sábado, 8 de agosto de 2015

A Globo não defende a democracia. Defende a política econômica de Dilma.

(Publicado em minha página no Facebook)

O editorial "Manipulação do Congresso ultrapassa limites", da edição de ontem, 7 de agosto, do jornal O Globo, deu um nó na cabeça de uma porção de petistas.

Isto porque nele, os irmãos Marinho fazem duras críticas a Eduardo Cunha e aos partidos de oposição no Congresso e em seguida um surpreendente chamado à unidade pela sustentação política do governo Dilma.

Encerram assim o texto:
"É preciso entender que a crise política, enquanto corrói a capacidade de governar do Planalto, turbina a crise econômica, por degradar as expectativas e paralisar o Executivo. 

Dessa forma, a nota de risco do Brasil irá mesmo para abaixo do "grau de investimento”, com todas as implicações previsíveis: redução de investimentos externos, diretos e para aplicações financeiras; portanto, maiores desvalorizações cambiais, cujo resultado será novo choque de inflação. 

Logo, a recessão tenderá a ser mais longa, bem como, em decorrência, o ciclo de desemprego e queda de renda.

Tudo isso deveria aproximar os políticos responsáveis de todos os partidos para dar condições de governabilidade ao Planalto. "
A maioria dos apoiadores do governo não entendeu nada.

A Globo mudou de lado?

Não, meus amigos, foi a presidenta Dilma que mudou.

A Globo notou e aprovou, como se pode ver neste trecho de uma crônica de Sardenberg, do final de maio, onde ele diz:
"Mas pode haver também outro desfecho: a oposição bate no governo Dilma, acusa-o de fazer o ajuste nas costas do povo e consegue derrubá-lo. 

Para fazer o que então? 

Voltar ao modelo Dilma, aquele que nos complicou a vida, ou para fazer.... o tal ajuste?" 

(Carlos Alberto Sardenber, na crônica "À espera da necessidade", de 28/05/2015)
O "modelo Dilma" foi até 2014.

Agora, em 2015, o governo adota o "modelo Levy".

Entenderam?

A inusitada circunstância de termos a Globo como aliada, contra o projeto golpista, deveria a todos fazer pensar.

O governo Dilma, hoje, não precisaria de um golpe para cair.

Bastaria um peteleco, até um sopro, tamanha a falta de apoio na sociedade e no Congresso.

O custo e o risco de fracasso são mínimos, dada a baixíssima expectativa de uma resistência democrática relevante.

E exatamente quando parece chegado o momento da queda, a salvação vem donde menos se espera.

A Globo estende a mão para Dilma.

No editorial do dia 7 de agosto, do O Globo, dizem os irmãos Marinho:
"Há momentos nas crises que impõem a avaliação da importância do que está em jogo. 

Os fatos das últimas semanas e, em especial, de quarta-feira, com as evidências do desmoronamento da já fissurada base parlamentar do governo, indicam que se chegou a uma bifurcação: vale mais o destino de políticos proeminentes ou a estabilidade institucional do país? "
Desde quando deu a Globo algum valor para a democracia?

Nunca deu e não dá valor nenhum, a história prova.

Mas então por que, depois de meses de intensa e permanente ação desestabilizadora, resolve dar agora não só trégua, mas apoio ao governo encurralado?

Para entender isto é preciso que se pense:

A quem interessa derrubar Dilma e por que?

Que interesses ela realmente fere ou ameaça?

Existe de fato uma campanha pelo impeachment da presidenta, desde a sua reeleição.

Mas quem faz esta campanha?

Fácil de identificar.

São setores da direita oposicionista que se orientam por um cálculo unicamente político da disputa com o governo.

E que outro cálculo poderia ser feito numa disputa política?

O cálculo econômico.

E é este cálculo, o econômico, que interessa à burguesia, financiadora das campanhas dos políticos e patrocinadora dos oligopólios midiáticos, sobre os quais tem, evidentemente, controle.

Pois o editorial do dia 7 de agosto, do O Globo, obedece exatamente ao comando da burguesia, para uma ação em favor do governo Dilma, um governo que se mostra absolutamente comprometido com a aplicação de uma política econômica que a própria burguesia já defendia desde a campanha eleitoral, através dos candidatos que a representavam, Aécio Neves e Marina Silva.

No momento em que dá uma entrevista dizendo que a opinião do PT não a influencia e, logo em seguida, mostra que fala sério, nomeando Joaquim Levy para a Fazenda e dando a ele carta branca para implementar uma política econômica neoliberal, Dilma rompe, de fato, com o PT e passa a ser encarada como aliada pela burguesia.

Inimigo, portanto, para a burguesia, é o PT.

E Lula, claro, seu maior líder.

Dilma, para a burguesia, não é, de maneira nenhuma, inimiga.

A Lava Jato é uma conspiração para destruir Lula e o PT, não para depor Dilma Rousseff, que, na economia, tão bem tem servido à burguesia, além de patrocinar a própria Lava Jato.

O noticiário da Lava Jato e o proselitismo agressivo dos colunistas globais contra Lula e o PT desviaram a atenção dos petistas do noticiário e da crônica de economia.

Por isso, poucos notaram o apoio irrestrito que a Globo tem dado à política econômica da presidenta, desde o início deste seu segundo mandato, como se pode ver nos links abaixo.

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20/01/2015
Miriam Leitão
Governo está fazendo um ajuste fiscal necessário

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11/02/2015
O Globo - Editorial
O inconcebível ataque ao ajuste fiscal

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07/05/2015
Portal G1
Entenda por que o governo precisa fazer o ajuste fiscal em 2015

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26/05/2015
Carlos Alberto Sardenberg
Sem ajuste fiscal, Brasil não vai a lugar algum

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28/05/2015
Carlos Alberto Sardenberg
À espera da necessidade

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20/07/2015
Carlos alberto Sardenberg
Congresso tem ajudado pouco no ajuste fiscal

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22/07/2015
Portal G1
Veja como será o ajuste fiscal do governo e em que afeta sua vida

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22/07/2015
Miriam Leitão
Ajuste fiscal não deve ser abandonado

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07/08/2015
O Globo - Editorial
Manipulação do Congresso ultrapassa limites

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Pois é esta política econômica de Dilma, aprovada pela burguesia e ameaçada pela conspiração golpista, que a Globo pretende salvar, quando se opõe ao impeachment, naquele editorial do dia 7 de agosto.

Atende ao comando da burguesia e presta socorro ao governo, depois dos dramáticos apelos de Michel Temer e Aloísio Mercadante.

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06/08/2015
Jornal Nacional
Michel Temer faz apelo ao Congresso e pede união para superar crise

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Antes da Globo, dia 6, as associações das indústrias de São Paulo (FIESP) e do Rio de Janeiro (FIRJAN) divulgaram uma nota conjunta dizendo:
"A FIRJAN e a FIESP vêm a público manifestar seu apoio à proposta de união apresentada ontem pelo Vice-Presidente da República, Michel Temer. 

O momento é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do Brasil.

A situação política e econômica é a mais aguda dos últimos vinte anos. 

(...)

O Brasil não pode se permitir mais irresponsabilidades fiscais, tributárias ou administrativas, e deve agir para manter o grau de investimento tão duramente conquistado, sob pena de colocar em risco a sobrevivência de milhares e milhares de empresas e milhões de empregos."
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06/08/2015
Jornal Nacional
Federações das indústrias de SP e do Rio apoiam apelo de Temer por união

***

06/08/2015
Portal G1
Firjan e Fiesp divulgam nota de apoio a apelo de Temer por união política

***

A burguesia, indiscutivelmente, venceu.

O PT foi derrotado por ela dentro do seu próprio governo, pela incapacidade de reagir à traição da presidenta que acabara de eleger.

Instado por Lula, o partido, ao invés de denunciar, resolveu aderir à traição, comprometendo-se inteiramente com o apoio à política econômica tucana, agora abraçada por Dilma.

E se o PT foi derrotado, se já não manda em mais nada neste governo, se Dilma atende tão bem às expectativas da burguesia, realizando boa parte do seu programa, para que arriscaria, a burguesia, um impeachment, com todos os riscos e custos que um processo destes envolve?

A burguesia não precisa mudar de governo para ter o que quer.

Dilma já está comprometida com a sua política econômica. O problema não é ela, é a conspiração golpista, que sabota a implementação desta política, com as tais "pautas bombas" do Congresso.

Diz o editorial do O Globo, do dia 7:
"Mesmo o mais ingênuo baixo-clero entende que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), age de forma assumida como oposição ao governo Dilma na tentativa de demonstrar força para escapar de ser denunciado ao Supremo, condenado e perder o mandato, por envolvimento nas traficâncias financeiras desvendadas pela Lava-Jato. 

Daí, trabalhar pela aprovação de “pautas-bomba”, destinadas a explodir o Orçamento e, em consequência, queira ou não, desestabilizar de vez a própria economia brasileira.

(...)

Se a conjuntura já é muito ruim, a situação piora com o deputado Eduardo Cunha manipulando com habilidade o Legislativo na sua guerra particular contra Dilma e petistas. 

Equivale ao uso de arma nuclear em briga de rua, e com a conivência de todos os partidos, inclusive os da oposição."
A burguesia, então, resolveu botar ordem na casa.

E a Globo foi, como sempre, sua porta voz.

Deu o recado e ai daquele que ignorá-lo.

A uma semana dos protestos convocados pelos golpistas, a presidenta Dilma ganhou aliados de peso.

E eles são exatamente os inimigos do seu partido.

Pois é, meus amigos.

Quem de vocês imaginou, algum dia, que apoiaria um governo, também apoiado pela Globo?

A Globo mudou?

Não, companheiros. Fomos nós que mudamos.

Esquecemos do que é ser PT.

Silvio Melgarejo

8-8-2015

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