"O 1º Diretório Zonal não funciona por causa da indisciplina dos seus dirigentes, da passividade de sua vanguarda e da inexistência de uma oposição atuante, que represente um projeto alternativo de diretório. Dito de outra forma: o 1º Diretório não funciona porque uns não querem e outros não fazem questão que ele funcione."
A propósito da tese de que os problemas organizativos e funcionais do 1º Diretório Zonal devem-se à estratégia política nacional da tendência CNB, que seria hegemônica, supostamente, graças ao modelo PED de eleição de dirigentes, pergunto aos que assim pensam:
Este diretório foi presidido na gestão passada pelo companheiro Ricardo Quiroga, da Articulação de Esquerda.
Agora é presidido pela companheira Cláudia Le Cocq, da CNB.
Sinceramente, vocês veem alguma diferença entre as duas gestões no que se refere à administração da instância, ao seu funcionamento e à sua relação com a base de filiados local?
Eu não vejo.
Outro ponto:
Em qualquer instituição política, a oposição representa um projeto alternativo ao da situação e cumpre uma função fiscalizadora e crítica, cobrando permanentemente desempenho e resultados.
Pois, nunca vi a CNB cumprir aqui este papel durante a gestão Quiroga e não vejo a Articulação de Esquerda exercê-lo agora, na gestão Le Cocq.
O diretório não funcionava na gestão Quiroga, continua inativo na gestão Le Cocq, e as tendências dos dois, que são politicamente antagônicas, reagem exatamente da mesma forma omissa, complacente, eu diria até mesmo cúmplice, quando estão na oposição.
Nunca vi uma manifestação sequer de desaprovação, nenhuma cobrança, nenhuma proposta, nenhum projeto, nenhuma iniciativa política ou administrativa, nada.
Temos um diretório fantasma e todos agem como se isto fosse a coisa mais natural do mundo.
O estatuto do partido diz, em seu artigo 87, inciso "c", que:
"Compete aos Diretórios Zonais (...) manter em dia o cadastramento dos filiados e filiadas do Zonal";e em seu artigo 88, inciso "g", que:
"Compete à Comissão Executiva Zonal (...) informar e atualizar TODOS os filiados e filiadas sobre políticas, propostas, publicações, materiais e demais iniciativas do Partido."Pois o artigo 87, inciso "c", não é cumprido e o artigo 88, inciso "g", também, porque depende do cumprimento do artigo 87, inciso "c".
Já o artigo 227 do nosso estatuto diz que:
"Constituem infrações éticas e disciplinares:e
(...)
V – a falta, sem motivo justificado por escrito, a mais de 3 (três) reuniões sucessivas das instâncias de direção partidárias de que fizer parte",
"VI – a falta de exação no cumprimento dos deveres atinentes aos cargos e funções partidárias;",Tudo isso é simplesmente ignorado tanto pela situação, quanto pela oposição do diretório, que se revesaram nos últimos anos cometendo as mesmas faltas.
Se não me engano, hoje, 4 dos 14 membros efetivos do 1º Diretório Zonal foram da chapa da Articulação de Esquerda no último PED e, portanto, devem representar esta tendência no diretório.
Por que estes companheiros nunca se manifestaram?
A verdade é que nem CNB, nem Articulação de Esquerda demonstram qualquer compromisso com a organização e com o funcionamento do 1º Diretório Zonal. Há um acordo, aparentemente tácito, entre as duas tendências pela manutenção de uma convivência sem admoestações mútuas, sem cobranças, sem críticas, sem debate sobre temas que possam constranger ambas a terem que assumir responsabilidades com as tarefas práticas indispensáveis ao funcionamento desta instância, cuja direção formalmente compartilham. E o PED, ao contrário do que dizem membros e simpatizantes da Articulação de Esquerda, não tem nada a haver com este pacto de acomodação à inação que sua tendência mantém há anos com a CNB nesta zonal.
Em 23 de fevereiro, enviei a esta lista de e-mails uma mensagem intitulada "Junho pode ser tarde demais para reagir". No mesmo dia, recebi em meu e-mail pessoal mensagem de um companheiro da Articulação de Esquerda reconhecendo o esforço de contribuição que aquela minha mensagem representava, ressaltando a sua extensão e a minha "dedicação" à sua redação. Desconfio, no entanto, que não tenha lido nada, já que nenhum comentário fez sobre o seu conteúdo. O que fez foi repetir o mantra da Articulação de Esquerda e demais tendências auto classificadas como a "esquerda do PT" de que o PED é a fonte de todos os problemas do partido. Disse o companheiro, cujo nome omito em respeito ao seu desejo de manter anonimato:
"Se analisarmos o último PED, iremos nos deparar com uma quantidade enorme de recursos financeiros, utilizados na mobilização da militância e consequentemente na construção da atual maioria. Entendo que não é do interesse da atual maioria, mobilizar a base partidária. Simples assim. Só vai mudar no momento em que o PED mudar."No dia seguinte, respondi-lhe com o seguinte comentário (troco o nome dele por Companheiro, com letra maiúscula):
"Olá, Companheiro.Penso, portanto, que não é o PED a fonte dos problemas maiores que o PT carrega, sem efetivamente enfrentar, desde longuíssima data.
Você diz que uma enorme quantidade de recursos financeiros foram usados no último PED para mobilizar a militância.
Pois eu te digo que, se teve dinheiro demais, teve trabalho de menos [já que não mobilizou quase nada].
A maioria conseguiu manter maioria.
Mas, uma maioria muitíssimo maior do que ela ficou fora do PED, provavelmente nem soube da sua realização e ignora até mesmo o que seja.
Acabo de ver aqui uma tabela com os números finais do PED 2013 do 1º DZ.
Total de votantes: 511.
Você deve saber que peguei uma relação de todos os filiados do Rio, no Diretório Municipal. em 2013, e que preparei planilhas de filiados por bairro para toda a Zona Sul, mais o Centro, Glória e Santa Teresa. Mandei uma cópia pro Carlos Ocké Kalifa ano passado.
[esqueci de dizer nesta mensagem que usei também na preparação destas planilhas a relação de filiados aptos a votar no PED 2013 e que comparei os dados desta com a listagem geral]
Pois, bem.
Juntando Zona Sul, Centro, Glória e Santa Teresa, são 3.314 nomes cadastrados.
Aptos para o PED 2013, neste território, foram 916 filiados, o que representa apenas 24,64% do total.
Este número de 511 votantes, que corresponde à base territorial total do diretório, representa 55,79% dos filiados aptos a votarem no PED, só na Zona Sul, Centro, Glória e Santa Teresa, e apenas 15,42% dos nomes cadastrados no partido com endereços neste território.
Ou seja, se incluirmos aí os filiados dos outros bairros da Zona Centro, o percentual de votantes no PED em relação ao total de nomes cadastrados na base territorial do 1º Diretório Zonal, fica ainda menor.
Isto significa, Companheiro, que a imensa maioria dos filiados da 1ª zonal não participou do PED.
E não participou porque ninguém procurou.
Nem a maioria, nem a minoria.
A minoria, na verdade, facilita a preservação da maioria constituída, quando restringe a disputa política ao ambiente do diretório, onde só tem cabeça feita, e deixa de fazer o trabalho político junto à base de filiados excluída do partido, que é muito mais numerosa do que a atendida pelo diretório e mais alguns núcleos.
Quer virar esse jogo?
Arregaça as mangas, prepara os panfletos, aquece o gogó e vai prá base, companheiro!
Não prá base que já tá dentro e que já tem posição.
Prá base que tá lá fora e que ainda não tem posição definida.
O que tá faltando prá minoria deixar de ser minoria é, como disse o Lula, tirar a bunda da cadeira e gastar saliva e sola de sapato.
Tem que ir prá rua, ao encontro dos filiados, onde eles estiverem. Telefonar prá eles, mandar carta, e-mail, sms...
Tem que estar presente na vida do filiado, fazendo discussão política permanente, e não ficar esperando que o filiado venha até o núcleo ou diretório.
O problema não é o PED, Companheiro.
O problema é o internismo, a acomodação, a preguiça e a indisciplina.
Isto, sem falar, evidentemente, da completa falta de consciência da necessidade de planejamento e organização.
A maior parte da base da 1ª zonal é um campo inexplorado.
Quem chegar primeiro, se estabelece facilmente porque não tem concorrência.
E o que faz a Articulação de Esquerda?
Disputa a diminuta parte da base que já está ocupada e vira as costas prá parte maior da base, onde o partido está ausente.
Desse jeito, companheiro, vocês nunca vão deixar de ser minoria.
Me perdoe, mas está faltando inteligência e disposição para o trabalho.
Acabar com o PED pode até levar o partido mais à esquerda.
Mas não vai trazer para dentro do partido e organizar para a ação coletiva os milhares de filiados que estão lá fora.
Política, você pensa, discute e decide. Organização é trabalho.
Vocês gostam de fazer política, mas não querem saber de organização.
Gostam de pensar, discutir e votar. Mas não querem nada que dê muito trabalho.
Isso é um problema, Companheiro, de cultura política.
A personalidade do partido são os hábitos da sua vanguarda.
O PT é o que é, por causa dos hábitos da sua vanguarda.
Se essa vanguarda tivesse o hábito de fazer trabalho político na base do próprio partido, o PT teria outra cara.
O partido seria mais organizado e com isso teria mais poder de ação e sua democracia interna funcionaria melhor.
Você diz que não é do interesse da maioria mobilizar a base partidária.
Pois eu te digo que, aparentemente, nem a minoria faz questão disso. Senão estaria tendo atitude diferente da maioria. E não está. Pense bem.
Um abraço, companheiro, e obrigado por me honrar com seu comentário.
Silvio Melgarejo
24/02/2015"
Querem acabar com o PED porque ele seria uma processo eleitoral despolitizado e viciado que favoreceria às posições conservadoras.
Esta é uma visão completamente equivocada.
O PED apenas reflete o que o partido é.
Quebrar e jogar no lixo o espelho não livra ninguém da fealdade, dando beleza a quem não tem.
Pode, no máximo, ajudar o feio a esquecer que é feio.
O PED reflete o que o PT é, como resultado das ações e omissões dos seus dirigentes e da sua vanguarda. É um processo que objetiva permitir a todos os filiados do partido participarem da eleição direta dos seus dirigentes e isto, a meu ver, é muito bom e deve ser preservado.
O problema é que, entre um PED e outro, os dirigentes e a vanguarda petista não fazem trabalho político nenhum junto à base do partido.
Nem durante o próprio PED a maioria dos filiados é procurada, o que resulta também num baixíssimo número de filiados aptos a votarem e num número ainda menor de filiados que efetivamente acabam indo à urnas.
A base do PT não é politicamente cultivada por ninguém, nem pela direção do partido, nem pela sua vanguarda, nem pela CNB, nem pela Articulação de Esquerda; não recebe de ninguém formação e informação política nenhuma e não exercita nunca o debate político.
Por isso é despolitizada.
E essa despolitização reflete-se no PED, favorecendo às posições mais conservadoras e à possibilidade do emprego com sucesso de métodos condenáveis de aliciamento e manipulação.
A politização da base depende do seu envolvimento no debate político permanente.
O debate político,permanente depende do funcionamento pleno e regular dos diretórios.
E o funcionamento pleno e regular dos diretórios depende da disciplina dos dirigentes e da vanguarda partidária no trabalho político e organizativo cotidiano junto ao conjunto dos filiados.
Além do PED, outros dois fatores são frequentemente apontados como causas da degeneração do PT como partido socialista, num processo que se poderia chamar de "pe-eme-de-be-ização do PT": a estratégia política do partido e a política de alianças dela decorrente.
Estes dois fatores seriam, segundo quem pensa assim, as causas de todos os vícios adquiridos pelo PT e que afetam de um modo geral o funcionamento do partido, inclusive os seus processos eleitorais internos..
No dia 25 de fevereiro, debatendo sobre isso, pelo Facebook, com um companheiro de São Paulo, eu disse:
"Vou te dizer o que penso, Companheiro. Na verdade, pego carona no caso que você relata e no comentário que faz em seguida, para apresentar uma pequena tese.As práticas internas do partido resultam da forma como seus dirigentes exercem a organização, o comando e a disciplina. Mas estes elementos, a organização, o comando e a disciplina, que são indispensáveis para que o partido realize os seus objetivos, de acordo com seus valores e conceitos, não dizem respeito à função política e sim à função administrativa do partido.
Em primeiro lugar, botar na conta da política de alianças os problemas todos do PT é como atribuir doenças a bactérias e vírus, esquecendo o papel do sistema imunológico.
O PT foi, de fato, contaminado pela cultura política dos partidos com os quais fez aliança. Mas isto aconteceu porque os hábitos de sua vanguarda não o ajudaram a criar anticorpos contra os elementos nocivos dessa cultura política estranha.
O PT é um partido socialista de baixíssima imunidade às doenças dos partidos burgueses, porque aquilo que poderíamos chamar de doutrina partidária, que são as resoluções dos seus congressos e encontros nacionais, é desconhecido pela imensa maioria da vanguarda partidária.
O resultado desse desconhecimento é que cada militante representa o PT na sociedade com sua concepção própria do que o partido seja, o que inviabiliza, naturalmente, a unidade dos discursos e das ações.
Desconhecimento da doutrina do partido é falta de formação política.
Mas por que falta formação política?
Porque não há política de formação política?
Eu creio que não.
A mim parece que a falta de formação política decorre da falta de comunicação da direção com a base, e que a falta de comunicação entre direção e base deve-se á falta de organização e disciplina dos dirigentes e do conjunto da vanguarda.
O PT precisa de uma política de formação política.
Só que uma política de formação política só pode funcionar se houver uma política de comunicação partidária interna.
A realização de uma política de comunicação interna depende do funcionamento dos diretórios.
E o funcionamento dos diretórios depende da existência de uma política administrativa que garanta o melhor emprego possível dos recursos de cada diretório nas ações que o partido estabeleça.
Tudo é um processo, tudo está interligado, numa relação de interdependência.
A imunidade de um organismo aos ataques de agentes patológicos presentes no ambiente em que ele vive ou transita, ou seja, a saúde de um organismo, depende da qualidade dos seus hábitos, inclusive alimentares.
Do que se alimenta o pensamento petista?
Qual é a rotina de trabalho partidário dos membros do PT, direção e base?
É isso que pode ou não tornar o partido capaz de atuar na democracia burguesa sem se contaminar pela cultura política dos partidos burgueses.
O partido socialista se imuniza contra o contágio da cultura política burguesa quando fortalece a sua própria cultura política socialista.
O que eu chamo de cultura política - só prá deixar claro - são valores, conceitos, objetivos e práticas.
A doutrina petista, constante dos documentos produzidos pelos congressos e encontros nacionais do PT e que, segundo o seu próprio estatuto, deve orientar a atuação do partido, é uma doutrina socialista.
O problema é que a quase totalidade da base partidária, mesmo a maior parte da vanguarda, desconhece essa doutrina chamada em nossas resoluções de Socialismo Petista.
Desconhece, além disso, os problemas organizativos do passado que não foram resolvidos e que estão aí até hoje.
E estão aí até hoje porque, ignorando reflexões, diagnósticos e receitas que o próprio partido formulou naqueles congressos e encontros do passado, resolveram muitos dos que estavam de acordo na identificação dos sintomas, produzir outros diagnósticos apontando causas e soluções diferentes daquelas.
Dizem agora que a precariedade do funcionamento das instâncias partidárias é um produto da estratégia política adotada pela corrente hegemônica a partir de 1995, quando o próprio partido reconhecia em 1987, no 5º Encontro, que já vivia uma crise organizativa crônica desde 1982 [quando participou de sua primeira eleição].
A ideia, portanto, de que a hiper-institucionalização do partido foi responsável pela sua desorganização interna não tem fundamento lógico, nem histórico. O PT já era uma bagunça muito antes de 95 e continua uma zorra total até hoje.
O mal funcionamento dos diretórios e, em muitos casos, a completa inatividade destas instâncias, não decorre de uma estratégia política errada, decorre da falta de estratégia administrativa, algo que é desprezado não por uma, mas por todas as tendências atuantes no PT.
Nunca houve decisão de ninguém de sabotar os diretórios, de apartar deles a base partidária, e não há diferença nenhuma entre as gestões de tendências da esquerda ou da direita do partido, ou mesmo de quem se posiciona como independente.
É tudo a mesma coisa, os resultados são, de um modo geral, ruins e são raríssimos os diretórios que conseguem ter desempenho pelo menos razoável.
O não funcionamento dos diretórios é um problema administrativo que gera problemas políticos como o não funcionamento da democracia partidária e a falta de poder de ação coletiva do partido na sociedade.
Mas quando se procura soluções políticas para problemas administrativos, o que acontece é que os problemas administrativos nunca são enfrentados e superados e continuam a gerar problemas políticos como os acima citados.
A comunicação interna do PT, que permitiria o amplo debate democrático e a organização de sua base para a ação, é também indispensável para transmitir a doutrina petista à base partidária e fortalecer a cultura política do partido, garantindo a unidade de valores, conceitos, objetivos e práticas.
Se não for permanentemente alimentada, a cultura política do partido se fragiliza e se torna permeável à infiltração de elementos de culturas políticas estranhas à sua essência.
E aí o partido se desvirtua.
A integridade ideológica do partido depende da fidelidade do partido à doutrina que ele mesmo concebeu.
Para tanto é necessário que todos os seus membros conheçam essa doutrina e, para que ela seja conhecida, é preciso que seja comunicada.
A comunicação interna do partido depende do funcionamento dos seus diretórios.
E o funcionamento dos diretórios, ao contrário do que muitos supõem, não depende apenas de vontade política, depende de conhecimentos e técnicas administrativas que a maioria dos dirigentes partidários não domina.
Isto se dá porque entre os critérios para a formação das chapas que vão disputar os cargos de direção, não está incluída a necessidade de incorporar quadros administrativos, com vocação e talento para o adequado tratamento das questões práticas da atividade partidária.
A resolução do 5º Encontro, de 1987, já falava da necessidade de identificar e recrutar quadros organizadores. Mas eu acho mais apropriado falar em quadros administrativos, porque entendo que não é só organização que falta, falta planejamento e monitoramento de desempenho e resultados. E tudo isso é parte do processo administrativo.
A cultura de qualquer organização se desenvolve no seu cotidiano e, do cotidiano do PT, lamentavelmente, só uma minoria ínfima de filiados participa. O resto, a maioria, quase totalidade, permanece à margem. Não vejo, infelizmente, perspectiva desse quadro mudar, porque as alternativas de direção existentes, desprezam tanto a administração partidária quanto os atuais dirigentes.
De modo que, mesmo que o PT mude a composição política de sua direção, a tendência é a continuidade de todos os problemas decorrentes do mal funcionamento dos diretórios, inclusive a falta de controle da base do partido sobre os mandatos parlamentares que ajudou a conquistar,
Um abraço, companheiro.
Silvio Melgarejo "
Administrar o partido é decidir como o partido deve empregar os recursos que tem - humanos, materiais e financeiros - na realização de ações destinadas à conquista dos seus objetivos e garantir que as decisões tomadas sejam, na prática, cumpridas. Esta arte ou ciência do emprego dos recursos do partido não faz parte do saber político, faz parte do saber administrativo. O problema do PT é que ele tem um saber político que não se realiza por lhe faltar o saber administrativo, pelo qual nunca teve o menor entusiasmo.
A doutrina do PT, que é o conjunto das resoluções dos seus congressos e encontros nacionais, trata quase que exclusivamente dos objetivos do partido, dos valores e conceitos que os justificam, e das estratégias que o partido pretende usar para alcançar estes objetivos. Mas raramente trata da maneira como o partido deve empregar os seus recursos na realização de suas estratégias.
Historicamente o PT tem discutido e decidido a sua política e desprezado o debate e as decisões sobre como viabilizá-la a partir do uso racional dos seus recursos. E por isso, a reflexão coletiva pouco ou nada avançou até hoje neste campo. Muito pouco disso se fala, nas resoluções de seus inúmeros encontros e congressos, e quando se fala, desde os anos 1980, é para tratar de uma crise organizativa crônica que tem comprometido, deste então e até agora, o funcionamento e até a sobrevivência de diretórios e núcleos de,base.
Essa carência de reflexão sobre a administração partidária e a gravidade dos efeitos que essa falta tem tido sobre o funcionamento do PT, é o que me leva a tomar este tema como prioritário em minha pauta pessoal de reflexões sobre o partido e como objeto dos meus maiores esforços no sentido de contribuir para a superação dos seus problemas e para a conquista dos seus objetivos.
Busco insistentemente o debate sobre a administração partidária porque estou absolutamente convencido de que sem administração, o PT nunca conseguirá realizar a sua política, seja ela qual for, e porque vejo - confesso que estarrecido - o desprezo que os dirigentes e a vanguarda do partido ainda têm por esta atividade e ramo do conhecimento humano.
Resumindo, vejo a administração como a única atividade capaz de garantir, na prática, o cumprimento das resoluções políticas do PT, mediante o uso racional dos recursos do partido nas ações necessárias para que estas resoluções sejam cumpridas. Vejo, portanto, a politica como definidora dos fins e dos meios e a administração como garantidora do melhor emprego possível dos meios para alcançar os fins. Política e administração, uma sem a outra, não chegam a lugar nenhum.
Uma das etapas do processo administrativo é a organização, que é a definição de quem faz o que, onde, quando, como e com que meios, dentro da ação coletiva. Tenho dito que o último elo da cadeia de comando do partido em cada região deve ser o maior responsável pela organização dos filiados de sua jurisdição. Nas capitais com mais de 500 mil habitantes e nos municípios com mais de 1 milhão, este último elo, segundo o estatuto do PT, é o diretório zonal. Nas demais cidades é o diretório municipal. Aqui no Rio, portanto, o último elo da cadeia de comando do PT é o diretório zonal.
Pois bem. A missão dos membros dos diretórios zonais é garantir a democracia e o poder de ação das suas instâncias, seja qual for a estratégia do partido. E, para isso, estes dirigentes precisam ter disciplina, organização e rotinas de trabalho. Isso não é política, é administração. Os diretórios zonais do PT têm que funcionar bem e a gravidade da situação politica do país hoje, exige que seja já, como eu já alertava na mensagem "Junho pode ser tarde demais para reagir", que enviei a esta lista de e-mails em 23 de fevereiro.
CONCLUSÃO
O 1º Diretório Zonal não funciona por causa da indisciplina dos seus dirigentes, da passividade de sua vanguarda e da inexistência de uma oposição atuante, que represente um projeto alternativo de diretório.
Dito de outra forma: o 1º Diretório não funciona porque uns não querem e outros não fazem questão que ele funcione.
Nenhuma força política tem compromisso com o funcionamento pleno e regular desta instância, razão pela qual todo projeto que se apresenta e todo debate que se propõe acerca deste tema encontra sempre resistência e desinteresse.
Aí eu me pergunto e pergunto aos companheiros:
Para que CNB e Articulação de Esquerda lançam chapas no PED?
O que passa pela cabeça dos que aceitam integrar estas chapas, fazem campanha, são eleitos, empossados e depois somem, nunca assumem as obrigações que seus novos cargos lhes impõem por determinação do,Estatuto?
E o que passa pela cabeça dos que assistem a tudo isso sem se escandalizarem e indignarem?
Será que não veem o prejuízo que isto causa ao PT?
Como eu disse lá no início desta mensagem, o PED, despolitizado e cheio de vícios que temos, é um retrato fiel do que o PT é hoje, como resultado das ações e omissões dos seus dirigentes e da sua vanguarda. O PED não é causa, simplesmente reflete os efeitos, no caráter do PT, dos valores, conceitos, objetivos e práticas que o partido, direção e base, cultiva ou deixa de cultivar no seu cotidiano politicamente pobre e tedioso.
Nenhuma tendência se salva, todas se igualam no descaso pela organização e funcionamento dos diretórios, descaso que resulta numa omissão que é uma verdadeira sabotagem ao PT, já que os diretórios, principalmente zonais, são exatamente os agentes responsáveis pela promoção da democracia interna do partido e da organização de sua intervenção, como unidade coletiva, na sociedade.
Digo na mensagem "Junho pode ser tarde para reagir":
"Há problemas nacionais, no partido e no governo, cuja solução não depende exclusivamente de nós. Mas depende exclusivamente de nós a solução dos problemas deste diretório que têm nos impedido de contribuir, mesmo que modestamente, para que o partido e o governo superem os seus problemas."E, mais adiante:
"Sem disciplina, qualquer dirigente partidário, por mais honesto e bem intencionado que seja, torna-se um obstáculo ao bom desempenho da sua instância."Eu acrescento a isto, que se a vanguarda da base do diretório não reage firmemente à indisciplina dos seus dirigentes e, se ao contrário, assume diante desta indisciplina atitude complacente, ela, vanguarda, ao invés de parte da solução, torna-se parte do problema, contribuindo para que o problema se perpetue.
Encerro com mais esta citação da mensagem "Junho pode ser tarde demais para reagir", em que digo:
"Há, de fato, uma dura luta a ser travada dentro do PT para dotá-lo da organização, do comando e da disciplina, que são indispensáveis para o êxito de qualquer organização combatente, seja de natureza militar, seja de natureza política. Não é uma luta entre tendências, é uma luta pela superação de uma cultura política e pela assimilação de outra. Uma luta pela superação da cultura política sem sentido prático, que despreza a administração partidária, e pela assimilação de uma cultura política focada na ação, que tenha a administração partidária como elemento essencial, capaz de transformar ideias em atos e projetos em realizações."Comando, organização e disciplina não são, em verdade, elementos da politica, são elementos da administração, dos quais o PT e este diretório precisam para realizarem suas políticas e se tornarem mais democráticos e efetivos em suas ações nas ruas. Sem administração, não se realiza a política. Na verdade, pensando bem, o que tenho até aqui chamado de cultura política é a cultura partidária, composta pela cultura política e pela cultura administrativa do partido. O PT tem cultura política mas não tem uma cultura administrativa que dê consequência à sua cultura política, ou seja, que dê sentido prático às decisões tomadas no debate político. É com esta ideia que concluo a presente mensagem.
Saudações petistas.
Silvio Melgarejo
21/03/2015
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