O ódio ao PT, sistematicamente disseminado há décadas pela Globo, e a atitude passiva do partido e do governo ante a violência crescente dos ataques que sofrem, é o que tem alimentado, dado corpo e encorajado o golpismo e o terrorismo de direita no Brasil.
Ante um governo e um partido de esquerda inaptos para o combate político, sentem-se à vontade, cada vez mais, para agirem à luz do dia, sem nada que os iniba.
O Estado burguês, desde sempre aparelhado em áreas estratégicas por forças políticas reacionárias e sem compromisso com a legalidade, manteve-se assim depois de três mandatos presidenciais petistas.
A fórmula de governo de coalizão impediu que houvesse um avanço maior na democratização das instituições, em razão dos acordos firmados, para permitir a governabilidade.
Hoje formalmente chefiado por uma mandatária que ignora a natureza essencialmente política do cargo de presidente da república, o Estado brasileiro é uma entidade em que prosperam livremente focos de conspiração golpista.
"Republicanamente", a presidenta os tolera, confiando piamente em virtudes da democracia burguesa que só os muito ingênuos ou desinformados podem acreditar que haja.
Politicamente fragilizada, em razão das desastrosas decisões tomadas, assim que reeleita, no campo da economia - que tiveram sobre seu eleitorado o efeito devastador de uma traição, em plena lua de mel pós campanha -, a presidenta Dilma tem conseguido tornar ainda mais dramático o começo deste seu segundo mandato, com a omissão na disputa política, que a tem caracterizado, por absoluta falta de apetite para o necessário combate.
O Coração pode ser valente, como se dizia na campanha, mas não tem vocação nenhuma para a política. Ao contrário do que diz certo ditado, dá uma boiada para evitar uma briga e outra para sair, se não for possível fugir.
A economia de Dilma e sua omissão política são o adubo que tem fertilizado a lavoura golpista na sociedade e no Estado.
A economia tira-lhe a base social de apoio. E a omissão política enfraquece-lhe a autoridade de chefe de Estado.
Num contexto assim, o custo irrisório de uma tentativa de golpe, exitosa ou não, para os seus autores e para a burguesia, e o reduzido risco de um eventual malogro, por ausência de condições para uma resistência democrática relevante, podem, realmente, encorajar os conspiradores e criar para eles um ambiente de consentimento, até mesmo entre setores grandemente beneficiados pela política econômica deste governo, como o setor financeiro.
A probabilidade de golpe cresce na razão inversa do custo estimado de uma tentativa, bem ou mal sucedida. Quanto maior o custo estimado, menor a probabilidade de que o golpe seja tentado.
O custo do golpe de Estado, por sua vez, está associado à dimensão da resistência que ele encontre. Quanto maior a resistência democrática, maior o custo econômico e político.
O custo de um golpe de Estado, hoje, no Brasil, é mínimo, porque a capacidade de resistência democrática no país também é mínima, em razão da desagregação da base popular de apoio ao governo.
Só o fim da atual política econômica e a adoção de uma outra, que garanta a manutenção do emprego, a elevação dos salários e a integridade dos direitos dos trabalhadores, permitiria à presidenta Dilma reconquistar a confiança dos seus eleitores e recompor a sua base de apoio na sociedade, elevando a expectativa do custo e do risco de uma investida golpista contra o seu mandato.
Se além desta radical correção de rota na economia, Dilma resolver assumir um protagonismo na cena política que até hoje não teve, cumprindo a função que lhe cabe, como presidenta da república, de liderar as forças sociais e políticas que a elegeram, na luta por mais democracia e igualdade, no Estado e na sociedade, aí sim, vai ser difícil até pensar em golpe, porque a capacidade de resistência democrática será grande, o que elevará o custo econômico e político do processo, assim como o risco de insucesso.
Conclui-se, portanto, que o futuro do governo Dilma está nas mãos da própria presidenta. Já o PT não precisa e não deve depositar a sua sorte nas mãos desta sua filiada infiel. O partido nasceu para servir aos trabalhadores e só com os trabalhadores deve ter compromisso. Não pode e não deve se permitir embarcar num projeto que não é o seu e sim das forças que acabou de derrotar na eleição recente.
O governo Dilma passa, mas o PT tem que cuidar de manter sua integridade ideológica e preservar sua aliança histórica com os trabalhadores, sem perder de vista o seu objetivo estratégico, que é a construção, no Brasil, do socialismo democrático.
O PT realmente não pode obrigar Dilma a salvar o seu governo. Mas nem Dilma, nem nenhum outro petista tem o direito de exigir do PT que renuncie ao seu projeto e que decida morrer com Dilma, num abraço de afogados.
Saudações petistas.
Silvio Melgarejo
6-8-2015
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