Por Silvio Melgarejo - Eu não contesto a justiça da causa dos professores. Contesto a justiça e a eficiência do método de luta usado para a sua defesa. É essa a discussão que proponho. A greve numa fábrica é eficiente e eticamente admissível, porque não penaliza ninguém além do patrão. A greve no serviço público é ineficiente e eticamente condenável, porque penaliza populações inocentes, indefesas e vulneráveis.
O argumento de que o aluno sofre com ou sem greve, não se sustenta. Porque se a greve não representasse um acréscimo de prejuízo, não haveria porque fazê-la. Se o ensino já é precário e interrompe-se o ano letivo durante dois meses, sem previsão nenhuma de retorno, é evidente que os prejuízos se acumulam e não vão poder ser recuperados, exatamente por causa da precariedade do sistema. É como você submeter uma máquina velha ou um organismo debilitado a condições extremas de uso. Eles não respondem ou acabam entrando fatalmente em colapso. O ano dessa garotada já está comprometido. E eu fico imaginando que tipo de lição esses meninos podem tirar do que estão vivendo.
Greve nunca ajudou a melhorar serviço público. Esta que os professores estão fazendo não vai ser diferente. Ninguém acredita, além disso, que seja esse mesmo o propósito dos servidores quando cruzam os braços. O que mobiliza a maioria dos trabalhadores é a questão salarial. Se as condições de trabalho melhoram, mas não aumenta o salário, a greve continua. Se as condições de trabalho não melhoram, mas o salário aumenta, a greve termina.
Por que a sociedade não pressiona os governos a darem respostas mais céleres e eficientes aos problemas da educação? Porque as poderosas máquinas sindicais dos servidores estão voltadas para a mobilização da própria categoria, e não dialogam com a sociedade. O que eu tenho dito é que só a aliança dos servidores públicos organizados com os usuários dos serviços públicos, também organizados, será capaz de promover avanços na qualidade dos serviços públicos.
Só que, enquanto os servidores já têm um bom acúmulo de organização junto às suas entidades, os usuários são um aliado ainda fraco porque não têm organização nenhuma. Para transformar o usuário num aliado forte e útil à sua causa, os servidores têm que ajudá-lo a criar suas próprias entidades, com autonomia e independência política e organizativa. Essas duas forças, usuários e servidores, bem estruturadas e comprometidas com uma pauta comum de demandas e com uma estratégia unificada de luta, podem revolucionar os serviços públicos do país. Se não for desta forma, vamos ter que esperar por um milagre.
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