sexta-feira, 28 de agosto de 2015

Sete propostas de medidas e uma condição básica para garantir o funcionamento pleno e regular dos diretórios do PT.

(versão atualizada do texto SEIS PROPOSTAS DE MEDIDAS E UMA CONDIÇÃO BÁSICA PARA GARANTIR O FUNCIONAMENTO PLENO E REGULAR DOS DIRETÓRIOS DO PT, de 1-8-2015)

1 – Realização de uma Conferência Nacional sobre Administração e Finanças Partidárias, para promover um amplo e profundo debate sobre estes temas, dando oportunidade aos filiados profissionais e estudantes destas áreas de contribuírem com seus conhecimentos e experiências para a elaboração de uma política administrativa e financeira consistente para o partido. O objetivo desta conferência seria também a identificação e recrutamento de quadros técnicos em administração e finanças, indispensáveis para a correta aplicação de qualquer política que se conceba para estas áreas.

2 - Que a Fundação Perseu Abramo elabore um Manual de Administração Partidária e um Curso de Administração Partidária, para qualificar a gestão dos diretórios. A medida adicional a esta, necessária para que ela tenha o efeito desejado, é que este curso seja obrigatório para os dirigentes do partido de todos os níveis.

3 - Criar e manter ouvidorias nos diretórios Nacional e regionais, como determinam os artigos 249 e 250 do estatuto do PT, para acolher as reclamações, dúvidas e sugestões dos filiados e dar-lhes o encaminhamento devido. Dizem os referidos artigos:
Art. 249. A Ouvidoria é órgão de cooperação do Partido e será criada em nível nacional e estadual, com a finalidade de contribuir para manter o Partido sintonizado com as aspirações do conjunto de seus filiados e filiadas e com os setores sociais que pretende representar, promovendo, sempre que necessário, debates sobre o projeto político partidário. 

Art. 250. As Comissões Executivas Estaduais e Nacional serão responsáveis pela criação das respectivas Ouvidorias, providenciando os meios adequados ao exercício de suas atividades, observadas as normas de funcionamento a serem definidas pela instância nacional.
4 - Inclusão no estatuto do PT da obrigatoriedade de se criar e manter ouvidorias também nos diretórios municipais e zonais, como forma de manter sempre aberto um canal de comunicação destas instâncias com suas respectivas bases de filiados.

5 - Inclusão no estatuto do PT da obrigatoriedade da criação e manutenção no partido de uma Controladoria Geral, vinculada ao Diretório Nacional, para monitorar a gestão de todos os diretórios e apresentar relatórios periódicos com indicadores, análises e sugestões de medidas corretivas. Estes relatórios deverão ser amplamente divulgados na base do partido.

6 - Que a Fundação Perseu Abramo elabore um sistema de avaliação de desempenho e resultados da gestão dos diretórios de todos os níveis. Proponho que sejam feitas avaliações anuais, sob o comando da Controladoria Geral - a ser criada - e das secretarias nacionais de Organização e Finanças, e que seus resultados sejam amplamente divulgados na base do partido.

7 - Aperfeiçoamento da redação do Artigo 227, item VI, do Estatuto do PT, para que possa ser mais facilmente entendido pela maioria dos filiados, pouco ou nada versados em termos jurídicos. A atual redação diz:
"Art. 227. Constituem infrações éticas e disciplinares:

(...)

VI – a falta de exação no cumprimento dos deveres atinentes aos cargos e funções partidárias;"
Proponho a substituição do termo "falta de exação no cumprimento dos deveres" por outro equivalente de mais fácil compreensão para não iniciados na linguagem do direito.

Algo como “omissão ou negligência no cumprimento dos deveres atinentes aos cargos e funções partidárias", tornaria mais clara a intenção deste artigo.

Proponho esta mudança de texto porque acredito que toda norma legal, quando acessível ao entendimento da maioria, tem o poder de influenciar a cultura de qualquer comunidade ou organização.

Todo direito resulta do cumprimento de algum dever. Por isso toda defesa de direitos costuma se materializar como cobrança de deveres.

Os direitos dos filiados do PT, definidos no estatuto do partido, dependem do cumprimento dos deveres dos dirigentes.

O conhecimento geral da existência de uma norma estatutária e de penalidades para os infratores, ajuda a desenvolver a consciência coletiva sobre a intenção desta norma e estimula a vigilância e a cobrança que inibem o seu descumprimento. Penso que seja este o objetivo dos códigos legais e dos regimentos internos e estatutos das organizações.

O Estatuto do PT é o código civil do partido. Por isso precisa ser conhecido e compreendido por todos os seus filiados, para que todos o cumpram e exijam o seu cumprimento,

CONTROLE E CAPACITAÇÃO

As 7 propostas acima visam ajudar o partido a superar os 5 problemas que estão na raiz da precariedade do funcionamento da maior parte dos diretórios do PT. Estes problemas são:
- a falta de uma política administrativa e financeira para os diretórios;

- a falta de quadros técnicos em administração e finanças;

- a falta de preparo dos dirigentes para a administração de suas instâncias;

- a falta de instrumentos de avaliação do desempenho e dos resultados dos diretórios (CONTROLE); e

- a falta de cobrança da base e das instâncias superiores a cada diretório.
O controle é uma das etapas do processo administrativo de qualquer organização. E um partido político é uma organização.

É no controle que são avaliadas as 3 etapas anteriores do processo administrativo, que são o planejamento, a organização e a execução das ações planejadas.

O PT ainda é uma organização sem controle e por isso tem dificuldade para identificar as deficiências das outras etapas de sua administração e corrigi-las.

Das 7 medidas que proponho, 5 visam exatamente aperfeiçoar o controle dos diretórios por suas respectivas bases e instâncias superiores.

São as propostas 3, 4, 5, 6 e 7.

Já as 2 primeiras propostas visam identificar, recrutar e capacitar quadros, dirigentes ou não, para o correto desempenho do conjunto das funções administrativas necessárias para a realização prática das políticas do partido.

DISCIPLINA

Por último é preciso dizer que a condição básica para o funcionamento pleno e regular do partido, diretório a diretório, é a disciplina dos dirigentes.

Sem dirigentes disciplinados e disciplinadores é impossível fazer a máquina partidária funcionar adequadamente.

Para que o partido funcione é preciso que o Diretório Nacional seja disciplinado e que cobre disciplina dos diretórios regionais.

Que cada diretório regional seja disciplinado e que cobre disciplina dos diretórios municipais de sua jurisdição.

E que cada diretório municipal seja disciplinado e cobre disciplina dos diretórios zonais de sua jurisdição.

Disciplina é rigor no cumprimento de deveres. E é isto que está faltando aos membros dos diretórios do PT de todos os níveis para que o partido funcione e consiga envolver o conjunto dos filiados na realização da sua política.

É preciso que os dirigentes sejam rigorosos consigo mesmos no cumprimento das atribuições que o estatuto do PT lhes atribui e na cobrança do cumprimento das atribuições dos seus pares, bem como das obrigações dos filiados de suas respectivas bases.

O estatuto do PT já trata desta questão da disciplina dos dirigentes nos seguintes artigos:
"Art. 224 - A disciplina interna e a fidelidade partidária serão asseguradas, na forma estabelecida neste Estatuto, pelas seguintes medidas:
I - intervenção de instância superior em inferior;
II - aplicação de medidas disciplinares, na forma deste Estatuto;
III - manifestação das instâncias do Partido."
E, mais adiante, no seguinte artigo, que já citei anteriormente:
"Art. 227. Constituem infrações éticas e disciplinares:

(...)

VI – a falta de exação no cumprimento dos deveres atinentes aos cargos e funções partidárias;"
Traduzindo, este artigo 227 quer dizer:

"Constitui infração disciplinar a omissão ou negligência no cumprimento dos deveres atinentes aos cargos e funções partidárias."

O Estatuto prevê também as penalidades a que está sujeito o infrator da norma:
"Art. 228. São as seguintes as medidas disciplinares

I – advertência reservada ou pública; 

II– censura pública; 

(...)

IV– suspensão das atividades partidárias por tempo determinado

V – destituição de função em órgão partidário;"
O funcionamento pleno e regular do partido, diretório a diretório, depende de uma firme decisão do Diretório Nacional de dar cumprimento efetivo aos artigos 227 e 228 do Estatuto do PT que, de fato, nunca foram cumpridos. 

Se não houver esta demonstração de compromisso da cúpula partidária com as normas contidas no Estatuto, que foram democraticamente concebidas pelo próprio partido, para o seu funcionamento, de nenhum dos outros níveis da cadeia de comando do PT se poderá esperar este compromisso, e o partido seguirá com sua disciplina frouxa, como tem sido, incapaz de realizar até mesmo um simples abaixo assinado, como o da Reforma Política, muito menos uma Onda Vermelha, como a tentada sem sucesso em 2013.

Saudações petistas.

Silvio Melgarejo

28-8-2015



(Nota publicada no Facebook)

Última atualização: 16/20/2015

terça-feira, 25 de agosto de 2015

A revolução no PT, que Lula propõe, pode começar com um Encontro Nacional Extraordinário.

“Então, eu fico pensando se não tá na hora da gente fazer uma revolução nesse partido, uma revolução interna, e colocar gente nova, gente que pensa diferente, gente mais ousada, gente com mais coragem do que a gente.

Nós temos que definir se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou queremos salvar o nosso projeto.

E eu acho que nós precisamos, no fundo, no fundo, criar um novo projeto de organização partidária nesse país.”  (Lula, 23-6-2015)
A afirmação acima foi feita por Lula em 23 de junho último, em palestra para um evento chamado Conferência Novos Desafios da Democracia, promovido pelo seu instituto.

A reflexão que conduziu o ex-presidente a esta conclusão transcrevi e publiquei em minha nota de ontem, "'O PT precisa de uma revolução interna', diz Lula", onde também disponibilizo os links para o vídeo e o áudio da palestra completa.

Falando do presente e comparando com o passado, Lula faz um diagnóstico que mostra o PT numa situação dramática, um partido quase em estado terminal.

Lula diz que o PT se degenerou com a chegada ao governo federal, que o partido adquiriu vícios, perdeu vitalidade e que, por isso, precisa urgentemente de mudanças.

E não pequenas mudanças, mas mudanças radicais.

Uma "revolução interna", foi a expressão que ele usou.

Abaixo, o link da nota "'O PT precisa de uma revolução interna', diz Lula".

***

https://www.facebook.com/notes/silvio-melgarejo/o-pt-precisa-de-uma-revolu%C3%A7%C3%A3o-interna-diz-lula/1117760994903965

http://silviomelgarejo.blogspot.com.br/2015/08/o-pt-precisa-de-uma-revolucao-interna.html


***

Sobre o trecho que destaco no início desta nota.

Quando Lula diz que é preciso "criar um novo projeto de organização partidária neste país" é porque acha, evidentemente, que o PT, do jeito que está, não tem mais condição nenhuma de continuar transformando a sociedade.

"Um novo projeto de organização partidária" nada mais é do que um novo partido.

E é disto mesmo que a esquerda brasileira hoje precisa, de um novo partido.

Mas um novo partido não significa necessariamente uma nova legenda.

Ou seja, este novo partido pode ser o próprio PT.

Isto, se o PT tiver a coragem e a capacidade de se reinventar.

Quando Lula diz aos dirigentes e à burocracia partidária "nós temos que definir se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou queremos salvar o nosso projeto", revela a percepção de que o projeto do PT está sob gravíssima ameaça de fracasso.

Mas também a convicção de que este projeto pode ser salvo, se os dirigentes e a burocracia conseguirem desapegar-se dos seus mandatos, cargos e empregos, colocando os interesses da classe trabalhadora acima dos seus próprios interesses e ambições pessoais.

O apego demasiado a mandatos, cargos e empregos, nos diretórios partidários e nos parlamentos e administrações públicas, são hoje, na visão de Lula, o maior entrave às mudanças necessárias para que o PT se reencontre com sua cultura política original, de partido socialista, democrático e militante.


A REVOLUÇÃO QUE LULA PROPÕE

A mudança radical que Lula defende pode ser resumida em duas frases suas.

1) Mudar os dirigentes
"Colocar gente nova, gente que pensa diferente, gente mais ousada, gente com mais coragem do que a gente."  (Lula)
2) Mudar a estratégia política e a política de administração do partido
"Criar um novo projeto de organização partidária."  (Lula)

COMO COMEÇAR ESTA REVOLUÇÃO

O diretório regional do Rio Grande do Sul apontou o caminho, quando propôs, num documento chamado Carta de Porto Alegre, de 27 de julho deste ano, a convocação de um Encontro Nacional Extraordinário.

Diz a Carta de Porto Alegre, em seu último parágrafo:
"Por tudo isto o DRPT/RS decide manter vivo o debate sobre a estratégia que deve seguir, autoriza a Executiva Estadual a convocar um novo congresso no estado e conclama a todos os delegados e a todas as delegadas do V Congresso do PT a avocar o artigo 113 de nosso Estatuto para chamar um Encontro Nacional EXTRAORDINÁRIO.
Um Encontro que tire alternativas concretas à política econômica e mantenham o PT na sua trilha correta: ao lado do povo brasileiro, na defesa intransigente de políticas e estratégias para retomada do crescimento com distribuição de renda, fazendo os ricos pagarem a conta, taxando as grandes fortunas e heranças, na defesa do emprego, do salário, dos direitos dos trabalhadores e da ampliação das políticas sociais.
Um Encontro que reafirme o fim do financiamento empresarial ao partido estendendo-o às campanhas eleitorais.
A hora é de defender o legado e o futuro de nosso Partido contra a tentativa de cerco e aniquilamento em curso pelos inimigos do povo.
Mais do que nunca, esta mudança precisa continuar.
É preciso mudar o PT para mudar mais o Brasil."
 Infelizmente, a maioria dos delegados do 5º Congresso, de perfil conservador, barrou a aprovação desta proposta.

O que não significa que ela tenha sido definitivamente enterrada.

Ao contrário, ela continua viva, já que é o único caminho possível para o PT superar, em curto prazo, a profunda crise política e adminstrativa que o tem debilitado e posto em risco a sua própria sobrevivência como instrumento da luta dos trabalhadores pelo socialismo democrático.


O QUE DIZ O ESTATUTO DO PT

Sobre a renovação dos mandatos dos dirigentes
Art. 21. O mandato dos membros efetivos e suplentes das direções partidárias, dos Conselhos Fiscais e das Comissões de Ética é de 4 (quatro) anos.

          Parágrafo único: A antecipação ou a prorrogação dos mandatos a que se refere este artigo só poderá ser autorizada por deliberação de, no mínimo, 60% (sessenta por cento) dos membros do Diretório Nacional.
Sobre os Encontros Ordinários, de todos os níveis
Art. 43. Os Encontros Ordinários, em todos os níveis, serão obrigatórios e realizados a cada dois anos, de acordo com o calendário e a pauta geral estabelecidos pelo Diretório Nacional.

          Parágrafo único: No Encontro, 2/3 (dois terços) dos delegados ou delegadas eleitos poderão convocar novo processo de eleição direta (PED) para a renovação da respectiva instância, ou para a renovação das instâncias setoriais.

Sobre o Encontro Nacional
Art. 111. Constituem o Encontro Nacional do Partido os delegados e delegadas eleitos no PED ou nos Encontros Estaduais.

Art. 112. O Encontro Nacional ocorrerá ordinariamente:

          I – nas datas estabelecidas pelo Diretório Nacional e por convocação deste;

          II – mediante convocação da Comissão Executiva Nacional, (...)

          IV – [para] convocar novo Processo de Eleição Direta (PED) a ser realizado no prazo máximo de 90 (noventa) dias após a data do Encontro para  eleger a direção nacional, quando a proposta tiver sido aprovada por 2/3 (dois terços) dos delegados e delegadas eleitos.

          VI – [e] para aprovar os planos e metas de ação do Partido, inclusive diretrizes políticas para atuação dos representantes eleitos pela legenda do Partido;

Sobre o Encontro Nacional Extraordinário
Art. 113. O Encontro Nacional Extraordinário ocorrerá mediante convocação da maioria do Diretório Nacional, de 1/3 (um terço) dos delegados e das delegadas a este Encontro, ou de 1/3 (um terço) dos Diretórios Estaduais.

MOBILIZAR A BASE PARA PRESSIONAR OS DIRETÓRIOS

Hoje, como se vê no Artigo 113, as duas únicas possibilidades de se realizar um Encontro Nacional Extraordinário são pela convocação da maioria do Diretório Nacional ou pela convocação de 1/3 dos diretórios estaduais (regionais).

Mas como convencer estes dirigentes a fazê-lo?

A mim parece que só através de uma intensa e permanente pressão da base de filiados do partido, que deve cobrar inclusive de Lula um posicionamento coerente com o diagnóstico que fez e com o caminho que apontou em junho, na Conferência Novos Desafios da Democracia.

Uma campanha nacional pela realização de um encontro extraordinário, com a redação e divulgação de um manifesto, debates, atos públicos, um abaixo assinado envolvendo os mais de 1,7 milhão de filiados e o envio de e-mails em massa para os diretórios, pode criar um ambiente favorável ao acolhimento e encaminhamento desta proposta pelos dirigentes destas instâncias.

Mas é preciso que este movimento se inicie e intensifique já.

Ou a lata de lixo da História logo terá mais um partido socialista degenerado para sua coleção.

Silvio Melgarejo

25-8-2015


(Nota publicada no Facebook)

segunda-feira, 24 de agosto de 2015

"O PT precisa de uma revolução interna", diz Lula.

“Então, eu fico pensando se não tá na hora da gente fazer uma revolução nesse partido, uma revolução interna, e colocar gente nova, gente que pensa diferente, gente mais ousada, gente com mais coragem do que a gente.

Nós temos que definir se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou queremos salvar o nosso projeto.

E eu acho que nós precisamos, no fundo, no fundo, criar um novo projeto de organização partidária nesse país.”  (Lula, 23-6-2015)
Trecho da palestra de Lula, na Conferência Novos Caminhos da Democracia, promovida pelo Instituto Lula, em 23 de junho de 2015.
“Eu acho que o PT perdeu um pouco a utopia.

Tá?

Eu lembro como é que a gente acreditava nos sonhos, como é que a gente chorava quando a gente mesmo falava.

Nós chorava de nós mesmos, ou seja... tal era a crença.

Hoje, nós precisamos [re]construir isso, porque hoje a gente só pensa em cargo, a gente só pensa em emprego, a gente só pensa em ser eleito, ninguém hoje trabalha mais de graça...

Antigamente esse partido ia fazer qualquer coisa na rua, colocava 2, 3 mil pessoas na rua, cada um vestido com a camisa do partido, cada um carregando a bandeira do partido...

Hoje, se os candidatos [parlamentares] não liberarem as pessoas do gabinete dele, ninguém vai, porque as pessoas agora só querem ir ganhando.
É o vício do partido que cresceu e que chegou ao poder.

Ou seja, o PT precisa, nesse novo momento, o PT precisa construir uma nova utopia.

Eu estive esta semana numa reunião, 5ª feira, com um pessoal, com um grupo de católicos da periferia de São Paulo.

Todos, todos, sem distinção, ajudaram a fundar o PT em 1980.

Então, um deles disse o seguinte: 'como é que a gente pode falar em renovação, se não tem nenhum novo aqui, só nós mesmos'.

Ou seja, nós não conseguimos criar um jovem sequer prá vir no nosso lugar.

Então eu acho que o PT, que já foi um partido que tinha uma maioria com menos de 30 anos de idade participando, hoje eu acho que o PT deve ter bem menos, deve ter aí, quem sabe uns 15 ou 20 por cento, o PT precisa, urgentemente, voltar a falar prá juventude tomar conta do PT,

O PT tá velho... olha, eu, que sou a figura proeminente do PT, tenho 69, já tô cansado, já tô falando as mesmas coisas que eu falava em 80...

Então, eu fico pensando se não tá na hora da gente fazer uma revolução nesse partido, uma revolução interna, e colocar gente nova, gente que pensa diferente, gente mais ousada, gente com mais coragem do que a gente.

Nós temos que definir se nós queremos salvar a nossa pele e os nossos cargos ou queremos salvar o nosso projeto.

E eu acho que nós precisamos, no fundo, no fundo, criar um novo projeto de organização partidária nesse país.”

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Conferência Novos Caminhos da Democracia


Assista o vídeo


TRECHO TRANSCRITO  =  3:15:30 - 3:18:22


Ouça o áudio



TRECHO TRANSCRITO  =  19:48 - 22:44


(Nota publicada no Facebook)

sábado, 22 de agosto de 2015

sexta-feira, 21 de agosto de 2015

Quem é A FAVOR e quem é CONTRA a atual POLÍTICA ECONÔMICA

(Nota publicada no Facebook)

A FAVOR   =   O lado de quem GANHA


A Globo, todo o empresariado nacional e estrangeiro e todos os economistas ligados a banqueiros, que apoiaram Aécio e Marina na última campanha.

CONTRA   =   O lado de quem PERDE


Todas as centrais sindicais e movimentos populares e todos os economistas progressistas e de esquerda, que apoiaram Dilma na última campanha, inclusive os economistas da Fundação Perseu Abramo, que faz parte do PT.

...............................................  DE QUE LADO VOCÊ ESTÁ?


....................................  DE QUE LADO O PT DEVE ESTAR?


quarta-feira, 19 de agosto de 2015

Diálogo sobre o PT, com Marat Calado.

Republiquei hoje no Facebook a imagem abaixo, que teve um dos seus pontos criticado pelo companheiro Marat Calado, do PT. A partir daí iniciamos um diálogo sobre o partido, que reproduzo abaixo, na íntegra.



MARAT CALADO

É preciso colocar os pés no chão. Se o deputado foi eleito, só pode perder o cargo após julgamento e condenação. Ter o mesmo comportamento que eles, não dá. Dizer que ele é de direita, ligado aos grandes empresários e grande capital... que tenta golpear Dilma e o governo do PT...é correto e um direito...ele conseguiu maioria com fisiologismo, mas conseguiu. Nós ficamos no discurso, vendo a banda passar, achando que o nosso discurso convencia. Enquanto isso, os movimentos sociais, foram abandonados, sem respaldo. Taí, no que deu. 2- Ajuste é uma necessidade momentânea. Fizemos m..., então... 3- A saída é com a democracia de fato e com eleições legais. Unir a esquerda é a missão, mas temos que saber quem é mesmo de esquerda e o que é esquerda. O ranço continua.


SILVIO MELGAREJO

Marat Calado. Qual foi a m.?


MARAT CALADO

Mas, vamos à luta. Dia 20 pode ser um grande momento para os movimentos de esquerda e os Partidos também.


SILVIO MELGAREJO

A m. está sendo feita e é exatamente a atual política econômica, que transfere renda do pobre para o rico, através de uma combinação perversa de austeridade com investimentos públicos e direitos sociais e ao mesmo tempo uma gastança permanente e desenfreada com a política de juros altos. Esta é a m., companheiro.


MARAT CALADO

Só pensar em eleições. Desativação (há tempos atrás) dos núcleos, tirando o poder de decisão e autonomia deles. Não dar o espaço devido nos encontros governamentais desde o 1º governo do PT, ouvindo e atendendo as reivindicações ao invés de ser cooptado por PMDB (ceder as duas presidências, pensando em manter o governo, só mesmo na cabeça dos fisiológicos do PT) etc etc Essas foram algumas das m... O caso dos núcleos foi o grande erro. Não sei como recuperaremos a credibilidade interna e externa. A Dilma ficou no fogo. Ela não foi devidamente inserida no contexto partidário, fizeram-na refém de alguns 'intelectualoides'. Acho que é melhor parar por aqui, pois esse papo é mais fechado.


SILVIO MELGAREJO

Fechado aonde?

Tem que ser aberto.

Debate político, num partido de massas como o PT, só pode ser público.

Você justificou o ajuste dizendo ser necessário por causa de ms. do governo. Pois eu concordo é com a posição da CUT, que em resolução assim se expressou:
"Não somos contrários ao equilíbrio das contas públicas, mas não aceitamos que a política de ajuste fiscal seja feita às custas dos setores mais pobres da população visando gerar superávit primário para reembolsar banqueiros e especuladores. Ao invés de atacar direitos trabalhistas, cortar investimentos sociais e aumentar a taxa de juros, o equilíbrio das contas públicas deve ser feito com base numa auditoria da dívida pública e ter como instrumentos a taxação das grandes fortunas, de dividendos e de remessas de lucros das empresas.

No lugar da atual política econômica recessiva, que cria condições para a restauração neoliberal e para um novo ciclo de reestruturação produtiva das empresas, a CUT propõe outra política, que assegure a retomada do crescimento com base no investimento, no fortalecimento da indústria e da agricultura familiar, na ampliação do emprego e na redistribuição de renda; na defesa intransigente da Petrobras, do pré-sal, do regime de partilha e do conteúdo nacional; na valorização dos aposentados com uma previdência pública, universal e sem progressividade; no combate à desigualdade e na inclusão social."

https://www.facebook.com/melgarejo.silvio/posts/1108884239139973


MARAT CALADO

Debater é bom. Acontece que existem casos e causos rsrs no histórico de 35 anos, que apontava para essa cagada. Vc (num regime legal), só pode por em prática isso que vc aponta (sobre a política econômica) se tiver uma grande base organizada e parlamentares sérios voltados para o partido e seu programa. Começamos assim, mas depois foi virando a 'Revolução dos Bichos', . Desagradável, sei, mas há +- 20 anos, a m... começou e mais antes ainda, em 1982, os sintomas não eram bons, tem dirigente hoje, que não tem nada a ver com o que o PT se propôs. São oportunistas que acabaram com Zonais e Núcleos, para manter o centralismo (que o PT sempre foi contra, mas na prática...). O Lula foi informado, mas subestimou a informação. Muita gente apoiou essa febre de eleição (Marta com seu grupo e outros q. não vale falar agora, se encantaram e agora saem falando, outros cinicamente conclamam para que a massa vá a rua lutar). É isso companheiro. Desesperar jamais. Eu continuo. Não vislumbro grandes avanços. Me preocupa muito a permanência do engodo interno com a militância jovem. Esse tipo de papo que estou levando, espanta a rapaziada ou desestimula, por isso não acho que o facebook, seja o espaço para isso. Certo?

Quanto a CUT, ela também demorou a fazer o sindicalismo autêntico. Organizado, mas sem a 'igrejinha rançosa', histórica que paralisa a dinâmica sindical. A coisa vergonhosa chamada 'Força Sindical', surgiu em virtude das dissidências, desgastes e lentidão e até mal feitos de determinadas correntes, que flutuam dentro do PT, com o ranço antigo da esquerda 'escastelada', que se acomoda nas tetas governamentais. O Paulinho, é o retorno do Joaquinzão, Medeiros etc, que destruíram o movimento sindical sério. Deixamos acontecer tudo de novo. Acomodação. Um bando de acomodados, que agora pedem agilidade dos militantes que eles marginalizaram. Sou veemente, mas nada raivoso. É só veemência mesmo.

Municipais de Teresópolis, Petrópolis e Zonal de Campo Grande, foram 'lacradas' e ponto (no período das eleições para prefeitos) por tentar manter o padrão ético. Se vc questionar, vai ouvir histoprinas. Se disser que soube através de...terá como resposta: "Ih, esses caras são criadores de caso"...a história se repete, aí... entra o velho barbudo e diz: A história se repete, a primeira vez como tragédia e a segunda como farsa.... de Karl Marx. Então amigo...tire suas conclusões.


SILVIO MELGAREJO

Marat Calado.

Não dizem que toda crise é uma oportunidade para mudanças?

Veja o que diz resolução do 5º Encontro Nacional do PT, de 1987:
"Chegamos a tal ponto não por descuido ou acidente de percurso.

A fragilidade das estruturas orgânicas do PT teve início na campanha eleitoral de 1982, quando diluímos nossos núcleos e Diretórios em comitês eleitorais de candidatos que, em sua maioria, terminaram em 15 de novembro daquele ano, com o fim da campanha. 

De lá para cá, o PT encaminhou com relativo êxito algumas campanhas gerais, porém, até hoje, não conseguiu formular nem implementar uma política de organização que estimulasse o crescimento do Partido do ponto de vista orgânico (nucleação, formação política, finanças etc.). 

Essa fragmentação tem muito a ver com a postura que se tomou em relação à construção partidária. 

Mais que isto, tem a ver com a visão do papel do Partido que estamos construindo."
Defendo a tese de que falta política administrativa, que é mais do que política organizativa, já que envolve questões como planejamento, liderança na execução e controle das ações realizadas.

Falta política administrativa e quadros política e tecnicamente capazes de garantir o funcionamento pleno e regular dos diretórios, sem o que não funciona a democracia interna do partido e ele fica totalmente sem poder de ação coletiva na sociedade.

Este assunto tem me ocupado desde 2013, quando comecei a refletir e escrever sobre ele.

Acho que desde 1982 o PT vive uma crise administrativa crônica e que, neste começo de segundo mandato da presidenta Dilma o partido entrou numa crise política aguda.

Juntaram-se as duas crises e aí temos como resultado isto que o Luis Nassif disse semana passada, que o PT hoje é uma militância sem partido. Pois é assim que eu me sinto. Um militante sem partido.

Esse tipo de papo que estamos levando, só espanta ou desestimula a rapaziada que não gosta ou tem preguiça de pensar.

O Facebook é o único espaço que permite a reflexão coletiva intensa e permanente de um grande número de pessoas.

Se você inibir a livre expressão dos dissensos internos do PT em ambiente público, você acaba com qualquer possibilidade de construir uma real democracia partidária de massas.

Mesmo que todos os diretórios funcionassem como deveriam e que houvesse pelo menos um núcleo de base por bairro, ainda assim não se conseguiria envolver no debate interno do partido tanta gente como se envolve usando a internet.

Além disso, se o estatuto do PT permite que participem das reuniões do núcleos pessoas não filiadas, por que o mesmo não poderia ser feito nas redes sociais?

Enxergo a atual crise do governo e do partido, como uma oportunidade de mudar os rumos de ambos. Invisto nisso e acredito que possamos ter êxito.

Se houvesse um Encontro Nacional Extraordinário, como tem proposto a tendência Articulação de Esquerda, acho que a composição da direção nacional do partido seria bastante alterada.


MARAT CALADO

Silvio, o debate interno era feito pulverizado em todo território nacional. O tema ou a pauta, era passado para todos por correspondência, boletins ou informativo. Sempre funcionou. Nas capitais e cidades metropolitanas o telefone era yb uma ferramenta. Isso não era problema, pois os núcleos deliberavam faziam o encontro (já com os seus delegados) com a Zonal (que já tinha sido eleita com seus dirigentes eleitos pelos núcleos) depois a Municipal, Estadual (dentro da devida proporção das diversas correntes) e finalmente a nacional. Tudo tinha a presença dos núcleos, através de seus delegados, é lógico. Logo depois veio a informática (que hoje todos têm, inclusive smartphone etc) e a dinâmica melhorou mil vezes. Mas a prática democrática e os ideais do partido, foram aos poucos desaparecendo. Ao eleger Lula, caímos na desgraça eleitoral. As bases internas e os movimentos, foram jogados para escanteio, e bla bla bla...estou cansado. Este papo é longo e desgastante. O grande problema é que ao acabar com o poder dos núcleos, o PT perdeu sua maior ferramenta de divulgação e organização. Duvido que a 'grande mídia' fizesse o que está fazendo e não tivesse uma resposta, imediata em os cantos e recantos do Brasil. A canalhice sobre o mensalão. A execração com os quadros petistas, teriam respostas imediatas. Essas pesquisas não sairiam assim, cheia de mentiras e deturpações. Tenho certeza porque andei pelo Brasil (quase todo) Norte, nordeste, Sul e Sudeste (a profissão, permitia) e conheci núcleos em lugares que nem imaginava. Todos na ponta dos cascos divulgando e organizando a população. Não é romantismo não. É verdade. Minha mulher testemunhou muitas coisas em nossas férias. Acabaram com os anticorpos do PT. Era a sua defesa. Sem saudosismo, ' o seu tambor de repercussão' acabou. Duvido que Dirceu, Genoino, Delúbio, Vacari, seriam expostos dessa maneira, sem direito a defesa e sem respaldo na divulgação de suas defesas. Mesmo com os seus erros, essas pessoas não seriam linchadas moralmente pelos canalhas do DEM, PSDB, Bolsonaros, Mervais e tais. Os Terminais de ônibus, Trens, Metrôs, Fábricas, Universidades, Escolas etc conheceriam a verdade com erros e acertos. Na hora. Imediatamente. E agora? Estamos começando tudo de novo. Cara, tenho 71 e um anos, iniciamos com isso legalmente, em 79. Pô! Até o virtual está me cansando...


SILVIO MELGAREJO

Leia a resolução do 5º Encontro.

Leia este trecho:
"218. Atualmente, nossos núcleos de base são poucos e, na maioria das vezes, precários, havendo uma enorme distância entre os nossos desejos e a realidade. As razões disso são inúmeras: a pouca experiência política da maioria dos militantes petistas (o que é próprio de um partido em construção e que cresce rapidamente); de quadros organizadores; a falta de infra-estrutura para o funcionamento dos núcleos (o que nos remete à questão das finanças); a falta de maior formação política; os entraves que vêm da legislação partidária herdada da Ditadura, e que se expressam no nosso Regimento (que, na verdade, termina priorizando os Diretórios com relação aos núcleos). O funcionamento regular dos núcleos deve ser estimulado e assistido pelos órgãos de direção, que devem tanto propor orientações políticas e propostas de atividades, quanto acompanhar essas atividades. Além disso, esse funcionamento regular exige uma alimentação constante pela imprensa do Partido, única forma de propiciar uma discussão política mais rica. Um jornal de massas é indispensável.

219. Os núcleos estão abandonados. Devemos reconstruí-los como a principal base e característica do Partido. Continuamos vivendo uma crise organizativa no PT. Os núcleos, mais do que nunca, estão desprestigiados. Entendidos desde o início como a principal base e característica do Partido, têm enfrentado sérias dificuldades para se generalizarem e se constituírem em organismos de massa. Não raro, a maioria deles fica voltada para questões de ordem interna – sem refletir os interesses das comunidades ou das categorias a que se vinculam – e, portanto, sem atrair novos participantes. Além disso, constata-se que vários petistas com posição de destaque no movimento sindical e popular não mantêm uma militância propriamente partidária, estando afastados de nossa estrutura orgânica. Os Diretórios, em geral, vivem da combinação de discussão sobre as questões internas do PT com o encaminhamento das campanhas gerais do Partido. Poucos são aqueles que conseguem articular essas tarefas com o impulsionamento e a direção do movimento social e a formulação de políticas alternativas no âmbito de sua atuação."
Isto era em 1987, o partido tinha então apenas 7 anos.


MARAT CALADO

Uma boa crítica e observação.Eles (a direção) destruíram as lideranças de base. O primarismo e agressividade com que trataram a Marina (sei que isso isso ainda causa raivinha para alguns) nas eleições foi vergonhoso. Deixaram o Aécio sozinho na área. Agora, cadê armas para combater o PSDB? Babacas e pretensiosos. É isso.

Vou parar. Tenho que trabalhar no meu Blog. Continuamos depois. Amanhã estarei lá, caminhando e depois, numa cadeira do Amarelinho, se puder, ali na lateral da Câmara, nas Marrecas... Grande abraço.


SILVIO MELGAREJO

Ok

quarta-feira, 12 de agosto de 2015

Ameaça de golpe é extorsão política. O medo tem paralisado a esquerda governista.

Disse FHC recentemente:
"Impeachment é como bomba atômica.

É para dissuadir.

Não para usar.” 
Para entender o sentido exato de qualquer texto, antes de tudo é preciso que se saiba o significado das palavras.

Nesta afirmação de FHC, a palavra chave é "dissuadir".

E o que é "dissuadir"?

Meu velho e sempre solícito companheiro Aurélio, explica:
DISSUADIR

1. Tirar de um propósito; despersuadir; desaconselhar.

2. Desistir, despersuadir-se (Antônimo: persuadir)

***

DISSUASÃO - Despersuasão. 

<> DISSUASÃO PELO MEDO - A que decorre do medo, receio ou temor das consequências de se cometer um ato que possa gerar represália muito violenta.

O ato de dissuadir pelo medo, remete a uma outra palavra, que ajuda a compreender com mais clareza ainda a ideia expressada por FHC. A palavra é "extorsão".

Consulto de novo o Aurélio.
EXTORSÃO

1. Ato ou efeito de extorquir.

2. Crime de constranger alguém, mediante violência ou grave ameaça, e com o intento de obter para si ou para outrem indevida vantagem econômica, a fazer, tolerar que se faça ou deixar de fazer algo.

***

EXTORQUIR

1. Obter por violência, ameaças ou ardil.

2. Adquirir com violência; obter por extorsão.

***

EXTORSIONÁRIO - Aquele que pratica extorsão.

O que FHC quis dizer, portanto, é que, para ele, o impeachment nada mais é do que um meio ou instrumento de extorsão política.

Bem entendida a afirmação do maior líder da oposição de direita, fica mais fácil compreender as contradições e hesitações do seu campo político e mais fácil ainda de entender o que acontece entre os petistas.

A campanha pelo impeachment de Dilma é realmente um movimento de golpistas, mas também e sobretudo de extorsionários, que não têm a menor intenção de chegar às vias de fato, usando a ameaça de impeachment apenas e tão somente para tentar dissuadir Dilma, seu partido e seus eleitores de lutarem pela implementação do programa de governo vitorioso na campanha de 2014.

E o pior é que eles estão conseguindo.

A primeira a se curvar à pressão foi a própria presidenta eleita, que antes do galo cantar, negou o PT, três vezes. Ou mais. Para espanto dos seus eleitores, nomeou para a Fazenda, o tucano Joaquim Levy, e deu-lhe carta branca para implementar a política econômica derrotada.

O PT, por sua vez, influenciado por Lula, ao invés de exigir da presidenta respeito aos compromissos assumidos, resolveu apoiá-la, traindo igualmente a confiança dos trabalhadores.

E nas redes sociais petistas, a preocupação maior tem sido com a segurança do mandato da presidenta, não importando o que ela faça ou deixe de fazer.

Exortações à luta para evitar um golpe, prevalecem sobre os poucos chamados para a luta em defesa da realização do programa de governo vitorioso na última eleição.

E, no entanto, não se pode negar que a realização do programa escolhido pelas urnas é a razão de ser de qualquer governo, e que é o objetivo de ver o programa realizado que dá sentido à defesa de qualquer governo contra uma ameaça de golpe.

O trabalhador não defende a democracia pela democracia, nem o governo pelo governo. Defende um projeto que acredita atender aos seus anseios e os meios e condições para realiza-lo.

O golpe hoje só é possível porque o governo é politicamente fraco.

O governo é politicamente fraco porque Dilma perdeu boa parte de sua base social de apoio.

E a presidenta perdeu boa parte de sua base social de apoio porque resolveu implementar a política econômica que condenou durante toda a campanha eleitoral.

Para se reconciliar com seus eleitores, Dilma tem que romper com a atual política econômica.

Reconciliando-se com os seus eleitores, a presidenta recompõe a sua base social de apoio, com isso se fortalece politicamente e inviabiliza qualquer tentativa de golpe.

Mas para que isso aconteça, os eleitores de Dilma não podem ter uma postura passiva, como tem tido, perante a presidenta. Têm que cobrar dela a mudança de rumo que desejam para o governo, não se deixando intimidar pelas ameaças da direita golpista e extorsionária.

Aparentemente a presidenta acredita mesmo na correção das decisões que tem tomado. A maioria dos seus eleitores não. Mas ninguém a contesta, por medo de enfraquecê-la e facilitar a consumação de um golpe. Cedem todos, assim, à extorsão da oposição, e desistem de lutar pelo projeto em que votaram. E se não lutam, como hão de conquistar o que desejam?

É preciso que os eleitores de Dilma, principalmente petistas, entendam que se a burguesia pressiona Dilma a atender suas demandas, é necessário que os trabalhadores façam, de sua parte, o mesmo, ou então este governo será mais orientado pelos interesses da burguesia do que pelos interesses dos trabalhadores, que é o que temos visto.

Desvirtuado pela própria presidenta, com ajuda de Lula e do PT, o governo Dilma precisa ser reconquistado pelos trabalhadores. Este governo é nosso, nós o elegemos e por isso temos o direito de exigir que respeite o nosso voto e lute para implementar o programa defendido na campanha. Se o fizer, lutaremos lado a lado e estaremos juntos na vitória ou na derrota, reforçando o compromisso que nos une, para enfrentarmos as batalhas do futuro.

Saudações petistas.

Silvio Melgarejo

12-8-2015

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

A mudança da economia é vital.

A fragilidade política de Dilma resulta da frustração dos seus eleitores, com a política econômica neoliberal adotada por ela, assim que reeleita.

Recuperar a força política, que só a confiança das massas pode proporcionar, depende do abandono imediato desta política econômica e do resgate dos compromissos assumidos durante a campanha, que garantiram a vitória nas urnas.

Além disso, disse André Singer, na Folha, em 8 de agosto:
"A economia só sai do baixo-astral com medidas anticíclicas. Se for para cair, caia pelos bons motivos, presidente. Não por tentar cumprir o programa completo do seu adversário do ano passado." 
Ainda há tempo para a correção de rumo.

Como agirão os colunistas da Globo, depois do editorial de 7 de agosto, do O Globo?

Merval Pereira, Arnaldo Jabor, Willian Waac, Eliane Cantanhêde, Cristiana Lobo e demais, vão continuar batendo pesado em Lula e no PT, com o noticiário e comentários sobre a Lava Jato. Lula ainda é o alvo e pode ser preso.

Carlos Alberto Sardenberg e Míriam Leitão vão continuar apoiando a política econômica atual, como um acerto da presidenta Dilma que corrige os supostos erros da política econômica dos três mandatos petistas anteriores.

A trégua vale para Dilma, para que ela continue a executar o ajuste neoliberal. Com Lula e o PT, a guerra continua e vão jogar cada vez mais pesado, para destruir, mesmo, os dois.

Resistência a um golpe improvável.

Enquanto nos preocupamos com a possibilidade de um golpe, a política econômica neoliberal permanece intacta, segue seu curso, conduzida por Dilma, sem encontrar resistências, ameaçada apenas... pela possibilidade de um golpe.

Banqueiro não quer que problemas políticos comprometam seus interesses econômicos.

Trecho da entrevista de Luiz Carlos Trabuco, presidente do Bradesco, ao O Globo

8-8-2015

O GLOBO - Os bancos estariam propensos a se manifestar publicamente pela união do país, como Fiesp e Firjan?

LUIZ CARLOS TRABUCO, PRESIDENTE DO BRADESCO - "O que o sistema bancário mais deseja é que o país e a economia funcionem dentro de bases sustentáveis para construirmos o longo prazo.

É evidente que a curto prazo há dificuldades, e não vamos comemorar esse PIB em recessão.

O que temos de fazer é criar as pontes necessárias entre o Estado e a sociedade para que se construa uma avenida de crescimento.

E o apoio para a convergência a uma serenidade no trato disso é muito importante.

Os problemas econômicos se resolvem, porque são matematização de certas variáveis que podem ser consertadas.

Mas os problemas políticos, não.

Eles são de ideias, de ideologia, de postura.

É uma energia usada para provocar calor, e hoje o país precisa de energia para provocar luz."

(...)

O GLOBO -  Como o senhor avalia a gestão do ministro Joaquim Levy?

LUIZ CARLOS TRABUCO, PRESIDENTE DO BRADESCO - "Em momentos de políticas de ajuste, ninguém pode ter a pretensão de ser amado, mas pode ter a pretensão de ser compreendido.

Então a compreensão é necessária.

Claro que, quando o PIB não ajuda e o ambiente político fica muito acalorado, há menor tolerância para coisas racionais que devem ser feitas.

Nesse ambiente, há uma incompreensão dos motivos que ele apresenta, que são corretos, da busca do equilíbrios dos gastos versus receitas."

A burguesia deu ordem aos seus agentes no Congresso: "Golpe não, que a Dilma é nossa!"

O elogio do Financial Times foi sincronizado com a nota da FIESP/FIRJAN, a ponderação do presidente do Bradesco, em entrevista, e os editoriais do O Globo e da Band/Boechat.

A burguesia deu a ordem aos seus agentes no Congresso:
- "Alto lá, que a Dilma é nossa!"
Agora, mesmo, é que nem de maduro este governo cai.

"Golpe, prá que?", já dizia Sardenberg, em maio.

"Mas pode haver também outro desfecho: a oposição bate no governo Dilma, acusa-o de fazer o ajuste nas costas do povo e consegue derrubá-lo.

Para fazer o que então?
Voltar ao modelo Dilma, aquele que nos complicou a vida, ou para fazer.... o tal ajuste?"
(Carlos Alberto Sardenber, na crônica "À espera da necessidade", de 28/05/2015)

O segundo mandato de Dilma não é petista.

Cunha e a oposição golpista no Congresso têm bombardeado pesadamente o ajuste fiscal do governo, com a aprovação de projetos que inflam os gastos públicos.

Temer e Mercadante, em nome da presidenta Dilma, deram à burguesia o sinal de alerta: o ajuste está em risco.

A burguesia entendeu o recado e reagiu prontamente, com a nota conjunta da FIESP e FIRJAN.

E a Globo se manifestou logo em seguida, em defesa da "estabilidade institucional", necessária para a continuidade da aplicação da atual política econômica, que desde sempre defendeu.

Qual a novidade, o que há de estranho nisso?

Novo e estranho é que esta política, defendida pela Globo, esteja sendo implementada por uma presidenta petista.

Petista?

Em 6 de novembro de 2014, disse a filiada Dilma Rousseff:
"A opinião do PT é uma opinião do partido. 
Não me influencia. 

Eu não sou presidenta do PT. 

Sou presidenta dos brasileiros." 
Desde então se viu que realmente o PT não tinha a presidência da república. A presidência é que tinha o PT, inteiramente subordinado à sua vontade.

A militância do PT ainda não se deu conta, mas a verdade é que o PT não governa mais nada. É governado, isto sim, pela presidenta Dilma, cuja gestão, na economia, ignora solenemente a opinião do partido, enquanto ouve e atende com presteza às demandas da burguesia.

E vocês pensam que a burguesia já não percebeu isto, que o governo já lhe responde ao comando a contento e que o PT é um serviçal resignado e obediente?

É claro que já percebeu.

O apoio da Globo à política econômica de Dilma, neste seu segundo mandato, e a convocação que fez, no editorial do dia 7 de agosto, aos "políticos responsáveis de todos os partidos", para darem "condições de governabilidade ao Planalto", são evidencias disso.

Estamos, portanto, nós petistas, defendendo um governo que elegemos, sim, mas que já não é nosso, é da burguesia.

E é exatamente esta subordinação total ao governo, que tem impedido o PT não só de ter uma influencia maior sobre o processo político do país, mas também de se defender adequadamente dos ataques que sofre.

Para defender o governo Dilma, o PT tem se anulado inteiramente, o que facilita a vida dos que querem destruí-lo, através da operação Lava Jato.

Dilma não é, para a burguesia, problema, é solução, já que implementa o programa econômico da burguesia como qualquer outro político da oposição faria.

Problema, para a burguesia, são os que criam embaraços reais à implementação deste programa, como Eduardo Cunha e a oposição golpista no Congresso, com suas "pautas bomba".

E problema para a burguesia, é o PT, um partido de esquerda que já tem influência de massas e, portanto, potencial para ameaçar, quando quiser, não só o projeto neoliberal, mas o próprio capitalismo, no Brasil.

Por isso, não acredito em golpe contra Dilma.

Mas tenho certeza da continuidade dos golpes contra o PT, golpes cada vez mais fortes e frequentes, sob o olhar distante e indiferente da presidenta da república.

O segundo mandato de Dilma, está a salvo.

Paradoxalmente, o quarto mandato petista está já perdido.

O segundo mandato de Dilma, executa o programa econômico da burguesia.

O quarto mandato presidencial petista teria que ter uma política econômica orientada para atender aos interesses dos trabalhadores.

O segundo mandato de Dilma, conta com o apoio explícito da Globo.

Já o quarto mandato petista dependeria da fidelidade de Dilma ao PT e da fidelidade do próprio PT aos seus compromissos históricos com a classe trabalhadora. E nenhuma destas duas condições têm sido atendidas.

Para os petistas, portanto, a preocupação maior hoje deveria ser salvar o PT, para que o PT possa, pelo menos tentar, salvar o governo Dilma, enquanto quarto mandato presidencial do partido.

O segundo mandato de Dilma tem sido, de fato, um governo da Globo, não do PT.

Lutar para salvá-lo como tal, sem exigência de mudanças, tendo a Globo como aliada, é uma traição aos trabalhadores, que põe em risco o avanço da justiça social e da democracia no país.

Não só isto. Esta traição compromete a legitimidade do PT como partido dirigente das massas, na luta pelo socialismo democrático. E isto é que é o pior, porque a luta pelo socialismo democrático é objetivo principal do PT, a razão maior da sua existência.

Para não perder um governo que já não tem, o PT se perde, renunciando à própria identidade e projeto. Esqueceu a resolução do seu 1º Congresso, de 1991, que diz:
"O PT é um partido no governo, não um partido do governo. (...) E encaramos como perfeitamente normais as diferenças de visão entre governo e Partido, entendendo que pode ser legítimo e necessário que o Partido critique publicamente e se comprometa com movimentos sociais eventualmente em choque com administrações dirigidas por petistas, sempre que a situação assim o justificar."
Pois, ao contrário do que recomendava o 1º Congresso, o PT defende agora uma política econômica que é apoiada pela Globo e pela burguesia e contestada por todas as centrais sindicais do país, inclusive a CUT.

Apesar de dizer, na resolução de sua Comissão Executiva Nacional, do dia 4, "que apoia e orienta a participação dos petistas na mobilização unitária dos movimentos sociais e partidos de esquerda no próximo dia 20 de agosto", este apoio e orientação não apareceram no programa de TV do partido, em 5 de agosto, nem aparecem em sua página oficial na internet.

Aonde os dirigentes petistas pensam que vão nos levar?

Não há como deixar de constatar que nem Dilma, nem o PT têm sido petistas, neste segundo mandato da presidenta.

Será que alguém na base de filiados, ainda lembra o que isto seja, o que é ser PT?

Silvio Melgarejo

10-8-2015

"Golpe, prá que?", já dizia Sardenberg em maio.

Publicado em minha página no Facebook.
"Mas pode haver também outro desfecho: a oposição bate no governo Dilma, acusa-o de fazer o ajuste nas costas do povo e consegue derrubá-lo. Para fazer o que então? Voltar ao modelo Dilma, aquele que nos complicou a vida, ou para fazer.... o tal ajuste?"
(Carlos Alberto Sardenberg, na crônica "À espera da necessidade", de 28/05/2015)

sábado, 8 de agosto de 2015

A Globo não defende a democracia. Defende a política econômica de Dilma.

(Publicado em minha página no Facebook)

O editorial "Manipulação do Congresso ultrapassa limites", da edição de ontem, 7 de agosto, do jornal O Globo, deu um nó na cabeça de uma porção de petistas.

Isto porque nele, os irmãos Marinho fazem duras críticas a Eduardo Cunha e aos partidos de oposição no Congresso e em seguida um surpreendente chamado à unidade pela sustentação política do governo Dilma.

Encerram assim o texto:
"É preciso entender que a crise política, enquanto corrói a capacidade de governar do Planalto, turbina a crise econômica, por degradar as expectativas e paralisar o Executivo. 

Dessa forma, a nota de risco do Brasil irá mesmo para abaixo do "grau de investimento”, com todas as implicações previsíveis: redução de investimentos externos, diretos e para aplicações financeiras; portanto, maiores desvalorizações cambiais, cujo resultado será novo choque de inflação. 

Logo, a recessão tenderá a ser mais longa, bem como, em decorrência, o ciclo de desemprego e queda de renda.

Tudo isso deveria aproximar os políticos responsáveis de todos os partidos para dar condições de governabilidade ao Planalto. "
A maioria dos apoiadores do governo não entendeu nada.

A Globo mudou de lado?

Não, meus amigos, foi a presidenta Dilma que mudou.

A Globo notou e aprovou, como se pode ver neste trecho de uma crônica de Sardenberg, do final de maio, onde ele diz:
"Mas pode haver também outro desfecho: a oposição bate no governo Dilma, acusa-o de fazer o ajuste nas costas do povo e consegue derrubá-lo. 

Para fazer o que então? 

Voltar ao modelo Dilma, aquele que nos complicou a vida, ou para fazer.... o tal ajuste?" 

(Carlos Alberto Sardenber, na crônica "À espera da necessidade", de 28/05/2015)
O "modelo Dilma" foi até 2014.

Agora, em 2015, o governo adota o "modelo Levy".

Entenderam?

A inusitada circunstância de termos a Globo como aliada, contra o projeto golpista, deveria a todos fazer pensar.

O governo Dilma, hoje, não precisaria de um golpe para cair.

Bastaria um peteleco, até um sopro, tamanha a falta de apoio na sociedade e no Congresso.

O custo e o risco de fracasso são mínimos, dada a baixíssima expectativa de uma resistência democrática relevante.

E exatamente quando parece chegado o momento da queda, a salvação vem donde menos se espera.

A Globo estende a mão para Dilma.

No editorial do dia 7 de agosto, do O Globo, dizem os irmãos Marinho:
"Há momentos nas crises que impõem a avaliação da importância do que está em jogo. 

Os fatos das últimas semanas e, em especial, de quarta-feira, com as evidências do desmoronamento da já fissurada base parlamentar do governo, indicam que se chegou a uma bifurcação: vale mais o destino de políticos proeminentes ou a estabilidade institucional do país? "
Desde quando deu a Globo algum valor para a democracia?

Nunca deu e não dá valor nenhum, a história prova.

Mas então por que, depois de meses de intensa e permanente ação desestabilizadora, resolve dar agora não só trégua, mas apoio ao governo encurralado?

Para entender isto é preciso que se pense:

A quem interessa derrubar Dilma e por que?

Que interesses ela realmente fere ou ameaça?

Existe de fato uma campanha pelo impeachment da presidenta, desde a sua reeleição.

Mas quem faz esta campanha?

Fácil de identificar.

São setores da direita oposicionista que se orientam por um cálculo unicamente político da disputa com o governo.

E que outro cálculo poderia ser feito numa disputa política?

O cálculo econômico.

E é este cálculo, o econômico, que interessa à burguesia, financiadora das campanhas dos políticos e patrocinadora dos oligopólios midiáticos, sobre os quais tem, evidentemente, controle.

Pois o editorial do dia 7 de agosto, do O Globo, obedece exatamente ao comando da burguesia, para uma ação em favor do governo Dilma, um governo que se mostra absolutamente comprometido com a aplicação de uma política econômica que a própria burguesia já defendia desde a campanha eleitoral, através dos candidatos que a representavam, Aécio Neves e Marina Silva.

No momento em que dá uma entrevista dizendo que a opinião do PT não a influencia e, logo em seguida, mostra que fala sério, nomeando Joaquim Levy para a Fazenda e dando a ele carta branca para implementar uma política econômica neoliberal, Dilma rompe, de fato, com o PT e passa a ser encarada como aliada pela burguesia.

Inimigo, portanto, para a burguesia, é o PT.

E Lula, claro, seu maior líder.

Dilma, para a burguesia, não é, de maneira nenhuma, inimiga.

A Lava Jato é uma conspiração para destruir Lula e o PT, não para depor Dilma Rousseff, que, na economia, tão bem tem servido à burguesia, além de patrocinar a própria Lava Jato.

O noticiário da Lava Jato e o proselitismo agressivo dos colunistas globais contra Lula e o PT desviaram a atenção dos petistas do noticiário e da crônica de economia.

Por isso, poucos notaram o apoio irrestrito que a Globo tem dado à política econômica da presidenta, desde o início deste seu segundo mandato, como se pode ver nos links abaixo.

***

20/01/2015
Miriam Leitão
Governo está fazendo um ajuste fiscal necessário

***

11/02/2015
O Globo - Editorial
O inconcebível ataque ao ajuste fiscal

***

07/05/2015
Portal G1
Entenda por que o governo precisa fazer o ajuste fiscal em 2015

***

26/05/2015
Carlos Alberto Sardenberg
Sem ajuste fiscal, Brasil não vai a lugar algum

***

28/05/2015
Carlos Alberto Sardenberg
À espera da necessidade

***

20/07/2015
Carlos alberto Sardenberg
Congresso tem ajudado pouco no ajuste fiscal

***

22/07/2015
Portal G1
Veja como será o ajuste fiscal do governo e em que afeta sua vida

***

22/07/2015
Miriam Leitão
Ajuste fiscal não deve ser abandonado

***

07/08/2015
O Globo - Editorial
Manipulação do Congresso ultrapassa limites

***

Pois é esta política econômica de Dilma, aprovada pela burguesia e ameaçada pela conspiração golpista, que a Globo pretende salvar, quando se opõe ao impeachment, naquele editorial do dia 7 de agosto.

Atende ao comando da burguesia e presta socorro ao governo, depois dos dramáticos apelos de Michel Temer e Aloísio Mercadante.

***

06/08/2015
Jornal Nacional
Michel Temer faz apelo ao Congresso e pede união para superar crise

***

Antes da Globo, dia 6, as associações das indústrias de São Paulo (FIESP) e do Rio de Janeiro (FIRJAN) divulgaram uma nota conjunta dizendo:
"A FIRJAN e a FIESP vêm a público manifestar seu apoio à proposta de união apresentada ontem pelo Vice-Presidente da República, Michel Temer. 

O momento é de responsabilidade, diálogo e ação para preservar a estabilidade institucional do Brasil.

A situação política e econômica é a mais aguda dos últimos vinte anos. 

(...)

O Brasil não pode se permitir mais irresponsabilidades fiscais, tributárias ou administrativas, e deve agir para manter o grau de investimento tão duramente conquistado, sob pena de colocar em risco a sobrevivência de milhares e milhares de empresas e milhões de empregos."
***

06/08/2015
Jornal Nacional
Federações das indústrias de SP e do Rio apoiam apelo de Temer por união

***

06/08/2015
Portal G1
Firjan e Fiesp divulgam nota de apoio a apelo de Temer por união política

***

A burguesia, indiscutivelmente, venceu.

O PT foi derrotado por ela dentro do seu próprio governo, pela incapacidade de reagir à traição da presidenta que acabara de eleger.

Instado por Lula, o partido, ao invés de denunciar, resolveu aderir à traição, comprometendo-se inteiramente com o apoio à política econômica tucana, agora abraçada por Dilma.

E se o PT foi derrotado, se já não manda em mais nada neste governo, se Dilma atende tão bem às expectativas da burguesia, realizando boa parte do seu programa, para que arriscaria, a burguesia, um impeachment, com todos os riscos e custos que um processo destes envolve?

A burguesia não precisa mudar de governo para ter o que quer.

Dilma já está comprometida com a sua política econômica. O problema não é ela, é a conspiração golpista, que sabota a implementação desta política, com as tais "pautas bombas" do Congresso.

Diz o editorial do O Globo, do dia 7:
"Mesmo o mais ingênuo baixo-clero entende que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), age de forma assumida como oposição ao governo Dilma na tentativa de demonstrar força para escapar de ser denunciado ao Supremo, condenado e perder o mandato, por envolvimento nas traficâncias financeiras desvendadas pela Lava-Jato. 

Daí, trabalhar pela aprovação de “pautas-bomba”, destinadas a explodir o Orçamento e, em consequência, queira ou não, desestabilizar de vez a própria economia brasileira.

(...)

Se a conjuntura já é muito ruim, a situação piora com o deputado Eduardo Cunha manipulando com habilidade o Legislativo na sua guerra particular contra Dilma e petistas. 

Equivale ao uso de arma nuclear em briga de rua, e com a conivência de todos os partidos, inclusive os da oposição."
A burguesia, então, resolveu botar ordem na casa.

E a Globo foi, como sempre, sua porta voz.

Deu o recado e ai daquele que ignorá-lo.

A uma semana dos protestos convocados pelos golpistas, a presidenta Dilma ganhou aliados de peso.

E eles são exatamente os inimigos do seu partido.

Pois é, meus amigos.

Quem de vocês imaginou, algum dia, que apoiaria um governo, também apoiado pela Globo?

A Globo mudou?

Não, companheiros. Fomos nós que mudamos.

Esquecemos do que é ser PT.

Silvio Melgarejo

8-8-2015

sexta-feira, 7 de agosto de 2015

Inserções do PSDB convocam o dia 16. Programa do PT boicota o dia 20.

Enquanto as inserções do PSDB convocavam, ontem à noite, para as manifestações do 16, pelo impeachment de Dilma, o programa do PT não fez menção nenhuma aos atos convocados pelos movimentos sociais para o dia 20, em defesa da democracia e pela mudança da política econômica.

Fica bastante claro que, entre defender a política econômica e defender a democracia, o PT optou pela defesa da política econômica, já que, como tenho dito, no contexto político que temos, é impossível fazer bem as duas coisas.

A defesa da política econômica de Dilma compromete a defesa da democracia, porque trai os compromissos assumidos pela presidenta em sua campanha com os trabalhadores, ferindo seus interesses, enquanto favorece às classes proprietárias.

Não há como conciliar estes dois movimentos, por isso a direção do PT fez esta opção, de boicotar os atos do dia 20, em seu programa de TV de ontem, da mesma forma que boicotou o Dia Nacional de Lutas da CUT, em 29 de maio.

Não é por acaso que a mais importante atividade da agenda da resistência democrática ao golpismo, considerada determinante para a definição das próximas ações dos conspiradores, seja esta do dia 20 de agosto, que tem como um dos seus eixos mobilizadores centrais exatamente o combate à política econômica de Dilma.

Como eu disse, recentemente:

"As massas não apoiarão uma democracia, um governo e um partido que lhes impõem sacrifícios imensos, enquanto poupam os ricos, no ajuste da contabilidade do Estado.

A conquista da classe trabalhadora para a defesa da democracia, do governo Dilma e do PT, só será possível se Dilma e o PT puserem um ponto final na atual política econômica e a substituírem por outra, que privilegie os trabalhadores na repartição das riquezas do país e dos ônus do ajuste fiscal."

Infelizmente, nem Dilma, nem a direção do PT estão tendo este entendimento, o que impede a recomposição da base popular de apoio ao governo.

Com isto, o custo e o risco de insucesso de uma investida golpista reduzem-se a tal ponto, que até os setores sociais mais beneficiados pela atual política econômica hão de sentir-se tentados a consentir que se dê este passo.

Enfim, preparemo-nos para o pior, porque o pior está por vir, convidado pela nossa presidenta e pelos nossos dirigentes partidários, através dos seus atos e omissões equivocados.

Se um golpe houver, que destitua Dilma, não será surpresa. Porque tudo têm feito, a presidenta e seu partido, para favorecê-lo. Não há do que se queixarem.

Saudações petistas.

Silvio Melgarejo

7-8-2015

quinta-feira, 6 de agosto de 2015

A economia de Dilma e sua omissão política são o adubo que fertiliza a lavoura golpista.

O ódio ao PT, sistematicamente disseminado há décadas pela Globo, e a atitude passiva do partido e do governo ante a violência crescente dos ataques que sofrem, é o que tem alimentado, dado corpo e encorajado o golpismo e o terrorismo de direita no Brasil.

Ante um governo e um partido de esquerda inaptos para o combate político, sentem-se à vontade, cada vez mais, para agirem à luz do dia, sem nada que os iniba.

O Estado burguês, desde sempre aparelhado em áreas estratégicas por forças políticas reacionárias e sem compromisso com a legalidade, manteve-se assim depois de três mandatos presidenciais petistas.

A fórmula de governo de coalizão impediu que houvesse um avanço maior na democratização das instituições, em razão dos acordos firmados, para permitir a governabilidade.

Hoje formalmente chefiado por uma mandatária que ignora a natureza essencialmente política do cargo de presidente da república, o Estado brasileiro é uma entidade em que prosperam livremente focos de conspiração golpista.

"Republicanamente", a presidenta os tolera, confiando piamente em virtudes da democracia burguesa que só os muito ingênuos ou desinformados podem acreditar que haja.

Politicamente fragilizada, em razão das desastrosas decisões tomadas, assim que reeleita, no campo da economia - que tiveram sobre seu eleitorado o efeito devastador de uma traição, em plena lua de mel pós campanha -, a presidenta Dilma tem conseguido tornar ainda mais dramático o começo deste seu segundo mandato, com a omissão na disputa política, que a tem caracterizado, por absoluta falta de apetite para o necessário combate.

O Coração pode ser valente, como se dizia na campanha, mas não tem vocação nenhuma para a política. Ao contrário do que diz certo ditado, dá uma boiada para evitar uma briga e outra para sair, se não for possível fugir.

A economia de Dilma e sua omissão política são o adubo que tem fertilizado a lavoura golpista na sociedade e no Estado.

A economia tira-lhe a base social de apoio. E a omissão política enfraquece-lhe a autoridade de chefe de Estado.

Num contexto assim, o custo irrisório de uma tentativa de golpe, exitosa ou não, para os seus autores e para a burguesia, e o reduzido risco de um eventual malogro, por ausência de condições para uma resistência democrática relevante, podem, realmente, encorajar os conspiradores e criar para eles um ambiente de consentimento, até mesmo entre setores grandemente beneficiados pela política econômica deste governo, como o setor financeiro.

A probabilidade de golpe cresce na razão inversa do custo estimado de uma tentativa, bem ou mal sucedida. Quanto maior o custo estimado, menor a probabilidade de que o golpe seja tentado.

O custo do golpe de Estado, por sua vez, está associado à dimensão da resistência que ele encontre. Quanto maior a resistência democrática, maior o custo econômico e político.

O custo de um golpe de Estado, hoje, no Brasil, é mínimo, porque  a capacidade de resistência democrática no país também é mínima, em razão da desagregação da base popular de apoio ao governo.

Só o fim da atual política econômica e a adoção de uma outra, que garanta a manutenção do emprego, a elevação dos salários e a integridade dos direitos dos trabalhadores, permitiria à presidenta Dilma reconquistar a confiança dos seus eleitores e recompor a sua base de apoio na sociedade, elevando a expectativa do custo e do risco de uma investida golpista contra o seu mandato.

Se além desta radical correção de rota na economia, Dilma resolver assumir um protagonismo na cena política que até hoje não teve, cumprindo a função que lhe cabe, como presidenta da república, de liderar as forças sociais e políticas que a elegeram, na luta por mais democracia e igualdade, no Estado e na sociedade, aí sim, vai ser difícil até pensar em golpe, porque a capacidade de resistência democrática será grande, o que elevará o custo econômico e político do processo, assim como o risco de insucesso.

Conclui-se, portanto, que o futuro do governo Dilma está nas mãos da própria presidenta. Já o PT não precisa e não deve depositar a sua sorte nas mãos desta sua filiada infiel. O partido nasceu para servir aos trabalhadores e só com os trabalhadores deve ter compromisso. Não pode e não deve se permitir embarcar num projeto que não é o seu e sim das forças que acabou de derrotar na eleição recente.

O governo Dilma passa, mas o PT tem que cuidar de manter sua integridade ideológica e preservar sua aliança histórica com os trabalhadores, sem perder de vista o seu objetivo estratégico, que é a construção, no Brasil, do socialismo democrático.

O PT realmente não pode obrigar Dilma a salvar o seu governo. Mas nem Dilma, nem nenhum outro petista tem o direito de exigir do PT que renuncie ao seu projeto e que decida morrer com Dilma, num abraço de afogados.

Saudações petistas.

Silvio Melgarejo

6-8-2015

quarta-feira, 5 de agosto de 2015

Queremos lutar, mas não temos líder. Por uma nova direção para o PT. Encontro Nacional Extraordinário já.

Falta ao PT uma direção partidária disposta a lutar.

Lula e Dilma são as duas maiores referências dos petistas, que neles depositam enorme confiança.

Mas são dois líderes que usam sua influência para manter a desmobilização da militância petista e patrocinar a rendição, sem resistência, do PT à política econômica que a burguesia financeira tem imposto ao governo.

Só vai ser possível mobilizar a militância do PT para lutar contra esta política econômica e contra qualquer tentativa de golpe, se a militância conseguir vencer a influência desmobilizadora que sofre de Lula e Dilma.

Mas para isto é preciso que haja outros líderes partidários, uma alternativa de direção para o PT que goze de confiança igual ou maior que a depositada pelos petistas em Lula e Dilma, que os confronte, que mostre os seus erros e aponte um rumo novo para o partido, animando a militância a lutar.

Nós ainda não temos esta alternativa de direção.

Mas se dela tanto precisamos, é preciso que se construam, urgentemente, as condições para a sua gestação e emergência,

E a proposta que melhor atende a esta necessidade é a que está sendo feita pela tendência Articulação de Esquerda, de realização, ainda este ano, de um Encontro Nacional Extraordinário do PT, para a eleição de um novo Diretório Nacional.

A atual direção do PT responde ao comando desmobilizador e capitulacionista de Lula e Dilma.

O PT precisa de uma nova direção que seja independente dos dois e que seja capaz de preparar e conduzir o partido no duro combate político que hoje se faz necessário.

Lula e Dilma são os líderes da conciliação e da rendição.

O PT precisa de líderes de confronto e resistência.

Enquanto não admitirmos isto, vamos continuar batendo cabeça aqui na base, sem achar uma saída para o impasse angustiante em que nos encontramos.

Queremos lutar, mas não temos um líder.

E aí não lutamos.

A realização de um Encontro Nacional Extraordinário é a única medida capaz de permitir a emergência de uma nova direção partidária, que resgate a soberania do PT como partido socialista dos trabalhadores perante o governo Dilma, e o prepare para assumir o papel de dirigente da luta das massas contra a atual política econômica, única forma de acuar as forças golpistas e terroristas da extrema direita e inibir o seu avanço.

A atual direção do PT não está sendo capaz de responder aos desafios impostos ao partido na presente conjuntura. Por isso é preciso mudar. E a mudança só será possível com a realização de um Encontro Nacional Extraordinário.

Saudações petistas.

Silvio Melgarejo

5-8-2015

segunda-feira, 3 de agosto de 2015

Mobilização social pode mudar a correlação de forças no Parlamento e influenciar suas decisões.

Por Silvio Melgarejo - Nem o Congresso, nem o capital, que patrocina a maior parte dos seus membros, são alheios às pressões da sociedade.

A correlação de forças no Parlamento não precisa esperar por uma nova eleição para ser mudada.

Basta que deputados, senadores e seus financiadores de campanha, ouçam a ira santa das massas e sintam que algum prejuízo podem ter se a ignorarem.

Moreira Franco, um experiente político do PMDB, mostra que entende isto, na entrevista que deu a Tereza Cruvinel, publicada em 7/11/2014, em que diz:
"Vou repetir algo que aprendi ao longo de uma vida pública que já vem de longe.  

Um governo só consegue maioria sólida e eficaz se atender a duas exigências.  

A primeira, é o governo ter lastro e sintonia com a sociedade.  

Não é mera retórica dizer que o Congresso é caixa de ressonância da sociedade. 

Ele fica nervoso e inquieto quando percebe nervosismo e inquietação na sociedade que representa. 

A casa pode não ser um convento, tem seus problemas,  mas não é composta por vendilhões do templo. 

Estamos falando de uma instituição que vem do Império e ao longo da República desenvolveu aguda sensibilidade para captar os humores e demandas da opinião pública.  

Então, a primeira condição para um governo ter maioria, estar bem com o Congresso, é estar bem com a sociedade. 

Obviamente não é possível atender a todas as demandas mas é preciso manter portas abertas, buscar sintonia e diálogo. 

(...)

O segundo ponto importante na formação de maiorias é que haja uma discussão política. 

O programa político do governo tem que ser apresentado e discutido.  

Não se pode governar com pratos feitos. 

(...)

Então o governo precisa mandar um documento dizendo: nossas diretrizes econômicas são estas, as sociais, estas, a reforma política que propomos é esta.

Quando cada projeto chega sem discussão prévia, os conflitos estressam a aliança.  

Costumo brincar que a aliança é como casamento. 

Se todo dia o casal tem um conflito porque um toma posições isoladas, faltou amor, e a relação não aguentará. 

Assim é também nas alianças políticas. 

Não pode faltar confiança política. 

É preciso um engajamento no mesmo projeto, ainda que existam divergências sobre alguns pontos, mas no essencial, é preciso que exista um pacto prévio. 

Quando estas duas condições para a maioria são atendidas, fica bem mais simples administrar o dia a dia da relação com o Congresso, negociar a pauta ou administrar demandas de aliados…" 
***

Um governo "que tem lastro e sintonia com a sociedade" é um governo que tem governabilidade social.

Se nenhum governo pode prescindir disto, muito menos o pode um governo de esquerda.

Neste caso, a falta de governabilidade social inviabiliza a realização do programa original do governo, seja pelo boicote ou sabotagem reiterada de suas iniciativas, seja pela deposição, mediante golpe, do mandatário eleito.

***

O primeiro e maior erro de Dilma neste seu segundo mandato, foi ter empurrado goela abaixo do PT e dos seus eleitores um "prato feito" bem diferente do cardápio combinado durante a campanha em que se elegeu.

Neste momento, a aliança entre a presidenta, seu partido e seus eleitores se desfez, com a quebra da confiança decorrente deste seu ato.

Isto explica a queda vertiginosa da aprovação ao seu governo.

Para reconstituir esta aliança, Dilma precisa botar um ponto final na política econômica que a tem antagonizado com os trabalhadores.

Esta é a condição indispensável para a retomada do diálogo interrompido e para a recuperação da confiança quebrada.

O governo tem que mostrar que realmente quer servir antes aos trabalhadores do que aos banqueiros.

Só assim, a presidenta poderá ter o apoio resoluto das massas contra qualquer ameaça de golpe e contra qualquer obstáculo que dificulte a realização do projeto acordado com os trabalhadores.

Futuro do PT depende da atitude que o partido tenha hoje ante a política econômica de Dilma.

Por Silvio Melgarejo - O PT tem hoje, internamente, duas lideranças de expressão nacional, sem concorrentes: Lula e Dilma. E ambos jogam na desmobilização do partido e na rendição, sem resistência, à política econômica imposta pela burguesia financeira ao governo.

Para derrotar esta política, que tanto prejuízo já causa aos trabalhadores, é preciso vencer a enorme influência que estas duas grandes lideranças exercem dentro do PT, para que o partido assuma o papel de dirigente da reação das massas em defesa dos seus direitos.

Missão impossível? Hoje, talvez, sim. Mas nenhum líder é imune ao desgaste contínuo de sua credibilidade por decisões importantes que se mostrem equivocadas. A atual política econômica da presidenta Dilma, endossada por Lula, coloca os dois numa clara posição de antagonistas da classe trabalhadora e aliados da burguesia financeira. E o apoio do PT a esta escolha da presidenta, ainda que envergonhado, coloca o partido nesta mesma condição.

Não é possível a um militante do PT apoiar a política fiscal e monetária que Dilma tem patrocinado e ao mesmo tempo dizer que está ao lado dos trabalhadores. Isto é uma incoerência. A política de Levy, na Fazenda, e Tombini, no Banco Central, tem um caráter fortemente recessivo, que provoca desemprego, arrocho salarial e redução de direitos, sem conseguir conter, como promete, a escalada inflacionária.

Apoiada pela Globo, banqueiros, rentistas e especuladores do mercado financeiro, beneficiários maiores das decisões tomadas, esta política é, ao mesmo tempo, contestada por todas as centrais sindicais do país, em nome dos trabalhadores espoliados, numa inédita demonstração de unidade, propiciada pela evidência gritante dos danos causados.

Derrotada nas urnas, a direita brasileira viu-se subitamente agraciada pela guinada neoliberal de Dilma, assim que reeleita. O PT foi pego de surpresa e entrou em crise.

Numa entrevista coletiva, logo depois da eleição, a presidenta deu uma declaração que deixou muito petista intrigado. Disse:

"A opinião do PT é uma opinião do partido. Não me influencia. Eu não sou presidente do PT. Sou presidente dos brasileiros."

Vê-se hoje que falava muito sério. Dilma, de fato, decide tudo sozinha e dá mais satisfações aos barões das finanças do que aos trabalhadores e seu partido, que a elegeram. O PT não tem nenhuma influência sobre o seu governo. É convocado apenas para apoia-lo, quando necessário, e sempre incondicionalmente, papel que o partido tem aceitado, docilmente,  cumprir.

A crise vivida pelo PT hoje decorre da decisão do partido de tentar fazer algo absolutamente impossível: apoiar o governo Dilma com sua política econômica tucana e ao mesmo tempo defender os interesses dos trabalhadores atacados por esta mesma política. São dois movimentos contraditórios, radicalmente conflitantes, impossíveis de serem conciliados, na medida que um neutraliza o efeito do outro.

Os petistas que veem no país a possibilidade de um golpe de Estado que destitua a presidenta, temem que a resistência popular à política econômica vigente fragilize ainda mais o governo e facilite a vida dos golpistas. Por isso não convocam a resistência - o PT boicotou o Dia Nacional de Luta da CUT, em 29 de maio - e por isso empenham-se em interditar qualquer debate sobre política econômica, como fizeram no 5º Congresso do partido.

Não se dão conta que a fragilidade do governo decorre exatamente da reversão abrupta das expectativas dos eleitores de Dilma para o seu segundo mandato, depois que ela adotou esta política econômica executada por Joaquim Levy e Alexandre Tombini.

Os trabalhadores elegeram Dilma exatamente para evitar que Aécio ou Marina implementassem esta política. Dilma, depois de condená-la enfaticamente durante a campanha, resolveu botá-la em prática, assim que reeleita. E Lula e o PT, de maneira covarde, a pretexto de evitar um golpe, apoiam constrangidamente a traição da presidenta.

Disse recentemente FHC, o maior líder da oposição de direita, que pela extensão e gravidade dos estragos que provoca, "o impeachment é como bomba atômica, é para dissuadir, não para usar”.

O setor mais forte da burguesia brasileira é a burguesia financeira. E este setor está tendo os seus interesses plenamente atendidos pela política econômica de Dilma. Por que desejaria um golpe, a destituição de quem tão bem tem lhe servido, aplicando exatamente o mesmo programa que defendiam, através dos candidatos neoliberais, durante a campanha presidencial?

Não faz sentido, é improvável o golpe de Estado, por não ser útil e representar desnecessário risco aos negócios do mercado financeiro. E ainda assim se fala em impeachment todos os dias na mídia burguesa. Por que será? Não será exatamente para acuar o governo e desencorajar as mobilizações da esquerda? Como disse Fernando Henrique, para dissuadir o inimigo, para nos dissuadir de lutar por nossos objetivos? E não é isto que estão conseguindo?

Com medo de um golpe improvável, a militância petista se empenha em proteger a presidenta das críticas que poderiam levar à correção dos seus erros, à reconciliação com a maioria insatisfeita dos seus eleitores e à salvação do seu governo. Salvação não de um golpe, mas de um fracasso que impossibilite a eleição de um candidato de esquerda em 2018, mesmo um nome forte, como o ex-presidente Lula.

Se Dilma já rompeu, na prática, com o PT, o que ganha o PT ficando atrelado a Dilma? Nada, só perde. E perde, sobretudo, a confiança dos trabalhadores, o que é desastroso para um partido socialista.

Dilma não dialoga com o PT. Impõem, simplesmente, ao partido a política econômica que acha correta. E o pior é que o PT aceita esse tipo de relação. Subserviente, anula-se politicamente e reduz-se à condição de mero pau mandado, sem discernimento e sem vontade própria.

Dilma manda, o PT obedece. Dilma decide, o PT cumpre. Influenciado por Lula, o PT renunciou deliberadamente à sua soberania como partido socialista da classe trabalhadora. Não passa hoje de um braço mecânico da presidência da república, num governo de coalizão que decidiu implementar um programa neoliberal.

É triste, doloroso para um petista ter que admitir, mas a verdade é que Dilma, Lula e o PT estão traindo os trabalhadores. Política é confiança e confiança traída é confiança perdida. Ainda bem que, neste caso, ainda há tempo para recuperá-la.

Mas, para tanto, é preciso que o PT mude rápida e radicalmente de atitude em relação a Dilma, que assuma uma postura crítica mais incisiva em relação ao seu governo, condenando e lutando contra a política econômica vigente, nas ruas e no Congresso, e apresentando uma alternativa de política econômica que favoreça aos interesses dos trabalhadores e permita o cumprimento dos compromissos assumidos pela presidenta na campanha da eleição de 2014.

Na presente conjuntura, o golpe realmente assusta, mas não passa de um mero fantasma, fantasia útil à burguesia financeira, por paralisar de medo as forças progressistas, inclusive parte significativa da militância petista.

Um golpe de Estado não é um fim em si, é um meio de que uma força política se serve para alcançar algum objetivo. O golpe de Estado é um movimento radical que tem custos e riscos para quem o encomenda e para quem o executa. Por isso, quando o objetivo pretendido pode ser alcançado por meios menos traumáticos, a tendência é que forças políticas menos comprometidas com a democracia, mas fortemente orientadas pelo pragmatismo, evitem a sua consumação.

É o que se vê presentemente. Não haverá golpe de Estado no Brasil porque o golpe não interessa aos banqueiros, já que os banqueiros mandam no governo Dilma, não se justificando, portanto, nenhuma pressa em substituí-la.

Já a ameaça de golpe, esta sim serve aos banqueiros, porque induz a esquerda governista à priorização da defesa do mandato de Dilma, esquecendo os objetivos pelos quais ajudou a elegê-la , que foram efetivamente abandonados pela presidenta.

Nas fileiras petistas, quem nunca quis o confronto com a burguesia, usa agora a ameaça do golpe como pretexto para não lutar e para censurar os críticos da política econômica de Dilma, contrária aos interesses dos trabalhadores.

Muita gente, de boa fé, aceita este argumento e leva o PT a cair numa armadilha, que é a de ocupar-se inteiramente em defender o mandato de Dilma, abrindo mão de exigir as correções necessárias para que o governo corresponda às expectativas dos trabalhadores e a presidenta, bem avaliada, consiga eleger seu sucessor.

Se o governo mantiver o mesmo rumo equivocado, Dilma encerrará o seu mandato com baixíssimo índice de aprovação. E a postura que o PT tiver, daqui por diante, ante os erros da presidenta é que definirá o quanto estes erros abalarão a relação do partido com a classe trabalhadora.

É bem provável que nem Lula consiga eleger-se depois de um fracasso de Dilma. Muito menos chance terá qualquer outro nome. Mas se os trabalhadores tiverem a percepção de que o PT não compactuou com os erros da presidenta e até lutou pela correção destes erros, é possível que o partido reconquiste a sua confiança e consiga, pelo menos, eleger bancadas numerosas para a Câmara e para o Senado.

Para o PT, não haverá possibilidade de vitória na eleição presidencial de 2018, se Dilma mantiver a atual política econômica. Mas se o PT combater desde já e duramente esta política, ainda é possível sonhar com uma vitória nas eleições do Parlamento. Se não o fizer, a derrota será completa.

Saudações petistas.

Silvio Melgarejo

3-8-2015