domingo, 24 de julho de 2022
Candidatura de Ceciliano ao senado é um erro
terça-feira, 19 de julho de 2022
Bolsonaro luta pelo segundo turno enquanto testa os limites do regime
terça-feira, 12 de julho de 2022
Emparedar Bolsonaro e sufocar o bolsonarismo para garantir a vitória e a posse de Lula
quarta-feira, 6 de julho de 2022
Ceciliano e a água do povo
quarta-feira, 13 de abril de 2022
Esquerda alckmista esconde a história pra defender o 'Temer do Lula'
Não é menos inconsistente a argumentação do professor Gilberto Maringoni, do PSOL, para defender Alckmin vice do Lula do que todas as demais argumentações neste mesmo sentido que tenho lido e ouvido na internet. Na verdade, o professor Maringoni repete o modelo predominante de discurso, que consiste em: 1 - superestimar a força do bolsonarismo; e 2 - apagar da história o golpe de 2016. Maringoni abre o seu texto dizendo: "Juro que não consigo entender a carga pesada que alguns ativistas de esquerda - gente de valor - fazem contra a chapa Lula-Alckmin". Pois eu juro que não consigo acreditar que ele não entenda. A menos que ele esteja acometido de uma amnésia histórica seletiva. Porque não há de ser por desinformação que omite fatos de tamanha relevância, vividos tão recente e intensamente por toda a nação. Como ele não é o único a fazê-lo, suponho estar havendo um surto dessa amnésia seletiva na esquerda brasileira. Seletiva porque da memória só some o que não convém à tese apregoada por seus padecentes. Ou supostos padecentes, se a amnésia for simulada.
Reproduzo o texto de Maringoni ao fim deste post e quem o ler há de constatar que nenhuma menção é feita ao golpe de 2016. Não posso afirmar que é intencional essa omissão, pode ser mesmo efeito de amnésia. Mas posso dizer seguramente que ela muito convém à defesa da tese do autor. Porque realmente, para defender com eficácia essa aliança que Lula está fazendo, tem que se fazer mesmo o que Maringoni faz no seu texto e o que todos os defensores dessa aliança, a começar pelo próprio Lula, têm feito o tempo todo: apagar uma parte importante da história, esquecer que houve um golpe de Estado e esquecer que este golpe foi liderado por Alckmin e a centro direita e não por Bolsonaro e a extrema direita.
É preciso além disso esquecer, para defender essa aliança, que a Lava Jato só se tornou o monstro destruidor que virou por causa do apoio de Alckmin e da centro direita e não pelo apoio de Bolsonaro e da extrema direita. E é preciso também ignorar que em 7 de setembro de 21, quando Bolsonaro tentou um golpe de Estado, simplesmente fracassou. Ou seja, Alckmin foi líder de um golpe exitoso enquanto Bolsonaro foi líder de um golpe que sequer aconteceu. Quem é então a maior ameaça à democracia? Já disse minha opinião no texto Bolsonaro não tem força para um golpe. Centro-direita é perigo maior, publicado neste blog.
Aí está o padrão da retórica alckmista nas hostes da esquerda: superestimar a força do bolsonarismo e apagar da história o golpe de 16. Pois só assim se pode dar crédito a Alckmin e usar Bolsonaro como bode expiatório por tudo que aconteceu desde a deposição de Dilma, sobretudo nas áreas econômica e social, e ainda por cima sustentar que a maior ameaça à democracia é Bolsonaro e não Alckmin.
Mas Maringoni vale-se de um recurso retórico adicional, que é identificar Alckmin com alguns dos nomeados nos governos petistas para ministérios ou indicados naquele tempo para o Supremo. A lógica implícita nessa comparação é a de que se erramos naquelas nomeações e indicações devemos insistir no erro e não nos corrigirmos. Ele diz que é "um purismo infantilóide que descortina oportunismo cru" todo o esforço que se tem feito para não errar de novo.
Aliás, é bom lembrar que num governo, os ministros podem ser substituídos, mas o vice-presidente, assim como os juízes do Supremo, não. De modo que não há como corrigir a escolha errada de um vice. Por isso é tão séria essa decisão que está sendo tomada. Que os militantes inexperientes e desinformados a banalizem, é compreensível. Mas é imperdoável que os mais experientes e bem informados o façam, induzindo os demais ao erro, à ilusão de estarem no melhor caminho. A decepção e a derrota os esperam, se não mudarmos de rumo.
Por fim, quero destacar uma pergunta do professor Maringoni que é a expressão mais viva da sua amnésia histórica seletiva. Ele indaga: "Alckmin seria mais conservador que José Eduardo Cardozo"? Minha resposta: provavelmente não. Mas Alckmin liderou o golpe, apoiado por Bolsonaro, enquanto José Eduardo Cardozo lutava contra o golpe, ao lado de Dilma, eles estavam em lados opostos, José Eduardo na trincheira da democracia e Alckmin na trincheira do golpismo. Mas o professor esqueceu ou finge que esqueceu o que aconteceu naqueles dias não tão distantes.
O que Maringoni classifica como "a única tentativa viável de nos tirar do abismo e de recolocar o Brasil no rumo da democracia" é na verdade o caminho mais seguro para uma derrota efetiva, depois de uma vitória ilusória. Com Alckmin vice de Lula, os bilionários e a centro direita instalam a terceira via, que tantos dão como morta, dentro da primeira, de forma definitiva. Com isso deixam Lula com duas alternativas: ou ele preserva o legado do golpe, a Ponte Para o Futuro, ou sofre um golpe de Estado. E se isso acontecer, a esquerda, assim como em 2016, não será capaz de resistir porque será pega de surpresa e não estará preparada para dar a resposta necessária. Os que, como eu, se opõem a essa aliança estão tentando evitar que a esquerda caia nessa cilada. Porque se esse plano foi concebido por Alckmin, eu digo que é genial. Mas se a ideia foi de Lula, eu considero um desastre, uma autossabotagem, que eu espero mesmo que não prospere.
***
SEGUE O TEXTO COMENTADO
"A OPOSIÇÃO À CHAPA LULA ALCKMIN ULTRAPASSOU OS LIMITES DO RAZOÁVEL.
CORRE O RISCO DE CAIR NA SABOTAGEM ABERTA
Juro que não consigo entender a carga pesada que alguns ativistas de esquerda - gente de valor - fazem contra a chapa Lula-Alckmin. Os resultados desastrosos do primeiro turno francês batem na nossa cara, depois dos quatro candidatos progressistas sequer terem se sentado para traçar uma tática comum, que poderia ter levado Jean-Luc Melénchon à segunda volta.
Tenho duas impressões sobre a tentativa de torpedear a chapa progressista brasileira, que unifica vários partidos.
A PRIMEIRA é a sensação que os que a atacam são insensíveis não apenas a fascitização do governo Bolsonaro e seus apoiadores, mas à gosma social que o sustenta. Os últimos sete anos, com três governos que investiram pesado na desconstrução de regras e parâmetros públicos de convivência, geraram monstros sociais incontroláveis. As Forças Armadas viraram um lumpesinato fardado, as polícias estão incontroláveis, diversos bandos milicianos fortemente armadas estão prontos para botar fogo no circo nos próximos meses, entre outras coisas. Diante disso, os detratores da chapa Lula-Alckmin atuam como se estivéssemos na Suíça, com as condições normais de temperatura e pressão garantidas até outubro;
A SEGUNDA IMPRESSÃO vem de um purismo infantilóde que descortina oportunismo cru. Alguém acha, siceramente, que Alckmin tem posições mais neoliberais do que Antonio Palocci e Henrique Meirelles - que elevaram a selic a 26,5% em 2003 e o superávit primário para 4,8% do PIB em 2005 (índice sequer tentado nos anos FHC)? Ou que a fé mercadista do governador suplanta a de Dilma Rousseff, que dobrou o desemprego em 15 meses e chegou a dizer - ao jornal belga Le Soir, em junho de 2015 - que não havia outro caminho a não ser o alucinado ajuste fiscal que arrebentou nossa economia? Alckmin seria mais conservador que José Eduardo Cardozo, que ofereceu ao ex-governador a Força Nacional para reprimir os protestos de 2013? Seria um direitista mais extremado que Dias Tóffoli, Luís Fux, Luís Roberto Barroso, Edson Facchin e outros juristas de confiança do PT?
Pela composição de forças, a chapa Lula-Alckmin não parece ser nem melhor e nem pior do que as administrações do período 2003-16. Assim como aqueles governos, a chapa não tem em seu horizonte qualquer perspectiva de transformação social.
Ocorre que a política gira e a Luzitana roda. Hoje, mesmo um governo mediano e tímido é preferível à barbárie em curso. As oposições de esquerda ao longo dos 13 anos petistas foram incapazes de gerar um programa de desenvolvimento factível e realista. Não adianta brigar pelas aparências agora.
Assim, repito: investir contra a chapa Lula-Alckmin não apeas atrapalha, mas objetivamente sabota a única tentativa viável de nos tirar do abismo e de recolocar o Brasil no rumo da democracia."
https://disparada.com.br/oposicao-chapa-lula-alckmin/
Se a esquerda resolver ser Ulisses, que alternativa o povo terá?
Quem derrubou Dilma e botou Lula na cadeia pra tirá-lo da eleição de 2018 não foram Bolsonaro e a extrema direita, foram Alckmin e a centro direita, chamada "direita democrática" pelo sociólogo Celso Rocha de Barros, no artigo que reproduzo ao fim deste comentário.
Pergunto ao Celso e aos que me leem:
Democrata dá golpe de Estado? Democrata cassa direitos políticos de adversários com base em fraudes judiciais?
Será inocência julgar a confiabilidade dos agentes políticos e a conveniência e segurança de alianças com eles de acordo com a sua trajetória?
Ou será que a história só vale quando serve pra justificar os nossos desatinos?
Quando a esquerda topar ser o Ulisses ela deixará de ser esquerda, porque o Ulisses sempre foi de direita e de todas as articulações que fez nasceu um governo de direita, contra o qual o PT se opôs apresentando-se como alternativa.
Se a esquerda topar ser o Ulisses, que alternativa o povo terá?
Alckmin já disse através do presidente do seu novo partido que não quer programa de esquerda, quando se sabe que só um programa de esquerda pode atender às necessidades do povo.
O que Alckmin quer é a continuidade da Ponte Para o Futuro. Se Lula não topar, nós vamos ter um novo golpe de Estado.
A esquerda está induzindo o povo brasileiro a confiar nos seus maiores inimigos e montando uma verdadeira cilada para si mesma, da qual dificilmente vai poder escapar, logo ali na frente, quando o governo Lula estiver sendo sabotado, quando por causa dessa sabotagem instalarem-se as primeiras crises e a impaciência do povo começar a se manifestar nas ruas, pela ausência das mudanças que o povo espera. Quem não aprende com os próprios erros tende a repeti-los. Alckmin é o Temer de Lula.
11/4/2022
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ARTIGO COMENTADO
Lula com Alckmin, Bolsonaro com Ustra
Celso Rocha de Barros - Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
Nos últimos 15 dias, os dois candidatos que lideram as pesquisas eleitorais deixaram claro suas diferenças.
Em um movimento em direção ao centro, Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que quer como seu companheiro de chapa Geraldo Alckmin, outro constituinte de 1988, superando uma disputa política de 20 anos.
Por sua vez, Bolsonaro lançou-se candidato elogiando o torturador Brilhante Ustra. Seus apoiadores celebraram o aniversário do golpe de 1964 e Eduardo Bolsonaro fez piada com a tortura de uma jornalista.
A turma de Lula tirou dezenas de milhões de brasileiros da miséria e colocou alguns milhões de pobres e negros na universidade.
A turma de Alckmin derrotou a hiperinflação que paralisou o Brasil por 15 anos e regulamentou os medicamentos genéricos.
A turma de Bolsonaro deixou morrer centenas de milhares de brasileiros sem vacina e sem uma única palavra de consolo do presidente. Montou um esquema de orçamento paralelo de R$ 16 bilhões. Ameaça diariamente a democracia. Para eles, a eleição é um plebiscito sobre o golpe.
Mesmo assim, deve haver empresários, religiosos e outros conservadores pensando: bom, eu até votaria nessa chapa, mas só se o Alckmin fosse o candidato a presidente. Bom, meu amigo, em 2018 ele era. Você votou em quem?
Garanto que se todo mundo aí do lado de vocês tivesse apoiado Alckmin em 2018, ele teria ido para o segundo turno. Teria, sem sombra de dúvida, recebido apoio do PT contra Bolsonaro. Nos anos seguintes, Lula e Alckmin teriam brigado por inúmeros motivos, mas não sobre vacina. Hoje haveria, no mínimo dos mínimos, 100 mil brasileiros a mais no mundo.
A questão é essa. A diferença entre quem acha que o superávit primário deve ser um pouco maior ou um pouco menor é muito menos importante do que a diferença entre quem defende vacina e quem defende a morte, entre quem defende Ulysses Guimarães e quem defende Brilhante Ustra.
Alguns petistas respeitáveis, como Rui Falcão e José Genoino, manifestaram posição contrária à chapa Lula/Alckmin. Respeito suas posições, mas discordo delas.
O PT está em processo de reorganização após a crise de 2016. Está se reconectando com suas bases, voltando a debater suas ideias, fazendo tudo que um partido que volta para a oposição deve fazer. Se estivesse disputando contra democratas de direita, o PT teria todo direito de passar quanto tempo quisesse arriscando perder eleição para reafirmar suas posições.
Mas disputará contra Bolsonaro, em campanha de reeleição, disposto a usar a máquina do Estado brasileiro como usou o WhatsApp na eleição passada: consultando avidamente o Código Penal para saber se ainda falta cometer algum crime.
Para derrotá-lo, e, sobretudo, para governar em caso de vitória, o PT terá que conquistar apoios nos estados e municípios. O PT não venceu as últimas eleições na maioria deles. Alckmin na chapa sinaliza para esses aliados, e para seus eleitores, que o PT está falando sério quando diz que quer conversar.
A esquerda não tem a opção de voltar para inocência dos anos 80. Naquela época, entre a esquerda e o fascismo havia a turma do Ulysses, que fez os acordos que teve que fazer. Em 2022, se a esquerda não topar ser o Ulysses, ninguém vai ser.
terça-feira, 12 de abril de 2022
O bode expiatório, a esquerda Branca de Neve e o genial Chuchu Envenenado
domingo, 6 de fevereiro de 2022
sexta-feira, 4 de fevereiro de 2022
VÍDEO: Alckmin é o CANDIDATO do GOLPE, disse Haddad em 2018
Em 19 de agosto de 2018, o programa Canal Livre, da TV Band, entrevistava o então candidato a vice-presidente na chapa de Lula, Fernando Haddad, enquanto o ex-presidente chegava ao 137º dia de sua prisão ilegal e injusta, mantida pela coalizão golpista de direita, liderada por políticos como Geraldo Alckmin, Aécio Neves, Eduardo Cunha e Michel Temer. Essa coalizão golpista se dividira entre várias candidaturas na eleição presidencial daquele ano, mas a quase totalidade dos seus partidos - PSDB, PP, PTB, PSD, PRB, PR, DEM, Solidariedade e PPS - formou a coligação "Para Unir o Brasil" e lançou a candidatura do tucano Geraldo Alckmin. Só que a candidatura de Alckmin não decolava.
Três dias depois dessa entrevista de Haddad, o Datafolha confirmava o favoritismo de Lula, mesmo estando preso, com 39% das intenções de voto contra 19% de intenções de voto em Bolsonaro, que vinha em segundo lugar. Marina Silva tinha 8% e Alckmin apenas 6%. Na apuração dos votos do primeiro turno, Alckmin acabou com 5% dos votos válidos, um verdadeiro fiasco, provando mais uma vez que amplitude de coalização não garante eleição. A coligação de Lula e Fernando Haddad, chamada "O Povo Feliz de Novo", tinha apenas três partidos, PT, PCdoB e PROS, e mesmo assim Haddad chegou ao segundo turno, com menos de um mês para fazer sua campanha, depois que assumiu a candidatura a presidente após o TSE ter julgado Lula inelegível.
Alckmin ia, portanto, àquela altura, muito mal nas pesquisas. Mas a alta burguesia e a centro-direita neoliberal ainda acreditavam num milagre. Pois se não acontecesse esse milagre teriam que apoiar o neoliberal fascista Bolsonaro contra o inaceitável antineoliberal Fernando Haddad, o que acabaram fazendo mesmo. Alckmin e os partidos da sua coligação ajudaram a eleger Bolsonaro no segundo turno e passaram a integrar o ministério do seu governo e a sua base de apoio no Congresso Nacional. Segundo o site Congresso em Foco, o PSDB, de Geraldo Alckmin, votou com o governo em mais de 80% das votações da Câmara e do Senado desde que Bolsonaro assumiu a presidência.
Hoje Lula defende com espantosa naturalidade a indicação de Geraldo Alckmin como vice de sua chapa. Mas naquela entrevista ao Canal Livre de 2018, perguntado se apoiaria Alckmin numa eventual disputa de segundo turno contra Bolsonaro, Fernando Haddad não hesitou em dizer que não apoiaria e justificou: "Se nós somos oposição ao Temer, como é que nós vamos apoiar um candidato que subscreve o que o Temer tá fazendo, do ponto de vista econômico?".
Considerando-se o fato de que o cargo de vice-presidente foi criado para abrigar o substituto do presidente nas suas ausências, como estabelecido no artigo 79 da constituição brasileira - "substituirá o Presidente, no caso de impedimento, e suceder-lhe-á, no de vaga, o Vice-Presidente" - e considerando-se o fato de que o presidente é eleito pelo povo por causa dos compromissos que assume na campanha, é um dever de qualquer candidato a presidente indicar um substituto que tenha os mesmos compromissos que ele porque se não o fizer estará traindo a confiança do povo e submetendo o povo ao risco de ser governado por um presidente que afrontará à sua vontade, manifestada através do voto nas urnas.
Hoje Lula impõe ao povo um presidente substituto que há apenas quatro anos Haddad considerava um presidente inaceitável, mesmo numa disputa de segundo turno contra Bolsonaro. Veja o vídeo e leia o trecho da entrevista em que Haddad assume a posição que Lula deveria ter hoje.
Trecho da Entrevista de Fernando Haddad ao Canal Livre
Mônica Bergamo - A gente sabe que essa questão de formação de maiorias muitas vezes ela começa já no segundo turno, quando sobram dois candidatos e você começa a conversar com alguns partidos sobre formação do futuro governo. Então eu queria saber como seria o diálogo, por exemplo... o Fernando Henrique Cardozo foi questionado e ele disse 'se ficar Haddad e Bolsonaro, eu não me oporia a uma conversa com o Haddad'. Eu queria saber: 1) se a recíproca é verdadeira, se vocês apoiariam o PSDB, ou se o senhor defenderia um apoio do PT ao Alckmin, caso fique esse quadro de Bolsonaro versus Alckmin. Bem objetiva a pergunta.
Fernando Haddad - Nessa eleição eu acho muito difícil que Bolsonaro e Alckmin possam ir para um segundo turno, eu acho impossível, pra ser bem honesto. Porque o Alckmin só cresce às custas duma queda do Bolsonaro, não tem como ele crescer sem o Bolsonaro cair.
Mônica Bergamo - Sim, mas o Fernando Henrique admitiu uma hipótese de diálogo, é um pouco isso...
Fernando Haddad - Segundo ponto. Diálogo: diálogo é o que?
Mônica Bergamo - Diálogo é apoio.
Fernando Haddad - Vamu lá: diálogo é o que? O Alckmin está disposto a abrir mão do plano econômico do Temer? Porque hoje o maior representante do Temer na eleição é o Alckmin. Isso dito pelo Temer, não sou eu que tô dizendo. Quando perguntado...
Eduardo Oinegue - O Temer lançou o Henrique Meirelles, candidato.
Fernando Haddad - Bom, a imprensa divulgou: quem é o candidato do governo? Ele falou "é o Alckmin, né".
Mônica Bergamo - "Parece que é".
Fernando Haddad - "Parece que é o Alckmin, né". Por que? Porque toda a base de apoio dele toda a base, com exceção do MDB, que hoje não tem um candidato com expressão, com viabilidade, está apoiando Alckmin. E o Alckmin, se você ler o plano de governo dele, o plano de governo dele é o plano Temer, é a Ponte Pro Futuro. Se nós somos oposição ao Temer, como é que nós vamos apoiar um candidato que subscreve o que o Temer tá fazendo, do ponto de vista econômico?
Ricardo Boechat - Tá dada a resposta à nossa Mônica Bergamo.
Fernando Haddad - Agora, ele vai voltar atrás, vai dizer "não, nós vamos tratar os trabalhadores com dignidade, não dá pra ter teto de gastos dessa maneira, vamos pensar em outra..." Ele tá disposto? Eu acho que não.
***
No dia 21 de agosto de 2018, o Partido dos Trabalhadores publicava uma parte do trecho dessa entrevista aqui destacado em sua página oficial no Facebook, sob o título "Alckmin é Temer!". Confira.
Pois Haddad e o PT estavam certos. Porque até hoje, Geraldo Alckmin nunca mostrou arrependimento pelo golpe que liderou e nunca deu nenhuma declaração indicando que tenha deixado de apoiar o programa neoliberal Ponte Para o Futuro, de Michel Temer e Bolsonaro. Alckmin era e continua sendo o candidato do golpe. E mesmo assim dá-se como certo que ele será substituto de Lula na Presidência da República. Se assim for, o Brasil estará caminhando para mais um desastre. O mercado financeiro festeja, porque seu candidato a presidente será vice de Lula e isso já é meio caminho andado para um novo golpe de Estado. O mercado financeiro quer Alckmin presidente e fará de tudo para que isso se torne realidade. Um novo golpe virá. E Alckmin será o Temer de Lula.
sexta-feira, 28 de janeiro de 2022
Alckmin é inaceitável
Depois da entrevista de Lula à rádio CBN do Vale do Ribeira, em 26 de janeiro, ficou muito claro que ele quer mesmo ter Alckmin como seu vice. Não resta mais nenhuma dúvida de que ele já está decidido e que vai impor o nome de Alckmin ao PT, ao conjunto da esquerda e à classe trabalhadora. Lula bota realmente a mão no fogo por esse homem, que foi uma das principais lideranças do neoliberalismo no Brasil durante as últimas três décadas e um dos principais líderes do golpe de Estado neoliberal de 2016, e o indica para ser seu substituto, como presidente da república, em suas eventuais ausências temporárias, como viagens ou licenças médicas curtas, ou numa eventual ausência sua permanente, em razão de impeachment, doença grave ou morte. Deduz-se, do que ele tem dito, que Alckmin rompeu com o mercado financeiro, que por tanto tempo representou, e deixou de acreditar no neoliberalismo, que defendeu por mais de 30 anos. Na outra entrevista de grande repercussão que deu, em 19 de janeiro, ele já havia falado em mudanças radicais de postura política já vistas na história, sugerindo que Alckmin poderia ser mais um desses casos. Como não acredito em conversões radicais súbitas, duvido muito e creio que infelizmente a vice-presidência será mesmo o calcanhar de aquiles do futuro governo da esquerda. O mandato de Lula, tendo como vice alguém com os antecedentes de Alckmin, pode não durar nada, pode acabar muito prematuramente, frustrando as expectativas da esquerda e do povo.
Não me convence mesmo a estória da carochinha da conversão do Alckmin e tampouco me convence a absurda tese de que os antineoliberais precisam aliar-se aos neoliberais que os golpearam para derrotar um outro neoliberal que não consegue dar golpe nenhum, mas é julgado mais perigoso do que os outros apenas por sua retórica fascista. Ora, um golpista fascista com poderes limitados não representa risco maior para as liberdades democráticas do que um golpista liberal dotado de superpoderes, proporcionados por patrões muito ricos. Se o fascismo realmente ameaça, os liberais já cometeram, repito, já cometeram a violência inominável de um golpe de Estado e a violência inominável da perseguição estatal a adversários políticos, primeiro no Mensalão e depois na Lava Jato. Como podem então ser considerados democratas e inofensivos? É preciso ignorar completamente a história recente do país para sustentar esse juízo. Aliar-se a eles é um erro grave que mais grave ainda se tornará com a entrega da vice-presidência de Lula a um homem com a trajetória de Geraldo Alckmin.
Nunca me passou pela cabeça que Lula fosse capaz de cometer um erro assim tão primário. Estava certo de que ele não aceitaria essa proposta por não ser irresponsável, nem burro, nem louco. Mas pelo visto eu estava errado, superestimei o nosso líder. Se fecharem mesmo a chapa de Lula com Alckmin de vice, eu e os demais petistas que nos opusemos a essa ideia teremos sido obviamente derrotados, o que não significa que estejamos errados. Continuo achando que errado está Lula e errados estão os que apoiam esta sua escolha infeliz. Vou votar mesmo assim no Lula, por considerá-lo a melhor opção para os trabalhadores, farei campanha para elegê-lo, mas vou manter também minha crítica a essa aliança desnecessária, danosa e extremamente perigosa que terão feito e vou continuar repudiando Geraldo Alckmin e alertando para o risco de tê-lo na vice-presidência. Lula e o PT poderão contar comigo para ajudar a eleger o nosso novo presidente da república. Mas não contém comigo para enganar os trabalhadores apagando o passado infame deste que tanto mal lhes fez e induzindo-os a confiar em quem sempre os tratou como inimigos. Se Alckmin é inaceitável para os petistas como presidente, então os petistas também não podem aceitá-lo como vice, porque vice é presidente reserva e a qualquer momento pode substituir o titular.
terça-feira, 25 de janeiro de 2022
O PT e a governabilidade segundo Maquiavel
Lições de Maquiavel
Diz Maquiavel em sua obra clássica "O príncipe":
“As tropas com que um príncipe defende o seu estado são ou próprias ou mercenárias ou auxiliares ou, ainda, mistas. As mercenárias e auxiliares são inúteis e perigosas. Se alguém toma por sustentáculo as tropas mercenárias, nunca terá tranquilidade nem segurança, porque elas são desunidas, ambiciosas, sem disciplina, infiéis, corajosas diante dos amigos, covardes diante dos inimigos, e sem temor de Deus. Com semelhantes tropas, um príncipe só poderá evitar a própria ruína enquanto puder evitar um ataque contra si. Será pilhado por elas em tempo de paz, e pelo inimigo em tempo de guerra. A causa disso é que tais tropas não têm outro sentimento nem outro motivo que as faça lutar a não ser um pequeno estipêndio, e este não basta para lhes incutir a vontade de morrer por quem lho paga. Querem ser soldados do seu patrão quando ele não faz a guerra; mas, ao romper esta, querem fugir ou desligar-se do seu compromisso.
(...)
As tropas auxiliares, o outro tipo de armas inúteis, são as que um príncipe pede emprestadas a outro poderoso para o virem ajudar e defender. (...) Semelhantes tropas podem ser úteis e boas para os seus chefes, mas são sempre perniciosas para quem as chama, porque, se forem derrotadas, ele também o será, e se vitoriosas, tê-lo-ão à sua mercê. (...) Por conseguinte, só quem não quer vencer pode pensar em servir-se de tais tropas, muito mais perigosas do que as mercenárias. É que, pelo fato de estarem unidas e de obedecerem a outrem, elas nos trazem inevitavelmente a ruína. Já as mercenárias, não constituindo um corpo só e tendo sido, além disso, procuradas e pagas por quem as emprega, precisam, após a vitória, de mais tempo e oportunidade para se volverem contra ele; e o próprio chefe que, por incumbência do príncipe, as comanda, não pode adquirir logo autoridade suficiente para o prejudicar. Em suma, nas tropas mercenárias o mais perigoso é a covardia, nas auxiliares o valor [virtú][[a lealdade ao seu senhor]]. Todos os príncipes ajuizados sempre evitaram tropas desta espécie, recorrendo às próprias e preferindo perder com estas a vencer com as alheias. Nunca se lhes afigurou verdadeiro triunfo o conquistado com as armas de outrem. (...) A realidade é que as armas alheias ou nos caem das mãos ou pesam sobre os nossos ombros ou nos apertam.
(...)
Do exposto concluo que, sem possuir exércitos próprios, nenhum principado está seguro e, ao contrário, fica dependente do destino, por não ter quem o defenda na adversidade. Recordemos aqui que a opinião e sentença dos homens atilados sempre foi “que nada há tão débil e instável como a fama do poder que não assenta em força própria” ["quod nihil sit tam infirmum aut instable, quam fama potentiae nun sua vi nixa", Tácito, Anais XIII, 19]. As armas próprias são as formadas ou por súditos ou por servidores do príncipe. Todas as outras são mercenárias ou auxiliares."
O PT e suas forças próprias, auxiliares e mercenárias
A forças próprias do Partido dos Trabalhadores são aquelas de onde ele surgiu e de onde vem cada vez mais se distanciando: os trabalhadores organizados em suas entidades e intervindo no processo político através das suas variadas formas de luta e manifestação. A burguesia sempre fez um enorme esforço para convencer a classe trabalhadora de que as eleições eram o único espaço legítimo para o exercício da sua cidadania. Pois, nós, do PT, nascidos da contestação a essa mentira, acabamos por engoli-la e, com nossa nova atitude, fazemos coro com a burguesia induzindo o povo a manter-se dócil e passivo na condição de mero espectador da democracia falsa que a burguesia comanda.
A opção por uma atuação exclusivamente institucional é a causa maior dos maiores problemas do Partido dos Trabalhadores. A aliança com os movimentos sociais foi abandonada em detrimento da aliança com partidos burgueses, de direita, corruptos e fisiológicos, que são as tais forças mercenárias e auxiliares de que fala Maquiavel em O Príncipe. Pois se rompemos com os movimentos sociais, que são nossas forças próprias e entramos no jogo da política institucional inteiramente desarmados, acabamos reféns de uma situação em que, se não compramos o apoio da bandidagem ou fazemos acordo com partidos inimigos, ficamos impossibilitados de vencer eleições, menos ainda, de governar. É assim que aparecem as alianças esdrúxulas, os escândalos de corrupção e essa imensa confusão ideológica e crise de identidade por que estamos passando.
O PT abre mão de investir nas mobilizações populares de onde poderia e deveria retirar a energia transformadora capaz de impulsionar o seu projeto e, ao invés disso, alia-se a forças políticas que, historicamente, sempre se opuseram a esse projeto que ele defende, um projeto que é a razão de ser da sua existência, e com isso confunde o povo e a sua própria militância, que não conseguem mais entender quem é quem. Daí o quadro de evidente despolitização dentro do partido e na classe trabalhadora, que faz com que, ao invés de ideias, se discutam nomes de pessoas e partidos para as eleições, sem nenhuma clareza do que realmente representam. Porque, afinal, tudo acaba, mesmo, parecendo a mesma coisa.
Vitória eleitoral e vitória política
Vitórias eleitorais nem sempre são vitórias políticas. Quando, para vencer uma eleição e governar sem sobressaltos, um partido abre mão do seu projeto original e passa a usar métodos que antes repudiava, o que se tem não é avanço, é retrocesso. Vitória política é avançar na realização de um programa de governo apoiando-se em forças próprias, sem fazer concessões que desfigurem esse programa e a ética original do partido, admitindo o emprego de expedientes antes considerados escusos, desses a que estão habituados os partidos tradicionais da burguesia.
A direita e a burguesia terão sempre razão para comemorar toda vez que o PT admitir dividir com elas palanques e governos. Tudo o que elas querem é a diluição da imagem pública do partido de esquerda dos trabalhadores, que quer transformações na sociedade, na água suja e fétida em que se banham os partidos conservadores. Desaparecendo o marco divisório entre as ideologias e as classes no plano da representação política, tudo fica igual, todos são iguais, ninguém é de direita, ninguém é de esquerda, tudo é centro, “todos os gatos são pardos”.
O PT erra ao permitir, com sua conduta, que os trabalhadores o vejam como apenas uma carta a mais no baralho da democracia burguesa. A confusão que isso gera beneficia aos conservadores porque desarma politicamente a classe trabalhadora frente à burguesia. A maior parte da militância petista ainda não está se dando conta desse equívoco gravíssimo das suas direções e segue encantada por essa limitada democracia sem povo na rua, que se estabeleceu no país, como se a simples eleição de bons representantes fosse capaz de garantir as mudanças que deseja.
Estamos nos iludindo e iludindo ao povo brasileiro. Porque é preciso muito mais do que bons parlamentares e bons governantes para transformar esse país e torná-lo uma nação realmente soberana, próspera, democrática e socialmente justa. Só o poder popular pode fazer essa transformação e o poder popular não se constrói nos gabinetes dos parlamentos e governos, só se constrói nas ruas.
Ignorando essa lição da História, a maioria dos petistas entrega-se com sofreguidão às eleições, fazendo delas o evento único para o exercício da cidadania, como querem, sempre quiseram, os ricaços da burguesia. A maioria de nós, petistas, confunde vitória eleitoral com vitória política. Não percebe que, dependendo do preço que o PT tenha que pagar à direita e à burguesia, em termos de concessões éticas e programáticas, qualquer vitória eleitoral pode representar, na realidade, uma derrota política. Isto sem falar no risco enorme de traição e golpes de Estado que essas alianças sempre acarretam.
Forças políticas próprias dos governos de esquerda são apenas as organizações populares de esquerda - partidos e movimentos sociais -, por isso são elas as únicas forças políticas realmente confiáveis para darem sustentação aos governos da esquerda. Organizações de direita, todas elas, por mais que se prontifiquem a colaborar e prometam lealdade, jamais serão confiáveis, por representarem interesses incompatíveis com os interesses que a esquerda representa, por isso alianças com elas devem ser evitadas. Não é possível governar para o povo governando com os inimigos do povo. Só é possível governar para o povo governando com o povo. É isso que precisa ser entendido pelos dirigentes e pela militância do Partido dos Trabalhadores.
Silvio Melgarejo
Julho/2008
(Texto que postei no Orkut em julho de 2008, com o título "Lições de Maquiavel". Revisado e publicado neste blog em 12/08/2016 e em 25/01/2021)
quinta-feira, 20 de janeiro de 2022
VÍDEO COMPROVA: Alckmin ODEIA Lula e o PT
terça-feira, 18 de janeiro de 2022
VÍDEO COMPROVA: Alckmin liderou o golpe
Bolsonaro não tem força para um golpe. Centro-direita é perigo maior
Alckmin ditando a política econômica para Bolsonaro |
Mas quem foi que tentou um golpe de Estado contra Lula em 2005?
Quem foi que apoiou a subversão da ordem jurídica do país para condenar sem provas, na famosa Ação Penal 470, alguns dos principais dirigentes do PT e usou essas condenações ilegais e injustas para marcar o partido com o estigma de corrupto?
Quem foi que trouxe para as campanhas eleitorais presidenciais o debate sobre temas caros à extrema direita, como a questão do aborto?
Quem foi que, antes de Bolsonaro, simulou um atentado – o da bolinha de papel - contra o seu candidato a presidente – José Serra - para acusar o PT de violento?
Quem foi que apoiou mais uma vez a subversão da ordem jurídica do país, dessa vez com a Lava-Jato, para desestabilizar o governo Dilma e tirar Lula da eleição presidencial de 2018?
Quem foi que transformou a Lava-Jato na potência destruidora que se tornou e elevou Sérgio Moro e Dallagnol à categoria de heróis nacionais?
Quem foi que lançou suspeitas de fraude na eleição legítima de Dilma e depois sabotou o seu governo e liderou um movimento pelo seu impeachment, segundo o vice usurpador do seu mandato, por não ter aceitado adotar o programa neoliberal Ponte Para o Futuro?
Quem foi que apoiou a ameaça das Forças Armadas, através do Twitter do general Vilas Boas, que impediu a concessão pelo Supremo de um habeas corpus, que evitaria a prisão de Lula e permitiria que ele disputasse a eleição de 2018?
Quem foi, enfim, que aplaudiu a prisão de Lula, ajudou a eleger Bolsonaro e deu sustentação no Congresso e na mídia para que ele fizesse tudo o que fez contra o povo brasileiro?
Quem foi que fez isso tudo e agora finge que não fez?
A centro-direita, meus amigos, essa mesma centro-direita que boa parte da esquerda, complacente e irresponsável, reconhece, homenageia e recomenda ao povo como democrata e quer ter até como aliada contra o bicho-papão Bolsonaro.
Pois a centro-direita de democrata não tem nada e já mostrou sobejamente que quando, contrariada, pode ser tão extremista quanto a extrema-direita, de quem ela agora tenta desvincular-se, e representar uma ameaça ainda maior para a democracia do que a extrema-direita, pelo enorme poder econômico que tem por trás de si, a apoiá-la.
Discordo de quem acha que o mal maior do Brasil seja o fascismo. O mal maior do Brasil é a fome. E a fome não é obra do fascismo, é obra do neoliberalismo. É preciso que isso fique bastante claro. Quem está matando o povo de fome não é o fascismo, é o neoliberalismo. E o que é o neoliberalismo? O neoliberalismo é a forma assumida pelo capitalismo imperialista em crise para continuar garantindo às pessoas e aos países mais ricos os maiores ganhos financeiros, mediante um aumento brutal da exploração sobre os trabalhadores e sobre as nações mais pobres. A estagnação econômica, o desemprego, a falta de renda e de direitos, a falta de boas expectativas e a falta de segurança para os trabalhadores, são outros tantos males desse neoliberalismo que, no Brasil, une fascistas e liberais, a centro-direita e a extrema-direita.
Bolsonaro é fascista, mas não é fascista o regime sob o qual ele governa. Ele tem mesmo retórica fascista, mas não são fascistas os seus atos porque a extrema-direita não tem poder para tanto, nem na sociedade e nem nas instituições do Estado. Não foram poucas as ameaças que ele fez de usar as Forças Armadas para inaugurar uma nova ditadura. Mas no 7 de setembro do ano passado, os militares mostraram que sabem o limite das próprias forças e a quem prestam realmente obediência. Ficou claro depois daquele episódio que só haverá quartelada no Brasil se a expectativa de resistência interna for baixa e se a alta burguesia brasileira e o imperialismo americano quiserem, como em 64. E a alta burguesia e o imperialismo são representados na política pela centro-direita.
Bolsonaro não tem poder para fazer tudo o que quer, dar golpe, ser ditador, prender, torturar e matar não sei quantos. Ele não governa como gostaria, governa como pode, na base da corrupção, exatamente como Temer, usando os mesmos métodos. Assim como Temer, ele evita processos de impeachment não por imposição militar, mas pela compra de apoio parlamentar. Apontam-no como a grande ameaça à democracia no Brasil, mas o golpe de 2016 foi liderado pela centro-direita. E foi um golpe conforme o figurino indicado pelo governo dos EUA, com protagonismo do parlamento e da suprema corte de justiça e o incentivo e cobertura das forças armadas, para o caso de dar algo errado.
A extrema-direita não invadiu o palco principal da política brasileira, ela foi convidada pela centro-direita neoliberal e pro-imperialista. Bolsonaro foi eleito presidente apenas porque comprometeu-se a dar continuidade à execução do programa neoliberal da centro-direita, que Temer iniciou depois do golpe. E ele deu mesmo continuidade ao programa do golpe. Só que não tem mais condições de avançar, tornou-se disfuncional, uma peça gasta que precisa ser trocada para a máquina de destruição do Estado indutor de desenvolvimento e garantidor de direitos continuar fazendo o seu trabalho.
O fascista Bolsonaro tem feito um governo neoliberal, com apoio da centro-direita, dentro dos marcos da democracia burguesia. Como os resultados do governo dele são indefensáveis e ele tem uma elevada rejeição na sociedade, a centro-direita resolveu abandonar o barco e fingir que nunca esteve a bordo. Apresenta-se como terceira via, alternativa contra a esquerda e a extrema-direita, no contexto de uma falsa polarização entre fascistas e antifascistas, quando a polarização real é entre neoliberais e antineoliberais, a esquerda antineoliberal contra a centro-direita e a extrema-direita neoliberais. A centro-direita tenta ocultar essa polarização que não favorece à usa imagem, mas não tem como evitar que ela se imponha no debate público, porque é evidente a importância do neoliberalismo como causa originária e agravante dos maiores problemas do Brasil hoje.
domingo, 16 de janeiro de 2022
Lula e a governabilidade social
Governabilidade é o conjunto de condições que permite a um presidente realizar o seu programa de governo. A maioria das pessoas acredita que essas condições só podem existir quando o presidente tem o apoio da maioria do parlamento e que se a esquerda é minoria então ela tem que necessariamente fazer aliança com setores da direita. O problema é que nenhum dos defensores dessa tese se pergunta: qual o custo de uma aliança com a direita e até que ponto uma aliança com a direita é confiável? Em troca de que um partido ou parlamentar de direita irá apoiar um governo realmente de esquerda, sacrificando as suas convicções e a relação vantajosa que tem com os ricos?
Concordo que a governabilidade de um presidente de esquerda pode ser muito favorecida por uma maioria parlamentar só de esquerda. Mas discordo que um presidente de esquerda possa ter governabilidade garantida por uma maioria parlamentar mista, de esquerda e direita. Uma maioria parlamentar assim estará sempre sujeita a infidelidades e defecções, podendo tornar-se rápida e inesperadamente minoria e deixar o governo de esquerda completamente vulnerável, fragilizado ante uma oposição de direita golpista empenhada em desestabilizá-lo, inviabilizá-lo e derrubá-lo.
Mas insistem os defensores da aliança da esquerda com setores da direita que esse acordo é necessário para ampliar a base parlamentar do governo de esquerda. Dizem que, quando a coligação "só com iguais" não permite que um partido de esquerda forme base suficientemente ampla para sustentar o seu governo, aí é preciso fazer coligação "com os diferentes", com partidos de direita. Ouvi isso recentemente de um companheiro, a quem expliquei o meu ponto de vista da seguinte forma: "’Coligação com iguais’ significa ‘coligação com quem tem os mesmos objetivos para o governo’. ‘Coligação com diferentes’ significa o oposto disso, significa ‘coligação com quem tem objetivos diferentes, até mesmo opostos, para o governo’. Como é que isso pode dar certo? Não te parece óbvio que num governo com uma composição assim, a atuação da direita, com seus objetivos, tende a enfraquecer ou até neutralizar completamente a atuação da esquerda, impedido que a esquerda alcance os seus próprios objetivos?”. Ele acabou concordando.
A conclusão do que até aqui tenho dito é que não basta a base parlamentar de um presidente de esquerda ser majoritária para ele ter condições de implementar o seu programa de governo de forma segura, sem o risco de ser derrubado antes do fim do seu mandato. É preciso que, além de majoritária, essa base também seja muito sólida, para que não se quebre ou desmanche ao longo do tempo ou de uma hora para outra. Ora, uma base parlamentar só será sólida se for composta apenas por parlamentares que realmente concordem com as diretrizes fundamentais do programa de governo do presidente. Se o programa é antineoliberal, a base parlamentar tem que ser antineoliberal, senão a qualquer momento e por qualquer pretexto essa base pode deixar o presidente na mão e até voltar-se contra ele, passando para a oposição.
Quer dizer que ter uma base parlamentar majoritária e sólida é o suficiente para se garantir governabilidade a um presidente de esquerda? A resposta é não. Uma base assim pode até ajudar, mas não garante a sustentação de um presidente de esquerda. Isto porque a direita, em nome dos ricos, continua a comandar os tribunais de justiça, as forças armadas e os grandes meios de comunicação do país, que lhe dão um enorme poder de coerção sobre a sociedade e de manipulação da opinião pública. Com todo esse poder de manipulação e coerção, a direita tem todas as condições para fabricar crises artificialmente a toda hora, jogar o povo contra o parlamento e o presidente, desestabilizar o governo e por fim derrubá-lo.
Mas, então, qual a receita para a governabilidade de um presidente de esquerda? Eu não tenho a menor dúvida de que a única coisa capaz de sustentar um governo que seja realmente de esquerda é o apoio do povo. Para um presidente de esquerda, comprometido com um programa de esquerda, a governabilidade só pode ser garantida por uma ampla e combativa base social, formada por todos os que o apoiam na sociedade. Chama-se a isso de governabilidade social. E a governabilidade social só pode ser conquistada por um presidente quando ele consegue, em primeiro lugar, satisfazer rapidamente às necessidades mais urgentes do povo e, em segundo lugar, dar ao povo razões para acreditar que o governo está realmente disposto a fazer o que for preciso para continuar melhorando a sua vida. Isso significa que o presidente de esquerda deve disputar a opinião pública com a oposição de direita permanentemente, desde o primeiro dia do seu mandato até o último.
Na governabilidade social pode-se dizer que o presidente de esquerda se sustenta com forças próprias, as da classe trabalhadora, que são as únicas forças realmente confiáveis, por terem real interesse na implementação do programa da esquerda, e não com forças mercenárias ou auxiliares, como os partidos de direita, que não merecem a menor confiança, por serem servidoras dos ricos, e que mesmo assim são preferidas pelos defensores da governabilidade parlamentar.
O desprezo pela governabilidade social - que realmente existe na esquerda - decorre do desejo imenso de certas lideranças de manterem a participação política do povo restrita às eleições ou da crença dessas mesmas lideranças na incapacidade do povo de ter outra participação política além do voto nas urnas. Os defensores da governabilidade parlamentar parecem ter tanto medo de povo na rua que preferem fazer acordos com inimigos, gente que tem objetivos opostos aos seus e de quem já sofreu os ataques mais vis. Confiam na palavra de quem os odeia e odeia ao povo na vã esperança de que desta feita serão leais, quando esses falsos aliados que procuram nunca foram leais, sempre os traíram e agrediram ao povo da forma mais covarde e impiedosa.
Eu estou convencido de que a base parlamentar de um presidente de esquerda não precisa ser obrigatoriamente ampla, muito menos majoritária. Mas é fundamental que essa base parlamentar seja bastante sólida e muitíssimo combativa, para disputar com disciplina e vigor a opinião pública com a direita e liderar com o presidente a mobilização social em favor da sua gestão. O presidente e sua base parlamentar devem estimular permanentemente os trabalhadores a exercerem nas ruas a necessária e legítima pressão cidadã sobre as demais instituições do Estado, para que essas instituições respeitem o mandato do presidente eleito e para que elas colaborem com a realização do seu programa de governo.
A mobilização social permanente é indispensável para a sustentação de um governo de esquerda. Por isso é fundamental que essa mobilização seja impulsionada e mantida pelo próprio governo e sua base parlamentar, através do debate público com a oposição, procurando sempre mostrar os interesses por trás dos discursos e procurando sempre deixar claro para o povo quem é quem na disputa política, quem é aliado e quem é inimigo, quem merece a confiança do povo e de quem o povo deve desconfiar. O segredo da governabilidade social, única realmente capaz de sustentar um governo de esquerda, é atender às necessidades do povo mas sobretudo evitar que o povo seja enganado por seus inimigos.
Depois da eleição deste ano, a polarização das últimas três décadas continua. De um lado, Lula precisa romper com o neoliberalismo para corresponder às expectativas do povo sobre o seu governo. De outro lado, a centro-direita, a mando dos ricos, vai tentar impedir a qualquer custo que ele rompa com o neoliberalismo. Isso significa que os ricos e a centro-direita vão conspirar contra o governo Lula, vão tentar sabotar o governo Lula e vão tentar novos golpes de Estado contra o governo Lula. Como poderá Lula governar para o povo sob tanta pressão, com forças tão poderosas a tentar subjugá-lo e forçá-lo a trair o povo, dando continuidade ao programa neoliberal que tem provocado a ruína do país? Como garantir a governabilidade no próximo mandato de Lula?
A gravidade da crise que o país enfrenta hoje e a crescente impaciência do povo, que sofre os efeitos dessa crise na carne, exigirá do futuro governo Lula medidas de forte e imediato impacto positivo na vida material das pessoas. E toda oposição que haja a essas medidas destinadas a proporcionar ao povo uma vida melhor deve ser fortemente denunciada pelo governo, para que o povo saiba quem são os seus inimigos e possa precaver-se contra eles, rechaçando os seus ataques ao governo. Esta é a primeira condição para que o próximo governo Lula tenha governabilidade: que ele conquiste e mantenha uma base social bastante ampla.
A outra condição é que ele estimule constantemente essa sua base social, para que ela se mantenha ativa nas ruas e nas redes sociais da internet. É preciso lembrar que vamos reconquistar o comando do poder executivo, mas os ricos e a direita ainda manterão o comando do legislativo e do judiciário, das forças armadas e dos grandes meios de comunicação. A única possibilidade de Lula não ser subjugado por todos esses inimigos do povo e conseguir resistir às pressões, mantendo-se fiel aos compromissos assumidos com o povo, sem desviar-se da rota necessária para ter sempre o povo ao seu lado, é comunicar-se sistematicamente com o povo, denunciando os seus inimigos e mobilizando o povo para que o povo deixe de ser apenas espectador e passe a ser o maior protagonista da luta política por seus direitos. Porque só é possível governar para o povo governando com o povo. Isto é que precisa ser entendido por todo militante de esquerda.
Portanto, resumindo, a governabilidade de um presidente de esquerda só pode ser garantida quando ele tem uma sólida e combativa base parlamentar de esquerda e ao mesmo tempo um amplo e combativo apoio na sociedade. Presidente de esquerda só se sustenta assim, com luta, com povo na rua dando-lhe apoio, qualquer outra fórmula que inventem não tem como dar segurança ao seu mandato e proporcionar condições para a implementação do seu programa de governo. O governo de esquerda torna-se vulnerável sempre que deixa de chamar as vítimas do capitalismo a lutarem contra os seus algozes e contra o sistema que as submete às maiores privações e sofrimentos. Enquanto a esquerda insistir em restringir a luta de classes ao âmbito das instituições do Estado comandado pelos ricos, ela vai continuar sendo derrotada, senão por fraudes eleitorais, por campanhas midiáticas ou golpes de Estado. Que Lula presidente e seu partido, o PT, não cometam mais uma vez esse erro, que a história recente já lhes mostrou ser fatal.
sábado, 15 de janeiro de 2022
Objetivos opostos separam Lula de Alckmin e tornam aliança com a centro-direita improvável
O governo que Lula quer fazer
Lula tem dito de modo reiterado que só admite ser novamente presidente da república se for para fazer mais do que fez nos seus dois primeiros mandatos. Nas atuais circunstâncias, muito piores do que as enfrentadas por ele de 2003 a 2010, isto só será possível com um programa de governo bem mais arrojado que o daquele tempo. Mais arrojado significa mais à esquerda e mais à esquerda significa antineoliberal. Isto porque a razão maior da tragédia que está em curso no Brasil hoje é exatamente a política econômica neoliberal, que já penalizava o povo durante o governo Temer e que durante o governo Bolsonaro impôs ao povo um sofrimento ainda maior, na medida em que teve os seus piores efeitos agravados pela epidemia.
O sofrimento do povo hoje é enorme e por isso o povo quer alívio rápido, algo que só será possível com mudanças rápidas e efetivas na política econômica do país. De modo que, se não for orientado desde o começo por um programa radicalmente antineoliberal, o próximo governo Lula tende a ser um enorme fracasso; a economia continuaria estagnada, a crise social aumentaria e em pouco tempo a crise política se instalaria fortemente, deixando o presidente fragilizado e a esquerda dividida e acuada.
Para fazer mais do que fez nos seus dois primeiros mandatos, Lula precisa fazer um governo de ruptura total com o neoliberalismo, sem nenhuma daquelas concessões que foram tão criticadas pelo seu vice José Alencar. Se a centro-direita já considerava insuficientes aquelas concessões que Alencar condenava e se as concessões de Dilma a centro-direita também considerou insuficientes, é de prever-se a revolta da centro-direita quando Lula acabasse de vez com a mamata do rentismo. E no entanto Lula precisa acabar com a mamata do rentismo se quiser fazer mais do que fez nos seus dois primeiros mandatos.
Um governo assim é possível?
Mas será que um governo assim é possível? Será que é possível romper com o neoliberalismo sem sofrer um golpe de Estado? Acredito que é. Se a situação no mundo hoje é pior e a crise no Brasil é maior do que em 2002, por outro lado Lula também cresceu muito, tornou-se um gigante, uma liderança fortíssima, aqui e no exterior, enquanto a direita brasileira colhe uma enorme rejeição popular pelo fracasso da sua gestão neoliberal. Lula voltará à presidência em 2023 muito maior do que era quando chegou pela primeira vez, em 2003, maior até do que quando encerrou seu segundo mandato, com 87% de aprovação ao seu governo.
Porque depois de ser mais investigado do que qualquer outro cidadão brasileiro e depois de ter sido injustamente condenado nos tribunais e na opinião pública, Lula teve a sua inocência afinal reconhecida, ao mesmo tempo que era reconhecida a má fé dos seus julgadores, magistrados e jornalistas. Com isso a direita perdeu o único discurso que tinha para tentar abalar a sua credibilidade perante o povo, que era a acusa-lo de corrupção, e ele ganhou um raríssimo e por isso mesmo precioso atestado de idoneidade. Será muito difícil contê-lo depois de tudo que ele superou para chegar onde está e depois de tudo que o povo viu e viveu desde que ele iniciou o seu primeiro mandato. Por isso acredito que ele tem todas as condições para enterrar o neoliberalismo e avançar com um programa de esquerda mais radical do que o dos mandatos petistas anteriores.
Relação com a centro-direita
Mas para isso ele terá que manter uma completa independência em relação à centro-direita e fazer a disputa da opinião pública com ela desde a eleição, inclusive apontando a responsabilidade da centro-direita pela crise que o país atravessa. Porque a centro-direita é realmente a principal responsável pela tragédia brasileira. Não só pelo ataque que liderou contra a democracia, trazendo a extrema-direita a reboque, mas também pelo ataque à soberania nacional e aos direitos do povo, perpetrados com o apoio da extrema-direita.
É, portanto, mais do que previsível que a centro-direita venha a ser a principal força de oposição ao futuro governo Lula, como foi a principal força de oposição em todo o período que o PT esteve na presidência da república. A centro-direita, que tanto atentou contra a democracia e o estado de direito para impor o seu programa neoliberal, não vai aceitar pacificamente que Lula interrompa esse programa e reverta o que dele já foi feito. Ela vai atacar, assim que se reposicionar depois da derrota, e o fará com a violência de sempre.
A centro-direita já mostrou claramente que não tem Lula e o PT apenas como adversários, ela os tem, isto sim, como inimigos numa disputa de vida e de morte. Não se pode esquecer que a centro-direita fez de tudo para cassar o registro do PT e não se pode esquecer que a centro-direita fez de tudo para cassar os direitos políticos de Lula. A centro-direita mostrou com isso que não quer apenas derrotar, ela quer destruir o maior partido da esquerda e seu maior líder. E o passado da centro-direita indica que ela se aliará à extrema-direita e atentará contra o estado de direito e a democracia sempre que achar necessário para alcançar os seus fins, determinados pela ganância dos ricos. brasileiros e estadunidenses, que ela representa nas disputas políticas.
Por isso é uma temeridade Lula e o PT baixarem tanto a guarda e tratarem-na apenas como adversária numa disputa democrática pelo governo, admitindo até aliar-se com ela, na presunção equivocada de que ela tem mais respeito pela vontade do povo e pela Constituição do que a extrema-direita. Não tem, a história o mostra. Por isso é preciso precaver-se contra ela e combatê-la duramente desde já, não esperar que ela tome a iniciativa da ofensiva. Porque a centro-direita vai atacar o futuro governo Lula com aquela mesma ferocidade e persistência com que atacou todos os governos petistas, inclusive os dois mandatos do ex-presidente, agora candidato.
Aliança com o maior inimigo
O discurso de Lula tem sido fortemente antineoliberal e fortemente anti-imperialista. É, portanto, bastante apropriado, identifica bem as causas dos problemas mais graves que o país padece e aponta na direção certa para superá-los. Mostra, sobretudo, esse discurso, que Lula está consciente do enorme desafio que tem pela frente, mas também que ele está muito disposto a enfrentar esse desafio e fazer o que for preciso para vencê-lo.
Só que no debate público sobre quem deve ser o seu vice e sobre os partidos que devem compor a sua aliança eleitoral e de governo, tem prevalecido a ideia de que uma aliança com a centro-direita é necessária para garantir a governabilidade, admitindo inclusive que a vice-presidência seja dada a algum político ou partido desse campo. O problema é que a centro-direita foi a grande protagonista do golpe de 2016 e tem sido a grande impulsionadora e defensora do programa neoliberal e pró-imperialista que passou a ser implementado, primeiro por Temer e depois por Bolsonaro. Como se pode acreditar que logo essa golpista neoliberal possa dar segurança a Lula para ele desfazer o que ela própria fez? Isso é um contrassenso, não faz o menor sentido.
Uma aliança da esquerda com a direita só pode dar resultados que satisfaçam ao povo quando a ganância dos ricos permite. E isso é muitíssimo raro, só em conjunturas econômicas excepcionais acontece. Aconteceu entre 2003 e 2010 mas não há nenhum sinal de que possa voltar a acontecer no próximo período. Hoje, no Brasil e no mundo, a avidez dos ricos por dinheiro está em alta, a concentração de renda e riqueza segue de um lado uma escalada vertiginosa incessante, enquanto do outro lado bilhões de pessoas padecem na pobreza e miséria. A regra tem sido os ricos comandarem as instituições dos Estados capitalistas e estas governarem de acordo com os seus interesses, com total desprezo pela maioria da população dos seus países. E no Brasil os ricos são representados na política exatamente pela centro-direita.
Alckmin vice
Geraldo Alckmin surgiu recentemente no debate público como possível candidato a vice de Lula. Ele tem uma longa história política como defensor e executor de programas de governo neoliberais. Pergunto aos entusiastas dessa inusitada chapa: Geraldo Alckmin mudou? Geraldo Alckmin deixou de ser neoliberal, admitiu o fracasso desse modelo de gestão pública, do qual por tanto tempo foi adepto? Ele rompeu com o mercado financeiro, ao qual por tanto tempo serviu? Que eu saiba, não, por isso não acredito que Lula esteja levando a sério essa ideia. Dizem os defensores dessa aliança, que Alckmin contribuiria para uma vitória em primeiro turno atraindo votos do eleitorado dele. Mas será que Alckmin precisa mesmo ser vice para chamar os seus eleitores a votarem no Lula? Evidentemente que não, ele pode muito bem fazê-lo sem estar na chapa.
Agora, vamos refletir um pouco. O eleitorado de Alckmin é o eleitorado da centro-direita, que vota nele exatamente por acreditar nas ideias políticas e econômicas que ele historicamente defende e representa, que são as ideias neoliberais e o antipetismo. Que outra expectativa um eleitor de Alckmin poderia ter ao votar no Lula senão a de que Alckmin, na condição de vice, seria um sabotador do governo petista e um aliado da oposição neoliberal instalado em posição estratégica para, havendo oportunidade, capturar a presidência e implementar o seu próprio programa, como fez Temer com Dilma? E como é que um eleitor petista de Lula consegue ter expectativa diferente dessa quanto ao provável comportamento de Alckmin na vice-presidência de Lula? Não faço a menor ideia.
Alckmin sempre defendeu para a economia do país exatamente o que Bolsonaro tem implementado no seu governo. Por isso não acredito mesmo que Lula queira tê-lo como seu vice. A menos que o próprio Alckmin tenha lhe confidenciado que deixou de ser neoliberal e que pretende anunciar essa mudança durante a campanha. Aí, sim, a aliança deles poderia fazer algum sentido. Mas acho, em primeiro lugar, muito improvável uma conversão de Alckmin ao antineoliberalismo, não há nenhuma declaração dele que sugira a intenção de deixar de ser o que sempre foi, um fiel servidor dos ricos e um adepto fervoroso das ideias neoliberais. E em segundo lugar, lembrando que Alckmin apoiou o golpe de 2016 e a prisão de Lula, não acho que seja prudente confiar na palavra dele, o risco de traição seria enorme.
Alckmin mostrou nos momentos mais decisivos da história recente que não tem o menor compromisso com o povo e que não tem o menor apreço pela verdade, pela legalidade e pela justiça. O caráter dele não difere em nada do caráter de Dória. O atual governador de São Paulo só tornou-se seu desafeto porque o traiu na disputa interna pelo comando do PSDB. Aliás, Alckmin só saiu do PSDB porque Dória barrou a sua candidatura a governador, senão ele ainda estaria lá, fazendo o discurso de sempre. Mas tem gente na esquerda que resolveu apagar o passado de Alckmin e dele dizer maravilhas, numa inusitada campanha para vender a ideia de que ele é confiável e que não trairia Lula, se fosse seu vice.
Recentemente, 29 de dezembro, o deputado Marcelo Freixo foi entrevistado no canal da Revista Fórum e deu declarações pra lá de surpreendentes. Surpreendente é Freixo dizer, por exemplo, que Alckmin é “íntegro, correto e completamente diferente de Michel Temer“. Na vida real, Alckmin apoiou o golpe tanto quanto Temer. Não só isso, apoiou o programa neoliberal que Temer passou a implementar desde que tomou posse. Que integridade e correção são essas que Freixo enxerga, sabendo que Alckmin foi aliado de Temer numa empreitada verdadeiramente criminosa ,que tão elevado custo tem tido para o país, a democracia e os trabalhadores?
Reveladora é a declaração de Freixo, de que “em termos de estratégia, trazer a terceira via para dentro da primeira possibilita uma vitória mais consolidada, quem sabe no primeiro turno, o que seria ideal, na minha opinião”. Ok, mas e o dia seguinte ao da eleição? Qual seria o real compromisso de Alckmin com o programa antineoliberal e anti-imperialista de Lula? E como se pode ter tanta confiança em quem já atentou contra o estado de direito, ao apoiar o impeachment de Dilma e a condenação sem provas de Lula? Se o caráter golpista ali se revelou tão claramente, em que se baseia a crença de que ele seja um democrata e um legalista e de que não faria contra Lula o mesmo que Temer fez contra Dilma?
Não faz o menor sentido essa exaltação de inexistentes virtudes morais e democráticas. Ignorar a história da centro-direita brasileira e desse seu histórico representante, Geraldo Alckmin, é ignorar o altíssimo risco que uma aliança com eles pode representar para o futuro governo da esquerda. Não, Lula não vai cair nessa armadilha, nem ele, nem o PT.
Nada decidido. Primeiro o programa
Em 16 de dezembro de 2021, o Diretório Nacional do PT divulgou uma nota dizendo que "no processo de construção da candidatura Lula Presidente, o PT prosseguirá dialogando com as forças, movimentos e partidos políticos, em torno de um programa de reconstrução do país, centrado nos direitos do povo, da classe trabalhadora e da soberania nacional"; e que “a definição de alianças e composição da chapa presidencial serão decorrentes desse processo de interlocução com partidos, forças políticas e movimentos sociais, como é de nossa tradição democrática, não tendo nada definido neste momento".
As declarações da presidente do PT, Gleisy Hoffmann, e do próprio Lula vão nesse mesmo sentido e mostram que o partido e seu maior líder não vão ceder às pressões para inverterem a hierarquia dos elementos da sua tática eleitoral. Lula e o PT têm um programa de governo muito bem definido e condicionam a escolha do vice e as alianças com outros partidos ao acordo em torno de um programa comum semelhante a este que defendem, sem fazer concessões que o descaracterizem e enfraqueçam o seu caráter essencialmente antineoliberal e anti-imperialista.
Ou seja, o ex-presidente e seu partido querem primeiro definir um programa comum com os partidos para, aí sim, formalizarem uma aliança e só depois definirem o vice. Sabem que não há margem para rebaixar muito as metas do programa que defendem sem frustrar as expectativas que a sociedade já tem em relação ao futuro governo. E é exatamente por isso que Lula adia a confirmação da sua candidatura, porque ele quer primeiro a definição do programa com que terá que se comprometer. Ele não quer dar um salto no escuro, comprometer-se com algo que outros vão definir depois e que não sabe o que é.
Portanto, não vamos nos precipitar e tirar conclusões a partir de fatos que não existem, que apenas são cogitados, mas que podem perfeitamente ser evitados e serão evitados. Serão evitados pelo próprio Lula, que é uma pessoa inteligente e experiente, que ama o Brasil e o povo brasileiro, mas que também tem um enorme apreço e preocupação com sua própria biografia e não vai querer sujeitar-se a um arranjo político que teria tudo para terminar em fracasso.
Quando Lula anuncia que quer um Estado forte para ser indutor do desenvolvimento e garantir os direitos do povo; quando Lula anuncia que vai revogar o teto de gastos e a reforma trabalhista; e quando Lula anuncia que vai mudar a política de preços da Petrobras e reverter privatizações, ele já está definindo com qual programa pretende governar e que princípios e diretrizes desse programa são para ele inegociáveis. Com isso ele já dá a tônica do programa da coligação que se está montando e condiciona ao compromisso com estes pontos elencados tanto a escolha do vice quanto as alianças com os partidos.
Alckmin não será vice
Por tudo isso, insisto, não acredito que Lula aceite ter Alckmin como vice. Em primeiro lugar porque Alckmin é um importante quadro da centro-direita e a centro-direita defende a política econômica de Bolsonaro e quer que essa política econômica tenha continuidade. Portanto, a centro-direita é parte do problema que o governo de esquerda vai ter enfrentar e não parte da solução. E em segundo lugar não acredito que Lula aceite ter Alckmin como vice pelo risco enorme a que ele, evidentemente, estaria expondo o seu mandato de presidente. Alckmin vice transformaria a candidatura de Lula num cavalo de troia, um verdadeiro presente de grego para o povo brasileiro. E isso fatalmente levaria o seu governo a um fracasso descomunal.
Em 7 de janeiro, o ex-ministro das relações exteriores, Celso Amorim, disse ao Brasil247 que "o Lula passa a mensagem de pacificação nacional ao se inclinar por um vice como o Alckmin. É uma mensagem de tranquilidade, (...) ajuda a dissipar essa ideia de que o Lula é radical. (...) É a maneira de juntar os democratas, num momento em que o bolsonarismo é o nosso grande inimigo. Temos que consolidar a democracia. Isso não é um dado. É claro que é bom ganhar a eleição, mas não adianta ganhar a eleição e ter 20% a 25% dos deputados e ter que negociar no varejo. É muito melhor negociar programaticamente, com a visão geral, ainda que você tenha que fazer concessões”.
Celso Amorim é um homem inteligente e vivido, mas está completamente enganado. Como já dito neste texto, a situação da economia no Brasil e no mundo hoje é muito mais complicada do que em 2003, quando Lula assumiu pela primeira vez a presidência. O Lula hoje não tem margem nenhuma para negociar com o mercado financeiro, que Alckmin e a centro-direita representam, fazer-lhes concessões, sem aumentar ainda mais o sofrimento do povo. E não é por causa do Bolsorano ou da epidemia, é por causa do estrago que a Ponte Para o Futuro já fez. A situação do país já vinha muito mal no final do governo Temer, a centro-direita quer que o povo esqueça disso e muita gente realmente esquece.
Se não derrotar o mercado financeiro Lula não tem como corresponder às expectativas altíssimas que o povo já tem sobre o seu futuro mandato. Ele não tem saída, não pode fugir da briga, tem que encarar. E Lula já está encarando o mercado financeiro, o tiroteio, inclusive, já começou, de um lado Lula e Gleisy, presidente do PT, e de outro O Globo e Estadão, pelo PIG (Partido da Imprensa Golpista), da centro-direita.
O que Lula quer com Alckmin e o que Alckmin quer com Lula
Mas então por que Lula não rejeita logo o nome do Alckmin e encerra essa discussão bizarra? E Alckmin, por que não nega de uma vez. A atitude dos dois só alimenta as especulações sobre essa aliança inviável, pela absoluta incompatibilidade entre as ideias econômicas e políticas que eles historicamente defendem. Lula e Alckmin realmente parecem gostar de toda essa agitação que provocam, com a aproximação que encenam. E se gostam, é porque evidentemente consideram útil aos seus projetos políticos. Mas que utilidade será esta, que ganho é esse que estão tendo, que faz com que aparentem satisfação e façam declarações e gestos que mais provocam a imaginação fértil de uma sociedade machucada e triste, carente de boas notícias que lhe renovem as esperanças num melhor porvir?
Lula é franco favorito na eleição presidencial, liderando uma esquerda que se fortalece muito como alternativa de governo para o país, em face do fracasso do projeto neoliberal da direita. Alckmin é favorito na eleição para governador de São Paulo, representando uma centro-direita falida que, eleitoralmente derrotada no plano nacional, abraçou um projeto golpista e acabou perdendo o protagonismo que tinha, ao trazer a extrema-direita para o palco principal da política.
Alckmin é um dos poucos sobreviventes de uma geração de políticos de centro-direita que perdeu relevância depois dos desastres provocados no país por suas escolhas antidemocráticas, antinacionais e antipopulares. Como já dito, ele apoiou o golpe de 2016 que depôs Dilma e desde então vem apoiando a implementação do programa neoliberal chamado Ponte Para o Futuro, primeiro por Temer e agora por Bolsonaro. E como também já dito, Alckmin saiu do PSDB não por ter mudado de opinião sobre o neoliberalismo e sim porque sua candidatura a governador de São Paulo foi simplesmente barrada por Dória, senão ainda estaria naquele partido.
A jornalista Malu Gaspar, da Globo, disse que segundo pessoas próximas a Alckmin ele quer mesmo ser vice de Lula, por isso não nega os boatos. Ela diz que segundo essas fontes, embora as pesquisas indiquem o seu favoritismo na disputa pelo governo de São Paulo, ele teme sofrer uma nova derrota para Dória, que obviamente mobilizará a máquina do governo de estado para favorecer o seu candidato. A vitória como vice de Lula seria, a meu ver, para ele, uma volta por cima, depois dos reveses sofridos na disputa com Dória, e ao mesmo tempo lhe reabilitaria como liderança da centro-direita no plano nacional, recuperando a visibilidade, o prestígio e a influência que ele um dia já teve. Este ganho ele já está tendo, em boa medida, só com os boatos sobre a aliança com Lula.
Mas, e Lula, o que será que pretende, deixando a boataria correr solta na imprensa e nas redes sociais sobre essa inadequada aliança com o golpista neoliberal, Geraldo Alckmin? Para mim, Lula não quer ter Alckmin como vice. O que ele quer é estabelecer com Alckmin uma relação que permita o apoio dele e de uma parte da centro-direita à sua candidatura num eventual segundo turno contra Bolsonaro e uma relação que ao mesmo tempo sirva de padrão para a relação que ele quer ter com a oposição no seu próximo mandato.
Lula não quer, por não ser possível, que Alckmin deixe de ser centro-direita e vire esquerda, que deixe de ser neoliberal e torne-se desenvolvimentista, tampouco pretende rebaixar as metas do seu programa de governo para agradar à centro-direita e obter o seu apoio. O que Lula quer é fortalecer Alckmin para tê-lo como interlocutor na liderança da oposição de centro-direita ao seu futuro governo. É só por isso que ele o prestigia tanto e o eleva a uma posição de tamanha importância e dignidade no debate público, omitindo até nas referências que faz o papel nefasto que ele teve na história recente do país.
O sonho irrealizável de Lula
O sonho do Lula é governar com uma oposição de centro-direita que reassuma o compromisso com as regras e parâmetros da democracia burguesa, fazendo autocrítica do golpe de 2016, respeitando o estado de direito e renunciando ao golpismo, para isolar a extrema-direita e evitar novos golpes de Estado. Mas será isto possível? Acredito que não. Não acredito que seja realizável esse sonho de Lula porque a ganância dos ricos jamais vai permitir pacificamente que um governo de esquerda traga os milhões de brasileiros pobres para a mesa do seu banquete. Os ricos querem ser ainda mais ricos, eles nunca se contentam com o que têm. E para aumentarem suas fortunas, os ricos precisam impor aos pobres, através dos governos, cada vez mais sacrifícios. Por isso os ricos não suportam governos de esquerda e sempre tentam derrubá-los. Porque governos de esquerda não se prestam a fazer esse trabalho sujo.
O sonho de Lula não vai se realizar. A centro-direita será sim a principal força de oposição ao seu governo mas ela não vai se comportar como ele espera. A trégua da centro-direita, se houver, será apenas pelo tempo necessário para ela se reposicionar depois da derrota. Aí ela começará a ofensiva contra o governo de esquerda eleito. Lula não terá descanso e será alvo de ataques tão vis e covardes quanto aqueles que sofreu no passado. Esses ataques virão dos lugares de sempre, do parlamento, dos tribunais de justiça, das forças armadas e dos grandes meios de comunicação. Tentarão sabotar o seu governo, abalar a confiança e respeito que o povo lhe tem com reiteradas denúncias de corrupções inexistentes, e se tiverem oportunidade o tirarão da presidência, como tiraram Dilma.
Não serão tempos de paz, serão tempos de guerra, que Lula só poderá vencer se trouxer para os campos de batalha o povo trabalhador, como seu principal aliado nos combates. Lula e o PT precisam investir pesada e insistentemente na governabilidade com base na mobilização social. Senão o fizerem o governo da esquerda será sitiado, não suportará as pressões e poderá cair ou capitular, frustrando as expectativas do povo e mergulhando o país numa crise ainda mais profunda, sem perspectiva nenhuma de recuperação. Seria uma derrota histórica. Por isso a aliança e a unidade de ação entre a esquerda e o povo trabalhador são tão necessárias, são mais necessárias do que nunca. Porque só essa aliança e essa unidade de ação em combate é que podem realmente sustentar o governo Lula e ajudá-lo a libertar o país da tirania dos ricos. Lula, o PT, a esquerda e o povo. Esta é a única aliança realmente capaz de tornar o Brasil uma nação soberana, socialmente justa e democrática. Viva Lula e a unidade da Frente de Esquerda com o Povo!