(Resposta ao comentário de minha irmã, Glória Melgarejo, a respeito de um vídeo postado no Facebook. Reproduzo o comentário e o vídeo logo abaixo do meu texto)
1) Você pode até encontrar quem não seja de classe media, mas a classe media é, sim, majoritária.
2) A Baixada também tem uma pequena-burguesia, uma classe media, quem disse que não?
3) Não disse que aprovo o modo como agiu a polícia. Disse que a polícia agiu como sabe agir, como sempre agiu. É passível de críticas. Mas quem há de dizer que, à ação errada, preferiria a omissão da polícia?
4) Num Estado burguês, precariamente adaptado à democracia, como é o nosso, a polícia é guardiã do patrimônio, mais que dos direitos humanos. Prá mim, não houve desrespeito aos direitos humanos, neste caso. Mas ela de fato foi acionada com o objetivo de proteger o patrimônio público e privado que estava sendo alvo de vandalismo.
5) Todo movimento social pacífico está sujeito a infiltração de provocadores e de grupos predispostos à violência e à desordem. Se o movimento não for capaz de exercer sua própria ação policial interna, inibindo ou rechaçando os invasores, será, fatalmente, alvo da ação policial do Estado, que reprimirá violentamente a todos os manifestantes indistintamente. O movimento, portanto, que chama a massa prá rua e não trata de sua própria segurança interna, paga sempre um preço alto por esta sua negligência ou incompetência. Pacíficos, na luta social, também têm que saber usar a força prá se defender.
6) As recentes manifestações estiveram apinhadas de extremistas de esquerda e direita, pitboys de classe media e setores populares marginais. Uns acham que destruir patrimônio alheio é ato revolucionário. Outros têm a violência como filosofia de vida. Há os que extravasam a revolta que têm contra a vida, os que gostam de sentir a adrenalina. E há os oportunistas, que vão preparados pro saque. A Globo diz que é uma minoria. Mas a verdade é que não são poucos. A própria Globo tem mostrado imagens de bandos de centenas em movimento, enfrentando as polícias e destruindo as cidades. Poucos não teriam o poder de fazer tanto estrago e dar tanto trabalho a tantos policiais.
7) Pois aqui no Rio estes extremistas e bandidos misturaram-se à multidão, fazendo dela uma trincheira, de onde desferiam ataques, e um esconderijo, onde se refugiavam da repressão. Se a massa os expelisse, seria, provavelmente, poupada do ataque policial. Como não o fez, sofreu a repressão. De fato, não havia como conter ou prender os manifestantes violentos, sem atingir os pacíficos, já que aqueles abrigavam-se entre estes.
8 ) Eu não estava lá, é verdade. Mas vi uma porção de vídeos que estão rolando na internet. Uma multidão caminhou pela Presidente Vargas até o prédio da prefeitura e lá fazia um ato. O vídeo que vi, pega os manifestantes de costas e a uma certa distância. De modo que não dá prá ver o que houve lá na frente. A agressividade de setores do movimento já tinha se mostrado na Assembléia Legislativa, portanto, não duvido que tenha havido provocações e agressões aos policiais, e até ameaças de invasão do prédio. De repente, começa uma chuva de bombas e a correria. A partir de então começa um confronto entre policiais e manifestantes. Chega a cavalaria e forma uma linha, junto com o choque, prá empurrar a multidão na direção da Candelária. Acho que foi essa sucessão dos fatos, pelo que vi nos vídeos.
9) A autoridade policial se baseia na lei e na prerrogativa do uso da violência para fazer cumprir a lei. A lei estava sendo descumprida não por meia dúzia de infiltrados, mas por uma multidão abrigada dentro de uma multidão maior. Com todas as suas imensas e conhecidas limitações, a polícia carioca agiu com a máxima firmeza, para impor a própria autoridade - que vinha sendo afrontada - e restabelecer a ordem, como manda a lei. Cometeram excessos e até, possivelmente, ilegalidades, pelas quais policiais e o próprio Estado terão que responder, criminal e politicamente. Mas cumpriram a missão de botar um ponto final na bagunça em que se transformou a manifestação. Não era uma situação fácil prá polícia.
10) A repressão foi até a Praça Paris. Vi um vídeo com cenas de lá. Aparentemente a Secretaria de Segurança estabeleceu um perímetro em torno do Centro, e mandou a tropa limpar a área. Teria sido uma espécie de toque de recolher. Morador do Centro, posto prá dentro de casa; visitantes, expulsos do bairro. O Centro foi isolado.
11) A prefeitura informou que 62 feridos deram entrada no Souza Aguiar, nenhum em estado grave. Só três precisaram ficar internados. Destes 62, 8 eram guardas municipais. Isso reforça minha avaliação de que a ação policial foi mais barulhenta do que violenta. 62 feridos, numa manifestação de centenas de milhares, é muito pouco, não dá prá se considerar um massacre, uma chacina. Se você considerar que o número de policiais era infinitamente menor do que o de manifestantes, e que o número de manifestantes violentos poderia ser equivalente ao número de policiais que eles hostilizavam, acho que 62 feridos, sem gravidade, é um balanço até positivo prá polícia. Não morrer ninguém, num confronto violento como aquele, envolvendo tanta gente, é, prá mim, um milagre.
12) Tenho, por hábito, me botar no lugar dos outros, prá julgar sua conduta. Eu sei o que sente uma vítima da repressão policial a um movimento social, porque tenho a experiência de atuar no movimento social. Sentem mais os mais sensíveis, e os mais sensíveis são os menos habituados a conviver com situações de elevado stress, como são estas que se vê nos vídeos. Lamento pelas vítimas, mas tenho certeza de que a maioria saiu fisicamente ilesa. Foi mais um susto, o que sofreram. Aqueles policiais não saíram, certamente, às ruas com ordens prá matar ou machucar ninguém. Foram para espantar pessoas e dispersar uma multidão sem organização e sem comando, que estava servindo de esconderijo e de trincheira prá centenas bandidos.
13) Me coloco no lugar dos policiais. Sei que, também entre eles, os bandidos são minoria. Tento me imaginar no lugar de um policial do bem, um operário da segurança pública, que recebe a missão de ir prá rua controlar uma multidão em fúria. Não é uma tarefa fácil. Polícia também deve ter medo. E controlar o medo é muito difícil quando se está sob ameaça. O descontrole de um policial armado, despreparado e apavorado, já deu ensejo a um sem número de tragédias. Aqui, os nossos policiais são mesmo despreparados e não são treinados numa cultura de respeito aos direitos humanos. E, ainda assim, mesmo durante os confrontos mais violentos, eu não vi, francamente, nenhum descontrole. Usaram, a meu ver, a força, com método e consciência. Dada a dimensão monumental dos eventos e a quantidade de participantes agressivos atuando dentro deles, acho que nem a melhor polícia do mundo teria tido uma atuação muito melhor do que a nossa.
14) A lição que deve ficar para os debutantes da cidadania é a seguinte. Movimento social não é pic-nic, não é brincadeira; é luta. Não basta encher a rua de gente, tem que organizar e dirigir a massa; senão dá a merda que deu. Organizar muita gente é difícil e dá trabalho prá cacete. Que o digam os diretores de harmonia das escolas de samba. O Facebook é bom prá convocar, mas não ajuda a organizar nada. Sem organização, a multidão não tem controle; e multidão descontrolada é risco certo de tragédia. Felizmente aqui no Rio não houve nenhuma tragédia, sobrevivemos todos ao terremoto. Aí eu te pergunto. Graças a Deus, ao acaso ou à polícia?
***
O comentário de minha irmã, Glória, e o vídeo que ela compartilhou sobre o protesto do dia 20.
"Este vídeo é bem esclarecedor sobre o que ocorreu em 20 de junho de 2013 no Rio de Janeiro. Tem cerca de 21 minutos de duração, mas vale a pena “perder” um tempinho para assisti-lo. Perguntas ficam no ar. São muitas, mas exponho aqui algumas que me vêm de pronto. São elas:
1) Um (eu disse um!) indivíduo começa a incitar a PM. Os manifestantes gritam, apoiando seu afastamento. Por que a polícia simplesmente não prendeu o sujeito e, em vez disso, optou por atacar todos os presentes indiscriminadamente?
2) Por que os ataques policiais continuaram, quando as pessoas sentaram-se no chão e pediram que a violência parasse?
3) Por que apagar as luzes da Presidente Vargas? Isso é proteger a população? Quem quer agir corretamente não prefere fazê-lo às claras? Bom, segundo um dos manifestantes que aparecem no vídeo, a resposta é simples: “Eles apagaram as luzes porque querem ocultar tudo o que eles fazem.”
4) Cercar pessoas que só querem voltar para suas casas, impendido-as de exercer o seu tão lembrado ultimamente direito de ir e ir, é protegê-las?
5) Policiais sem identificação. Por quê? Isso está certo?"
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.