O editorial "Manipulação do Congresso ultrapassa limites", da edição de ontem, 7 de agosto, do jornal O Globo, deu um nó na cabeça de uma porção de petistas.
Isto porque nele, os irmãos Marinho fazem duras críticas a Eduardo Cunha e aos partidos de oposição no Congresso e em seguida um surpreendente chamado à unidade pela sustentação política do governo Dilma.
Encerram assim o texto:
"É preciso entender que a crise política, enquanto corrói a capacidade de governar do Planalto, turbina a crise econômica, por degradar as expectativas e paralisar o Executivo.A maioria dos apoiadores do governo não entendeu nada.
Dessa forma, a nota de risco do Brasil irá mesmo para abaixo do "grau de investimento”, com todas as implicações previsíveis: redução de investimentos externos, diretos e para aplicações financeiras; portanto, maiores desvalorizações cambiais, cujo resultado será novo choque de inflação.
Logo, a recessão tenderá a ser mais longa, bem como, em decorrência, o ciclo de desemprego e queda de renda.
Tudo isso deveria aproximar os políticos responsáveis de todos os partidos para dar condições de governabilidade ao Planalto. "
A Globo mudou de lado?
Não, meus amigos, foi a presidenta Dilma que mudou.
A Globo notou e aprovou, como se pode ver neste trecho de uma crônica de Sardenberg, do final de maio, onde ele diz:
"Mas pode haver também outro desfecho: a oposição bate no governo Dilma, acusa-o de fazer o ajuste nas costas do povo e consegue derrubá-lo.O "modelo Dilma" foi até 2014.
Para fazer o que então?
Voltar ao modelo Dilma, aquele que nos complicou a vida, ou para fazer.... o tal ajuste?"
(Carlos Alberto Sardenber, na crônica "À espera da necessidade", de 28/05/2015)
Agora, em 2015, o governo adota o "modelo Levy".
Entenderam?
A inusitada circunstância de termos a Globo como aliada, contra o projeto golpista, deveria a todos fazer pensar.
O governo Dilma, hoje, não precisaria de um golpe para cair.
Bastaria um peteleco, até um sopro, tamanha a falta de apoio na sociedade e no Congresso.
O custo e o risco de fracasso são mínimos, dada a baixíssima expectativa de uma resistência democrática relevante.
E exatamente quando parece chegado o momento da queda, a salvação vem donde menos se espera.
A Globo estende a mão para Dilma.
No editorial do dia 7 de agosto, do O Globo, dizem os irmãos Marinho:
"Há momentos nas crises que impõem a avaliação da importância do que está em jogo.Desde quando deu a Globo algum valor para a democracia?
Os fatos das últimas semanas e, em especial, de quarta-feira, com as evidências do desmoronamento da já fissurada base parlamentar do governo, indicam que se chegou a uma bifurcação: vale mais o destino de políticos proeminentes ou a estabilidade institucional do país? "
Nunca deu e não dá valor nenhum, a história prova.
Mas então por que, depois de meses de intensa e permanente ação desestabilizadora, resolve dar agora não só trégua, mas apoio ao governo encurralado?
Para entender isto é preciso que se pense:
A quem interessa derrubar Dilma e por que?
Que interesses ela realmente fere ou ameaça?
Existe de fato uma campanha pelo impeachment da presidenta, desde a sua reeleição.
Mas quem faz esta campanha?
Fácil de identificar.
São setores da direita oposicionista que se orientam por um cálculo unicamente político da disputa com o governo.
E que outro cálculo poderia ser feito numa disputa política?
O cálculo econômico.
E é este cálculo, o econômico, que interessa à burguesia, financiadora das campanhas dos políticos e patrocinadora dos oligopólios midiáticos, sobre os quais tem, evidentemente, controle.
Pois o editorial do dia 7 de agosto, do O Globo, obedece exatamente ao comando da burguesia, para uma ação em favor do governo Dilma, um governo que se mostra absolutamente comprometido com a aplicação de uma política econômica que a própria burguesia já defendia desde a campanha eleitoral, através dos candidatos que a representavam, Aécio Neves e Marina Silva.
No momento em que dá uma entrevista dizendo que a opinião do PT não a influencia e, logo em seguida, mostra que fala sério, nomeando Joaquim Levy para a Fazenda e dando a ele carta branca para implementar uma política econômica neoliberal, Dilma rompe, de fato, com o PT e passa a ser encarada como aliada pela burguesia.
Inimigo, portanto, para a burguesia, é o PT.
E Lula, claro, seu maior líder.
Dilma, para a burguesia, não é, de maneira nenhuma, inimiga.
A Lava Jato é uma conspiração para destruir Lula e o PT, não para depor Dilma Rousseff, que, na economia, tão bem tem servido à burguesia, além de patrocinar a própria Lava Jato.
O noticiário da Lava Jato e o proselitismo agressivo dos colunistas globais contra Lula e o PT desviaram a atenção dos petistas do noticiário e da crônica de economia.
Por isso, poucos notaram o apoio irrestrito que a Globo tem dado à política econômica da presidenta, desde o início deste seu segundo mandato, como se pode ver nos links abaixo.
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20/01/2015
Miriam Leitão
Governo está fazendo um ajuste fiscal necessário
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11/02/2015
O Globo - Editorial
O inconcebível ataque ao ajuste fiscal
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07/05/2015
Portal G1
Entenda por que o governo precisa fazer o ajuste fiscal em 2015
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26/05/2015
Carlos Alberto Sardenberg
Sem ajuste fiscal, Brasil não vai a lugar algum
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28/05/2015
Carlos Alberto Sardenberg
À espera da necessidade
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20/07/2015
Carlos alberto Sardenberg
Congresso tem ajudado pouco no ajuste fiscal
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22/07/2015
Portal G1
Veja como será o ajuste fiscal do governo e em que afeta sua vida
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22/07/2015
Miriam Leitão
Ajuste fiscal não deve ser abandonado
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07/08/2015
O Globo - Editorial
Manipulação do Congresso ultrapassa limites
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Pois é esta política econômica de Dilma, aprovada pela burguesia e ameaçada pela conspiração golpista, que a Globo pretende salvar, quando se opõe ao impeachment, naquele editorial do dia 7 de agosto.
Atende ao comando da burguesia e presta socorro ao governo, depois dos dramáticos apelos de Michel Temer e Aloísio Mercadante.
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06/08/2015
Jornal Nacional
Michel Temer faz apelo ao Congresso e pede união para superar crise
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Antes da Globo, dia 6, as associações das indústrias de São Paulo (FIESP) e do Rio de Janeiro (FIRJAN) divulgaram uma nota conjunta dizendo:
"A FIRJAN e a FIESP vêm a público manifestar seu apoio à proposta de união apresentada ontem pelo Vice-Presidente da República, Michel Temer.***
O momento é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do Brasil.
A situação política e econômica é a mais aguda dos últimos vinte anos.
(...)
O Brasil não pode se permitir mais irresponsabilidades fiscais, tributárias ou administrativas, e deve agir para manter o grau de investimento tão duramente conquistado, sob pena de colocar em risco a sobrevivência de milhares e milhares de empresas e milhões de empregos."
06/08/2015
Jornal Nacional
Federações das indústrias de SP e do Rio apoiam apelo de Temer por união
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06/08/2015
Portal G1
Firjan e Fiesp divulgam nota de apoio a apelo de Temer por união política
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A burguesia, indiscutivelmente, venceu.
O PT foi derrotado por ela dentro do seu próprio governo, pela incapacidade de reagir à traição da presidenta que acabara de eleger.
Instado por Lula, o partido, ao invés de denunciar, resolveu aderir à traição, comprometendo-se inteiramente com o apoio à política econômica tucana, agora abraçada por Dilma.
E se o PT foi derrotado, se já não manda em mais nada neste governo, se Dilma atende tão bem às expectativas da burguesia, realizando boa parte do seu programa, para que arriscaria, a burguesia, um impeachment, com todos os riscos e custos que um processo destes envolve?
A burguesia não precisa mudar de governo para ter o que quer.
Dilma já está comprometida com a sua política econômica. O problema não é ela, é a conspiração golpista, que sabota a implementação desta política, com as tais "pautas bombas" do Congresso.
Diz o editorial do O Globo, do dia 7:
"Mesmo o mais ingênuo baixo-clero entende que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), age de forma assumida como oposição ao governo Dilma na tentativa de demonstrar força para escapar de ser denunciado ao Supremo, condenado e perder o mandato, por envolvimento nas traficâncias financeiras desvendadas pela Lava-Jato.A burguesia, então, resolveu botar ordem na casa.
Daí, trabalhar pela aprovação de “pautas-bomba”, destinadas a explodir o Orçamento e, em consequência, queira ou não, desestabilizar de vez a própria economia brasileira.
(...)
Se a conjuntura já é muito ruim, a situação piora com o deputado Eduardo Cunha manipulando com habilidade o Legislativo na sua guerra particular contra Dilma e petistas.
Equivale ao uso de arma nuclear em briga de rua, e com a conivência de todos os partidos, inclusive os da oposição."
E a Globo foi, como sempre, sua porta voz.
Deu o recado e ai daquele que ignorá-lo.
A uma semana dos protestos convocados pelos golpistas, a presidenta Dilma ganhou aliados de peso.
E eles são exatamente os inimigos do seu partido.
Pois é, meus amigos.
Quem de vocês imaginou, algum dia, que apoiaria um governo, também apoiado pela Globo?
A Globo mudou?
Não, companheiros. Fomos nós que mudamos.
Esquecemos do que é ser PT.
Silvio Melgarejo
8-8-2015
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