sábado, 26 de outubro de 2013

Educando para o capitalismo. (2)

Os professores do Rio deram uma bela lição a seus alunos com essa greve que fizeram. A lição é a seguinte:

Quando tiver um objetivo, faça o que tiver que fazer para alcançá-lo, mesmo que tenha que sacrificar o direito alheio, mesmo que o direito ferido por você seja o de alguém menor, mais fraco, mais pobre, mesmo que seja o direito de alguém inocente e indefeso.

Não há nada mais capitalista do que essa ética perversa que os professores grevistas acabaram de ensinar a seus alunos. Belos "educadores".

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Coerência.

Se eu achasse que Lula e Dilma privatizaram o Pré-Sal, numa transação prejudicial aos interesses do povo brasileiro; se achasse, portanto, que eles são dois mentirosos, traidores e entreguistas, iria imediatamente para a oposição e jamais faria campanha para a reeleição da Dilma.

Apoiar uma presidente da república que se considera autora de crime de lesa pátria e ainda por cima lutar pela sua reeleição é assumir condição de cúmplice de todos os males alegados e a ela atribuídos.

Eu apoio o governo Dilma e defendo sua reeleição porque considero que o leilão de Libra não é uma privatização, e que ele representa o mais importante passo já dado por qualquer governo deste país na direção de um significativo e histórico salto de desenvolvimento econômico e social.

Se no futuro a realidade se mostrar outra, diferente da que enxergo, poderão me chamar de estulto. Mas não de incoerente.

Educando para o capitalismo. (1)

Os professores do Rio estão dando uma bela lição a seus alunos com essa greve que estão fazendo. A lição é a seguinte:

Quando tiver um objetivo, faça o que tiver que fazer para alcançá-lo, mesmo que tenha que sacrificar o direito alheio, mesmo que o direito ferido por você seja o de alguém menor, mais fraco, mais pobre, mesmo que seja o direito de alguém inocente e indefeso.

Não há nada mais capitalista do que essa ética perversa que os professores grevistas estão ensinando a seus alunos. Belos "educadores". Merecem mesmo um bom aumento.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Culpa do Estado?

O Estado dá razões que justificam a luta dos professores. Mas não determina a forma de luta. Essa é uma escolha dos professores. E eu considero que eles fizeram uma escolha errada.

E por que considero que a greve é uma escolha errada dos professores? Porque a greve penaliza injusta e pesadamente os alunos das escolas públicas. Ela é, na prática, uma supressão temporária de direitos fundamentais das crianças e adolescentes, filhos de trabalhadores pobres.

Esse ataque deliberado aos direitos dos filhos do trabalhadores pobres, além de ser eticamente condenável, por ser uma evidente crueldade e covardia, cria um antagonismo de interesses dentro da classe trabalhadora, que a divide e enfraquece perante a burguesia. Sou contra a greve na escola pública porque ela penaliza inocentes desnecessariamente. Sim, desnecessariamente!!!

A greve não é a única forma de luta capaz de desgastar o capital político de Cabral e Paes, e pressioná-los ao atendimento das demandas dos professores. Manifestações pacíficas de rua, reunindo professores, pais, alunos e todos os que são solidários à causa do professores, seriam muito mais eficientes e não teriam o tremendo custo social e humanitário que essa greve tem gerado.

Sou solidário com a causa dos professores. Não com sua equivocada forma de luta.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Confio em Lula e Dilma. Por isso apoio o Leilão de Libra.

Estou chegando atrasado nessa discussão sobre o leilão de Libra. Ainda colho informação para subsidiar minha reflexão pessoal. Mas devo dizer que, desde o início, tendo a apoiar a realização do leilão. Por uma razão muito simples. Confio na presidenta Dilma Rousseff.

Na política, a confiança é quase sempre a razão determinante do apoio do cidadão às decisões do governante. Isto porque a maior parte dos problemas relacionados à administração pública exige um grau de conhecimento técnico e uma capacidade de processamento e análise de informações que a maioria dos cidadãos não tem. Todo voto nas urnas é um voto de confiança no candidato. E a confiança do cidadão no seu governante é o fundamento mais importante da governabilidade social.

Não entendo de petróleo. Mas entendo de Lula e Dilma Rousseff, cujos governos nunca me decepcionaram, nem decepcionaram as massas trabalhadoras. Os resultados de suas mais importantes decisões têm confirmado até aqui a correção das escolhas que fizeram. Não é gratuita a aprovação que têm ambos em amplíssimos setores da sociedade. A confiança do povo em Lula e Dilma decorre da avaliação positiva que o povo faz da correspondência entre suas expectativas e os resultados das opções feitas por estes dois presidentes ao longo de seus mandatos.

Confio em Lula e Dilma, por isso tendo a apoiar o encaminhamento que estão dando à questão do petróleo. O que não impede de maneira nenhuma que eu siga minha ausculta do que dizem todos, no debate que presentemente se trava sobre o leilão de Libra. E o que tenho ouvido, tem me deixado um bocado intrigado. Ante um governo absolutamente incompetente para dialogar com a sociedade e explicar as razões de suas escolhas, vejo a insólita aliança da esquerda nacionalista com a direita entreguista para impedir o leilão de Libra. Dou por certo que uma das duas joga, sem saber, a favor do inimigo. E vou aos poucos confirmando a desconfiança de que é a esquerda quem o faz.

Quero me informar ainda um pouco mais para consolidar minha opinião sobre o leilão de Libra. Mas deixo desde já aqui registradas as minhas reflexões iniciais sobre esse tema. O leilão é hoje, mas a discussão sobre ele não se esgotará até que se chegue a um consenso dentro do PT e na sociedade sobre o que ele realmente representa para o país.

sábado, 19 de outubro de 2013

Entrevista da presidenta Dilma ao programa do Ratinho, em 7/10/2013.

Sobre os Black Blocs.

A máscara serve para ocultar a identidade de quem planeja cometer crimes durante as manifestações. Isto não é um preconceito. É a constatação de um fato. Buscar deliberadamente o confronto com a polícia e depredar patrimônio público e privado é, além de crime, uma estratégia burra de luta, porque legitima o uso da violência pelo Estado e reforça na sociedade a ideia, aí sim preconceituosa, de que manifestação de rua é sinônimo de baderna.

O problema é que esse tipo de prática virou moda. Gente velha, que devia ter mais discernimento e responsabilidade, tá tratando os moleques como heróis. E o pior é que eles estão acreditando. Mas não são heróis de nada. O meio, para eles, na verdade é o fim. Os velhos é que estão tentando usar o fim deles como meio para alcançar os próprios fins. Eles mesmos nem sabem por que lutam. Apenas lutam, como galos numa rinha, obedecendo ao instinto da busca do prazer da adrenalina.

O "blackbloquismo" é uma expressão coletiva da aversão juvenil à autoridade e do fascínio que os jovens sempre tiveram pela vida marginal e violenta. É a cultura da birra e da autovitimização ante a opressão de uma autoridade vista como semelhante à paterna. Esses garotos provocam ao máximo a polícia, que dizem odiar, confiando, paradoxalmente, no respeito da polícia aos limites legais. Não acreditam mesmo que algum meganha louco atire prá matar, nem cogitam a possibilidade real de serem atingidos por tiros disparados pelos seguranças do comércio. Declaram, portanto, guerra a inimigos nos quais depositam inexplicável confiança.

Agem como bate-bolas carnavalescos, tentando assustar o poderoso Estado burguês, com suas fantasias e seu teatro barulhento. Isso é de uma ingenuidade tal, que revela o quão pouco sabem da vida e da luta de classes. Este tipo de ação que fazem é absolutamente inofensivo para a burguesia. Traz prejuízo material e financeiro, isto sim, para a pequena burguesia, que em algum momento vai começar a cobrar de alguém a conta.

A ação dos mascarados é, além disso, politicamente prejudicial à luta dos trabalhadores, porque reforça o preconceito deles contra as manifestações de rua e porque atrai e legitima a repressão policial. Mas é sobretudo extremamente perigosa esta metodologia de ação para os próprios Black Blocs. Se o Estado ou os movimentos sociais não segurarem esses garotos, a pequena burguesia, que está muito incomodada com eles, vai começar a agir contra eles por conta própria. Se queremos mártires, estamos no caminho certo para tê-los.

Não sou, assim, contra o “blackbloquismo” por legalismo ou moralismo. Me oponho por razões ao mesmo tempo políticas e humanitárias. O “blackbloquismo” enfraquece a classe trabalhadora perante a burguesia e expõe jovens imaturos e inexperientes a riscos que não se justificam e que eles próprios não medem.  Brincam de revolução ante uma classe dominante forte e coesa, sem ter atrás de si um décimo sequer do respaldo social necessário para fazer pelo menos um leve arranhão que seja no Estado que ousam tresloucadamente enfrentar.

Não quero amanhã ver um desses meninos mortos por nada. E quero ver a classe trabalhadora cada vez mais nas ruas. Infelizmente, quando a classe resolveu ir prá rua se manifestar, surgiu essa tácita aliança entre polícia e Black Blocs para esvaziar as ruas e estigmatizar ainda mais os movimentos sociais. O “blackbloquismo” é portanto para mim, a despeito da aparência, uma força política que tem desempenhado um papel claramente contrarrevolucionário.

Os Black Blocs, apesar da hostilidade aos símbolos do capitalismo, servem involuntária, mas efetivamente, à burguesia, ajudando-a a afastar os trabalhadores das ruas e, com isso, dificultando a mobilização das massas para a conquista de mudanças reais no país, seja através de reformas, seja através da ruptura revolucionária. Os Black Blocs são no Brasil, o que foram e continuam sendo no restante do mundo. Os Black Blocs são o câncer que debilita e mata os movimentos sociais que inadvertidamente os toleram, acolhem e protegem.

Condenar o Estado burguês por tirar proveito da burrice e da estupidez do “blackbloquismo”, é o mesmo que, no futebol, condenar o atacante adversário por explorar os erros da própria zaga. Faz parte do jogo. Qualquer torcedor sabe que é do seu próprio time que tem que cobrar eficiência no confronto com a equipe adversária.

Em qualquer disputa, política ou esportiva, o papel do adversário é nos criar dificuldades. E a burguesia realmente nunca deu facilidade aos trabalhadores. Nunca houve uma sequer concessão gratuita. Tudo que os trabalhadores têm resulta de seu trabalho e de sua luta. A burguesia sempre explorou e vai continuar explorando os erros das mobilizações dos trabalhadores, para derrotá-los. É assim que ela se perpetua como classe dominante. Contando com as próprias forças e com as debilidades e erros da classe trabalhadora.

Não adianta ficar só na crítica à crueldade dos governos burgueses. É preciso avaliar seriamente a qualidade da ação política da classe trabalhadora a cada passo. Insistir em estratégias que os fatos demonstram ser ineficientes, não vai ajudar a classe trabalhadora a atingir seus objetivos. Na luta de classes, como no futebol, a culpa da derrota nunca é do inimigo, é sempre da nossa própria incapacidade de vencê-lo.

O “blackbloquismo” é um flanco aberto na linha defensiva da classe trabalhadora, por onde a burguesia, através de seu Estado, avança e desfere ataques precisos. Penso que devemos fechar este flanco para enfrentar em melhores condições a burguesia nas ruas. O circo está substituindo a luta de classes. Se eu fosse burguês estaria, neste momento, festejando. Como não sou, critico o que vejo. Ninguém muda um país com teatro e pirotecnia. A esquerda brasileira está, a meu ver, cometendo o equívoco de dar solo fértil à semente de suas futuras derrotas. Espero, sinceramente, estar errado. Mas é esse o quadro que vejo agora.

Silvio Melgarejo

19-10-2013

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Os Black Blocs estão ajudando a direita a criminalizar os movimentos sociais

Os Black Burros estão ajudando a direita a criminalizar os movimentos sociais perante a classe trabalhadora.

Se já havia um forte preconceito contra as manifestações de rua, consideradas por muitos sinônimo de baderna, esse preconceito tem se reforçado ainda mais, com a divulgação diária das cenas protagonizadas por esse bando de dementes.

Os movimentos que não só os toleram, como acolhem e protegem, tem sido duramente reprimidos pela polícia, que não vê a menor diferença entre quem está de preto e quem está vestido de outras cores.

Mas são responsáveis por todas as imagens fornecidas por seus protegidos à direita conservadora e antidemocrática, imagens que já servem e seguirão servindo para justificar perante a opinião pública a escalada da violência da ação repressiva.

A burguesia ri dos Black Burros. Brinca com eles como um gato com pequenos camundongos. Quando a opinião pública se cansar da sensação de desordem, vai dar aval ao Estado para baixar sua mão pesada sobre esses moleques.

É uma irresponsabilidade alimentar nesses garotos a ilusão de que eles são heróis. Não passam de inocentes úteis a quem só precisa de um pretexto para atentar contra a democracia.

Ninguém vai com eles prá cadeia, e tá demorando prá algum deles levar tiro, da polícia ou de algum segurança do comércio. Sinto cheiro de tragédia.

Contenham os Black Blocs antes que virem Black Mortos.

Quebrar agências bancárias não incomoda os banqueiros. Mas destruir o patrimônio da pequena burguesia, é algo que pode provocar nela reações extremas. É uma questão de tempo a entrada de seguranças particulares nesse conflito. E estes, como tantas vezes já se viu, matam e somem do mapa.

Romero Lubambo - Aula-Show na Denison University, Granville, Ohio, USA (2011)


Romero Lubambo Clinic, 2011, at Denison University, Granville, Ohio, USA.
Julian Lage plays a tune with Romero at the end.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Não vou responder a baixaria. Vou continuar a debater política.

(Mensagem enviada em 11 de outubro de 2013 à lista de e-mails do 1º Diretório Zonal e publicada em sua página na web com os números 14470 e 14471)

A mensagem que reproduzo abaixo, publicada em 16/7/2013, na página deste grupo, trata politicamente de uma série de acusações que sofri na época. Algumas se repetem agora. Debatendo com Ricardo Quiroga, e respondendo às suas críticas, apresentei ao mesmo tempo alguns aspectos da minha concepção de partido e de militância política, o meu balanço da situação da zonal, a minha crítica ao seu presidente, e propostas de ação prática. Ao publicar de novo essa mensagem, proponho a reabertura desse debate que não chegou a evoluir muito, na ocasião. Espero que agora encontre melhor acolhida.


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

Mahler, 5ª Sinfonia, Adagietto.


Adagietto, da 5ª Sinfonia de Gustav Mahler, com a Lucerne Festival Orchestra, sob a regência do maestro Cláudio Abbado.




Adagietto, da 5ª Sinfonia de Gustav Mahler, com a Orquestra Filarmônica de Viena, sob a regência do maestro Leonard Bernstein.





Adagietto, da 5ª Sinfonia de Gustav Mahler, com a Osrquestra Filarmônica de Berlim, sob a regência do maestro Herbert Von Karajan. As imagens são do filme Morte em Veneza.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

Sobre os Black Blocs.

A burguesia não precisa infiltrar ninguém entre os Black Blocs. Eles já fazem o que ela quer espontaneamente. Atraem a repressão policial para cima dos movimentos pacíficos em que se infiltram, e fornecem à mídia burguesa as imagens que ajudam a construir uma narrativa que justifica a repressão policial perante a opinião pública. Como disse um militante do Occupy Wall Street, "os Black Blocs são o câncer do Occupy". Pois é isso mesmo. Os Black Blocs são um câncer em qualquer movimento. Apesar do discurso, eles são colaboradores involuntários da burguesia.

Com professores em greve, alunos do RJ estudam sozinhos para o Enem.

Por Silvio Melgarejo - Reproduzo aqui notícia do UOL, que mostra o lado da greve dos professores que seus apoiadores de classe media ignoram ou simplesmente desprezam. O prejuízo causado aos estudantes, filhos dos trabalhadores pobres.

Com professores em greve, alunos do RJ estudam sozinhos para o Enem


Do UOL, no Rio
26/09/2013 - Pela internet, com a ajuda da irmã mais velha, em grupos de estudo ou até nos intervalos do trabalho. Enquanto uma parcela dos professores da rede estadual do Rio de Janeiro continua em greve, mesmo após decisão da Justiça que suspende o movimento, essas foram algumas das alternativas encontradas por alunos do 3º ano do ensino médio do Rio para enfrentar o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio), daqui a um mês, nos dias 26 e 27 de outubro.

Para quem não tem condições de pagar um curso pré-vestibular, vale qualquer estratégia para tentar "salvar o ano" e conseguir ingressar no ensino superior já em 2014. A maioria dos alunos, no entanto, demonstra desânimo e preocupação com os efeitos da interrupção das aulas de algumas disciplinas, desde 8 de agosto, no resultado da avaliação. Os professores se reúnem em assembleia na tarde desta quinta (26), na Tijuca, zona norte do Rio, para discutir os rumos do movimento.
Nesta quarta-feira (25), o UOL ouviu estudantes da Escola Estadual Amaro Cavalcanti, no Largo do Machado, zona sul do Rio de Janeiro, apontada pela Secretaria Estadual de Educação como uma das mais afetadas pela greve dos docentes.
"O ensino estadual já não é bom, sem professores, então, é ainda mais complicado. A gente tem que se redobrar em mil", diz Alessandra Martins, 17 anos, que diz assistir a videoaulas na internet para tentar compensar a falta de alguns professores. "Também entro em alguns sites e blogs especializados e respondo simulados de provas antigas do Enem".
Para Talita Castro, 19, a greve pode ser determinante para o resultado do Enem. "Ter um professor para explicar dá muito mais chances de tirar uma nota boa", afirma a estudante, que tem estudado com colegas. "Fazemos um grupo de estudos, trocamos apostilas e nos ajudamos" diz Talita. Além disso, ela conta com o auxílio da irmã mais velha, que é pedagoga e mora com ela. Talita pretende cursar engenharia de alimentos.

Sem aulas


Na turma de Patrick Richard, 18, mais ou menos 40% dos professores estão em greve, segundo ele. "Não tenho aulas de história, espanhol, religião, sociologia e filosofia. E matemática voltou só há pouco tempo", lista. Para compensar os assuntos perdidos, ele conta que está estudando em casa, com o auxílio de livros e da internet, e em eventuais momentos de tempo livre durante o estágio.
"Meus estudos ficaram conturbados. A greve afetou minha rotina e pode atrapalhar meu desempenho na prova. Eu já sou aluno de escola pública. Com a greve, aumenta ainda mais a distância da gente para os estudantes de colégios particulares, que estão com tudo em dia", comenta Patrick, que deseja cursar ou engenharia ou arquitetura, de preferência em uma instituição pública. "A luta dos professores é justa, mas quem acaba perdendo mais é a gente", reclama.
Morador do Complexo de Lins, na zona norte do Rio, Danilo Cavalcanti, 18, demora mais de uma hora para chegar ao colégio. "Às vezes tenho que acordar 5h da manhã", diz. "E agora, quando chego, às vezes só tenho uma aula. É complicado, porque eu trabalho em uma farmácia e o tempo que eu tenho pra estudar é mais o da escola mesmo", lamenta Danilo, que diz estar tendo aulas apenas de química, biologia, matemática e português.
Amigo de Danilo, Douglas Rodrigues, 18, está mais confiante. "A greve atrapalha o nosso rendimento, mas acho que tenho condições de fazer um bom Enem porque estudo em casa", afirma. Ele disse que pretende cursar geologia na UFRJ (Universidade Federal do Rio de Janeiro) ou na UERJ (Universidade Estadual do Rio).
Apesar de preocupada, Yasmin Barbosa, 17, já está preocupada com os efeitos da greve na faculdade. "Depois os professores vão reclamar que quem passa por cota chega despreparado no ensino superior, mas não é nossa culpa", defende.

Greve dos professores: debate com um companheiro do PT (2º round).

Por Silvio Melgarejo - Dando continuidade ao debate iniciado ontem com o companheiro Ricardo Quiroga, atual presidente do 1º Diretório Zonal do PT-Rio/RJ e candidato a presidente do Diretório Municipal neste PED, sobre a greve dos professores, reproduzo aqui a mensagem que lhe enviei hoje, através da lista de e-mails do 1º DZ.


Vamos lá, Ricardo.


"Ainda não tenho filhos, mas estudei em duas universidades públicas, UERJ e UFRJ, que passaram por diversas greves. E sempre as apoiei, ainda que ao custo de estudar no tórrido verão carioca." (Ricardo Quiroga)

Parece que você não entende que há uma diferença muito grande entre "sacrificar-se" e "impor sacrifício". Você apoiou as greves da sua faculdade. Mas apoiaria uma greve que prejudicasse os seus filhos, se não tivesse meios para compensar-lhes a falta de aulas?

"Ser contra a greve no serviço público(e todos de certo modo são essenciais) é ir para além do que impunha a ditadura militar. Aliás, se considerarmos dentro do serviço público as concessionárias,aí simplesmente não dá mais para fazer greve em grandes setores.
Como eu disse, qual é o setor da economia no qual se faz greve e que não afete a população?
E aí, o custo/benefício varia de acordo com os atingidos. Uma greve em uma obra pode afetar todo seu entorno, a economia local, e inclusive os usuários que seriam beneficiados por esta. Uma greve de garçons impede a população que trabalha na rua se alimentar fora de casa. Uma greve de faxineiros impede a limpeza e consequentemente pode afetar a saúde das pessoas. E assim vai." (Ricardo Quiroga)
Comparar o mal que se faz a uma criança indefesa ou a um adolescente que está começando a vida com prejuízos materiais e aborrecimentos perfeitamente contornáveis por adultos, é constrangedoramente absurdo, Ricardo. Revela ausência total de senso de medida e proporção, e uma falta de sensibilidade social que a mim choca ver dentro do PT.
Parece que você não leu com a devida atenção os textos que eu tenho publicado, ou não leu nada, ou leu com atenção e, ainda assim, não entendeu xongas. A resposta que dei hoje à Eugênia, no post "Greve no setor público: debate com dois companheiros do PT", responde também aos argumentos que você está apresentando aqui agora. Leia por favor. 

"Por fim, vejo um argumento meio telepático. Alguém aqui pode dizer que sabe a opinião média dos pais e alunos de escolas públicas?" (Ricardo Quiroga)
Precisa de pesquisa de opinião prá saber se as pessoas estão gostando ou não de ser prejudicadas? Será que você não tem empatia com o próximo, não tem consciência? Há mais de dois mil anos já se ensinava que se colocar no lugar do outro é a melhor maneira de saber se um ato é certo ou errado, justo ou injusto, benéfico ou prejudicial.
"Tudo o que quereis que os homens vos façam, fazei-o vós a eles. Esta é a lei e os profetas". 
(Evangelho de Mateus, capítulo 7, versículo 12 - Sermão da Montanha)
"Tratai todos os homens como quereríeis que eles vos tratassem". 
(Evangelho de Lucas, capítulo 6,versículo 31)
Eu não tenho filhos, Ricardo, mas consigo sentir perfeitamente a angústia e a revolta impotente dos pais pobres das crianças e adolescentes que estão tendo os seus direitos aviltados. Como pode um socialista não ter essa sensibilidade? 

"Aliás, quem tem ido aos atos dos profissionais da educação? O que se tem visto é o Eduardo Paes tentando cooptar os pais, denegrindo os educadores." (Ricardo Quiroga)
O Paes está ocupando um espaço político que ficou vazio, porque os professores optaram por não ocupar. Preferiram fazer um movimento corporativista, decidido e desenvolvido apenas pela categoria, do que um movimento classista, decidido e desenvolvido por toda a classe trabalhadora, envolvendo servidores e usuários do ensino público. O que eu tenho dito é exatamente que, no setor público, o corporativismo, principalmente quando recorre à greve, divide a classe, isola o servidor, e cria as condições para que o governante se aproxime do usuário em busca de uma aliança com ele. Estamos falando de política, Ricardo. 
Os pais e alunos têm interesses que os professores não estão respeitando. Eles querem uma solução para o seu problema que é a falta de aulas. O governo está fazendo o movimento óbvio prá quem entende um mínimo de política. Está tentando fazer uma aliança com os pais e alunos para isolar os professores e derrotá-los na opinião pública. Uma aliança com os pais e alunos, que os professores não quiseram fazer quando iniciaram o seu movimento, bem antes da greve. Quem tinha tudo para ser aliado, foi desprezado e agredido. Agora é tarde prá tentar o diálogo. Consumou-se a traição de classe. Estabeleceu-se a divisão, o conflito de interesses, o "cada um por si". Os professores escolheram o isolamento e praticamente jogaram os pais e alunos nos braços do governo. Quem está cooptando os pais e alunos para o governo são os próprios grevistas.
Muita gente tem se iludido com o tamanho das manifestações de apoio aos professores. Ignoram ou fingem não saber, que a imensa maioria dos pais e alunos de escola pública está ausente desses atos. Assim como em junho, a violência policial é que tem sido o fermento das passeatas. É o repúdio à brutalidade da repressão que tem animado muita gente a se solidarizar com os mestres. E o apoio à greve, quando há, vem unicamente de quem não é vítima da greve, de quem não sabe o que é pobreza ou de quem não é capaz de se colocar no lugar do outro. Parece que tem muita gente assim no PT, pelo visto.

Mais ainda, como alguém pode afirmar levianamente que os professores não prejudicam os próprios filhos porque estudarão com eles? Os professores estão quase 24 horas nas ruas, em assembléias e atos. É a greve mais mobilizada que vejo em duas décadas.
Ricardo, ou você não sabe nada de movimento social ou julga que aqui ninguém nunca participou de um. Ou, quem sabe, deve achar que só tem aqui gente desinformada, que além disso não conhece nenhum professor grevista. Não é, posso te garantir, o meu caso.
Em primeiro lugar, qualquer sindicalista sabe que, em categorias muito numerosas, como é o caso dos professores, uma minoria ínfima participa de manifestações de rua. Podem ser muitos, mas são ínfima minoria. Em segundo lugar, só fica na rua 24 horas, durante 2 meses, quem não tem responsabilidade com a família ou quem não tem família prá cuidar. 
[Por que será que estou tendo a sensação de estar conversando com um de meus alunos adolescentes? Devo mesmo estar ficando muito velho.]
Portanto, os professores tem tido tempo de sobra, sim, prá se dedicar exclusivamente a cuidar da educação dos próprios filhos, e compensar-lhes a falta das aulas em suas escolas.

"Penso que a nossa discussão prioritária aqui é o que cada um dos petistas está fazendo para apoiar uma categoria massacrada pela prefeitura e estado. Muitos estão indo às ruas. Outros estão em plenárias petistas discutindo o que fazer." (Ricardo Quiroga)´
E qual destes está pensando nos filhos dos trabalhadores pobres, nas crianças e adolescentes que estão há mais de 2 meses sem aula, no prejuízo imenso que isso representa para as suas vidas? Massacrados eles sempre foram, pela burguesia, muito mais do que os professores. E agora são os professores que lhes impõem mais esse pesado e injustíssimo tributo, que é a cruel supressão de seus direitos ao ensino. Estão pisando no sonho destes jovens e de suas famílias de construírem um futuro melhor através do estudo. Como pode gente de esquerda, que se diz democrata e socialista, como pode um petista virar as costas a quem mais precisa, naturalizando e até justificando as privações impostas a esses meninos e meninas?
Iniciei o texto em que proponho o debate sobre a greve no setor público, lembrando o ditado que diz que "na briga do mar contra o rochedo, quem sofre é o marisco". Esse ditado me parece perfeito prá ilustrar o drama que estamos acompanhando. O rochedo é o Estado, com sua imponência e rigidez. O mar é a categoria dos professores, arremetendo contra o Estado em ondas. E os mariscos, agarrados ao rochedo, sob as vagas inclementes, são os estudantes da escola pública, esmagados entre os dois gigantes que se digladiam, Estado e professores.
Eu estou com os pequenos e frágeis mariscos, de destino incerto ante a tormenta que sobre eles se abate. Estou com os brasileirinhos e brasileirinhas da escola pública, cujos pais são meus irmãos em Deus e meus irmãos de classe. Não consigo e não quero lhes virar as costas e me dói a indiferença que por eles tem a classe media. Vejo gente aos montes na internet solidária aos professores e nenhuma voz solidária aos estudantes. Dá-se com eles o triste fenômeno da invisibilidade social. Ninguém os ouve, ninguém os vê, ninguém percebe sua presença e existência. Como é surpreendente e triste ver dentro do PT essa surdez, essa cegueira, essa insensibilidade que eu julgava só haver em partidos de direita. 

Respeitem os alunos da escola pública.

terça-feira, 8 de outubro de 2013

A indiferença da classe media pelo filho do trabalhador pobre.

Muita gente tem manifestado apoio à greve dos professores da rede pública de ensino do Rio de Janeiro. Ninguém fala do prejuízo causado às crianças.

O mau exemplo dos professores.

Greve é estratégia de luta egoísta quando fere os direitos dos mais pobres.

Por Silvio Melgarejo - Toda greve tem um custo social que varia conforme a categoria. Mas dentre todas, as mais socialmente onerosas são as greves na educação e na saúde pública, por afetarem exatamente a população mais pobre, que depende da ação estatal para ter seus direitos mais elementares assegurados.

A greve nesses casos é eticamente condenável, por constituir ação prejudicial de um grupo social contra outro ainda mais vulnerável que ele.

Do ponto de vista da luta de classes, tem um caráter regressivo, porque divide a classe trabalhadora ao estabelecer um evidente conflito de interesses entre servidores e usuários dos serviços públicos.

E mesmo do ponto de vista do interesse das categorias grevistas, no caso agora os professores, a greve tem se mostrado uma forma de luta ineficiente, que não tem permitido a estes trabalhadores alcançarem seus objetivos.

A lógica da greve no hospital e na escola pública é diferente da lógica da greve numa fábrica capitalista. Nesta o alvo é o capital financeiro do burguês. Naquelas o alvo é o capital político do governante.

Ao cruzar os braços, o servidor público suspende deliberadamente direitos dos usuários dos serviços públicos, e tenta atribuir essa suspensão de direitos ao governante. Com isso visa desgastar a imagem do político e do partido que estão no poder, como forma de pressioná-los ao atendimento de suas demandas.

Mas quem disse que suspender os já mal garantidos direitos dos trabalhadores pobres é a única forma de desgastar a imagem de um governo?

Há dois meses os filhos dos trabalhadores pobres estão sem aula, enquanto os filhos da burguesia e da classe media não passam um dia sem ir à escola para investir nos seus futuros. Essas crianças estão sendo sacrificadas sem necessidade. Pagam injustamente pelo corporativismo, pela burrice e pelo conservadorismo das lideranças sindicais dos professores e das vanguardas de todos os partidos de esquerda, que compartilham da mesma visão equivocada.

Do ponto de vista pedagógico, da formação do caráter dos pequenos cidadãos, que lição estarão dando os professores aos seus alunos? Ouço alguém dizer que eles merecem apoio porque lutam por direitos. Mas será justo lutar por direitos, ferindo direitos de gente indefesa? É esse o exemplo que pretendem dar a estas crianças? De que vale tudo para conquistar o que se quer, até os atos mais covardes?

Greve no setor público: debate com dois companheiros do PT.

Por Silvio Melgarejo - No debate aberto pela publicação dos posts anteriores sobre a greve no setor público, dois companheiros do PT expressaram opiniões concordantes entre si e divergentes da minha. Curiosamente os dois pertencem a tendências rivais dentro do partido. A companheira Eugênia Loureiro é da Construindo um Novo Brasil (CNB), e o companheiro Ricardo Quiroga é da Articulação de Esquerda (AE). Destaco este fato porque ele parece indicar que o corporativismo abrange mesmo um amplo espectro de tendências, na vanguarda do partido.

Reproduzo abaixo as duas mensagens que publiquei hoje na lista de e-mails do 1º Diretório Zonal do PT-Rio/RJ, agradecendo à companheira Eugênia e ao companheiro Ricardo a oportunidade de estar debatendo com eles.

Mensagem a Eugênia Loureiro


Olá, Eugênia. Obrigado pelo comentário. Vou tentar responder ponto a ponto. Ok? Vamos lá.


"Isso tudo é mais fácil de falar do que fazer." (Eugênia)

Não defendo o mais fácil. Defendo o que acho justo. E o justo, muitas vezes, é mesmo o mais difícil. O que não quer dizer que devamos renunciar a ele. Certo?



"Não concordo com essa idéia de que os funcionários públicos não possam fazer greve." (Eugênia)

Vamos colocar as coisas sobre outra perspectiva. Você concorda com a ideia de que a classe trabalhadora pode ficar sem serviços públicos? Eu não. Por isso sou contra a greve.



"Exatamente porque estamos no século XXI, greve do setor público é possível. Na ditadura militar era crime, passível de punição." (Eugênia)

As greves reprimidas sempre foram as que ameaçavam o lucro e o poder da burguesia. A greves na educação e na saúde públicas não ameaçam nenhum pouco o lucro e o poder da burguesia. Ferem, isto sim, e em cheio, os direitos da própria classe trabalhadora, que só podem lhe ser garantidos pela ação estatal.



"Certamente, podem existir outras formas complementares de mobilização." (Eugênia)

As formas de mobilização que você tem como complementares, eu defendo que sejam as principais e únicas, porque são elas as únicas que permitem o estabelecimento de pactos entre servidores e usuários, para atuação conjunta, em torno de pautas unificadas. Isso representaria um significativo salto qualitativo do sindicalismo brasileiro, que evoluiria do corporativismo, que divide a classe e isola as categorias, para o classismo, que une a classe pela conexão entre setores e categorias.



"Mas aos pais caberia apoiar a mobilização e ajudar na definição dos rumos do movimento, uma vez que os métodos de ensino em princípio não deveriam interessar só aos professores, da memsa forma que professores bem pagos e com tempo para pesquisa., complementação de formação etc." (Eugênia)

Não quero ser invasivo, nem indiscreto, Eugênia, me responda se quiser, senão considere esta pergunta apenas retórica. Aonde estudam as crianças da sua família, seus filhos, netos ou sobrinhos? Nas escolas públicas paralisadas ou nas particulares, onde os meninos estão tendo aula normalmente? Eu tenho um palpite, se me permite. Eles devem estudar em escolas particulares. Eu suponho que você deva amar muito suas crianças, e não acredito, francamente, que quem ama seus filhos, sobrinhos ou netos possa concordar que eles sejam sacrificados, para prestar solidariedade a pessoas que demonstram total desprezo por eles, ao violar seus sagrados direitos ao ensino. Quem depende de verdade do serviço público é contra as greves de servidores. Só apoia greve em hospital e escola pública, quem tem plano de saúde e os filhos matriculados em escola particular. Pais que apoiam greves prejudiciais aos seus filhos, não têm amor real por eles.



"Não é verdade também que o setor público é o único que afeta nossas vidas. A greve dos bancos idem. Isto sem falar que é uma situação que só os bancos públicos realmente aderem. Em nome da greve várias operações deixam de ser feitas ou entram nam aior lentidão. A questão dos transportes idem. Motoristas e cobradores andam descontando em cima dos passageiros. Tudo isso me parece muito mais sinais de uma sociedade que se organiza e precisa se organizar. Motoristas e cobradores sempre fizeram movimento junto com os patrões/donos das companhias de ônibus. Como ando de ônibus, percebo que eles querem dar passos em outra direção ou não. Mas nessa tentativa descontam nos passageiros. Sabemos que não é por aí." (Eugênia)

Quando você diz "as nossas vidas", parece sugerir que todas as vidas na sociedade são iguais, que todos têm os mesmos recursos e possibilidades de autodefesa. Você sabe perfeitamente que as coisas não são assim. Nós vivemos num país ainda muito desigual, onde há populações com maior renda, que se protegem muito bem de qualquer adversidade, ao lado de populações extremamente vulneráveis, que dependem do Estado para garantir até a alimentação. O que eu quero dizer é que os mais pobres e os mais ricos não sofrem do mesmo modo e na mesma medida os efeitos de uma greve de serviços públicos. Além disso, há diferenças no tempo de resolução dos conflitos geradores das greves, que varia de acordo com as classes e frações de classe afetadas pelos movimentos. Greves que afetam a burguesia e a classe media são sempre muito mais curtas do que as greves que afetam o proletariado e o sub-proletariado, chamado "povão".

Sobre as greves de bancários e rodoviários, mencionadas por você. O sistema bancário não para nunca completamente. Primeiro, por restrições legais. Segundo, pelo alto grau de automação. E em terceiro lugar, pela diversidade de canais alternativos de atendimento, que hoje estão em casas lotéricas e até em redes de supermercados. Portanto, com o advento do auto-atendimento por telefone, internet e caixa-eletrônico, e da integração dos sistemas online dos bancos com as casas lotéricas e supermercados, os transtornos de uma greve bancária hoje são muito menores do eram há 20 anos atrás. O sistema não para mesmo.

Sobre os ônibus. Realmente, eu não saberia dizer se houve realmente algum dia no Rio alguma greve de rodoviários. Tenho a mesma quase certeza que você de que o que sempre houve foi o lock-out, em que o patrão suspende o serviço prá simular uma greve salarial e pressionar a prefeitura a autorizar uma elevação de tarifa. O transporte rodoviário é o principal meio de locomoção do trabalhador brasileiro, nos centros urbanos. Se ele para, isso tem repercussões em toda a economia. Não só os trabalhadores perdem o dia de trabalho. A burguesia também. E por atingir à burguesia, nunca uma greve ou lock-out se estende por mais de dois ou três dias, assim mesmo se for muito forte. São, portanto, paralisações de curta duração e prejuízos limitados pelo próprio empenho da burguesia em abreviá-las.

Nem os rodoviários, nem os bancários causam tanto sofrimento e prejuízo com suas greves à classe trabalhadora, especialmente às populações mais carentes, do que os servidores públicos da educação e da saúde, cujas paralisações são invariavelmente prolongadas, como estas que estamos vendo hoje aqui no Rio. A burguesia e a classe media se acomodam na educação e na medicina privada. Os servidores se acomodam na estabilidade do emprego. Só ao povão incomoda a paralisação do Estado, em áreas que só ele busca por necessidade. E como o povão, apesar de maioria, é desorganizado e, portanto, fraco politicamente, acaba carregando o fardo de sua dor sozinho, sem meios sequer de fazer chegar suas queixas ao Estado, aos servidores, ao conjunto da sociedade.

Portanto, Eugênia, concluindo neste ponto, penso que a greve não deve ser admitida em serviços essenciais que não possam ser providos por outras vias e estar acessíveis ao conjunto da população. Já há na Lei 7.783, de 28 de junho de 89, uma definição do que é "serviço essencial" e "necessidade inadiável", que é a seguinte:

Art. 10 - São considerados serviços ou atividades essenciais:
        I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e combustíveis;
        II - assistência médica e hospitalar;
        III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;
        IV - funerários;
        V - transporte coletivo;
        VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;
        VII - telecomunicações;
        VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares;
        IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;
        X - controle de tráfego aéreo;
        XI compensação bancária.


        Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
        Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas, coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população.


http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l7783.htm




"Nós petistas penso que devemos defender o direito de grave do setor público e uma mobilização que não se coloque contra a população que depende dos serviços. A CUT está aí para isso.. Exemplo disso é a greve dos metroviários que liberam as roletas." (Eugênia)

Liberar a roleta não é greve, Eugênia. Mas é, sim, uma forma inteligente de luta, porque serve prá dar prejuízo ao patrão, fazer a propaganda da causa e ganhar a simpatia e a solidariedade dos outros trabalhadores. Defender o direito irrestrito de greve dos servidores, é defender a possibilidade de suspensão do direito do cidadão aos serviços públicos. A greve é uma forma de mobilização que sempre se colocará contra a população que depende da ação estatal para ter seus direitos assegurados.

Nós, petistas, não podemos nos curvar ao que a razão mostra não ser correto, não podemos perpetuar a vigência de conceitos e fórmulas que inviabilizam a realização do projeto do partido. A luta pelo socialismo democrático, e mesmo pelas reformas estruturais ainda nos marcos do capitalismo, depende da unidade da classe para atingir seus objetivos. Greve que divide  a classe não serve às reformas, muito menos ao socialismo.

Sei que se convencionou que a posição em relação à greve define se o sujeito é de esquerda ou direita, mas isto, estou certo, é uma bobagem. Quando a greve fere o ideal da igualdade, não é greve de esquerda, é greve de direita. Eu, como militante de esquerda, sinto-me muito à vontade, graças às fortes razões que tenho exposto, para condenar a greve nos serviços públicos. São greves dirigidas e realizadas por trabalhadores que não sabem o que é consciência de classe, e que por isso dividem a classe, comprometendo o avanço da luta pelas reformas estruturais e pelo socialismo. É preciso ter a coragem de abrir e encarar essa discussão dentro do PT, para tentar fazer ver a estes companheiros - que, ao que tudo indica, são maioria, pelo menos na vanguarda - o equívoco em que estão de boa fé incorrendo, sem saber o prejuízo que ele pode representar para ideal que abraçaram.



"Precisamos avançar muito. É certo. Em direção a um setor público de qualidade o que inclui bons salários e bons planos de carreira. Mas sem egoismos pequeno burgueses, por favor. Afinal os filhos dos professres das escolas públicas também estudam em escoals públicas." (Eugênia)

Os filhos dos professores das escolas públicas, durante as greves, com certeza, estudam em casa. Com os pais, que são professores. E os filhos dos porteiros, da empregadas domésticas, dos garçons, das manicures, das caixas de supermercado, dos ajudantes de pedreiro, das operadoras de telemarketing, dos subempregados e desempregados, que, muitas vezes, mal sabem escrever o próprio nome? Como fica a educação dos filhos desses trabalhadores? Aonde o egoísmo pequeno-burguês, Eugênia? Nos que defendem os direitos do proletariado e do sub-proletariado, ou nos que os desprezam, privilegiando os setores da classe que já têm uma vida melhor do que a deles? Pense bem.



Um abraço, companheira.




Mensagem a Ricardo Quiroga


Olá, Ricardo Quiroga. Quero comentar algumas de suas falas.

"é inquestionável o direito de greve de cada categoria, porque cada um sabe onde o calo aperta." (Ricardo Quiroga)

E você sabe onde aperta o calo do usuário dos serviços públicos, durante uma greve de servidores? Ou tem plano de saúde e os filhos matriculados em escolas particulares?



"a única greve que prejudica unicamente os patrões (privados) e a elite é a de garçons de restaurantes chiques e a de seus trabalhadores domésticos." (Ricardo Quiroga)

Como você mesmo disse, Ricardo, não se pode igualar categorias e lutas. Toda greve tem um custo social que varia de categoria para categoria. Eu não tenho nenhuma dúvida, de que as greves na saúde e na educação pública, estão entre as mais socialmente onerosas que existem, por afetarem exatamente a população mais pobre, que depende da ação estatal para ter seus direitos mais elementares assegurados.

Se toda greve tem um custo social, você não acha que deveríamos usar essa forma de luta de maneira mais criteriosa, evitando em alguns casos o seu emprego, atentos à previsão da relação custo/benefício?


Um abraço, companheiro.




segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Greve dos professores: Causa justa, estratégia de luta equivocada.

Por Silvio Melgarejo - Eu não contesto a justiça da causa dos professores. Contesto a justiça e a eficiência do método de luta usado para a sua defesa. É essa a discussão que proponho. A greve numa fábrica é eficiente e eticamente admissível, porque não penaliza ninguém além do patrão. A greve no serviço público é ineficiente e eticamente condenável, porque penaliza populações inocentes, indefesas e vulneráveis.

O argumento de que o aluno sofre com ou sem greve, não se sustenta. Porque se a greve não representasse um acréscimo de prejuízo, não haveria porque fazê-la. Se o ensino já é precário e interrompe-se o ano letivo durante dois meses, sem previsão nenhuma de retorno, é evidente que os prejuízos se acumulam e não vão poder ser recuperados, exatamente por causa da precariedade do sistema. É como você submeter uma máquina velha ou um organismo debilitado a condições extremas de uso. Eles não respondem ou acabam entrando fatalmente em colapso. O ano dessa garotada já está comprometido. E eu fico imaginando que tipo de lição esses meninos podem tirar do que estão vivendo.

Greve nunca ajudou a melhorar serviço público. Esta que os professores estão fazendo não vai ser diferente. Ninguém acredita, além disso, que seja esse mesmo o propósito dos servidores quando cruzam os braços. O que mobiliza a maioria dos trabalhadores é a questão salarial. Se as condições de trabalho melhoram, mas não aumenta o salário, a greve continua. Se as condições de trabalho não melhoram, mas o salário aumenta, a greve termina.

Por que a sociedade não pressiona os governos a darem respostas mais céleres e eficientes aos problemas da educação? Porque as poderosas máquinas sindicais dos servidores estão voltadas para a mobilização da própria categoria, e não dialogam com a sociedade. O que eu tenho dito é que só a aliança dos servidores públicos organizados com os usuários dos serviços públicos, também organizados, será capaz de promover avanços na qualidade dos serviços públicos.

Só que, enquanto os servidores já têm um bom acúmulo de organização junto às suas entidades, os usuários são um aliado ainda fraco porque não têm organização nenhuma. Para transformar o usuário num aliado forte e útil à sua causa, os servidores têm que ajudá-lo a criar suas próprias entidades, com autonomia e independência política e organizativa. Essas duas forças, usuários e servidores, bem estruturadas e comprometidas com uma pauta comum de demandas e com uma estratégia unificada de luta, podem revolucionar os serviços públicos do país. Se não for desta forma, vamos ter que esperar por um milagre.

Greve no setor público é como bala perdida. Só mata trabalhador pobre.

(Textos publicados no Orkut, em maio de 2007)

Por Silvio Melgarejo - As greves do setor público, são como as balas perdidas, na guerra da polícia contra o narcotráfico. Em ambos os casos, a vítima é sempre o trabalhador pobre e sem sindicato que o defenda. O alvo dos servidores públicos é o governo, que é seu patrão. Mas, entre os dois litigantes há um inocente indefeso. O usuário do serviço público. Pego no meio do fogo cruzado, desprevenido e sem saber aonde ir, aonde se abrigar, o trabalhador das comunidades pobres, dos subúrbios e das favelas, é sempre atingido em cheio nos seus direitos humanos e de cidadão. Atingido pelos “disparos” de outros cidadãos que não se deram ao trabalho, ainda, de pensar numa forma menos estúpida e egoísta de defender os próprios direitos, sem sacrificar os direitos de seus irmãos de classe.

O direito dos servidores a um salário decente e a condições melhores de trabalho, não é incompatível com o direito dos usuários a um serviço público de qualidade. Mas o direito irrestrito de greve dos servidores, sim. Porque penaliza, impiedosa e injustamente, o usuário pobre. Quem defende este trabalhador desamparado? O servidor? Como? Impondo-lhe mais sofrimento?



Servidores x Usuários: Conflito de interesses.


Temos, aí, um claro conflito de interesses entre trabalhadores. E isso é grave porque divide a classe, enfraquecendo-a perante os seus verdadeiros inimigos, que são o grande capital e os governos conservadores. Um usuário de serviço público nunca será solidário com uma greve de servidores. Óbvio. Ela lhe atinge diretamente, agrava-lhe os sofrimentos, que já não poucos.

As reivindicações salariais dos servidores são justas. A estratégia de luta é que é errada. A “greve geral, até sangrar” é uma estratégia que não tem o menor cabimento quando se sabe que o sangue que vai correr não é o do inimigo de classe. Quantas greves os políticos dos partidos burgueses já enfrentaram enquanto governantes do país, de estados e de municípios? Quanto perderam de capital político por terem tido que enfrentá-las? Creio que pouco. Por outro lado, quanto prejuízo e quanta dor devem ter-se agravado e prolongado, quanta morte deve ter se consumado, além das que rotineiramente acontecem, por causa de uma greve sem limites? E qual foi o resultado disso tudo? O salário dos servidores aumentou? As condições de trabalho melhoraram?



Greve geral, até sangrar: estratégia equivocada.


Essa contabilidade de perdas e ganhos, nos indica, claramente, que, para o setor público, a greve sem limites é ineficiente como forma de luta. Com um agravante. Cria um abismo imenso entre servidores e usuários que, ao contrário, deveriam ser aliados na luta por um serviço público de qualidade. O servidor demonstra desprezo pelo usuário. E quando age assim, inviabiliza o dialogo com ele e se isola da sociedade. Resultado. Todos saem derrotados. E continua-se insistindo na mesma equivocada estratégia de “greve geral, até sangrar”.

O servidor aponta sua arma para o usuário... E dispara, certo de que a bala atravessará o “escudo humano” e chegará ao alvo que ele pretende atingir: o governo. Ferido ou morto, o usuário, os grevistas vão prá imprensa e culpam o governo. O governo, por sua vez, culpa os grevistas. Pro usuário, não há dúvida. Os dois estão cobertos de razão em suas acusações mútuas. Ambos têm culpa pela dor que ele sofre. Aos dois dirige a mesma reprovação, o mesmo ódio.



Mais inteligência e consciência de classe.


Os servidores precisam pensar um pouco melhor sobre a sua relação com a sociedade, especialmente com os usuários de serviços públicos, com quem deveriam buscar estabelecer aliança, na luta por melhorias no setor. Acho, francamente, que está sobrando burrice e corporativismo. Está faltando inteligência e consciência de classe. O usuário de serviço público não é inimigo. Por que, então, deve ser atingido nessa guerra? Ele é, ao contrário, irmão de classe e aliado potencial do servidor público. O servidor tem que passar a considerar isso na hora de desenhar a sua estratégia de luta. É preciso pensar em formas de luta que poupem o usuário de maiores sofrimentos, que o tragam e envolvam na luta por avanços no setor, e que atinjam, de fato, aquele que precisa ser atingido, que é o governo.



O PT é dos servidores e dos usuários.


O PT não é só dos servidores públicos. É o partido de todos os trabalhadores, especialmente, dos mais pobres. A maioria destes está fora do PT, dispersa na sociedade, desorganizada, sem associações ou sindicatos que defendam seus interesses. O PT tem que ser a voz desses companheiros. Tem que considerá-los e ouvi-los para falar em nome deles. Tem que incorporá-los para que o partido seja menos elitista e mais popular. Nós, os “primos ricos” da classe, temos que ter sensibilidade e generosidade para com as necessidades e limitações dos “primos pobres”’. Não são eles que têm que abrir mão de nada. Não são eles que têm que esperar nada. Não são eles que têm que compreender nada. Nós é que temos que abrir mão e dar-lhes a vez na fila. Nós é que temos que esperar o momento certo e a forma certa de agir prá não lhes prejudicar, ainda mais, do que já são prejudicados. Nós é que temos que compreender a situação deles, não eles à nossa. Os servidores têm vozes de sobra dentro do PT. Os usuários, não. Vamos fazer um esforço para ouvi-los. Vamos nos esforçar prá não esquecer que eles existem. Que sua vida e sua felicidade valem tanto quanto as nossas.



Prá que um direito não atropele outro.


O direito de greve é, legalmente, reconhecido. Mas faltam regras que orientem o seu exercício prá que ele não comprometa o exercício de outros direitos. Isto é o que faz a regulamentação de uma lei. Estabelece regras, limites. A greve é uma arma legítima do servidor no seu conflito com o governo. Mas é inadmissível que seu uso traga prejuízo a quem já tem tão pouco. Há muitos anos, o servidor vem se mostrando insensível a isso. E é lamentável que seja necessária uma lei para proteger, minimamente, os usuários dos serviços públicos que, durante as campanhas salariais, são vítimas da incompetência, da insensibilidade e do descaso, tanto dos governos, quanto dos sindicatos de servidores.



A greve não é a nossa única arma.


A greve não pode ser vista como a única arma dos trabalhadores. 

Pela aliança dos servidores com os usuários dos serviços públicos. 

Pela fundação de uma Associação Nacional dos Usuários de Serviços Públicos.


Para pressionar o patrão e arrancar um acordo salarial satisfatório, o trabalhador suspende o fornecimento da força de trabalho que mantém o funcionamento de sua empresa. Isso é a greve.

Numa fábrica, a interrupção da produção significa prejuízo para o patrão. Prá ele e prá mais ninguém. O objetivo do burguês é o lucro, por isso este é o seu ponto fraco. O medo de ter prejuízo financeiro.

No serviço público, a coisa é diferente. O patrão é o governo, cujo ponto fraco não é o medo do prejuízo financeiro, e sim o medo do prejuízo político. Por isso, as greves no setor público, tentam provocar o maior desgaste possível na imagem dos partidos que estão à frente dos governos, causando, deliberadamente, transtornos à sociedade e tentando convencê-la de que a culpa por esses transtornos é unicamente dos governos. A sociedade, quase sempre, não entende dessa forma, e culpa os dois, governo e servidores, pelas dores, prejuízos e aborrecimentos sofridos.

A greve não é a única maneira de desgastar, politicamente, os governantes. E quando há algum desgaste político, esse desgaste certamente é dividido entre governo e servidores. Sobram críticas do povo para os dois lados. O que ganha, então, a luta dos servidores com isso? A meu ver, nada.

Uma aliança dos servidores com os usuários organizados traria muito mais frutos para ambos do que a insistência nessa estratégia burra e corporativista da “greve geral, até sangrar”. Uma estratégia que, no final das contas, só isola os servidores do resto da sociedade, enfraquecendo-os perante os governos com quem têm que negociar.

A luta salarial dos servidores só terá força se estiver articulada com a luta de toda a classe trabalhadora por um serviço público de qualidade. Juntos, usuários e servidores, podem criar estratégias comuns de atuação coordenada, inovadoras e fortes, o suficiente, para gerar mais desgaste político aos governos do que as greves gerais, prolongadas e sistemáticas, injustas e ineficientes.

Os sindicatos de servidores deveriam usar o poder dos seus aparatos para ajudar a construir e fortalecer as organizações de usuários de serviços públicos. Em alguns lugares isto já acontece, segundo eu soube. Os servidores, conscientes do papel estratégico que podem ter os usuários, tomam a iniciativa e ajudam-nos a se organizar em associações. São infelizmente iniciativas muito isoladas, raríssimas mesmo.

É preciso que haja um amplo movimento que seja liderado e patrocinado pelo Sindicato Nacional dos Servidores, para organizar e mobilizar os usuários dos serviços públicos. Se não houver uma mudança de conceitos e de estratégias, servidores e usuários, seguiremos divididos e enfraquecidos perante os governos patronais.

Os servidores, que tem maior acúmulo de organização, têm a obrigação de assumir a condução desse processo. Só assim vamos poder dar passos efetivos na direção de um serviço público de qualidade, que atenda às aspirações de todos nós, usuários e servidores.



Uma drama e três personagens.


De novo. Existem 3 personagens na história de uma greve no setor público. O servidor, o governo e o usuário. O roteiro é o seguinte. O governo paga mal aos servidores. Os servidores entram em greve por melhores salários. O governo se recusa a ceder. Como têm estabilidade no emprego e a garantia do pagamento dos dias parados, no final do mês, o servidor não tem pressa, nem se angustia. Vai prá casa, e se prepara prá esperar. Os dias passam... Semanas... Às vezes, meses. Todos de braços cruzados. A intenção dos servidores é pressionar o governo, provocando o maior desgaste possível na imagem dos políticos e partidos que estão à frente da administração pública.

E é aí que entra o outro personagem da trama. O usuário. O usuário é, também, eleitor. O governante precisa do voto do usuário. A estratégia dos servidores, então, é simples. Impôr um sofrimento maior do que o ordinário ao usuário/eleitor, e dizer a ele que a culpa por essa dose extra de sofrimento é do governante. Isso, supostamente, deixaria o usuário/eleitor furioso e decidido a não votar nunca mais no político responsável por sua dor. O político, supostamente, temeria a perda de votos e a derrota nas próximas eleições. E, assim, acuado, cederia às exigências dos grevistas.

Resumindo. Então, o servidor público entra em greve contra o usuário do serviço público, na expectativa de que este pressione o governo no sentido de que resolva logo o seu problema. O usuário sofre e, é claro, se queixa. Ouve, então, do governo que a culpa é dos grevistas. Os grevistas, por sua vez, dizem que a culpa é do governo. E o usuário conclui o óbvio. Que os dois têm razão quando, mutuamente, se acusam. E que faltam, covardemente, com a verdade quando se eximem de responsabilidade pelo verdadeiro martírio que impõem aos usuários dos serviços públicos paralisados.



Greve no setor público x Greve no setor privado.


É preciso reconhecer que temos contradições dentro da nossa classe. E que há setores, que prá defender seus interesses, ferem os interesses de outros setores. Sou contra qualquer mobilização de trabalhadores que penalize outros trabalhadores, especialmente se os prejudicados forem os mais pobres. O que vemos, na nossa sociedade, é que os trabalhadores de classe media são incapazes de sacrificar quaisquer de seus interesses em favor dos seus irmãos mais pobres. Ao contrário. Prá defender seus interesses, são capazes de agravar os sofrimentos dos mais fracos, sem a menor dor de consciência.

Concordo com a estratégia de provocar o desgaste político dos governos como forma de pressioná-los. Mas como provocar esse desgaste? Eu discordo de que a greve seja o melhor meio. Os servidores saem das greves que fazem tão politicamente desgastados quanto os governos, porque os usuários, passam a odiá-los tanto quanto aos governos. Nunca vi uma greve de servidores que derrubasse um governo ou que, sequer, tenha inviabilizado sua reeleição. E se a greve fosse, realmente, uma arma eficiente, os servidores não teriam ficado tanto tempo com os salários congelados. Então, usar uma forma de luta que os isola na sociedade e não resolve o seu problema, me parece uma insensatez.

Equivoca-se quem pensa que a greve é a arma mais forte de todos os trabalhadores, inclusive os do setor público. Parar a produção numa fábrica e parar a produção num serviço público, não têm as mesmas implicações, como eu já disse. São, na verdade, estratégias diferentes. Na fábrica, a greve pretende desgastar o capital financeiro do empresário, o seu lucro. Deixando de produzir, deixa ele de vender, assim que os estoques se esgotam. Atrasam-se as encomendas, quebra-se todo o planejamento da empresa e, por aí, vai. No serviço público, o capital do patrão não é financeiro. É político. A greve, então, nesse caso, pretende desgastar o capital político do governante. E aonde está depositado esse capital político senão na pessoa do cidadão, usuário do serviço público? O governo só pode ser atingido através do cidadão. Por que é ele, cidadão, quando investido dos seus poderes de eleitor, que aprova ou reprova os mandatários, nos pleitos que periodicamente se realizam. Por isso é que o cidadão/usuário/eleitor, passa a ser o alvo do ataque dos servidores.

É simples e cruel a estratégia dos servidores grevistas. Impor sofrimento aos usuários e torcer prá que eles responsabilizem o governo. O governo, temendo a desaprovação da opinião pública e a perda de votos, cederia às exigências de seus empregados. E todos ficariam bem. Certo? Errado!!! O usuário é quem entra pelo cano. “Problema seu!!!”, dizem-lhe os servidores. Comparar uma greve no serviço público de saúde, por exemplo, com uma greve numa fábrica de qualquer coisa, dá bem uma ideia da miopia dos nossos sindicalistas. Beira a cegueira. Sentirão-se injustiçados se forem impedidos de agravar o sofrimento dos usuários ou se estes, como eu, recusarem-se a ser usados como bucha de canhão na guerra dos outros.

Equivoca-se quem enxerga as mesmas implicações numa greve do setor público e numa greve do setor privado. O custo social de uma greve em áreas essenciais do serviço público como saúde e educação é infinitamente maior do que o custo social de qualquer greve que se pense no setor privado. O objetivo da empresa privada é o lucro. O objetivo do Estado, na democracia, é garantir direitos. Quando uma empresa privada para, o consumidor tem como buscar alternativas na concorrência. Quando o Estado para, a concorrência que ele eventualmente tenha, está no setor privado ao qual o povo não tem acesso. Para o trabalhador pobre, o serviço público é uma tábua de salvação. Quando ela lhe falta, até a vida pode perder. Pode-se trocar uma marca por outra, e um produto por outro, no mercado, se houver falta. Mas não há nada que substitua o atendimento médico e o remédio quando a doença surge.

A greve não é a única maneira de desgastar politicamente um governo. Manifestações públicas e unificadas de usuários e servidores seriam muito mais eficientes. Ganhar o apoio dos usuários significaria ganhar o apoio de milhões de cidadãos/eleitores. Mas como esperar que a vítima seja solidária com o próprio algoz? Sim, porque, numa greve, o cidadão/usuário identifica dois algozes. O governo e o servidores, ambos partes integrantes do Estado. Na opinião pública, o servidor que cruza os braços e traz prejuízo à sociedade, amparado por garantias trabalhistas que outros trabalhadores não têm, como, por exemplo, a estabilidade no emprego e o pagamento dos dias parados; este servidor, em greve, é percebido, pelos seus irmãos de classe, como um vilão que se junta a outro vilão, o governo, prá lhe fazer sofrer mais do que já sofre costumeiramente. Se quer ter o usuário como aliado, o servidor tem que, em primeiro lugar, tirá-lo da linha de fogo. Se, ao contrário, disparar contra ele, terá contra si mais um inimigo. Usem a cabeça, senhores servidores.

Vou repetir a posição que antes já expus. Pouco me importa o direito de greve dos servidores. A eles também não deveria importar. No tempo da ditadura militar, em que toda greve era decretada ilegal, os trabalhadores davam de ombros e diziam, uns para os outros: “Não há greve legal, nem greve ilegal. O que há é greve vitoriosa ou greve derrotada”. E iam à luta, encarando toda a repressão que viesse, com a força das próprias convicções, com coragem, decisão e, sobretudo, com dignidade.

O que me preocupa é a construção da unidade da classe trabalhadora, prá lutar por mais democracia e justiça social. Quando a forma de luta escolhida por uns, sacrifica os interesses de outros, morre qualquer possibilidade de unidade. Contesto a eficiência da greve como forma de luta no setor público e denuncio o evidente efeito colateral que ela produz quando divide a classe trabalhadora, fazendo com que uns tornem-se algozes dos outros. A greve no setor público não convém à classe trabalhadora. O que não significa deixar de lutar, porque há outras formas de luta infinitamente mais eficientes e que não têm o elevado custo social das greves.



Um direito irrestrito que fere outros direitos.


O tema "direito de greve dos servidores", não interessa e não diz respeito só a eles, como parecem crer. Há, no setor público, 3 atores envolvidos que têm que ser ouvidos nesse debate. Os servidores (trabalhadores). O governo (patrão). E os usuários (consumidores). São 3 partes com interesses diferentes e, por vezes, conflitantes. É justo que os servidores queiram leis que defendam seus interesses. E é justo que os usuários reivindiquem o mesmo. O Estado tem obrigações perante o cidadão. O servidor público é um cidadão, um trabalhador. Mas é, também, um agente do Estado. E, se entrando em greve, prejudica o usuário do serviço público, não pode, a meu ver, esperar que este o aplauda.

Eu, como usuário dos serviços públicos, apoio a restrição ao direito de greve dos servidores. Vejo que nem eles, nem os governantes a quem dirigem suas pautas e seus discursos, se importam com o sofrimento dos usuários, em sua maioria, trabalhadores pobres e desvalidos. São estes usuários o lado mais fraco da corda. Onde ela arrebenta. Por isso é do lado deles que me coloco. Contra o descaso dos governos burgueses. E contra o descaso dos servidores, seus insensíveis irmãos de classe.

Mas a minha discussão aqui não é essa. A minha proposta é que os servidores avaliem, com seriedade e sem preconceitos, a eficiência da greve no setor público como forma de luta. Já disse antes e repito. Ainda que o parlamento brasileiro garanta o direito irrestrito de greve para os servidores, eu defendo que estes renunciem ao exercício desse direito. E que optem por outras estratégias e formas de luta que sejam mais eficientes e que tenham um menor custo social.

Como todos devem saber, está havendo, aqui, no Rio de Janeiro, uma verdadeira guerra da polícia contra o narcotráfico em comunidades pobres, como a Vila Cruzeiro e o Complexo do Alemão. A polícia diz que cumpre, apenas, com seu dever. Ocorre que, nessa guerra já morreram 17 pessoas e mais de 60 saíram feridas. Porteiros, empregadas domésticas, manicures, pedreiros, aposentados, desempregados, estudantes, donas de casa... São estas as vítimas da irresponsável e criminosa estratégia do governo do estado para enfrentar o problema do tráfico.

Rubem César, presidente da ong Viva Rio, disse, ontem, que a polícia deve, sim, cumprir o seu dever e combater os criminosos. Mas não pode esquecer que entre ela, polícia, e a bandidagem, está o povo. Gente inocente que está sendo sacrificada nesse verdadeiro massacre que estamos vendo aqui no Rio, sem que ninguém se solidarize com os trabalhadores dessas comunidades. A classe media só se mobiliza prá defender os seus interesses. Se são os pobres que morrem, ela acha natural.

Pois eu digo que, na sua guerra contra os governos, os servidores não podem esquecer da existência e da humanidade dos usuários. Gente pobre, simples e honesta, cuja vida é, frequentemente, desprezada pelo Estado dos ricos e da classe media.

Por isso, eu insisto. Greve, no setor público, é como bala perdida. Só mata trabalhador pobre.

Greve no setor público é a vitória do corporativismo sobre a consciência de classe.

Por Silvio Melgarejo - Nadando contra a corrente, dentro da esquerda, defendo o seguinte ponto de vista:

Greve no setor público é trabalhador pisando em trabalhador. É a vitória do corporativismo sobre a consciência de classe.

“Na briga entre o mar e o rochedo, quem sofre é o marisco”. O ditado é velho, desconheço sua origem, mas ilustra bem a situação vivida hoje pelos alunos das redes municipal e estadual de ensino do Rio de Janeiro. Coitados. Deram o azar de nascer mariscos. Outro ditado, também muito conhecido vem bem a calhar: “não há nada tão ruim que não possa piorar”. Esse, então, é perfeito para descrever os serviços públicos em tempos de greve. Se os estudantes são os mariscos, Estado e professores são rochedo e mar, empenhados na própria luta e indiferentes à sua sorte.

Quando é que os servidores públicos vão entender que hospital e escola pública não são fábricas capitalistas? Quando é que vão entender que a greve numa escola ou hospital tem implicações muito diferentes das existentes nas greves fabris? Quando é que vão tomar consciência de que, enquanto o poder de barganha da greve operária está no prejuízo causado apenas ao burguês, o poder de barganha das greves que fazem alimenta-se unicamente do sofrimento e do prejuízo causado aos usuários dos serviços públicos, que são exatamente os trabalhadores mais pobres da sociedade? Quando é que os servidores públicos vão entender que isso é uma covardia e uma injustiça enorme que, com razão, não lhes perdoam os seus irmãos de classe?

Em 2007 conversei sobre isso com alguns professores grevistas de São Paulo através do Orkut. Na época, discutia-se uma proposta de regulamentação do direito de greve dos servidores, enquanto multiplicavam-se, no Rio, as vítimas de balas perdidas na guerra da polícia contra o tráfico. Invariavelmente, trabalhadores pobres é que morriam. Foi inevitável pensar, então, que na guerra salarial dos servidores contra os governos, a vítima é também aquele mesmo trabalhador pobre, que não tem plano de saúde, nem condições de pagar uma escola particular para os filhos. Os servidores lutam “bravamente”. Mas quem entra, à revelia, com o sacrifício é o usuário dos serviços públicos. Disse àqueles companheiros que era solidário à sua causa, mas que desaprovava o seu método de luta, explicando porque e apresentando alternativas. Num momento em que vejo tanta gente solidária com a greve dos professores cariocas, que já dura mais de 40 dias na rede municipal, e mais de 2 meses na rede estadual de ensino, ponho-me no lugar do pai de um aluno sem aula e imagino que ele deva pensar: "Odeio Cabral e Paes. Mas odeio igualmente os professores grevistas".

A greve no setor público gera um conflito de interesses entre usuários e servidores, que divide inevitavelmente a classe trabalhadora e impede que ela avance objetivamente para a solução dos problemas existentes em áreas essenciais como a saúde e a educação. Isso não precisaria ocorrer, porque a greve não é a única forma de luta capaz de pressionar os governos ao atendimento das demandas dos servidores. O uso recorrente da greve nos serviços públicos e a naturalização de suas infelizes consequências, revela o predomínio absoluto do corporativismo sobre a consciência de classe no sindicalismo brasileiro. Esse é um problema que deveria preocupar muito a esquerda brasileira, mas aparentemente não preocupa. E por uma razão muito simples. Os trabalhadores organizados em sindicatos estão muito mais presentes nas máquinas partidárias e nos parlamentos do que os não sindicalizados. De tal modo que os partidos de esquerda acabam sendo contaminados pelo corporativismo dos sindicatos em que estão presentes.

O sindicalismo, de fato, une os membros de uma categoria, mas tende a dividir a classe. E classe dividida, é classe politicamente fraca. Todos perdem com isso. A única maneira de combater o corporativismo e reforçar a consciência de classe nos partidos de esquerda e na sociedade é investir no fortalecimento das associações de moradores e na criação de associações de usuários de serviços públicos. Só nesse tipo de entidade, trabalhadores de diferentes categorias profissionais teriam a oportunidade de, juntos e misturados, atuarem efetivamente como classe social. O dia em que a questão salarial dos servidores públicos for discutida pelo conjunto da classe trabalhadora, como parte integrante de sua luta por mais e melhores serviços públicos para todos, a greve nos serviços públicos vai ser abolida definitivamente, por decisão livre, democrática e soberana dos próprios trabalhadores.

A luta unificada da classe em torno de uma pauta comum sobre os serviços públicos, que abrangesse as demandas dos servidores, seria um caminho alternativo à destrutiva e ineficiente fórmula tradicionalmente adotada pelos sindicatos de servidores em campanhas salariais. Mas, quem afinal admite sequer pensar em alternativas às greves, quando acha perfeitamente legítimo atropelar o direito dos outros para defender o próprio direito? A ética capitalista da disputa e da concorrência, do “cada um por si”, do “farinha pouca, meu pirão primeiro”, do “morreu? antes ele do que eu”, move os trabalhadores tanto quanto aos seus patrões, nessa selva maluca que é a nossa sociedade. Os servidores clamam por justiça pisando no pescoço dos usuários dos serviços públicos. Sindicalistas de discurso socialista pedem a solidariedade dos que estão com o pescoço sob suas botas. Exalta-se o heroísmo e a combatividade dos grevistas, como se eles não impusessem ao conjunto da classe o ônus total da luta de sua categoria. A causa dos professores do Rio é justa. Mas eles estão realmente sendo egoístas e tremendamente injustos com os seus alunos, filhos dos trabalhadores mais pobres da nossa sociedade. Não seria necessário impor-lhes tanto sacrifício, porque há, sim, formas mais eficientes e menos socialmente danosas de pressionar governos do que a greve.

Convido os servidores, especialmente professores, que estão presentemente em greve, a refletirem um pouco sobre as ponderações que respeitosamente faço. Contem comigo para lutar ao lado de vocês, mas não para apoiar as suas greves, porque elas só prejudicam outros trabalhadores mais pobres do que vocês. Os filhos de Cabral e Paes não estudam em escola pública.

Texto publicado em minha página no Facebook


DEBATE NO FACEBOOK

Glória Melgarejo disse - Faltou apontar quais são "as formas mais eficientes e menos socialmente danosas de pressionar governos do que a greve". Muito fácil dizer que há alternativas, mas não indicar quais. Negociar com os atuais governos estadual e municipal, por exemplo, não é possível. Com eles, não há diálogo. Eles nunca aceitam sentar à mesa para debater os problemas. Como pressionar então?

Amália Araújo disse - Além de não mencionar as alternativas como Gloria Melgarejo citou acima... gostaria de lembrar que prejudicados esses alunos já estão e faz muito tempo, numa escola que aprova automaticamente; numa máquina de fazer avaliações que só geram mais verbas federais para estados e municípios e não repassam para escolas e professores; escolas que na sua maioria não possuem condições mínimas para funcionar; falta de autonomia dos educadores para lecionar e educadores massacrados e insatisfeitos. Se a questão fosse só salarial, certamente esta greve já teria acabado. No Rio de Janeiro, além de todos estes pontos nos deparamos com um PCCR que aniquila a carreira dos funcionários, onde um professor recém concursado recebe mais e pode mudar mais de nível que um profissional de mais de 20 anos, onde agora, com o PEF, que na verdade é um professor polivalente, podemos ter professores de educação física alfabetizando, professor de português dando aula de matemática e assim por diante. Certamente, se não continuarmos na greve, esse aluno só perderá mais ainda. Nessa corrida pela privatização do ensino público, só quem perde são eles. E por último, o ponto mais importante, intransigente não é o grupo de educadores e sim o governo que a força enfia suas vontades ditadoras goela abaixo de toda a sociedade.

MEU COMENTÁRIO - É mais fácil ainda dizer que não há alternativa senão a greve e jogar todo o ônus da paralisação sobre os ombros das crianças pobres. Fazer greve com estabilidade no emprego e sem desconto dos dias parados é mole. Difícil é fazer greve em empresa privada, onde não tem nada disso. 

O que eu disse no meu texto:
“A luta unificada da classe em torno de uma pauta comum sobre os serviços públicos, que abrangesse as demandas dos servidores, seria um caminho alternativo”.
Qualquer forma de luta decidida e implementada em comum acordo por servidores e usuários dos serviços públicos, é milhões de vezes mais eficiente do que uma greve. Só não entende isso quem ainda não percebeu que escola e hospital não são fábricas. 

Vamos pensar juntos?

Por que o burguês cede à reivindicação do operário ante uma greve? Porque a greve não lhe convém. E por que não lhe convém? Porque lhe dá prejuízo. Prejuízo de que natureza? Prejuízo financeiro. 

Agora por que o governo cede à reivindicação do servidor ante uma greve? Porque também ao governo a greve não convém. E por que não convém? Porque lhe dá prejuízo. Prejuízo de que natureza? Prejuízo político.

Existe, portanto, uma diferença fundamental entre a greve na fábrica capitalista e a greve nos serviços públicos. A greve na fábrica tem como alvo a fonte do capital financeiro do burguês que é o lucro advindo da venda da produção. Se não há produção, não há venda, e se não há venda não há lucro. Já a greve nos serviços públicos tem como alvo a fonte do capital político do governante, que é a aprovação social conquistada pela quantidade e pela qualidade da oferta de serviços públicos. Se não há serviços públicos, não há aprovação do cidadão-eleitor ao governante.

A greve operária é uma ação que se dá no contexto de um conflito entre duas partes - trabalhador e patrão - que não objetiva atingir uma terceira, que seria a clientela da empresa.

Já a greve no serviço público é também uma ação desenvolvida no contexto de um conflito entre duas partes - servidor e governo. Mas nesse caso uma terceira parte - o usuário - é trazida à força, como refém, para o centro da disputa. Aqui, o objetivo da ação grevista é impor deliberadamente sofrimento e prejuízo ao usuário, na expectativa de que o usuário compreenda o servidor, que lhe afunda a faca no pescoço, e responsabilize o governo pelo seu drama. 

Nunca vi usuário de serviço público parado com Síndrome de Estocolmo. Muito pelo contrário. Todo cidadão odeia quem sequestra seus direitos. Por isso, quando há uma greve nos serviços públicos, a responsabilidade pelos transtornos é dividida pelo usuário, entre governo e servidores, com uma dose maior de condenação aos servidores pela traição de classe e pelo fato de provocarem deliberadamente o agravamento de uma situação que já lhes é permanentemente desfavorável. Cidadão que depende mesmo dos serviços públicos não apoia greve de servidores. 

Se os professores, por exemplo, usassem a força de sua organização e o poder de seus aparatos sindicais para promover atividades diárias de esclarecimento e protesto, dentro e fora das escolas, envolvendo alunos, pais, comunidades, entidades, imprensa e partidos políticos, para expressar o propósito de lutar por melhores salários sem recorrer à greve, para respeitar e preservar o direito sagrado das crianças e adolescentes ao ensino; se fizessem isso de maneira sincera e apaixonada, pondo o amor pela educação acima da necessidade de um melhor salário, os professores ganhariam com certeza a inteira simpatia, o respeito e o apoio de todos os demais trabalhadores, enquanto os governos sofreriam sozinhos o desgaste de suas imagens, caso adotassem atitude intransigente. Uma mobilização como esta, além disso conduzida dessa forma pelos professores, envolvendo tanta gente na sociedade, seria uma inesquecível lição de amor e cidadania para todos os que tivessem o privilégio de testemunhar ou participar desses eventos. Porque educar não é só ensinar letras, números, fórmulas e conceitos. Educar é, sobretudo, formar cidadãos solidários.

Não são muitas as formas de luta social convencionais. Além da greve, que afeta a produção, e do boicote, que afeta o comércio, há o comício, a passeata e a vigília (acampamento ou ocupação), que servem ao mesmo tempo para mostrar a governos e parlamentos o volume e a intensidade da adesão social a uma causa, e dar publicidade aos seus princípios e objetivos para ampliar ainda mais o seu número de adeptos. No caso dos servidores, cujo objetivo deve ser o desgaste da imagem do governante e a conquista da simpatia da sociedade, as formas mais efetivas de luta são as de natureza propagandística e de demonstração pública de adesão social.