domingo, 15 de março de 2015

Dia 13 e os próximos passos. A internet é a nossa mídia.

A mobilização do dia 13 de março pode ser considerada um sucesso se tomada como ponto de partida para se chegar a mobilizações maiores.

Os objetivos declarados pelos manifestantes nas ruas exigem, evidentemente, um acúmulo de forças muito maior, em novos e reiterados atos, para serem alcançados.

13 de março tem que ser só o começo, o primeiro passo, o dia da arrancada para a mobilização nacional dos trabalhadores contra o golpe e em defesa das reformas democratizantes, dos direitos sociais e da Petrobras.

A CUT, o MST, a UNE e demais entidades fizeram a sua parte, com este movimento inicial.

É hora agora de o PT organizar os seus mais de 1,5 milhão de filiados e prepará-los para engrossar os próximos atos.

Mas como organizar o partido? Isto é o que precisa, a meu ver, ser discutido e decido, com a maior urgência, pelos petistas.

Porque quanto mais tardia for a reação ao avanço das forças conservadoras, mais difícil será detê-las e impedir que alcancem seus intentos.

Eu defendo a organização dos filiados do PT em comitês de bairro, que sejam criados, mantidos e dirigidos pelos diretórios zonais ou municipais.

Cada diretório deve organizar o seu cadastro, classificando os filiados de sua base por bairro, logradouro, CEP, edificação e unidade habitacional, atualizando dados para contato, como endereço, telefone e e-mail.

Este cadastro deve ser o instrumento principal para a criação dos comitês de filiados por bairro.

Os comitês não devem ser pontos passivos de convergência de filiados e, sim, núcleos irradiadores de informação e de energia mobilizadora.

Para tanto, devem construir, como instrumentos de sua ação, redes que permitam a comunicação permanente entre comitê e filiados e entre cada filiado e os demais residentes no seu bairro.

Estas redes devem usar todas as formas possíveis de comunicação, como a internet, o telefone, o SMS, a carta, a visita domiciliar e os encontros presenciais.

As redes de comunicação dos comitês de bairro interligadas formariam redes de comunicação zonais e municipais, que permitiriam o comando centralizado de ações coordenadas envolvendo o conjunto dos comitês.

Os comitês de filiados por bairro e suas respectivas redes de comunicação seriam como tijolos de uma construção, que é a unidade de objetivos e de ação do partido nas ruas de todo o país.

Forjar os comitês de bairro, como tijolos, para serem usados nesta construção é o primeiro passo que o partido precisa dar para organizar os seus membros.

E a organização pode ser o fator decisivo para o que o partido tenha condições de alcançar a vitória sobre os inimigos de suas causas.

Porque a desorganização que reina hoje no PT dispersa os filiados e pulveriza o partido, enfraquecendo-o, enquanto a organização, ao contrário, quando houver, terá o poder de concentrar os filiados, dando ao partido coesão, capacidade de coordenação e força na ação coletiva.

É hora de o PT começar a fazer a sua parte, na construção da unidade nacional dos trabalhadores para a luta de classes, organizando a sua base de filiados, para botá-la em movimento no trabalho cotidiano de organização e mobilização dos trabalhadores, nos bairros de cada cidade deste país.

É hora de multiplicar, de transformar dezenas em centenas, centenas em milhares e milhares em milhões de cidadãos nas ruas, em defesa da democracia e das reformas necessárias para o seu avanço e para o avanço da justiça social no Brasil.

A organização do partido nos bairros, através da criação de comitês pelos diretórios zonais e municipais, é o melhor caminho para organizar o partido e dar chance a todos os filiados de participarem da sua democracia interna e de contribuírem na luta pela conquista dos seus objetivos.

Quem se filia ao PT o faz porque quer contribuir com algo além do voto.

O filiado do PT quer ser mais do que apenas eleitor.

Quer ser militante, oferecer ao partido o seu tempo, sua energia física e intelectual e algo de seus recursos materiais e financeiros.

O dever dos dirigentes partidários é exatamente corresponder à expectativa destes filiados, dando-lhes a chance que desejam de serem úteis às causas do PT que eles também abraçam.

E os comitês de bairro podem permitir que os dirigentes do PT cumpram esta missão.

Mas para isso é preciso que estes dirigentes tenham disciplina.

Quando o PT conseguir botar os seus dirigentes zonais e municipais prá fazer trabalho político e organizativo permanente junto às suas bases de filiados, o partido vai, finalmente, começar a se preparar para ser uma organização realmente militante, voltada para a ação coletiva nas ruas.

Neste momento, o poder indutor da organização e mobilização das massas, pela ação concentrada dos mais de 1,5 milhão de filiados do partido, poderá ser finalmente demonstrado na prática.

Quanto maior o volume e o peso de um objeto, maior a onda que ele provoca quando se move na água, ou maior o deslocamento de ar, quando se move no espaço.

Só um partido de massas, como o PT, é capaz de mobilizar massas maiores ainda, desde que tenha organização e disciplina.

Organizar e mobilizar o partido para que o partido organize e mobilize os trabalhadores nos bairros, esta deve ser a estratégia do PT para construir a unidade de ação dos trabalhadores em todo o país contra o golpe e em defesa das reformas democratizantes, dos direitos sociais e da Petrobras.

Só desta maneira o partido poderá dar uma contribuição realmente relevante para a continuidade do esforço iniciado no dia 13 de março pela CUT, pelo MST, pela UNE e demais entidades que participaram daqueles atos.

Que os dirigentes do nosso partido tenham consciência do papel decisivo que lhes cabe cumprir e que assumam efetivamente as suas responsabilidades sem hesitações e sem adiamentos.

A guerra já começou.

Falta ao PT preparar-se adequadamente para enfrentá-la e vencê-la.

Não há mais tempo a perder.

Ilude-se quem pensa que a burguesia e a direita vão nos dar trégua.

Não vão.

Este ano todo, o PT e o governo Dilma serão bombardeados incessantemente por forças políticas que têm o claro objetivo de destruí-los.

A militância do PT precisa, por isso mesmo, incorporar, urgentemente, o tema da organização partidária à sua pauta de debates nas redes sociais, como uma questão prioritária, vital para a sobrevivência do partido e do governo Dilma e para o avanço da luta por mais democracia e justiça social.

O debate sobre a organização partidária não pode mais ficar confinado às reuniões dos diretórios, que são isoladas entre si e costumam ter baixíssima frequência.

Este debate tem que envolver todos os petistas e tem que ser amplo, público, aberto, sem censura, como sempre foram os debates do PT sobre suas questões internas.

Não se organiza um partido de massas sem usar uma mídia de massas que permita fluxo intenso e permanente de informação, entre o maior número possível de pessoas e no mais amplo possível espaço geográfico.

Esta mídia hoje é a internet com suas redes sociais.

É nas redes sociais, que ligam filiados de norte a sul e de leste a oeste do país, que a militância do PT deve se encontrar para apresentar propostas, relatar experiências e exercer livremente a reflexão crítica.

Se os diretórios são fóruns locais, as redes sociais são fóruns nacionais de debates entre petistas.

Constituem, além disso, quase sempre, os únicos canais de comunicação existentes entre filiados e simpatizantes residentes em estados diferentes ou até num mesmo bairro, já que mesmo sendo vizinhos, muitos filiados do partido sequer se conhecem.

É hora de pensar na organização do PT e de falar sobre este tema exaustivamente, para que do debate amplo e democrático surja o consenso quanto ao que fazer e como fazer, assim como a decisão de entrar em ação para botar os planos traçados em prática.

Num só lugar pode a multidão de filiados dispersa se encontrar,  discutir e decidir o que fazer para deixar de ser dispersa e agir como um só corpo.

Este lugar é a internet com suas redes sociais.

É nas redes sociais, e só nelas, que se poderá criar um movimento coletivo capaz de influenciar as decisões dos diretórios, que hoje só abrigam minorias, para tornar o partido aquilo que ele deve e precisa ser hoje: uma poderosa máquina de organizar e mobilizar multidões de trabalhadores para a luta de classes.

“A mais importante lição que o trabalhador brasileiro aprendeu em suas lutas”, diz o Manifesto de Fundação do PT, de 1980, “é a de que a democracia é uma conquista que, finalmente, ou se constrói pelas suas mãos ou não virá”.

Pois o PT nasceu, exatamente, para ser uma ferramenta  dos trabalhadores a serviço desta construção, que é a democracia social e política, mais conhecida como socialismo democrático.

Mas à medida que o trabalho avança e as circunstâncias impõem mais graves desafios, esta ferramenta precisa ser aperfeiçoada para ser capaz de ser útil na realização de novas e mais difíceis tarefas.

Pois as tarefas que hoje estão colocadas para os trabalhadores na luta de classes exigem que o PT seja um partido muito mais organizado e disciplinado do que já foi em toda a sua história.

O PT precisa hoje revolucionar-se administrativamente para robustecer e dar vitalidade à sua democracia interna e para se tornar capaz de realizar uma estratégia política que tenha como eixo principal a mobilização das massas trabalhadoras contra a burguesia e a favor da ampliação crescente da democracia social e política do país, no rumo do socialismo democrático.

O dia nacional de luta da última sexta-feira, 13 de março, foi um bom primeiro passo da esquerda democrática numa caminhada que, em verdade, não irá muito longe sem a participação do PT, que é o seu maior partido.

Não deste PT pequeno e frágil, medroso e preguiçoso, apático e hesitante que cochila nos diretórios.

Mas do PT grande e vigoroso, valente e disposto, vibrante e decidido que está pulverizado em 1,5 milhão de fragmentos que são os seus filiados dispersos pelo país, ansiosos por serem convocados para atuarem nas frentes de batalha.

É este PT, que está fora dos diretórios, vagando pelas redes sociais, que precisa ser organizado para ganhar coesão e capacidade de atuar coletivamente nas ruas, de forma coordenada.

A força de um partido está na organização e disciplina dos seus membros e no funcionamento pleno e regular de sua cadeia de comando.

Pois é isto que o PT precisa perseguir para ser um partido forte. Impor disciplina aos seus dirigentes, para que eles realizem o trabalho para o qual foram eleitos, que é fazer funcionar os seus diretórios e organizar a base partidária.

Enquanto o PT não tomar esta decisão, vai continuar sendo uma organização incapaz de atingir os seus fins, com sua direção inoperante e uma base pulverizada, um partido, enfim, cuja força não corresponde, nem de longe, ao seu tamanho.

O PT é grande, é hoje o segundo maior partido em número de filiados.

Mas precisa ser forte para ser capaz de influenciar o processo político do país.

Forte no parlamento, onde ainda tem baixa representação – 13,65% das cadeiras da Câmara Federal e 14,81% das cadeiras do Senado – e força nas ruas, de onde tem estado ausente há mais de uma década, pelo menos.

O fortalecimento do PT no parlamento depende do aumento do seu número de deputados e senadores e isto só poderá acontecer nas próximas eleições, em 2018.

Já o fortalecimento do PT nas ruas depende da organização do partido nos bairros, e isto pode e deve ser feito imediatamente, com a criação dos comitês de filiados pelos diretórios zonais e municipais.

A única possibilidade de o PT evitar a sua própria destruição e a derrota do seu governo, seja por via do golpe de Estado, seja pela sabotagem sistemática de suas iniciativas pela direita, é fazer das ruas o palco principal de suas ações, organizando os seus filiados para que eles organizem a classe trabalhadora nos bairros.

Para deter o avanço do conservadorismo golpista, vencê-lo e conseguir avançar na realização do projeto iniciado por Lula, o PT não pode mais contar apenas com a coalizão parlamentar que tem mantido, em estado de crescente apodrecimento.

É preciso construir uma forte coalizão social que tenha como núcleo a classe trabalhadora organizada nos bairros, nos sindicatos, nas associações camponesas e nas demais entidades do movimento social.

O maior partido de esquerda do país não pode mais ser apenas um partido de ações eleitorais, parlamentares e governamentais, tem que ser antes e sobretudo um partido indutor, organizador e dirigente de grandes manifestações populares.

Porque o caminho para a conquista do socialismo democrático é a radicalização da democracia e a democracia só se radicaliza quando a classe trabalhadora avança no controle do Estado, seja através da conquista de mandatos em governos e parlamentos pelos seus partidos, seja através da influência exercida sobre os eleitos com a realização de comícios, passeatas, greves e outras formas de manifestação legítimas da vontade coletiva.

Vejo agora as notícias e imagens do dia nacional de luta dos golpistas e elas mostram exatamente aquilo que venho dizendo aqui e em outras mensagens recentes que postei nas redes sociais. A guerra já estava declarada, a direita veio agora com tudo e não vai nos dar trégua, vai tentar derrubar o governo Dilma e, se possível até, cassar o registro do Partido dos Trabalhadores.

Petistas, acordem.

A unidade que precisamos não é na acomodação aos erros clamorosos que tem sido cometidos pelo PT e pelo governo Dilma e que permitiram que a situação chegasse até este ponto que chegou.

Os petistas precisam se unir para corrigir seus erros, que não são evidentemente, aqueles erros apontados pela oposição.

Nós erramos porque não vemos e não tratamos o PT como uma organização, ou seja, como uma unidade social deliberadamente constituída para atingir algum objetivo.

O PT é uma organização e toda organização, independentemente  dos fins a que destine, precisa de administração, ou seja, precisa de planejamento, organização, disciplina na ação e monitoramento do desempenho e dos resultados de cada ação para as devidas correções de planos ou da forma de executá-los.

Se continuarmos cometendo este erro, vamos ser dizimados.

Só com administração será possível transformar 1,5 milhão de petistas filiados dispersos numa unidade coletiva forte e coesa capaz de influenciar o processo político do país – influenciar, inclusive, o próprio governo e a bancada petista no parlamento –, deter o golpe e dar sustentação a Dilma para que ela lidere a continuidade do avanço da democracia e da justiça social no país.

O maior partido de esquerda do Brasil, que é o PT, tem que ser tão bem administrado quanto o maior partido de direita, que é a Globo. Porque se não for, vai ser derrotado por ela.

Não basta ter uma boa estratégia de luta, a estratégia correta. Para vencer o inimigo é preciso ser capaz de fazer o melhor uso possível dos próprios recursos na implementação dessa estratégia.

E é este, exatamente, o maior problema do PT. Não administrar corretamente os seus recursos.

Há quem diga que o problema real é a estratégia errada.

Pois eu digo que estratégia nenhuma pode ser bem sucedida se não houver emprego correto dos recursos do partido.

Se a cadeia de comando formada pelos diretórios não funcionar e se a base partidária não estiver organizada, vai acontecer sempre o que aconteceu em 2013. O presidente do PT convocou uma Onda Vermelha e o partido não conseguiu fazer mais que uma marola.

Força política, companheiras e companheiros, é algo que não resulta apenas da quantidade de apoios que se tem. É algo que depende, sobretudo, da organização e da mobilização destes apoios.

A direita golpista se organizou e está conseguindo, neste dia 15 de março, mostrar uma notável capacidade de mobilização dos seus apoios. E o oligopólio da mídia, liderado pelas Organizações Globo, está tendo um papel fundamental na realização destes protestos.

Contra o poder de organização e mobilização do oligopólio da mídia, nenhuma outra força poderá se contrapor senão a do poder de organização e mobilização de um partido de massas.

O PT precisa ser para a esquerda aquilo que a Globo tem sido para a direita: um partido indutor, organizador e dirigente de grandes manifestações de rua.

E se a Globo tem o rádio e a TV como mídias, a mídia principal do PT só pode e deve ser a internet.

Repito, para encerrar, o texto que postei no Facebook no dia 11 de março, em que dizia:

“SE HOUVESSE UM GOLPE HOJE, não haveria reação capaz de detê-lo, porque a esquerda e as massas estão, como em 64, inteiramente desorganizadas.

Jango tinha 70% de aprovação ao seu governo quando foi deposto, muito mais do que tem Dilma hoje.

O povo não queria o golpe, mas não teve força para evitá-lo porque faltava organização que permitisse a implementação de qualquer ação coletiva realmente significativa de resistência.

A esquerda brasileira não aprendeu com seus erros do passado e, graças a isto, caminha a passos largos para mais uma derrota histórica.

Ou o golpe virá ou Dilma sangrará junto com o PT até 2018.

A não ser, é claro, que a direção do PT e sua vanguarda acordem já para a necessidade da organização e da disciplina partidária como condições para que o PT possa assumir definitivamente o papel fundamental de indutor, organizador e dirigente das mobilizações populares contra o avanço dos golpistas. Porque se esta consciência continuar nos faltando como agora, a derrota será praticamente inevitável, como foi inevitável em 64.

Sem comando, organização e disciplina, o PT não conseguirá resistir ao golpe.”


Saudações petistas.

Silvio Melgarejo

15/03/2015

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