é possível ao PT manter aliança com o PMDB renunciando às reformas estruturais e limitando sua atuação, no governo, à implementação cada vez mais precária – exatamente pela falta das reformas – de políticas públicas que tentam amenizar os efeitos sociais dos problemas econômicos, sem nunca chegar a atacar suas raízes. A aliança com o PMDB hoje só é capaz de garantir um único tipo de governabilidade: a governabilidade para o retrocesso. E isto o PT não pode aceitar mais.
O PT precisa romper imediatamente com o PMDB e construir uma nova coalizão partidária que seja realmente vocacionada para a garantia das mudanças que a classe trabalhadora exige. E uma coalizão assim só poderá ter como critério para a seleção dos seus membros o compromisso com a realização das reformas estruturais que o PT tem no seu programa, acrescido de algo que já fez parte da plataforma do partido no passado e que precisa ser urgentemente resgatado que é a defesa de uma auditoria da dívida pública.
Aliança com o PMDB é formação de quadrilha
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Eduardo Paes, Sérgio Cabral e Jorge Picciani |
Mas, mais do que isto. O PT precisa romper com o PMDB porque não é possível reconquistar a confiança dos trabalhadores no seu compromisso ético, mantendo-se associado a um partido político com o histórico e a reputação do PMDB.
É preciso que se admita de uma vez por todas que a estratégia de colaboração de classes, adotada na última década, impôs ao PT um afrouxamento ético e programático tão grande que permitiu a contaminação do partido pela cultura política dos partidos burgueses. E esta contaminação é visível nas articulações que se tem visto agora para as eleições municipais de 2016.
Não é possível associar-se a um partido burguês sem admitir a incorporação dos seus objetivos imediatos e dos seus métodos de ação. Esta é uma das mais importantes lições que se pode tirar da experiência de uma década com a estratégia de colaboração de classes e de governo de coalizão com a burguesia.
E de que natureza tem sido os objetivos imediatos e os métodos de ação do PMDB, demonstrados fartamente por investigações policiais e jornalísticas? São objetivos e métodos criminosos. E a objetivos e métodos assim o PT não pode mais admitir estar associado, como tem estado, se não quiser contribuir para uma disseminação ainda maior, junto à classe trabalhadora, da ideia propagada pela mídia de que ele é um partido bandido.
Pelas informações que já se tem hoje, não é possível mais haver dúvida de que o PMDB, sim, é que um partido bandido. Por isso, uma aliança do PT com o PMDB nas eleições deste ano, principalmente aqui no Rio de Janeiro, teria tudo para ser considerada pelos trabalhadores como uma verdadeira formação de quadrilha.
Aliança com o PSOL: Fortalecimento da esquerda e governabilidade para o avanço
Repito o que disse num parágrafo anterior. A salvação do projeto petista, iniciado em 2003, com o governo Lula, depende hoje da recuperação da confiança dos trabalhadores na integridade ética do PT e da realização de reformas estruturais que permitam a consolidação das atuais políticas públicas e um avanço mais célere e consistente no processo de democratização social e política do país. Para a realização destes dois objetivos, o PMDB é o pior aliado que o PT pode ter. Porque é um partido notoriamente corrupto e porque se opõe às reformas estruturais que o PT propõe.
Mas, então, que aliados o PT deverá buscar para, como diz Lula, salvar o seu projeto? O 14º Encontro Nacional do PT, de 2014, responde em uma de suas resoluções, em que diz:
“A continuidade – e, sobretudo, o avanço – do nosso projeto está vinculada à nossa capacidade de fortalecer um bloco de esquerda e progressista, amparado nos movimentos sociais, na intelectualidade e em todos os setores comprometidos com o processo de transformações econômicas, políticas, sociais e culturais implementadas pelos governos Lula e Dilma.”Isto exclui, obviamente, o PMDB e demais partidos de direita, que hoje servem ao retrocesso. Mas dá margem de sobra, indiscutivelmente, para que se cogite uma aproximação com o PSOL, que é um partido de esquerda cujo objetivo estratégico é o mesmo do PT, o socialismo democrático, estando por ora na oposição apenas por divergir do PT quanto aos meios para se alcançar este objetivo.
Pois bem. A estratégia de colaboração de classes esgotou-se, companheiros, não é possível mais dar um passo sequer para a frente com ela. Desta estratégia hoje só se pode esperar o retrocesso. É preciso que os petistas compreendam isto e não insistam mais neste caminho porque ele só pode nos conduzir à inviabilização total do projeto do PT. A partir de agora só será possível avançar tendo como aliados os partidos, movimentos sociais e intelectuais de esquerda e progressistas, lutando juntos contra a burguesia nas ruas, nas urnas, nos governos e parlamentos, pelas necessárias reformas estruturais. E para esta nova estratégia o PSOL pode, sim, vir a ser um importante aliado, pela identidade ideológica e programática que tem com o PT e pela presença que tem nos movimentos sociais e culturais do país.
A cultura política do PSOL, seus princípios, objetivos e métodos de ação, não difere em nada da cultura política petista original, corrompida em sua dimensão prática pela associação do PT com os partidos burgueses, mas ainda presente e íntegra nas resoluções dos seus congressos e encontros nacionais, assim como nas aspirações de amplos setores da militância de base petista descontentes com os vícios políticos adquiridos por seus dirigentes e pelos parlamentares e governantes filiados ao partido.
O psolismo nada mais é do que o petismo original que perdeu espaço no PT com a estratégia de colaboração de classes e saiu para formar outro partido. Se o PT muda de estratégia agora abre-se a possibilidade de uma reconciliação não só com o seu próprio petismo voluntariamente reprimido, mas também com este petismo que saiu e está lá no PSOL.
Não pelo tamanho das bancadas, nem pela quantidade de membros, mas pelo real compromisso que demonstra ter com a luta por avanços sociais e democráticos, o PSOL é para mim hoje o melhor novo aliado que PT pode pretender conquistar.
PT deve apoiar de graça a candidatura de Marcelo Freixo
A formação de um bloco de esquerda constituído por PT, PCdoB e PSOL seria quase que uma reedição daquela extraordinária Frente Brasil Popular que por muito pouco não venceu a eleição presidencial de 1989.
O PSOL é hoje uma força política claramente emergente no Rio de janeiro, sendo Marcelo Freixo a candidatura com maior potencial no campo da esquerda para as próximas eleições municipais.
Se a salvação do projeto petista da derrocada que já se vislumbra e o avanço das transformações iniciadas com Lula em 2003 dependem do fortalecimento da esquerda no Brasil, o PT não pode deixar de apoiar no Rio a candidatura de esquerda mais consistente e promissora na eleição municipal que é a candidatura de Marcelo Freixo.
É bom lembrar que o apoio do PSOL foi decisivo para a vitória de Dilma no segundo turno da eleição presidencial e que o primeiro psolista a manifestar apoio à nossa candidata foi o deputado Marcelo Freixo. Ali o sectarismo foi vencido. E o apoio foi de graça.
Há, de fato, três importantes obstáculos a serem superados para que esta nova versão daquela velha Frente Brasil Popular de 89 se materialize aqui no Rio, constituída agora por PT, PCdoB e PSOL. Em primeiro lugar, a insistência da direção nacional do PT em manter esta suicida estratégia de colaboração de classes e a aliança com o PMDB, fazendo do PT do Rio, como sempre, moeda de troca na barganha por apoios. Em segundo lugar, o fisiologismo das direções partidárias petistas do Rio de Janeiro, sempre famintas por cargos em secretarias e órgãos governamentais. E, por último, o sectarismo de setores tanto do PSOL, quanto do próprio PT.
Sectarismo - 1. Estreito espírito de seita. 2. Espírito ou atitude sectária; intolerância.
Entre a vergonha e o orgulho de ser petista
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Presidente do Diretório Estadual, Washington Quaquá, com o governador Pezão |
Mas, pergunto-lhes, companheiros:
Quantos petistas vocês acham que se animariam a votar e fazer campanha para um candidato do PMDB, seja ele Pedro Paulo, um dos filhos de Cabral e Picianni ou algum pau mandado que eles tirem da cartola?
Quantos petistas vocês acham que se animariam a votar e fazer campanha para um candidato qualquer do próprio PT, se Bob Calazans, Quaquá e Rui Falcão deram continuidade à devastação do PT do Rio, iniciada por seus antecessores, transformando o partido nesta terra política arrasada que só produz mediocridade e carreirismo?
E, finalmente, pergunto-lhes, companheiros, quantos petistas vocês acham que se animariam a votar e fazer campanha para um candidato do PSOL, como Marcelo Freixo?
Penso, respondendo de minha parte a estas perguntas, que fazer campanha para um candidato do PMDB hoje envergonharia e enojaria a maioria dos petistas; que fazer campanha para um candidato do próprio PT os constrangeria e desanimaria; e que apenas uma candidatura como esta, de Marcelo Freixo, do PSOL, poderia empolgar e encher de orgulho e esperança a nossa militância, por ser uma candidatura genuinamente de esquerda. Por isso e pelas razões que anteriormente expus é que defendo o apoio do PT à candidatura de Marcelo Freixo.
A alternativa muitas vezes citada de uma possível candidatura de Jandira Feghali não me parece ideal por três razões. Primeiro, porque retardaria a aproximação do PT com o PSOL, que eu considero fundamental para o fortalecimento da esquerda; depois, porque Jandira tem potencial eleitoral menor do que o de Marcelo Freixo; e, por fim, porque a deputada tem desempenhado um papel extraordinário no Congresso e não há nenhum parlamentar que possa substituí-la hoje, atuando com a mesma eficácia.
A ruptura com o PMDB, a renúncia ao fisiologismo e a construção da aliança com o PSOL para a eleição municipal em bases puramente programáticas, sem exigência de cargos, seria o melhor caminho para a redenção do PT do Rio, hoje prisioneiro dos piores vícios políticos, adquiridos na convivência promíscua com seus aliados de direita.
PMDB se opõe às reformas estruturais que o PT defende. PSOL apoia
“Somos um Partido dos Trabalhadores, não um partido para iludir os trabalhadores”, diz o Manifesto de Fundação do PT. É mais do que oportuno que lembremos isso hoje. Mas para não iludir os trabalhadores, é preciso que antes o próprio PT não se iluda.
Sem mobilização social e confrontação política com a burguesia e seus partidos, o projeto do PT será irrealizável.
Alianças com partidos burgueses foram úteis até meados do primeiro mandato de Dilma para a implantação de algumas políticas públicas.
Mas agora, a consolidação destas políticas e o avanço das transformações iniciadas no país exigem reformas estruturais que ferem os interesses da burguesia e seus partidos e por isso tem deles radical oposição.
Na luta por estas reformas o PT só poderá ter como aliados a classe trabalhadora e os partidos de esquerda com ela comprometidos.
Não bastarão mais as ações no parlamento e nos governos, será preciso mobilização de massas, intensa e prolongada, nas ruas e praças de todo o país.
O princípio da independência de classe, que justificou a criação do PT e que orientou a política de alianças de suas duas primeiras décadas de existência, terá que ser resgatado e alçado àquele mesmo grau de importância que teve naquele tempo.
Porque as reformas necessárias para o avanço do projeto petista não terão nunca o apoio dos partidos burgueses.
O PMDB opõe-se radicalmente a elas.
Mas o PSOL as apoia firmemente.
Que dúvida pode haver de que, objetivamente, o PMDB é inimigo e o PSOL aliado do PT na luta pelas reformas estruturais?
Que sentido faz, então, insistir nesta aliança com o PMDB e negar o necessário diálogo para o entendimento com o PSOL?
Até quando vamos permitir que o fisiologismo e o sectarismo nos mantenham ligados a quem tem objetivos opostos aos nossos e apartados de quem tem objetivos iguais?
O PT não precisa hoje de aliados como PMDB, para conciliar com a burguesia e fazer um governo como estes de direita, de que tem participado, comandados por Dilma, Pezão e Eduardo Paes.
O PT precisa hoje é de aliados como o PSOL para lutar contra a burguesia pela implementação do seu programa de esquerda, apoiado na mobilização dos trabalhadores.
Aos dirigentes do PT
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Presidente do Diretório Estadual, Washington Quaquá: o homem que está vendendo o PT do Rio |
Quero, por fim, mandar um recado ao presidente do diretório municipal, Bob Calazans, e ao presidente do diretório estadual, Washington Quaquá:
A base de filiados do PT do Rio não quer secretarias e cargos.
A base quer uma candidatura com a qual se identifique e que possa ter orgulho de defender na sociedade.
E esta candidatura de Pedro Paulo, do PMDB, é uma vergonha para a militância petista.
Por isso, se insistirem com ela, podem estar certos, o PT vai para a eleição deste ano, no Rio de Janeiro, rachado e vocês vão ficar sozinhos com seus cabos eleitorais pagos apoiando esta quadrilha a que resolveram se associar.
Nenhum petista de verdade vai votar e fazer campanha prá partido bandido e candidato espancador de mulheres.
Aos filiados de base
E à base de filiados apelo: vamos resistir, companheiros, não vamos permitir que o PT do Rio continue sendo aviltado da forma como tem sido por seus dirigentes.
Não admitamos mais que eles sigam mantendo esta simbiose obscena do PT com o PMDB, com o PT sempre subordinado aos interesses criminosos e às perversões políticas do PMDB.
É hora de criar um forte movimento de oposição ao entreguismo nos diretórios, mas sobretudo na base de filiados que tem sido mantida propositalmente à margem deles.
Não vamos cair nesta mentira dos dirigentes petistas fisiológicos de que o mandato de Dilma ainda corre risco, que depende da boa vontade do PMDB do Rio e que por isso o PT é obrigado a se associar a esta quadrilha. Nada disso é verdade, isto não passa de um ardil para enganar a militância.
A verdade que estes dirigentes querem ocultar, é que o impeachment já foi derrotado, porque seus defensores são corruptos notórios, sem autoridade moral nenhuma para propô-lo, e porque não há nenhuma suspeita sequer pesando sobre a conduta da presidenta Dilma, razão pela qual a sociedade civil repudiou o golpe e impôs respeito ao Estado de Direito.
Não existe mais ameaça de impeachment e todos os que o defendiam estão hoje completamente desmoralizados perante a sociedade.
O PT, portanto, não tem a menor necessidade de prestar favores ao PMDB do Rio porque não deve nada ao PMDB do Rio. Deve, isto sim, aos filiados e simpatizantes do próprio PT e a todos os cidadãos e cidadãs deste país que ergueram suas vozes contra a tentativa de golpe de Estado, mesmo desaprovando o governo Dilma e mesmo sendo antipetistas.
O maior desafio dos petistas hoje é transformar o PT num partido que seja realmente capaz de seguir transformando a sociedade. E para isso, vai ser necessário unir forças para vencer o império da Construindo Um Novo Brasil (CNB), tendência que tem sido majoritária nos diretórios nacional, estadual e municipal.
É preciso construir alternativas de direção para o PT nestes três níveis e desde já mobilizar todos os filiados para lutar pela mudança da atual política de alianças do partido, derrotando no Rio este absurdo projeto dos dirigentes estadual e municipal de manterem o PT atrelado à quadrilha de Picianni, Cabral, Pezão e Eduardo Paes.
“Então, eu fico pensando
se não tá na hora da gente fazer
uma revolução nesse partido,
uma revolução interna,
e colocar [na direção] gente nova,
gente que pensa diferente,
gente mais ousada,
gente com mais coragem
do que a gente.”
(Lula)
E aos companheiros da Articulação de Esquerda
Companheiros da Articulação de Esquerda. Cadê vocês? Nós não vamos conseguir ganhar essa briga fazendo disputa só nos diretórios. A maior parte dos filiados está fora deles e este contingente é que pode ser decisivo para derrotarmos os aliados do PMDB na convenção do partido que vai decidir sobre a posição do PT na eleição municipal.
A maioria excluída tem que ser chamada a entrar nesse jogo, que até agora só tem sido jogado pelo presidente do diretório estadual, Washington Quaquá. Dentro e fora do PT, ele já está em plena campanha para eleger o candidato do PMDB, Pedro Paulo, e não se pode admitir que siga procedendo desta forma, sem contestação de ninguém, antes da convenção municipal aprovar uma posição definitiva.
É hora de entrar em ação já, para derrotar o fisiologismo que tem governado o PT do Rio e evitar que aconteça efetivamente o vexame e o desastre político de se ter o partido rachado ou até pulverizado na eleição municipal deste ano.
A campanha eleitoral antecipada de Washington Quaquá em favor do candidato Pedro Paulo, do PMDB, precisa ser contestada publicamente desde já pelo conjunto dos filiados do PT do Rio. E para a mobilização destes filiados é fundamental o empenho das tendências minoritárias que se opõem à atual política de alianças, como a Articulação de Esquerda.
Saudações petistas,
Silvio Melgarejo
14/01/2016
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