sexta-feira, 29 de maio de 2015

Não existe organização espontânea.

(Comentário ao texto compartilhado no Facebook por Maria Fernanda Arruda)
"A capacidade de auto-organização das massas operárias e camponesas russas com a criação dos sovietes, instituição essa que surgira espontaneamente da massa como forma de organização, mostra que espontaneidade na origem dos movimentos e na criação de novas instituições não implica desorganização.

Ao contrário, espontaneidade e organização são características das ações das massas populares há muitos anos. Só aqueles que pretendem controlar, dirigir e domesticar esses movimentos sociais é que contrapõem espontaneísmo e organização."

A Revolução Russa

MEU COMENTÁRIO:

Maurício Tragtenberg é o autor de Revolução Russa, livro citado no post de abertura deste tópico.

É legal a tese que ele defende para os dirigentes burocratas de partidos e sindicatos.

Afinal, eles podem usá-la como justificativa para esquentarem os assentos das poltronas de seus gabinetes e não fazerem trabalho de base.

Se a base não se organiza, a culpa não é do dirigente, é da própria base.

A defesa da virtude do espontaneísmo da organização das massas transforma a preguiça e indisciplina dos dirigentes em virtudes e o trabalho organizativo diligente junto às bases dos partidos e sindicatos de trabalhadores numa ação condenável, de espírito e objetivos autoritários.

Não existe organização espontânea.

Mesmo num grupo de dez pessoas, a maioria consente que uma minoria defina quem faz o que, onde, quando, como e com que meios.

Se não houver quem tenha aptidão e disposição para cumprir este papel, não se organiza coisa nenhuma.

Por que fracassou a Onda Vermelha convocada por Rui Falcão, em 2013?

E por que fracassaram os abaixo-assinados dos projetos de lei de iniciativa popular da Reforma Política e da Democratização da Mídia, que o Diretório Nacional do PT definiu, em resolução, como ações prioritárias do partido naquele ano?

Por uma razão muito simples.

Os mais de 1,5 milhão de filiados do PT não conseguiram se organizar espontaneamente para realizar estas atividades.

Faltou a ação organizadora dos dirigentes do partido.

Pela mesma razão fracassou a política de núcleos de base.

Por que não conseguimos reagir coletivamente aos golpes do mensalão e da Lava Jato?

Por que não conseguimos realizar nenhuma ação coletiva de impacto político proporcional ao número de filiados e eleitores do partido?

É evidente que não é por falta de vontade de participar e de lutar de todas estas pessoas.

É porque elas não têm uma direção que oriente a sua organização e a sua ação na sociedade.

Parece que a vanguarda do PT ainda não entendeu que é para isso que servem os diretórios.

Por isso, não se revolta com a inatividade destas instâncias, resultante da indisciplina dos seus dirigentes.

Naturalizou-se a existência de milhares de diretórios fantasmas ou moribundos.

Pois se não se sabe para que eles servem, como avaliar o prejuízo que sua inatividade impõe ao partido?

Silvio Melgarejo

29/05/2015

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