Quem derrubou Dilma e botou Lula na cadeia pra tirá-lo da eleição de 2018 não foram Bolsonaro e a extrema direita, foram Alckmin e a centro direita, chamada "direita democrática" pelo sociólogo Celso Rocha de Barros, no artigo que reproduzo ao fim deste comentário.
Pergunto ao Celso e aos que me leem:
Democrata dá golpe de Estado? Democrata cassa direitos políticos de adversários com base em fraudes judiciais?
Será inocência julgar a confiabilidade dos agentes políticos e a conveniência e segurança de alianças com eles de acordo com a sua trajetória?
Ou será que a história só vale quando serve pra justificar os nossos desatinos?
Quando a esquerda topar ser o Ulisses ela deixará de ser esquerda, porque o Ulisses sempre foi de direita e de todas as articulações que fez nasceu um governo de direita, contra o qual o PT se opôs apresentando-se como alternativa.
Se a esquerda topar ser o Ulisses, que alternativa o povo terá?
Alckmin já disse através do presidente do seu novo partido que não quer programa de esquerda, quando se sabe que só um programa de esquerda pode atender às necessidades do povo.
O que Alckmin quer é a continuidade da Ponte Para o Futuro. Se Lula não topar, nós vamos ter um novo golpe de Estado.
A esquerda está induzindo o povo brasileiro a confiar nos seus maiores inimigos e montando uma verdadeira cilada para si mesma, da qual dificilmente vai poder escapar, logo ali na frente, quando o governo Lula estiver sendo sabotado, quando por causa dessa sabotagem instalarem-se as primeiras crises e a impaciência do povo começar a se manifestar nas ruas, pela ausência das mudanças que o povo espera. Quem não aprende com os próprios erros tende a repeti-los. Alckmin é o Temer de Lula.
11/4/2022
****
ARTIGO COMENTADO
Lula com Alckmin, Bolsonaro com Ustra
Celso Rocha de Barros - Servidor federal, é doutor em sociologia pela Universidade de Oxford (Inglaterra).
Nos últimos 15 dias, os dois candidatos que lideram as pesquisas eleitorais deixaram claro suas diferenças.
Em um movimento em direção ao centro, Luiz Inácio Lula da Silva anunciou que quer como seu companheiro de chapa Geraldo Alckmin, outro constituinte de 1988, superando uma disputa política de 20 anos.
Por sua vez, Bolsonaro lançou-se candidato elogiando o torturador Brilhante Ustra. Seus apoiadores celebraram o aniversário do golpe de 1964 e Eduardo Bolsonaro fez piada com a tortura de uma jornalista.
A turma de Lula tirou dezenas de milhões de brasileiros da miséria e colocou alguns milhões de pobres e negros na universidade.
A turma de Alckmin derrotou a hiperinflação que paralisou o Brasil por 15 anos e regulamentou os medicamentos genéricos.
A turma de Bolsonaro deixou morrer centenas de milhares de brasileiros sem vacina e sem uma única palavra de consolo do presidente. Montou um esquema de orçamento paralelo de R$ 16 bilhões. Ameaça diariamente a democracia. Para eles, a eleição é um plebiscito sobre o golpe.
Mesmo assim, deve haver empresários, religiosos e outros conservadores pensando: bom, eu até votaria nessa chapa, mas só se o Alckmin fosse o candidato a presidente. Bom, meu amigo, em 2018 ele era. Você votou em quem?
Garanto que se todo mundo aí do lado de vocês tivesse apoiado Alckmin em 2018, ele teria ido para o segundo turno. Teria, sem sombra de dúvida, recebido apoio do PT contra Bolsonaro. Nos anos seguintes, Lula e Alckmin teriam brigado por inúmeros motivos, mas não sobre vacina. Hoje haveria, no mínimo dos mínimos, 100 mil brasileiros a mais no mundo.
A questão é essa. A diferença entre quem acha que o superávit primário deve ser um pouco maior ou um pouco menor é muito menos importante do que a diferença entre quem defende vacina e quem defende a morte, entre quem defende Ulysses Guimarães e quem defende Brilhante Ustra.
Alguns petistas respeitáveis, como Rui Falcão e José Genoino, manifestaram posição contrária à chapa Lula/Alckmin. Respeito suas posições, mas discordo delas.
O PT está em processo de reorganização após a crise de 2016. Está se reconectando com suas bases, voltando a debater suas ideias, fazendo tudo que um partido que volta para a oposição deve fazer. Se estivesse disputando contra democratas de direita, o PT teria todo direito de passar quanto tempo quisesse arriscando perder eleição para reafirmar suas posições.
Mas disputará contra Bolsonaro, em campanha de reeleição, disposto a usar a máquina do Estado brasileiro como usou o WhatsApp na eleição passada: consultando avidamente o Código Penal para saber se ainda falta cometer algum crime.
Para derrotá-lo, e, sobretudo, para governar em caso de vitória, o PT terá que conquistar apoios nos estados e municípios. O PT não venceu as últimas eleições na maioria deles. Alckmin na chapa sinaliza para esses aliados, e para seus eleitores, que o PT está falando sério quando diz que quer conversar.
A esquerda não tem a opção de voltar para inocência dos anos 80. Naquela época, entre a esquerda e o fascismo havia a turma do Ulysses, que fez os acordos que teve que fazer. Em 2022, se a esquerda não topar ser o Ulysses, ninguém vai ser.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.