quinta-feira, 11 de agosto de 2016

Sem partido, nenhuma estratégia de luta é viável.

Sem mídia e sem partido, o petismo tem se mostrado absolutamente impotente para reagir aos golpes que tem sofrido na luta de classes. A força do ideal genuíno sucumbe à incapacidade flagrante de construir meios para lutar por sua realização efetiva. Construção exige trabalho e é tristemente irônico que faltem braços, como se constata, para construir o Partido dos Trabalhadores. O petismo até hoje não entendeu que sem meios adequados para a luta, todo combate termina em derrota e que se na guerra, o meio próprio para o combate chama-se exército, na política este meio é o partido. 

O petismo é uma nação de milhões que renunciou e segue renunciando à construção do seu exército, embora fale o tempo todo de luta. Só que retórica que não se materializa em ação de massas não basta para se conquistar e preservar democracia e direitos, muito menos para se fazer revolução socialista. Sem mídia e sem partido, milhões de petistas dispersos, como átomos soltos no espaço, não conseguem formar um corpo, mantém-se uns dos outros distantes, incomunicáveis, desorientados, impossibilitados de somar as energias que os mantém em permanente e solitária agitação para a realização de qualquer ação conjunta de impacto social e político equivalente à soma das forças de todos. Há uma vaga consciência geral de que isto ocorre, mas também um forte conformismo e o conformismo é uma atitude essencialmente conservadora.

Repito o que venho dizendo a alguns anos. O partido está para a luta política, assim como o exército está para a guerra. Não se atinge o objetivo político sem um partido, como não se atinge o objetivo militar sem um exército. O partido é o instrumento da ação política daqueles que o constituem para realizar algum projeto. Por isso eu considero que a construção do PT e a administração dos seus diretórios - que são as unidades combatentes do partido - devem ser as principais preocupações e as principais ocupações dos petistas e que descuidar destas tarefas é renunciar na prática a qualquer possibilidade de ver realizado o projeto petista de conquistar o poder político e construir no Brasil o Socialismo Democrático.

Tenho a mais absoluta convicção de que não é por falta de gente disposta a lutar que a resistência ao golpe não é maior do que tem sido. É por erros de estratégia das direções do movimento contra o impeachment, mas também e sobretudo por falta de um partido que organize e comande as ações da numerosa reserva militante petista, que sempre esteve pronta para o combate e nunca foi convocada, mantendo-se ociosa, à margem da luta. E esta reserva militante não foi e não tem sido convocada porque o PT, como organização, é uma ficção que só existe no estatuto e nas resoluções dos congressos e encontros nacionais do partido. Na vida real estes documentos são permanentemente ignorados. As direções partidárias não sabem o que é "trabalho de base", não sabem o que é "dever" e "disciplina", permitem e permitem-se negligenciar impunemente o cumprimento das obrigações mais elementares, razão pela qual, da maioria das instâncias, pode-se dizer, sem exagero, que são diretórios fantasmas.

O PT, como organização, não vive, apenas vegeta. É um corpo fragilíssimo, cuja alma tem sido a burocracia indisciplinada e negligente que o governa. O petismo, como doutrina, jaz, qual letra morta, no Estatuto e nas resoluções dos congressos e encontros. E o petismo, como movimento social, que deveria ser a verdadeira alma do PT como organização, não pode se-lo por estar fora do partido e do partido desvinculado, em razão da inatividade das instâncias em que poderia expressar-se e da surdez dos dirigentes, quando a eles se fala através de outros canais, como a internet. Há um verdadeiro abismo entre PT e petismo que precisa ser, em primeiro lugar, reconhecido pelos petistas para, depois, ser superado, afim de que o PT recupere sua vocação revolucionária original e seu potencial como agente transformador da sociedade.

O PT é uma organização e toda organização precisa cumprir 4 condições para alcançar seus objetivos. A primeira é definir as ações que realizará para atingir estes objetivos e os recursos que usará na execução destas ações. Isto se chama planejamento. A segunda é determinar o papel que cada membro do partido deve desempenhar nas ações planejadas e a forma como os meios necessários para a execução de suas tarefas serão distribuídos. Isto se chama organização. A terceira é a orientação e motivação de cada membro do partido no momento da execução de cada ação planejada. Isto se chama liderança, direção ou comando. E a quarta é a avaliação permanente da execução de cada ação, com a possibilidade de recomendações de ajustes ou mudanças. Isto se chama controle. Tudo isso junto - planejamento, organização, comando e controle - chama-se administração. E nada disso, infelizmente, o PT tem, por isso o partido não funciona e não transforma a quantidade imensa de filiados e simpatizantes que tem numa unidade coletiva ampla e rígida, com força política concentrada e dirigida para a luta por seus objetivos na sociedade.

Ano passado, o jornalista Luís Nassif disse que o petismo é uma militância sem partido e ele está coberto de razão. Porque as únicas coisas que a militância petista realmente tem são a paixão pelo ideal de uma sociedade mais justa e uma legenda eleitoral com sua sigla e bandeira. Mas, partido, a militância petista não tem e por isso permanece atomizada, fragilizada e impotente. O PT corre, assim, o sério risco de morrer por absoluta falta de vontade de viver como organização, com planejamento, organização, comando e controles capazes de garantir o funcionamento pleno e permanente da sua democracia interna e a efetividade do seu poder de ação coletiva no cotidiano das ruas. Uma organização que seja capaz de dar aos milhões de petistas que vivem como átomos soltos na sociedade a possibilidade de se juntarem para formarem um só corpo e somarem forças na luta por seus objetivos comuns. Para conciliar com a burguesia, ninguém precisa de partido organizado e mobilizado. Mas para lutar contra a burguesia, um partido assim é indispensável. Porque, sem partido organizado e mobilizado, nenhuma estratégia de luta coletiva é realizável e todo ideal político acaba fatalmente morrendo no discurso.

Há, hoje, um golpe de Estado em curso e a clara possibilidade deste golpe dar origem a uma ditadura. O que o PT tem pela frente, ao que tudo indica, não serão mais apenas disputas políticas num ambiente relativamente democrático, como o que tivemos até agora, mas batalhas de vida e de morte sob um regime político autoritário que cada vez mais vem se impondo. Os inimigos da classe trabalhadora querem, porque precisam, da morte do Partido dos Trabalhadores. É com a disposição de nos aniquilar que partirão para cima de nós se assumirem a presidência da república. E a sobrevivência do PT a estes ataques, assim como a possibilidade do partido mobilizar uma contraofensiva popular e democrática, dependerão fundamentalmente da capacidade que o partido tenha de mobilizar todo o potencial humano e material da sua base de quase 2 milhões de filiados. O PT precisa, mais do que nunca, organizar e mobilizar esta base para a luta em defesa da democracia e dos direitos que estão sob ameaça. Mas para organizar e mobilizar a base é preciso que a cadeia de comando do partido funcione e que cumpra os deveres que o estatuto do partido lhe atribui.

Por isso é urgente que haja uma radical mudança de atitude da militância petista em relação aos seus diretórios. Os diretórios tem que começar a ser rigidamente cobrados. Porque os diretórios, principalmente zonais e municipais, por serem os últimos elos da cadeia de comando do PT, são os maiores responsáveis pela organização e mobilização das bases de filiados das suas respectivas jurisdições. São tempos de guerra que estamos vivendo e que teremos pela frente, nos quais a negligência quanto ao funcionamento de unidades combatentes, como os diretórios zonais e municipais, constitui atitude, mais que temerária, verdadeiramente suicida. Não se ganha guerra nenhuma sem um exercito adequadamente montado, adestrado e equipado. Não basta que os generais tenham em mente a melhor estratégia e as melhores táticas, é preciso que disponham dos meios necessários para botá-las em prática. E os meios são os recursos humanos e materiais do seu exército. No nosso caso, os recursos do partido.

Por isso, senhoras e senhores membros de diretórios, cobrem-se uns dos outros. Por isso, senhoras e senhores filiados de base, cobrem dos seus diretórios. A vida e força de um partido de esquerda dependem da constância e vigor da atividade dos seus membros e do funcionamento pleno e regular das suas instâncias dirigentes. O PT precisa que nos mantenhamos uns aos outros ativos. O partido apenas vegeta se nos acomodamos e nos permitimos ficar inativos, se negligenciamos o cumprimento dos nossos deveres e se nos omitimos ante as negligências que vemos. A guerra contra a ditadura que temos pela frente só poderá ser vencida se antes declararmos guerra e vencermos a acomodação do petismo quanto à falta de um partido que lhe dê organização, comando e meios para lutar. Dirigente tem que ter disciplina, senão nada no partido funciona. E cobrar dos dirigentes o cumprimento dos seus deveres é um direito político e estatutário inalienável, mas também um dever de todo filiado do PT. Sem o exercício deste dever e direito, não se pode dizer que haja democracia partidária.

É hora de preparar o PT para a guerra, que já começou e na qual já temos sofrido derrotas, porque guerra é luta coletiva e sem partido, nenhuma estratégia de luta coletiva é viável. Sem partido, os ideais do petismo morrerão no discurso.

Silvio Melgarejo

11/08/2016

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