segunda-feira, 10 de janeiro de 2022

Quem mata o povo de fome não é o fascismo, é o neoliberalismo

O fascismo é um espantalho e Bolsonaro é o bode expiatório da centro-direita.

A quem serve Bolsonaro? Assista o vídeo

Há um enorme esforço da centro-direita para eximir-se de responsabilidade pela tragédia que o país vive e botar tudo na conta de Bolsonaro. Com a complacência irresponsável da maior parte da esquerda, a centro-direita critica os resultados econômicos do governo Bolsonaro, como se ela não tivesse nada a ver com isso. E tem. A centro-direita é a maior responsável pela crise que o país atravessa. Ela vem ditando a política econômica do país desde o golpe de 2016, quando iniciou a implementação do seu programa neoliberal chamado Ponte Para o Futuro. Bolsonaro apenas deu continuidade à destruição começada por Temer.

A centro-direita critica Bolsonaro na política externa, na política ambiental, na forma como ele trata a epidemia de Covid-19, na corrupção, no aparelhamento do Estado e nas ameaças e ataques ao estado de direito e aos direitos humanos. Mas nunca criticou a política econômica do atual presidente simplesmente porque nisso ela está de pleno acordo com ele. E, no entanto, a razão maior da tragédia brasileira é exatamente essa política econômica neoliberal, que já penalizava o povo durante o governo Temer e que durante o governo Bolsonaro impôs ao povo um sofrimento ainda maior, na medida em que teve os seus piores efeitos agravados pela epidemia.

A centro-direita também faz um enorme esforço para apresentar-se ao povo como democrata e para convencer ao povo de que Bolsonaro e a extrema-direita é que são a grande ameaça à democracia no Brasil. 

Mas quem foi que tentou um golpe de Estado contra Lula em 2005? 

Quem foi que apoiou a subversão da ordem jurídica do país para condenar sem provas, na famosa Ação Penal 470, alguns dos principais dirigentes do PT e usou essas condenações ilegais e injustas para marcar o partido com o estigma de corrupto? 

Quem foi que trouxe para as campanhas eleitorais presidenciais o debate sobre temas caros à extrema direita, como a questão do aborto?

Quem foi que, antes de Bolsonaro, simulou um atentado – o da bolinha de papel - contra o seu candidato a presidente – José Serra - para acusar o PT de violento? 

Quem foi que apoiou mais uma vez a subversão da ordem jurídica do país, dessa vez com a Lava-Jato, para desestabilizar o governo Dilma e tirar Lula da eleição presidencial de 2018?

Quem foi que transformou a Lava-Jato na potência destruidora que se tornou e elevou Sérgio Moro e Dallagnol à categoria de heróis nacionais? 

Quem foi que lançou suspeitas de fraude na eleição legítima de Dilma e depois sabotou o seu governo e liderou um movimento pelo seu impeachment, segundo o vice usurpador do seu mandato, por não ter aceitado adotar o programa neoliberal Ponte Para o Futuro?

Quem foi que apoiou a ameaça das Forças Armadas, através do Twitter do general Vilas Boas, que impediu a concessão pelo Supremo de um habeas corpus, que evitaria a prisão de Lula e permitiria que ele disputasse a eleição de 2018?

Quem foi, enfim, que aplaudiu a prisão de Lula, ajudou a eleger Bolsonaro e deu sustentação no Congresso e na mídia para que ele fizesse tudo o que fez contra o povo brasileiro? 

Quem foi que fez isso tudo e agora finge que não fez? 

A centro-direita, meus amigos, essa mesma centro-direita que boa parte da esquerda, complacente e irresponsável, reconhece, homenageia e recomenda ao povo como democrata e quer ter até como aliada contra o bicho-papão Bolsonaro. 

Pois a centro-direita de democrata não tem nada e já mostrou sobejamente que quando, contrariada, pode ser tão extremista quanto a extrema-direita, de quem ela agora tenta desvincular-se, e representar uma ameaça ainda maior para a democracia do que a extrema-direita, pelo enorme poder econômico que tem por trás de si, a apoiá-la.

Discordo de quem acha que o mal maior do Brasil seja o fascismo. O mal maior do Brasil é a fome. E a fome não é obra do fascismo, é obra do neoliberalismo. É preciso que isso fique bastante claro. Quem está matando o povo de fome não é o fascismo, é o neoliberalismo. E o que é o neoliberalismo? O neoliberalismo é a forma assumida pelo capitalismo imperialista em crise para continuar garantindo às pessoas e aos países mais ricos os maiores ganhos financeiros, mediante um aumento brutal da exploração sobre os trabalhadores e as nações mais pobres. A estagnação econômica, o desemprego, a falta de renda e de direitos, a falta de boas expectativas e a falta de segurança para os trabalhadores, são outros tantos males desse neoliberalismo que, no Brasil, une fascistas e liberais, a centro-direita e a extrema-direita. 

Bolsonaro é fascista, mas não é fascista o regime sob o qual ele governa. Ele tem mesmo retórica fascista, mas não são fascistas os seus atos porque a extrema-direita não tem poder para tanto, nem na sociedade e nem nas instituições do Estado. Não foram poucas as ameaças que ele fez de usar as Forças Armadas para inaugurar uma nova ditadura. Mas no 7 de setembro do ano passado, os militares mostraram que sabem o limite das próprias forças e a quem prestam realmente obediência. Ficou claro depois daquele episódio que só haverá quartelada no Brasil se a expectativa de resistência interna for baixa e se a alta burguesia brasileira e o imperialismo americano quiserem, como em 64. E a alta burguesia e o imperialismo são representados na política pela centro-direita.

Bolsonaro não tem poder para fazer tudo o que quer, dar golpe, ser ditador, prender, torturar e matar não sei quantos. Ele não governa como gostaria, governa como pode, na base da corrupção, exatamente como Temer, usando os mesmos métodos. Assim como Temer, ele evita processos de impeachment não por imposição militar, mas pela compra de apoio parlamentar. Apontam-no como a grande ameaça à democracia no Brasil, mas o golpe de 2016 foi liderado pela centro-direita. E foi um golpe conforme o figurino indicado pelo governo dos EUA, com protagonismo do parlamento e da suprema corte de justiça e o incentivo e cobertura das forças armadas, para o caso de dar algo errado. 

A extrema-direita não invadiu o palco principal da política brasileira, ela foi convidada pela centro-direita neoliberal e pro-imperialista. Bolsonaro foi eleito presidente apenas porque comprometeu-se a dar continuidade à execução do programa neoliberal da centro-direita, que Temer iniciou depois do golpe. E ele deu mesmo continuidade ao programa do golpe. Só que não tem mais condições de avançar, tornou-se disfuncional, uma peça gasta que precisa ser trocada para a máquina de destruição do Estado indutor de desenvolvimento e garantidor de direitos continuar fazendo o seu trabalho. 

O fascista Bolsonaro tem feito um governo neoliberal, com apoio da centro-direita, dentro dos marcos da democracia burguesia. Como os resultados do governo dele são indefensáveis e ele tem uma elevada rejeição na sociedade, a centro-direita resolveu abandonar o barco e fingir que nunca esteve a bordo. Apresenta-se como terceira via, alternativa contra a esquerda e a extrema-direita, no contexto de uma falsa polarização entre fascistas e antifascistas, quando a polarização real é entre neoliberais e antineoliberais, a esquerda antineoliberal contra a centro-direita e a extrema-direita neoliberais. A centro-direita tenta ocultar essa polarização que não favorece à usa imagem, mas não tem como evitar que ela se imponha no debate público, porque é evidente a importância do neoliberalismo como causa originária e agravante dos maiores problemas do Brasil hoje.

Bolsonaro tornou-se o bode expiatório ideal para carregar toda a culpa pelo fracasso da política neoliberal que a centro-direita concebeu e ajudou a implementar. A centro-direita bota tudo na conta dele, como se não fosse responsável por nada. Bate na tecla de que o programa neoliberal era bom e que os resultados prometidos não vieram porque o presidente foi mal gestor. Tudo, tudo culpa do Bolsonaro, a centro-direita é inocente. Completamente isolado, Bolsonaro luta hoje apenas para fugir ao acerto de contas com a justiça pelos seus crimes. Mas ele está com os dias contados para sair da presidência e terminar os seus dias na cadeia. Por isso eu não tenho dúvida e não hesito em afirmar que o inimigo maior e mais perigoso da esquerda e do povo hoje não é Bolsonaro, é a centro-direita. 

Isto significa que devemos abandonar a luta contra o fascismo? Não. Significa que a luta contra o fascismo deve se dar no contexto maior da luta contra o neoliberalismo e o imperialismo. Porque o fascismo no Brasil hoje é apenas uma força auxiliar do neoliberalismo e do imperialismo. A extrema-direita alcançou a presidência da república, mas nunca foi a força hegemônica no Estado, esta força hegemônica sempre foi a centro-direita, apesar das derrotas eleitorais que sofreu. O governo Bolsonaro tem sido sustentado por uma aliança entre a centro-direita e a extrema-direita, com hegemonia da primeira, e esta coalizão de governo só foi possível porque ambas são neoliberais e ambas são pro-imperialistas. 

Portanto, derrotar Bolsonaro e a extrema-direita não resolve os problemas do Brasil e do povo brasileiro. Não resolve os problemas da economia, não resolve os problemas sociais e tampouco garante democracia. É preciso derrotar também a centro-direita, que é quem realmente comanda o Estado, a serviço dos ricos daqui e de fora, sobretudo dos EUA. É isso que precisa ficar bem claro e é isso que precisa ser levado em conta por Lula e PT na hora de definirem a sua política de alianças para a eleição presidencial que se avizinha.

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