quarta-feira, 4 de maio de 2016

Eleição é contragolpe que pode mobilizar a classe trabalhadora e botá-la na ofensiva contra a direita e seu projeto.

O objetivo da esquerda e do PT deve ser derrotar o golpe e derrotar o golpe significa impedir que ele atinja o seu objetivo. O objetivo do golpe contra Dilma não é a destituição da presidenta, nem a antecipação da eleição presidencial. O objetivo do golpe é a tomada do poder à revelia do povo, ou seja, sem passar pelo crivo das urnas. Isso é que muita gente ainda não conseguiu entender e por isso rejeita a proposta de antecipação da eleição presidencial, como se esta antecipação fosse o objetivo da direita. Não é. O objetivo é tomar o poder.

Outra coisa que muita gente parece não estar se dando conta é que a atual estratégia de luta não está impedindo que o golpe avance. O processo de impeachment está em curso, mas é viciado, já tem resultado contratado entre burguesia, Senado e Supremo, e não poderá ser detido porque a mobilização contra o golpe continua restrita à pequena burguesia, como já reconheceu João Pedro Stédile e como já comprovaram, com pesquisas, os institutos Datafolha e DataPopular. A imensa maioria da classe trabalhadora, o povão, a massa das chamadas classes C, D e E, está completamente alheia à atual polarização política, que considera uma briga entre gente da elite.

Estes trabalhadores não têm a mesma consciência democrática que a pequena burguesia de esquerda e por isso não estão nem aí para o golpe. Eles só se importariam e se moveriam se soubessem como a Ponte para o Futuro, de quem quer suceder Dilma, pode afetar concretamente às suas vidas. O problema é que não sabem. E não sabem porque a esquerda não tem mídia para dialogar com a massa trabalhadora, enquanto a direita mantém um controle absoluto sobre as rádios e TVs do país que lhe permite disseminar sistematicamente a sua propaganda política.

A defesa que eu faço da eleição é exatamente porque em toda eleição presidencial abre-se na mídia da direita uma janela de oportunidade para que a esquerda dialogue com as massas, através da propaganda eleitoral obrigatória. É a partir deste diálogo e confrontando o nosso programa de governo com o programa de governo da direita, que nós vamos dar motivos à classe trabalhadora para se juntar à pequena burguesia de esquerda que já está nas ruas, em defesa da democracia e em defesa da continuidade do projeto iniciado em 2003, com Lula.

Evidentemente, vamos ter que explicar aos 54 milhões de eleitores da Dilma porque ela resolveu abandonar o programa que defendeu na campanha de 2014 e implementar o programa do Aécio. Foi ou não foi uma traição? Vai ou não vai ter gente de pé atrás, quando dissermos que “não foi bem assim” ou que “da próxima vez vai ser diferente”?

Falar em eleição agora é estar sintonizado com o pensamento da maioria dos trabalhadores. Afinal, 62% querem votar para a eleição de um novo presidente, segundo pelo menos dois institutos de pesquisa: Ibope e VoxPopuli.

Na luta de classes, diante de cada circunstância é preciso definir objetivos e os meios para alcançá-los. Avaliar mal as circunstâncias e fazer as escolhas erradas é quase sempre caminho para a derrota.  No caso do golpe, estamos insistindo numa batalha perdida, que é tentar evitar o impeachment. Essa bandeira não mobiliza as massas e por isso não tem chance de levar à vitória. A bandeira que mobiliza é a luta pela eleição direta para presidente, porque corresponde ao anseio da maioria, registrado pelos institutos de pesquisa.

Qual o sentido de lutar por lutar? O sentido de toda luta é o objetivo de alcançar a vitória e não se alcança a vitória lutando com uma estratégia errada, concebida com desprezo pelas circunstâncias reais em que a luta se dá. Há várias formas de luta e quem quer a vitória tem que ser capaz de escolher a que melhor responde às circunstâncias. A luta de classes se dá na sociedade e nas instituições do Estado e o partido socialista da classe trabalhadora tem que ser capaz de atuar com a mesma competência e bravura nestes dois níveis de forma combinada, buscando sempre fazer com que luta social e luta institucional se potencializem mutuamente. Não há que se ter preconceitos quanto a formas de luta ou frentes de batalha. Já citei recentemente mas, como parece que alguns não leram, repito o que disse Lenin:
“A crítica - a mais implacável, violenta e intransigente - deve dirigir-se não contra o parlamentarismo ou a ação parlamentar, mas sim contra os chefes que não sabem - e mais ainda contra os que não querem - utilizar as eleições e a tribuna parlamentares de modo revolucionário, comunista. “ (Lenin: Esquerdismo, a doença infantil do comunismo)
A eleição pode servir à revolução se dela participarmos de modo revolucionário. Se o que nos falta hoje é mídia para dialogar com as massas e mobilizá-las para a luta e se a antecipação da eleição nos dá essa mídia de que precisamos, por que rejeitar a eleição? Para nos mantermos apartados das massas e, abraçados a um mandato presidencial perdido, assistindo impotentes ao advento de uma ditadura civil de direita?

Por que acham, os companheiros, que Globo, Temer e Romero Jucá se opõem à antecipação da eleição presidencial, chamando-a de golpe? Porque uma eleição abortaria a posse do vice golpista e permitiria que a esquerda conquistasse um novo mandato presidencial, dando sequência ao de Dilma, que terá sido abreviado.

O que diremos aos trabalhadores brasileiros e ao mundo, se a eleição for antecipada? É simples. Diremos a verdade! Que Dilma foi vítima de um golpe de Estado, mas que decidiu não entregar seu mandato aos golpistas e sim ao povo brasileiro, que a elegeu, para que o povo brasileiro, e não o Supremo e o Senado golpistas, decida soberanamente quem vai governar o país e com que programa. Diremos que Dilma não admitiu a hipótese de permitir que o objetivo do golpe, que é a tomada o poder à revelia do povo, fosse alcançado por seus autores, cujo propósito declarado é a implementação de um programa de governo absolutamente antinacional e antipopular.

A antecipação da eleição presidencial não é uma rendição, é um contragolpe que pode mobilizar a base social da esquerda e botá-la na ofensiva contra a direita e seu projeto. E não abre precedente nenhum para novas tentativas de golpe, porque o que encorajou, na verdade, este golpe que estamos enfrentando foi a extrema fragilidade política do governo Dilma, decorrente de uma série de graves erros cometidos pela própria presidenta, por Lula e pelo nosso Partido dos Trabalhadores. Governo forte e combativo impõe respeito e desencoraja tentativas de golpe de Estado.

E sobre este tema da governabilidade e do golpismo, eu vou simplesmente reproduzir o trecho de um texto que publiquei aqui nesta lista e que alguns companheiros que me contestam, pelo visto, não se deram ao trabalho de ler. Eu disse:
“E se apenas a eleição presidencial for antecipada, será sabotado o governo de qualquer presidente que ganhe a disputa com um projeto de esquerda. Como bem resumiu um companheiro do PT, a derrota do golpismo no Brasil, passa pela derrota do atual Congresso Nacional. E derrotar o atual Congresso, significa botá-lo abaixo e renovar a sua composição através de uma eleição para o parlamento.

São evidentes os sinais de que a proposta de antecipação apenas da eleição presidencial é mais viável do que a de eleições gerais, já há inclusive alguma movimentação nesse sentido no Senado e ela tem, indiscutivelmente, base social para se sustentar. Segunda feira (24), o site Congresso em Foco noticiou que, segundo pesquisa Ibope, '62% dos brasileiros querem novas eleições'.

Há espaço, portanto, para que este movimento por eleições diretas cresça na sociedade como expressão de repúdio à eleição indireta de Michel Temer pelo Senado Federal. Acredito que Dilma e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo deveriam abraçar esta ideia, que já tem tão boa aceitação na sociedade. A preferência por novas eleições, contra a posse de Temer, é um dado da realidade subjetiva das massas que não podemos ignorar na definição da nossa estratégia. E os problemas de governabilidade institucional para um possível novo presidente de esquerda, por absolutamente previsíveis, deverão ser tratados com transparência, franqueza e coragem durante a própria campanha eleitoral, pelos candidatos da esquerda, com a denúncia do golpismo e da corrupção da atual legislatura do Congresso e com a apresentação da proposta de antecipação das eleições parlamentares para o Senado e a Câmara.”
Ou seja, o que eu proponho é que durante a campanha presidencial os candidatos da esquerda, todos, num ato conjunto, lancem uma proposta e uma campanha pela realização de um plebiscito por eleições gerais. E eu tenho a mais absoluta certeza de que essa bandeira do plebiscito pela mudança dos atuais deputados e senadores tem tudo para mobilizar a classe trabalhadora e derrotar o golpismo do parlamento.

Silvio Melgarejo

04/05/2016


(Texto publicado na lista de e-mails do 1º Diretório Zonal do PT - Rio de Janeiro/RJ, em resposta a objeções de alguns companheiros à proposta que defendo de antecipação da eleição presidencial)


https://www.facebook.com/notes/silvio-melgarejo/elei%C3%A7%C3%A3o-%C3%A9-contragolpe-que-pode-mobilizar-a-classe-trabalhadora-e-bot%C3%A1-la-na-ofen/1274773125869417

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