Depois da entrevista de Lula à rádio CBN do Vale do Ribeira, em 26 de janeiro, ficou muito claro que ele quer mesmo ter Alckmin como seu vice. Não resta mais nenhuma dúvida de que ele já está decidido e que vai impor o nome de Alckmin ao PT, ao conjunto da esquerda e à classe trabalhadora. Lula bota realmente a mão no fogo por esse homem, que foi uma das principais lideranças do neoliberalismo no Brasil durante as últimas três décadas e um dos principais líderes do golpe de Estado neoliberal de 2016, e o indica para ser seu substituto, como presidente da república, em suas eventuais ausências temporárias, como viagens ou licenças médicas curtas, ou numa eventual ausência sua permanente, em razão de impeachment, doença grave ou morte. Deduz-se, do que ele tem dito, que Alckmin rompeu com o mercado financeiro, que por tanto tempo representou, e deixou de acreditar no neoliberalismo, que defendeu por mais de 30 anos. Na outra entrevista de grande repercussão que deu, em 19 de janeiro, ele já havia falado em mudanças radicais de postura política já vistas na história, sugerindo que Alckmin poderia ser mais um desses casos. Como não acredito em conversões radicais súbitas, duvido muito e creio que infelizmente a vice-presidência será mesmo o calcanhar de aquiles do futuro governo da esquerda. O mandato de Lula, tendo como vice alguém com os antecedentes de Alckmin, pode não durar nada, pode acabar muito prematuramente, frustrando as expectativas da esquerda e do povo.
Não me convence mesmo a estória da carochinha da conversão do Alckmin e tampouco me convence a absurda tese de que os antineoliberais precisam aliar-se aos neoliberais que os golpearam para derrotar um outro neoliberal que não consegue dar golpe nenhum, mas é julgado mais perigoso do que os outros apenas por sua retórica fascista. Ora, um golpista fascista com poderes limitados não representa risco maior para as liberdades democráticas do que um golpista liberal dotado de superpoderes, proporcionados por patrões muito ricos. Se o fascismo realmente ameaça, os liberais já cometeram, repito, já cometeram a violência inominável de um golpe de Estado e a violência inominável da perseguição estatal a adversários políticos, primeiro no Mensalão e depois na Lava Jato. Como podem então ser considerados democratas e inofensivos? É preciso ignorar completamente a história recente do país para sustentar esse juízo. Aliar-se a eles é um erro grave que mais grave ainda se tornará com a entrega da vice-presidência de Lula a um homem com a trajetória de Geraldo Alckmin.
Nunca me passou pela cabeça que Lula fosse capaz de cometer um erro assim tão primário. Estava certo de que ele não aceitaria essa proposta por não ser irresponsável, nem burro, nem louco. Mas pelo visto eu estava errado, superestimei o nosso líder. Se fecharem mesmo a chapa de Lula com Alckmin de vice, eu e os demais petistas que nos opusemos a essa ideia teremos sido obviamente derrotados, o que não significa que estejamos errados. Continuo achando que errado está Lula e errados estão os que apoiam esta sua escolha infeliz. Vou votar mesmo assim no Lula, por considerá-lo a melhor opção para os trabalhadores, farei campanha para elegê-lo, mas vou manter também minha crítica a essa aliança desnecessária, danosa e extremamente perigosa que terão feito e vou continuar repudiando Geraldo Alckmin e alertando para o risco de tê-lo na vice-presidência. Lula e o PT poderão contar comigo para ajudar a eleger o nosso novo presidente da república. Mas não contém comigo para enganar os trabalhadores apagando o passado infame deste que tanto mal lhes fez e induzindo-os a confiar em quem sempre os tratou como inimigos. Se Alckmin é inaceitável para os petistas como presidente, então os petistas também não podem aceitá-lo como vice, porque vice é presidente reserva e a qualquer momento pode substituir o titular.
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