Temer e Mercadante, em nome da presidenta Dilma, deram à burguesia o sinal de alerta: o ajuste está em risco.
A burguesia entendeu o recado e reagiu prontamente, com a nota conjunta da FIESP e FIRJAN.
E a Globo se manifestou logo em seguida, em defesa da "estabilidade institucional", necessária para a continuidade da aplicação da atual política econômica, que desde sempre defendeu.
Qual a novidade, o que há de estranho nisso?
Novo e estranho é que esta política, defendida pela Globo, esteja sendo implementada por uma presidenta petista.
Petista?
Em 6 de novembro de 2014, disse a filiada Dilma Rousseff:
"A opinião do PT é uma opinião do partido.Desde então se viu que realmente o PT não tinha a presidência da república. A presidência é que tinha o PT, inteiramente subordinado à sua vontade.
Não me influencia.
Eu não sou presidenta do PT.
Sou presidenta dos brasileiros."
A militância do PT ainda não se deu conta, mas a verdade é que o PT não governa mais nada. É governado, isto sim, pela presidenta Dilma, cuja gestão, na economia, ignora solenemente a opinião do partido, enquanto ouve e atende com presteza às demandas da burguesia.
E vocês pensam que a burguesia já não percebeu isto, que o governo já lhe responde ao comando a contento e que o PT é um serviçal resignado e obediente?
É claro que já percebeu.
O apoio da Globo à política econômica de Dilma, neste seu segundo mandato, e a convocação que fez, no editorial do dia 7 de agosto, aos "políticos responsáveis de todos os partidos", para darem "condições de governabilidade ao Planalto", são evidencias disso.
Estamos, portanto, nós petistas, defendendo um governo que elegemos, sim, mas que já não é nosso, é da burguesia.
E é exatamente esta subordinação total ao governo, que tem impedido o PT não só de ter uma influencia maior sobre o processo político do país, mas também de se defender adequadamente dos ataques que sofre.
Para defender o governo Dilma, o PT tem se anulado inteiramente, o que facilita a vida dos que querem destruí-lo, através da operação Lava Jato.
Dilma não é, para a burguesia, problema, é solução, já que implementa o programa econômico da burguesia como qualquer outro político da oposição faria.
Problema, para a burguesia, são os que criam embaraços reais à implementação deste programa, como Eduardo Cunha e a oposição golpista no Congresso, com suas "pautas bomba".
E problema para a burguesia, é o PT, um partido de esquerda que já tem influência de massas e, portanto, potencial para ameaçar, quando quiser, não só o projeto neoliberal, mas o próprio capitalismo, no Brasil.
Por isso, não acredito em golpe contra Dilma.
Mas tenho certeza da continuidade dos golpes contra o PT, golpes cada vez mais fortes e frequentes, sob o olhar distante e indiferente da presidenta da república.
O segundo mandato de Dilma, está a salvo.
Paradoxalmente, o quarto mandato petista está já perdido.
O segundo mandato de Dilma, executa o programa econômico da burguesia.
O quarto mandato presidencial petista teria que ter uma política econômica orientada para atender aos interesses dos trabalhadores.
O segundo mandato de Dilma, conta com o apoio explícito da Globo.
Já o quarto mandato petista dependeria da fidelidade de Dilma ao PT e da fidelidade do próprio PT aos seus compromissos históricos com a classe trabalhadora. E nenhuma destas duas condições têm sido atendidas.
Para os petistas, portanto, a preocupação maior hoje deveria ser salvar o PT, para que o PT possa, pelo menos tentar, salvar o governo Dilma, enquanto quarto mandato presidencial do partido.
O segundo mandato de Dilma tem sido, de fato, um governo da Globo, não do PT.
Lutar para salvá-lo como tal, sem exigência de mudanças, tendo a Globo como aliada, é uma traição aos trabalhadores, que põe em risco o avanço da justiça social e da democracia no país.
Não só isto. Esta traição compromete a legitimidade do PT como partido dirigente das massas, na luta pelo socialismo democrático. E isto é que é o pior, porque a luta pelo socialismo democrático é objetivo principal do PT, a razão maior da sua existência.
Para não perder um governo que já não tem, o PT se perde, renunciando à própria identidade e projeto. Esqueceu a resolução do seu 1º Congresso, de 1991, que diz:
"O PT é um partido no governo, não um partido do governo. (...) E encaramos como perfeitamente normais as diferenças de visão entre governo e Partido, entendendo que pode ser legítimo e necessário que o Partido critique publicamente e se comprometa com movimentos sociais eventualmente em choque com administrações dirigidas por petistas, sempre que a situação assim o justificar."Pois, ao contrário do que recomendava o 1º Congresso, o PT defende agora uma política econômica que é apoiada pela Globo e pela burguesia e contestada por todas as centrais sindicais do país, inclusive a CUT.
Apesar de dizer, na resolução de sua Comissão Executiva Nacional, do dia 4, "que apoia e orienta a participação dos petistas na mobilização unitária dos movimentos sociais e partidos de esquerda no próximo dia 20 de agosto", este apoio e orientação não apareceram no programa de TV do partido, em 5 de agosto, nem aparecem em sua página oficial na internet.
Aonde os dirigentes petistas pensam que vão nos levar?
Não há como deixar de constatar que nem Dilma, nem o PT têm sido petistas, neste segundo mandato da presidenta.
Será que alguém na base de filiados, ainda lembra o que isto seja, o que é ser PT?
Silvio Melgarejo
10-8-2015
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