Continuando o debate na lista de e-mails do 1º Diretório zonal do PT-Rio/RJ sobre o meu texto "O povo não quer Temer, nem Dilma. Vamos fingir que não sabemos disso?" (04/06/2016), que lá divulguei, respondi a mais um comentário do companheiro C.N.O. - que reproduzo ao final deste post - nos seguintes termos:
Você diz:
- "No debate pragmático o PT sempre ganha."Isso foi ironia ou ato falho, companheiro?
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Dilma quase perdeu a eleição porque passou o primeiro mandato inteiro tratando de gestão e esquecida da política. Orientou a sua atuação por uma concepção equivocada da presidência da república como função exclusivamente administrativa, negando-se, no dia a dia, a fazer a disputa política com a oposição. A oposição acabou crescendo exatamente no espaço aberto por esta omissão da nossa presidenta. Quando veio a campanha eleitoral e ela foi obrigada a fazer a disputa, mesmo com todas as conhecidas limitações de expressão que tem, acabou vencendo.
As motivações de quem comanda o golpe são múltiplas, o golpe não se justifica só pelo medo de perder a eleição de 2018 para Lula. É isso também. Mas há, antes de tudo, a urgência da burguesia, pressionada pela crise internacional, de impor um programa de governo que lhe permita aumentar a taxa de lucro da sua produção e os rendimentos das suas aplicações financeiras. Não menos relevante é o interesse das petroleiras americanas na abertura dos campos do Pré Sal, com a mudança do regime de exploração vigente.
Ocorre que estes interesses dos "patrões" do golpe não são de agora, nem nasceram em 2015, já estavam presentes na eleição presidencial de 2014, representados pelas candidaturas de Aécio e Marina. O problema deles é que foram derrotados. E o problema nosso, da esquerda, é que após a vitória começamos a ver o programa de governo derrotado ser aplicado pela presidenta que elegemos.
Apenas um mês depois do anúncio do resultado do pleito, Dilma nomeou Joaquim Levy para o ministério da fazenda, sinalizando para a burguesia e sobretudo ao mercado financeiro o tipo de política econômica que podiam esperar do seu segundo mandato, O problema da Dilma é que este sinal foi muito bem entendido também pelos economistas e entidades dos movimentos sociais que ajudaram a elege-la. Houve protestos, que ela ignorou solenemente. Veio o anúncio do ajuste fiscal e os protestos aumentaram, pedindo mudança na política econômica e a saída do ministro da fazenda. Dilma disse: "Levy fica, porque eu concordo com a política dele".
Levy ficou. A recessão, prevista pelos economistas críticos do ajuste, avançou, provocando aumento do desemprego. Com isso a base social de apoio ao governo se esfarelou. E aí, com o governo fraco, sem base social de apoio quase nenhuma na sociedade, a alternativa do golpe se tornou viável para a oposição. A qualidade moral e política da linha sucessória criada por Lula e pelo PT para a presidenta tornou o projeto ainda mais promissor.
Em 2005, José Alencar praticamente botou prá fora de sua sala um grupo de políticos que foi lhe perguntar se ele assumiria a presidência da república, caso fizessem o impeachment de Lula. Disse a eles: "Entrei com o presidente Lula no governo e vou sair junto com ele". Michel Temer não teve com Dilma esta lealdade e quem já o conhecia não se mostrou surpreso.
De modo que, a meu ver, a iniciativa do golpe se deu por uma combinação de necessidade, da burguesia, com oportunidade, criada pelos erros da própria Dilma, de Lula e do PT.
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Sobre o Lula.
O Lula continua sendo, como se vê na pesquisa da CNT/Sensus (8/6/2016) o candidato mais forte e o maior cabo eleitoral do país para as próximas eleições presidenciais. Por isso, apenas por isso, acredito que será preso. Mas ele mesmo disse o seguinte, ao sair do depoimento que deu em março, após ser conduzido, no dizer do ministro Marco Aurélio, "sob vara":
- "A partir de agora, se me prenderem, eu viro herói. Se me matarem, viro mártir. E, se me deixarem solto, viro presidente de novo."Não duvido nenhum pouco disso. O Lula, livre, preso ou morto é e será sempre um problema para a direita brasileira. Em certa medida e por razões diversas, evidentemente, também é e será sempre problema para a esquerda. Refiro-me às ilusões que ele demonstra ter em relação à burguesia e ao capitalismo, das quais se alimenta a liderança excessivamente conciliadora que tem caracterizado a sua atuação política. Mas hoje o Lula é um problema muito maior para a direita do que para a esquerda, isto é indiscutível. E a direita sabe disso, por isso empenha-se tanto em destruir a sua imagem pública e botá-lo na cadeia. Livre, preso ou morto, Lula será presença certa nas próximas eleições presidenciais, este ano ou em 2018. Se não for como candidato, será como cabo eleitoral, e se não for como cabo eleitoral será como forte inspiração para a escolha do voto e para a militância política de milhões de brasileiros, inclusive da esquerda mais combativa.
Por tudo isso não conto com Lula para candidato e nem acredito que a candidatura dele seja condição para uma vitória da esquerda. A esquerda tem o melhor programa de governo, a mais numerosa, qualificada e aguerrida militância, e ainda mais o grandioso legado de três mandatos presidenciais bem sucedidos. Isso tudo é razão de sobra para acreditarmos que é eleitoralmente viável, mesmo sem ter Lula como candidato. Se não formos sectários, nós do PT podemos chegar a um acordo com a maior parte das outras forças de esquerda para o lançamento de uma candidatura única, que não precisa necessariamente ser de um petista. Para se chegar a isso, no entanto, é preciso que tenhamos consciência das nossas atuais limitações políticas e organizativas, do desgaste de imagem que a nossa sigla sofreu e do quanto a busca de unidade com os outros partidos de esquerda se tornou importante para a salvação e avanço do nosso projeto.
O sectarismo é, portanto, a meu ver, o mal que mais pode fragilizar a esquerda brasileira e inviabilizar o avanço do seu projeto político para o país. Força para resistir e vencer as tentativas que virão de tentar destruí-los, Lula e o PT só poderão conseguir através da construção de uma sólida e perene aliança com o restante da esquerda e com as massas trabalhadoras. Por isso é importante dialogar com as outras forças de esquerda, sem sectarismo. E por isso é fundamental dialogar com as massas trabalhadoras. Sem esquecer, é claro, que diálogo não é só falar. Diálogo é também ouvir, dando atenção a quem nos fala. O que pensam e o que querem as outras forças políticas de esquerda do Brasil? E o que pensam e querem os trabalhadores e trabalhadoras?
Silvio Melgarejo
10/06/2016
Abaixo, o comentário a que se refere o texto acima.
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Comentário do companheiro C.N.O. (08/06/2016)
No debate pragmático o PT sempre ganha.Mas não podemos esquecer que a Dilma ganhou por uma diferença mínima.Deram o golpe porque sabiam que correriam o risco de perder pela quinta vez se fosse o Lula o candidato em 2018.Resta saber se o Lula será o candidato em uma eleição presidencial este ano ou em 2018.Não podemos esquecer que o presidente do TSE é o Gilmar Mendes.Será que o Lula vai estar livre em 2018?Eles vão continuar tentando tudo para acabar com o PT e o Lula.
Att,
C.N.O.
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