(Mensagem enviada à lista de e-mails do 1º Diretório Zonal)
A sugestão de Marcelo Freixo, do PSOL, para candidato de uma frente de esquerda, da qual o PT faria parte, nas eleições municipais do Rio, de 2016, iniciou, há uma semana, nesta lista de e-mails, um debate que expressa bem a divisão da opinião pública petista sobre a estratégia do PT nos últimos 12 nos.
Todos concordam que agora é preciso mudar.
Uns porque acham que a estratégia adotada pelo PT esteve certa num determinado período, começou a falhar de uns tempos para cá e agora está completamente errada.
Faço parte deste grupo.
E outros porque acham que a estratégia sempre esteve errada.
Há, entre estes últimos, o caso singular e exótico de um brizolista petista que tem ódio mortal ao Lula e a tudo que ao ex-presidente possa estar associado, exceto a Dima, porque foi do PDT.
Todos aqui já devem saber que me refiro a Marcos Zarahi, a quem faço menção por ser um dos mais empenhados na defesa desta tese, durante este debate.
Entre os que acham que a estratégia do PT sempre esteve errada, parece predominar a convicção de que a estratégia da oposição de esquerda é que sempre esteve certa.
A estes dirigi as seguintes perguntas, durante o presente debate:
Se a política do PT durante os governos de Lula e Dilma foi tão errada, como é que o PT conseguiu ganhar 4 eleições presidenciais seguidas, tendo contra si a maior e mais eficiente máquina de propaganda política do mundo, que são as Organizações Globo, fazendo intensa e permanente campanha negativa contra estes seus governos, por mais de uma década?
Como é que Lula, além disso, ainda aparece pelo terceiro ano consecutivo como o melhor presidente que o país já teve, na pesquisa realizada pelo Datafolha?
Por outro lado, se a política da esquerda oposicionista é que sempre esteve certa, porque, em 12 anos, mesmo com a ajuda da Globo, esta esquerda oposicionista nunca conseguiu crescer como alternativa ao PT, aproveitando-se dos erros reais e inventados do partido e seu governo?
A bancada federal da esquerda oposicionista tem apenas 1 senador e 5 deputados, todos do PSOL.
Aliás, 4 deputados, já que o Cabo Daciolo foi expulso.
Por que PSTU, PCB e PCO nunca elegeram ninguém, nem um mísero deputado?
Ninguém, até agora, respondeu nada.
Marcos Zarahi nem tenta, porque não tem resposta.
Quase tudo que ele classifica como erro, contribuiu na verdade para que partido e governo alcançassem os resultados econômicos e sociais que os trabalhadores aprovaram, todas as vezes que tiveram ocasião de se manifestar.
O companheiro Osmar Filho disse no dia 17 de maio, a propósito destas minhas perguntas:
"Marcos e Silvio, Bom dia,
Para fugir do maniqueísmos no caso do Rio de Janeiro, Estado e Capital, sugiro:
1) Quantos votos teve o PSOL e o PT-CNB na eleição municipal de 2012.
2) Quantos votos teve o PSOL e o PT-CNB nas eleição de 2014."
Minha resposta a ele é a seguinte:
Osmar.
Não há maniqueísmo nenhum em avaliar a correção de uma estratégia política nacional pelos seus resultados nacionais, inclusive eleitorais.
O desempenho eleitoral do PT do Rio decorre da atuação do PT do Rio, não dos governos Lula e Dilma.
Tanto que o PT ganhou todas as eleições presidenciais no Rio, apesar dos resultados pífios nas eleições estaduais e municipais.
Já o desempenho eleitoral pífio do PSOL na eleição nacional, deve-se à atuação do partido no plano nacional. Apenas 1,5% dos votos válidos para presidente e 5 deputados (tirando o Daciolo, 4).
Antes de ser posta em prática, uma estratégia se justifica pela análise das circunstâncias.
As circunstâncias é que indicam os movimentos possíveis de serem feitos e os que têm maiores chances de alcançarem êxito.
Mas, depois de executada, são os resultados que justificam ou não a estratégia escolhida.
Uma estratégia é correta quando e enquanto dá resultados.
Ora, o Lula não é um dos mais reconhecidos líderes mundiais e o mais importante líder popular do Brasil só porque quer.
Ele o é exatamente por causa dos resultados extraordinários dos seus governos, que só a direita e uma certa esquerda míope, recalcada ou invejosa não admitem.
Por que Lula é considerado pelo povo o melhor presidente da história do país, segundo o instituto Datafolha?
Certamente, não por obra da maior máquina de propaganda política do mundo, que são as Organizações Globo, e sim porque o povo reconhece que, durante os dois mandatos do ex-presidente, melhorou suas condições de vida, muito mais do que em qualquer outra época.
Portanto, não só essa percepção dos trabalhadores, mas os indicadores econômicos e sociais que as confirmam, indicam que a atual estratégia do PT, que é de colaboração de classes, teve, realmente, resultados extremamente positivos durante os dois mandatos de Lula.
Só que durante os mandatos de Dilma as circunstâncias, no país e no mundo, foram mudando e os resultados começaram a minguar.
A coalizão que possibilitou a realização de governos que corresponderam às expectativas dos trabalhadores, a ponto deles votarem pela continuidade, passou a ser, cada vez mais, uma trava ao avanço do projeto iniciado e até um fator de risco para a manutenção do que já se havia construído no país.
Sinais claros de que a estratégia do PT precisava mudar.
Mas aí surge a questão: a quem caberia tomar a iniciativa da mudança de estratégia?
À presidenta da república ou ao seu partido?
Há quem pense que isto caberia à presidenta.
Minha convicção, no entanto, é de que a iniciativa de mudar de estratégia teria que ser do partido.
E por que o partido não o fez?
Aí é que está o problema.
Na minha avaliação, a direção nacional do PT tentou.
Mas não conseguiu.
Explico.
Houve em 2013, a meu ver, uma tentativa da direção nacional do PT de investir na mobilização social por reformas que sabia não terem o apoio dos partidos da coalizão, exceto o PCdoB.
O problema é que a máquina partidária não funcionou quando acionada, frustrando todas as suas iniciativas.
No primeiro semestre daquele ano, foram lançadas três campanhas, com status de prioritárias para o partido:
- o abaixo assinado do projeto de lei de iniciativa popular da Reforma Política;
- o abaixo assinado do projeto de lei de iniciativa popular da Democratização da Mídia; e
- a pressão sobre o Congresso pela aprovação do projeto de lei do governo que destinava para a educação recursos resultantes da exploração do Pré Sal.
E, no segundo semestre, houve a convocação de uma Onda Vermelha em resposta aos ataques sofridos por petistas durante os protestos de junho.
Pois, para nada disso o PT conseguiu se mover. Tudo fracassou.
"Se queremos um partido capaz de dirigir a luta pelo socialismo", diz a resolução política do 5º Encontro Nacional do PT, de 1987,
"precisamos de um partido organizado e militante, o que implica a necessidade de quadros organizadores. Um partido que seja de massas porque organizará milhares, centenas de milhares ou até milhões de trabalhadores ativos nos movimentos sociais, e porque será uma referência para os trabalhadores e a maioria do povo".
Só é possível ter êxito numa estratégia de enfrentamento com a burguesia, com um partido que seja capaz de organizar e mobilizar multidões para a luta nas ruas. É este o pressuposto deste trecho da resolução do 5º Encontro.
Ora, é evidente, Osmar e demais companheiros, que o PT está há anos luz disso.
Um partido que não funciona nem para fazer um abaixo assinado, não será nunca capaz de mobilizar milhões de trabalhadores em defesa do seu projeto político.
Onde estão os quadros organizadores que a resolução do 5º Encontro aponta como essenciais para a construção de um partido capaz de enfrentar e vencer a luta de classes?
É evidente que não estão nos diretórios, senão os diretórios funcionariam, e todos sabemos que não funcionam.
O PT não tem quadros organizadores, esta é que é a realidade.
E, no entanto, uma base de mais de 1,5 milhão de filiados deve ter, certamente, milhares de trabalhadores com talento, vocação e conhecimento para a administração do partido.
O problema é que ainda não faz parte da cultura política do PT a consciência da importância de elementos da administração como organização, comando e disciplina, para a realização de qualquer estratégia política que exija a mobilização de grandes volumes de recursos humanos, materiais e financeiros.
E como não há esta consciência, acaba-se evitando o debate sobre a administração partidária, que possibilitaria a emergência de quadros organizadores e a concepção de uma política administrativa para o partido que garantisse o seu funcionamento regular e pleno.
A minha impressão é de que a maioria da atual direção do PT tem medo de fazer o giro da estratégia de colaboração para a estratégia de enfrentamento com a burguesia, porque sabe que não tem partido para realizar essa estratégia.
O medo da direção nacional do PT é de dar um passo em falso e comprometer completa e irremediavelmente a já frágil governabilidade institucional, sem garantir a Dilma a governabilidade social necessária para dar rumo novo e seguro ao seu governo.
Esse medo acaba paralisando a direção do partido, como se tem visto.
Há, já, no PT, de fato, um consenso quanto à necessidade de mudar a estratégia política.
A tensão, me parece, se dá é quanto à possibilidade, à oportunidade e à maneira de fazê-lo.
Lula e Dilma dão sinais claros de que não querem esta mudança para agora.
E não acredito que Rui Falcão assuma qualquer posição contrária à deles.
Do outro lado, estão as tendências da autodenominada esquerda petista, que querem a mudança de estratégia já, apostando na organização e mobilização espontânea da base do partido e da classe trabalhadora.
Esta crença na organização e mobilização espontânea da base do partido e da classe, aliás, parece ser o grande e, desgraçadamente, inabalável consenso entre as tendências petistas.
Acreditam, pelo que dizem, que basta declarar guerra à burguesia, anunciando pela internet um programa avançado de reformas, que espontaneamente a base do partido iria sair fundando núcleos, aos montes, e que o povo, em convulsão, bateria, freneticamente, às portas destes núcleos e se auto-organizaria, com elevado espírito revolucionário, para desespero dos ricaços.
A diferença entre as tendências é que umas têm mais fé, outras menos, nessa rebelião espontânea a partir do anuncio puro e simples de um programa.
Eu não acredito nenhum pouco em organização e mobilização espontânea das massas.
Por isso defendo que o partido adote uma estrutura interna e formas de funcionamento que lhe permitam desempenhar as funções essenciais de indutor, organizador e dirigente das mobilizações dos trabalhadores.
A concepção de partido que defendo é exatamente aquela que está na resolução do 5º Encontro:
"Se queremos um partido capaz de dirigir a luta pelo socialismo, (...) precisamos de um partido organizado e militante, o que implica a necessidade de quadros organizadores. Um partido que seja de massas porque organizará milhares, centenas de milhares ou até milhões de trabalhadores ativos nos movimentos sociais, e porque será uma referência para os trabalhadores e a maioria do povo.
(...)
Nossa concepção, portanto, é a de construir o PT como um partido de classe dos trabalhadores, democrático, de massas e socialista, que tenha militância organizada e seja capaz de dirigir a luta social.” (5º Encontro Nacional - 1987)
Já expus de maneira resumida a razão da prioridade que dou à construção e administração do partido, no final do ano passado, quando publiquei um texto em que dizia:
"O partido está para a luta política, assim como o exército está para a guerra.
Não se atinge o objetivo político sem um partido, como não se atinge o objetivo militar sem um exército.
O partido é o instrumento da ação política daqueles que o constituem para realizar algum projeto.
Por isso, considero que a construção do PT e a administração de seus diretórios - que são suas unidades combatentes - deve ser a principal preocupação e a principal ocupação dos petistas, e que descuidar dessa tarefa, é renunciar, na prática, a qualquer possibilidade de ver realizado o projeto petista de conquistar, efetivamente, o poder político e construir no Brasil o socialismo democrático."
No PT dá-se enorme importância à definição da estratégia e importância nenhuma à preparação do partido para a execução da estratégia.
É notável a capacidade que se tem de ignorar que isto é caminho certo para o fracasso.
Minha posição é de que é preciso evoluir da estratégia de colaboração para uma estratégia de enfrentamento com a burguesia.
Não apenas pela manutenção das políticas públicas criadas até agora.
Mas pela realização de reformas que ampliem e aprofundem a democracia política brasileira, como fim em si, mas também como meio para o avanço do projeto socialista do PT.
Sei que, quanto a isto, devo estar de acordo com a maioria dos petistas.
O desacordo, creio, é quanto à necessidade e urgência de se conceber um modelo de administração do partido que lhe permita executar esta estratégia.
Isto, me parece, ninguém tem visto e me preocupa, companheiros.
Porque a derrota de um partido, muitas vezes decorre da escolha de uma estratégia errada.
Mas, com bastante frequência, advém da má execução de uma estratégia correta.
Em maio de 2013, enviei a esta lista de e-mails uma mensagem intitulada
"Para avançar mais, é preciso mais democracia", em que já defendia este ponto de vista que defendo hoje, de que era preciso mudar de estratégia, enquanto saudava as iniciativas da direção nacional do partido que, a meu ver, apontavam neste sentido.
Dizia naquele texto que era preciso preparar o partido para executar os primeiros movimentos propostos pelo Diretório Nacional, de inflexão para uma nova estratégia em que o partido buscasse influenciar o processo político de fora para dentro da institucionalidade, através da mobilização social.
Lamentavelmente, esta preparação acabou não sendo feita pelo PT e o partido se mostrou completamente incapaz de executar as políticas definidas. E olha que eram políticas simples, nada de muito complexo ou arrojado.
Agora, imaginem se um partido assim, que não consegue fazer nem um abaixo assinado entre seus filiados, se tem condições de organizar e mobilizar milhões de trabalhadores. É evidente que não tem.
Os que acreditam na organização e mobilização espontânea do partido e das massas, devem lembrar que nem as massas, nem a base do PT se mobilizaram espontaneamente para assinar e colher assinaturas para os abaixo assinados da Reforma Política e da Democratização da Mídia, embora eles tenham sido divulgados na internet e fossem tratados como políticas prioritárias pelo nosso diretório nacional.
Tampouco aderiram espontaneamente os filiados do PT à Onda Vermelha convocada pelo presidente do partido, Rui Falcão, que acabou sendo uma constrangedora marola, retrato fiel da incapacidade do PT de realizar qualquer ação coletiva envolvendo sua base de filiados.
Todas as teses apresentadas ao 5º Congresso do PT refletem de alguma forma o anseio por mudanças na atitude do partido, manifestado diariamente pela militância petista nas redes sociais.
A militância não quer mais um partido de conchavo ou só de disputa eleitoral e parlamentar.
A militância quer um partido que lute nas ruas.
Mas, isto o PT não pode ser hoje, nem amanhã, porque não está preparado, nem está se preparando para esta forma de atuação, que é imprescindível na luta de classes.
O medo da direção do PT justifica-se porque, de fato, o partido, com sua atual forma de funcionamento, não tem poder de ação nas ruas nenhum e nenhuma capacidade ofensiva, nem sequer defensiva.
Em 1986, José Dirceu publicou um artigo sobre a construção do PT, em que dizia:
"O que se quer é um partido que não se desmantele ao primeiro golpe militar."
Pois, meus amigos, é preciso reconhecer, antes de nos permitirmos ou darmos ouvidos a bravatas tolas, que o PT hoje não aguenta golpe nenhum.
Nem militar, nem civil, seja parlamentar, judiciário ou midiático.
O julgamento do mensalão foi um golpe, que levou, inclusive, Dirceu para a cadeia.
A operação Lava Jato é outro golpe, que levou para a cadeia João Vaccari.
E o que fizeram e fazem PT, direção e base?
Nada.
Quando muito protestam ou lamentam, mas nenhuma reação houve ou há que possa ser categorizada como luta.
O PT não existe, até hoje, de fato, como unidade coletiva de combate político.
Por isso os pequenos golpes de Estado se sucedem, sem que o partido consiga reagir para detê-los ou revertê-los.
O que encoraja, cada vez mais, os golpistas a engendrarem novos pequenos golpes, como ensaios de um golpe último e fatal, que seria o impeachment de Dilma e a cassação do registro do partido no TSE.
Tem razão a Articulação de Esquerda, de Valter Pomar, quando diz que precisamos de um partido para tempos de guerra.
Mas, mais correto e exato ainda seria dizer que precisamos de uma administração partidária para tempos de guerra.
Porque tão importante ou mais que definir uma nova estratégia política, é definir exatamente como o partido usará os recursos humanos, materiais e financeiros presentes em sua base de filados, na execução da estratégia estabelecida.
E sobre isto, sobre a administração partidária, nada dizem as teses apresentadas ao 5º Congresso.
Acreditam todos, pelo visto, no espontaneísmo da organização partidária, a partir da definição de uma estratégia política.
Não precisa ser profeta para saber que, indo por este caminho, o PT vai dar com os burros n'água.
Porque, sem uma correta administração partidária, nenhuma estratégia de confronto com a burguesia tem chance de dar certo.
Pela razão única e simples de ser irrealizável.
Não tem jeito, companheiros. Sem comando, organização e disciplina - que são elementos da administração - não se realiza nada na política.
Exceto, é claro, discursos.
Por isso, é que, sobre a proposta de uma frente de esquerda, eu assim me manifestei, na
mensagem que enviei a esta lista de e-mails, em 15 de maio:
"As críticas que faço ao PSOL não me impedem de reconhecer que é um partido de esquerda e que o Rio e o Brasil precisam de uma frente de esquerda para enfrentar e vencer a onda neoliberal e religiosa fundamentalista, que é, sem dúvida nenhuma, uma forte reação do conservadorismo aos avanços democráticos e sociais ocorridos durante os governos de Lula e Dilma.
Acho, entretanto, que uma frente de partidos com baixa capacidade de mobilização social, por falta de comando, organização e disciplina em suas estruturas internas, acabará frustrando rapidamente às expectativas que forem criadas.
Pelo que sei, o PSOL tem os mesmos problemas administrativos que o PT.
Aliás, eu não conheço nenhum partido de esquerda cuja administração permita uma execução minimamente satisfatória da sua política.
Para fazer um governo realmente de esquerda, as máquinas partidárias vão ter que ser capazes de superar estes problemas administrativos, para se tornarem realmente indutoras, organizadoras e dirigentes de mobilizações sociais frequentes e de grande magnitude, que deem sustentação política e impulsionem a realização do projeto vitorioso.
Como digo sempre, repito:
Sem partido organizado e mobilizado, todo ideal político morre no discurso.
Portanto, sou a favor de uma frente de esquerda, mas uma frente de partidos fortes, porque dotados de elevada capacidade de mobilização social, em razão da disciplina e da organização de seus dirigentes e de suas militâncias.
Uma frente de partidos fracos, será uma frente fraca, incapaz de realizar o seu programa e atender satisfatoriamente às expectativas dos seus apoiadores."
Quero agora tratar de um outro ponto, que é a relação do PT com o PSOL.
Sem renunciar à crítica aos equívocos do esquerdismo, o PT também não pode permitir que sectarismo e mágoas de sua parte inviabilizem a construção de uma relação melhor com este setor da esquerda.
O PSOL pode vir a ser, sim, um importante aliado do PT nos próximos anos.
Quem duvida que isto seja possível, dado o grau de animosidade deste partido contra o PT na última década, precisa saber - ou apenas lembrar - que nos anos 1980 a relação entre PT e PCdoB também era de intensa e permanente porrada. Muitas vezes, literalmente porrada.
Quem dissesse, naquele tempo, que PT e PCdoB viriam a ser aliados e amigos, como hoje são, seria taxado de louco ou então de zombeteiro.
Ninguém poderia imaginar que esta aproximação se desse e, no entanto, se deu. As coisas mudam na política.
O PSOL nasceu do PT.
É, na verdade, como você bem disse, recentemente, Osmar, uma tendência do PT que se institucionalizou.
Tendência esquerdista, é bom que se diga.
Mas, petista, de fato, porque partícipe de toda elaboração política das duas primeiras décadas de vida do PT, quando se constituiu aquilo que se pode chamar de doutrina do partido, que são as suas resoluções mais fundamentais, aprovadas nos congressos e encontros nacionais daquele período.
O problema do PSOL é o esquerdismo, aquela
"doença infantil do comunismo" que, segundo Lenin, é a incapacidade - típica, segundo ele, do revolucionarismo pequeno burguês - de
"compreender a necessidade de levar em conta, com estrita objetividade, as forças de classe e suas relações mútuas antes de empreender qualquer ação política".
A formação de uma frente de esquerda como a que tem sido defendida, até com o lançamento de um candidato a prefeito, não depende, evidentemente, só do PT.
Depende também da vontade e de uma decisão do PSOL.
A impressão que se tem, pelo discurso de alguns frentistas aqui, é de que o PSOL já topou e que só está esperando uma manifestação do PT.
Não é bem assim, companheiros.
O esquerdismo, o antipetismo longamente cultivado e a perspectiva de conquistarem a hegemonia da esquerda com uma eventual derrota do PT para a direita, podem, penso eu, frustrar nossos desejos e expectativas.
Acredito que o caminho mais realista para um apaziguamento entre os dois partidos, que criasse um ambiente mais favorável à construção de uma frente, seria PT e PCdoB lançarem um candidato coligados e, se eventualmente o PSOL for para o segundo turno, apoiarem incondicionalmente e com vigor o seu candidato.
Agora, se o PT resolve apoiar o candidato do PMDB para a prefeitura, como querem Lula, Dilma e Quaquá, aí a paz, o diálogo e a frente com o PSOL vão de vez pro brejo.
Dou-me conta agora de que, sobre a eleição municipal, não vi nenhuma notícia quanto à posição do presidente do Diretório Municipal, Bob Calazans.
Não é o Diretório Municipal que tem que tratar da campanha eleitoral do município?
O Quaquá deu entrevista anunciando que já fez todos os arranjos, prometeu que o PT vai apoiar o afilhado de Eduardo Paes, posou para foto com o atual prefeito e seu candidato e não se vê nenhuma manifestação pública do Bob Calazans?
Que situação estranha esta, não é, companheiros?
Será que Calazans concorda com o Quaquá?
Agradeço a quem jogar luz sobre este mistério.
Acabo de ver no site 247 a seguinte curiosa notícia:
21 DE MAIO DE 2015 - Desembarque do ex-governador gaúcho Tarso Genro no Rio de Janeiro, que chega com planos de implodir a aliança PT-PMDB, é rechaçado por lideranças petistas; "O pensamento dele (Tarso Genro) não é o da maioria do PT. Ele não terá o apoio do PT. A ideia é manter o acordo (com o PMDB)", afirmou o vice-prefeito de Eduardo Paes, Adilson Pires (PT); o presidente regional do PT, Washington Quaquá, acredita que, "por questão de respeito, ele deveria dialogar"; Tarso realizará amanhã a plenária "A saída é pela esquerda", com o apoio do senador Lindberg Farias e do deputado Alessandro Molon; "O PT do Rio, em nenhum momento, discutiu a ruptura. O PMDB é a base da governabilidade da Dilma. Será que isso não diz nada?", questionou a deputada Benedita da Silva.
O movimento do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro, que pretende criar uma frente de partidos de esquerda para as eleições municipais em 2016 no Rio de Janeiro, tem recebido críticas de dirigentes petistas do Estado.
A Executiva do PT regional defende a manutenção da aliança com o PMDB, que tem a prefeitura, com Eduardo Paes, e o governo, com Luiz Fernando Pezão. Tarso desembarca amanhã no Rio para realizar a plenária "A saída é pela esquerda", com o apoio do senador Lindberg Farias e do deputado federal Alessandro Molon, ambos petistas.
"O pensamento dele (Tarso Genro) não é o da maioria do PT. Eu me encontrei com ele na semana passada e fui bastante claro: ele não terá o apoio do PT. A ideia é manter o acordo (com o PMDB)", afirmou o vice-prefeito de Eduardo Paes, Adilson Pires (PT), segundo reportagem do jornal O Globo.
De acordo com Pires, a parceria com o PMDB "está consolidada" e "tem o aval do ex-presidente Lula e da própria Dilma". "Paes foi o político mais leal com Dilma. Não apoiou o Aezão", acrescentou, em referência ao movimento criado no ano passado dentro do PMDB para pedir votos a Aécio Neves (PSDB) e Pezão.
O presidente regional do PT, Washington Quaquá, disse não ter sido convidado por Tarso para a plenária e defendeu o diálogo. "Por questão de respeito, ele (Tarso) deveria dialogar. Apoiamos uma frente ampla de esquerda para discutir as reformas políticas, mas ele está tentando criar uma frente eleitoral", opinou.
Para a deputada federal Benedita da Silva, "em nenhum momento" o PT do Rio "discutiu a ruptura" com o PMDB. "O PMDB é a base da governabilidade da Dilma. Será que isso não diz nada?", questionou.
O prefeito Eduardo Paes (PMDB) pretende lançar à prefeitura, pelo PMDB, o secretário municipal de Coordenação de Governo, Pedro Paulo. Internamente, peemedebistas não veem Tarso como ameaça, com base em seu desempenho nas últimas eleições, quando não conseguiu se reeleger governador.
No O Globo, que foi a fonte original do 247, a notícia é a seguinte:
Vice-prefeito e presidente regional defendem aliança com PMDB
POR CÁSSIO BRUNO - 21/05/2015 6:00
RIO - A direção do PT do Rio criticou o plano do ex-governador do Rio Grande do Sul Tarso Genro (PT) de criar no estado uma frente com partidos de esquerda para as eleições de 2016. Integrantes da executiva do partido defendem a manutenção da aliança no estado com o PMDB. O vice-prefeito Adilson Pires (PT) reprovou a estratégia de Tarso:
— O pensamento dele (Tarso Genro) não é o mesmo da maioria do PT. Eu me encontrei com ele na semana passada e fui bastante claro: ele não terá o apoio do PT. A ideia é manter o acordo (com o PMDB) — afirmou o vice-prefeito.
A intenção de Tarso é enfraquecer o PMDB fluminense, que dá as cartas na Câmara dos Deputados, com o presidente da Casa, Eduardo Cunha, e o líder do partido Leonardo Picciani. Nos bastidores, os peemedebistas não veem Tarso como ameaça. O argumento é o desempenho do petista nas últimas eleições no Rio Grande do Sul ano passado, quando ele não conseguiu se reeleger.
Adilson disse que o apoio do prefeito Eduardo Paes (PMDB) à reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT) foi “fundamental”. Segundo Pires, a parceria com o PMDB no Rio “está consolidada" e “tem o aval do ex-presidente Lula e da própria Dilma". Paes pretende emplacar como candidato o secretário municipal Pedro Paulo (Coordenação de Governo).
— Paes foi o político mais leal com Dilma. Não apoiou o Aezão — disse Pires, referindo-se ao movimento do presidente da Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), Jorge Picciani (PMDB), para pedir votos ao candidato tucano derrotado à Presidência, Aécio Neves , e ao governador reeleito Luiz Fernando Pezão (PMDB).
O presidente regional do PT, Washington Quaquá, contou que não foi convidado por Tarso para a plenária “A saída é pela a esquerda”, que será realizada amanhã, com o apoio do senador Lindbergh Farias e do deputado Alessandro Molon, ambos do PT. O encontro debaterá propostas da frente de esquerda para 2016.
— Por questão de respeito, ele (Tarso) deveria dialogar. Apoiamos uma frente ampla de esquerda para discutir as reformas políticas, mas ele está tentando criar uma frente eleitoral — criticou Quaquá.
DIRIGENTE DO RIO CRITICA TARSO
O presidente regional do PT desafiou Tarso:
— Se ele reunir 200 pessoas (na plenária), eu reúno duas mil na semana seguinte.
A deputada Benedita da Silva também defendeu a aliança com os peemedebistas:
— O PT do Rio, em nenhum momento, discutiu a ruptura. O PMDB é a base da governabilidade da Dilma. Será que isso não diz nada?
Além de negociar a compra de um apartamento no Rio, o que gerou especulações de que poderia transferir seu domicílio eleitoral para concorrer à prefeitura, Tarso quer criar um instituto na cidade para promover debates e palestras, além de um centro de estudos.
Procurado pelo GLOBO, Tarso não quis dar entrevista. Lindbergh e Molon não retornaram as ligações.
Bem, eu duvido que os dirigentes do PT do Rio estejam realmente tranquilos com a possibilidade de terem que enfrentar uma rebelião da base do partido liderada por um quadro político da estatura de Tarso Genro. Não estão. Só se fossem burros ou loucos e não acredito que sejam.
As reações de repúdio destes dirigentes contra algo que deveria ser considerado absolutamente natural num partido democrático - que é a proposta de debate sobre mudanças na orientação política e eleitoral -, mostram que eles temem, de fato, a presença do ex-governador gaúcho e ex-presidente nacional do PT.
E isto é um bom sinal para os que desejam mudanças.
Por isso, dou boas vindas a Tarso Genro e digo-lhe que estou pronto para ser um soldado da sua causa.
A mim, pessoalmente, sua chegada enche de esperanças de um futuro melhor para o PT, a partir dos embates que vamos travar com o conservadorismo do partido.
Que assim seja.
Chamo, no entanto, a atenção de todos os que se animam, como eu, com a vinda deste importante aliado para o Rio.
Se a vitória na luta de classes exige do partido comando, organização e disciplina, a vitória na disputa interna do partido exige o mesmo de qualquer movimento de oposição.
É muito importante que nós tenhamos esta consciência:
De que comando, organização e disciplina são condições fundamentais para a vitória da política de frente de esquerda.
Primeiro, dentro do PT, contra os aliados do PMDB.
E, depois, fora do PT, contra a burguesia e o conjunto da direita, inclusive o PMDB.
A saída é pela esquerda.
Mas é preciso ter força para abrir a porta.
Não se vence disputa política só com discurso.
Se vence com força política.
E força política só se constrói com muito trabalho de equipe, onde não faltem estas três coisas:
Comando.
Organização.
E disciplina.
Saudações petistas.
Silvio Melgarejo
22/05/2015