terça-feira, 19 de julho de 2022

Bolsonaro luta pelo segundo turno enquanto testa os limites do regime

O bolsonarismo está claramente testando limites. Tanto no plano institucional quanto nas ruas. Se constatar que não tem resistência avança. E quanto mais avançar maiores os estragos que fará e mais dificil será dete-lo.

Agressão física, ainda mais armada, é mais que provocação. Não dá pra ignorar porque fere fisicamente e até mata. Não adianta pedir calma a quem se sente, com razão, ameaçado. 

Se nada for feito para desencorajar os ataques do bolsonarismo, esses ataques vão continuar e se intensificar, fazendo com que o medo inevitavelmente se instale e se espalhe entre os apoiadores do Lula.

O medo pode inibir a participação na campanha de rua. E o enfraquecimento da campanha, aliado aos possíveis efeitos da PEC eleitoral, pode resultar numa redução da vantagem que Lula ainda mantém em relação a Bolsonaro nas pesquisas. Dependendo do tamanho da redução dessa vantagem, ela pode ser suficiente para levar a eleição ao segundo turno. 

Pois é isso mesmo que Bolsonaro parece pretender: impedir a vitória do Lula no primeiro turno e virar o jogo no segundo. Se não conseguir, aí sim ele tenta o golpe. Desacreditar o sistema eleitoral faz parte desse plano B. O plano A continua sendo ganhar a eleição. 

Por isso é fundamental a repressão aos agressores fascistas. Eles não podem mais ter liberdade para hostilizar, ameaçar, ferir e matar impunemente. É preciso frea-los com uma contra-ofensiva.

Quem apoia Lula precisa sentir-se seguro para fazer campanha na rua - senão vai preferir ficar em casa - e essa segurança só poderá ser garantida quando o fascismo for varrido das ruas. E quem vai fazer essa limpeza? Têm que ser os próprios apoiadores do Lula de forma planejada e organizada. Não dá para ser de outra forma. 

Quanto ao golpe. A principal condição para que não haja é a expectativa de resistência imediata intransponível. Essa expectativa existe hoje? Acho que não, é preciso ser criada. E como se cria expectativa de resistência? Com demonstrações de força e disposição para resistir. Tem que ter povo na rua.

O potencial para a resistência já tem sido indicado pelas pesquisas, é o favoritismo do Lula e a falta de apoio social ao Bolsonaro. Mas esse potencial precisa ser mobilizado para tornar-se resistência efetiva. Senão não representa nada além da intenção de voto do povo.

No 7 de setembro passado já houve uma tentativa de golpe frustrada. Pouco tempo antes, Bolsonaro compartilhara num grupo de Whatsapp uma mensagem justificando a apoiadores porque não virava a mesa com uma intervenção militar. 

Alegava, em resumo, que faltavam condições políticas e apoio social. A situação dele só piorou de lá para cá, ele perdeu ainda mais apoio. O que não significa que tenha deixado de ser uma ameaça ao processo eleitoral, às liberdades democráticas e à segurança da oposição social ao seu governo. 

Mas quanto de apoio militar ele realmente ainda preserva é uma incógnita. A quase totalidade das manifestações públicas de militares é de apoio incondicional ao presidente, não se vê a menor dissidência. E isso é um mal sinal.

Já o policial antifascista Leonel Radde, vereador do PT de Porto Alegre, disse em entrevista ao Luís Nassif que por lá o bolsonarismo perdeu força nas corporações mas em compensação ficou mais agressivo. Ainda mais agressivo, destaco. 

É preciso levar muito a sério esse tipo de testemunho, de quem está por dentro do aparato repressivo do Estado, e levá-lo em consideração na hora de avaliar a situação política do país e definir a forma como ela deve ser enfrentada.

Não convém subestimar a ameaça explicita de golpe de um presidente da república com o perfil do Bolsonaro, que ainda tem sim apoios importantes no empresariado, nos parlamentos, no ministério público, no judiciário, nas forças armadas e nas polícias e que ainda conta com uma base social civil fanática e parcialmente armada.

É temerária a falta de ação preventiva contra violências que se afiguram iminentes. E a falta de ação preventiva contra um golpe de Estado anunciado é na prática um consentimento e um estímulo ao golpismo. 

Bolsonaro é um delinquente encurralado e em desespero. Mas não está sozinho e nem desarmado para o combate. Sabe-se que os militares tem sido corrompidos assim como o tem sido os parlamentares do Congresso. Mas ainda não se sabe a exata medida do envolvimento deles nos crimes presidenciais, o quanto são cúmplices. 

Qual a extensão desse envolvimento e quanto a investigação e julgamento dos crimes do presidente pode afeta-los? Pois se até tráfico de drogas já houve em avião militar. As forças armadas nunca foram uma instituição transparente, delas sim pode-se dizer que são caixa preta.

Não há hoje no país base social que sustente uma ditadura e isso torna o projeto de golpe arriscado. O risco para os militares é terminarem na cadeia. Foi essa avaliação que os dissuadiu de tentarem a ruptura no 7 de setembro passado.

Mas se a cadeia for também o destino que preveem para si caso as investigações dos crimes do presidente os alcancem, não há razão para supor que hesitariam em tentar o golpe, afim de evitar o acerto de contas com a justiça e ademais preservar o privilégios conquistados no atual governo. 

Se não é portanto improvável que tentem o golpe então não se justifica a passividade em que se tem mantido a esquerda e os demais apoiadores do Lula. Esperam, suponho, por alguma ação providencial dos tribunais superiores e que a crise institucional instalada se resolva sozinha, com um acordo entre os poderes. Mas até agora não há nenhum índicio de que isso possa acontecer. Me parece uma esperança vã, uma ilusão, de quem por medo ou pacifismo tem horror à ideia do confronto.

Ocorre que nem sempre é possível fugir ao confronto. Muitas vezes o confronto se impõe como condição para a realização da justiça e para a preservação da liberdade e até da vida. Pois é exatamente de uma grave ameaça à vida, à liberdade e à justiça no país que está se tratando.

Estamos disputando uma eleição contra uma força política que se caracteriza pelo uso da violência e não pelo debate de ideias. Já fomos alvos de atentados, militantes de partidos e ativistas de movimentos já foram ameaçados, agredidos e mortos. A sensação de insegurança é a consequência natural desses fatos. E a única forma de evitar que o medo se instale é evitar que haja outras vítimas, com ações preventivas que desencorajem novos ataques.

Não é só Lula que precisa de proteção nas manifestações de rua. Os apoiadores dele também precisam de segurança. Por isso é preciso organizar esquemas de autodefesa que sejam capazes de evitar atentados e repelir qualquer tentativa de agressão contra eles. Dessa segurança depende a  continuidade e fortalecimento da campanha de rua do Lula, necessária para a conquista da sua vitória no primeiro turno; e dessa segurança depende a mobilização popular contra o golpe e em defesa do processo eleitoral que o levará de volta à presidência. O inimigo é perigoso e não convém subestima-lo. É muito cedo pra cantar vitória. Esta não é uma eleição como as outras. Nós não vamos derrotar o fascismo nas urnas se antes não derrotarmos nas ruas.

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