segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Mobilização social pode mudar a correlação de forças no Parlamento e influenciar suas decisões.

Por Silvio Melgarejo - Nem o Congresso, nem o capital, que patrocina a maior parte dos seus membros, são alheios às pressões da sociedade.

A correlação de forças no Parlamento não precisa esperar por uma nova eleição para ser mudada.

Basta que deputados, senadores e seus financiadores de campanha, ouçam a ira santa das massas e sintam que algum prejuízo podem ter se a ignorarem.

Moreira Franco, um experiente político do PMDB, mostra que entende isto, na entrevista que deu a Tereza Cruvinel, publicada em 7/11/2014, em que diz:
"Vou repetir algo que aprendi ao longo de uma vida pública que já vem de longe.  

Um governo só consegue maioria sólida e eficaz se atender a duas exigências.  

A primeira, é o governo ter lastro e sintonia com a sociedade.  

Não é mera retórica dizer que o Congresso é caixa de ressonância da sociedade. 

Ele fica nervoso e inquieto quando percebe nervosismo e inquietação na sociedade que representa. 

A casa pode não ser um convento, tem seus problemas,  mas não é composta por vendilhões do templo. 

Estamos falando de uma instituição que vem do Império e ao longo da República desenvolveu aguda sensibilidade para captar os humores e demandas da opinião pública.  

Então, a primeira condição para um governo ter maioria, estar bem com o Congresso, é estar bem com a sociedade. 

Obviamente não é possível atender a todas as demandas mas é preciso manter portas abertas, buscar sintonia e diálogo. 

(...)

O segundo ponto importante na formação de maiorias é que haja uma discussão política. 

O programa político do governo tem que ser apresentado e discutido.  

Não se pode governar com pratos feitos. 

(...)

Então o governo precisa mandar um documento dizendo: nossas diretrizes econômicas são estas, as sociais, estas, a reforma política que propomos é esta.

Quando cada projeto chega sem discussão prévia, os conflitos estressam a aliança.  

Costumo brincar que a aliança é como casamento. 

Se todo dia o casal tem um conflito porque um toma posições isoladas, faltou amor, e a relação não aguentará. 

Assim é também nas alianças políticas. 

Não pode faltar confiança política. 

É preciso um engajamento no mesmo projeto, ainda que existam divergências sobre alguns pontos, mas no essencial, é preciso que exista um pacto prévio. 

Quando estas duas condições para a maioria são atendidas, fica bem mais simples administrar o dia a dia da relação com o Congresso, negociar a pauta ou administrar demandas de aliados…" 
***

Um governo "que tem lastro e sintonia com a sociedade" é um governo que tem governabilidade social.

Se nenhum governo pode prescindir disto, muito menos o pode um governo de esquerda.

Neste caso, a falta de governabilidade social inviabiliza a realização do programa original do governo, seja pelo boicote ou sabotagem reiterada de suas iniciativas, seja pela deposição, mediante golpe, do mandatário eleito.

***

O primeiro e maior erro de Dilma neste seu segundo mandato, foi ter empurrado goela abaixo do PT e dos seus eleitores um "prato feito" bem diferente do cardápio combinado durante a campanha em que se elegeu.

Neste momento, a aliança entre a presidenta, seu partido e seus eleitores se desfez, com a quebra da confiança decorrente deste seu ato.

Isto explica a queda vertiginosa da aprovação ao seu governo.

Para reconstituir esta aliança, Dilma precisa botar um ponto final na política econômica que a tem antagonizado com os trabalhadores.

Esta é a condição indispensável para a retomada do diálogo interrompido e para a recuperação da confiança quebrada.

O governo tem que mostrar que realmente quer servir antes aos trabalhadores do que aos banqueiros.

Só assim, a presidenta poderá ter o apoio resoluto das massas contra qualquer ameaça de golpe e contra qualquer obstáculo que dificulte a realização do projeto acordado com os trabalhadores.

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