quinta-feira, 5 de maio de 2016

Eleição com debate programático é o campo de disputa política que mais favorece à esquerda hoje.

Ontem, uma companheira no Facebook me fez a seguinte pergunta:
- "Sivio Melgarejo, de que analise de conjuntura vc tira a conclusão de que a esquerda ou mesmo a centro-esquerda seria vitoriosa?"
Respondi-lhe:

E de que análise de conjuntura alguém pode tirar a conclusão inversa, de que a direita teria alguma chance, mesmo remota, de ganhar uma eleição com um programa como a Ponte para o Futuro? A direita investe no golpe com tanto empenho exatamente porque sabe que não tem chance nenhuma de ganhar com esse programa ou qualquer outro que a ele se assemelhe.

O que eu tenho dito é que a campanha que tem sido feita contra o golpe chegou no seu limite, não está conseguindo se expandir da pequena burguesia para o restante da classe trabalhadora. Para impedir o impeachment nós teríamos que fazer mobilizações muito maiores e muito mais impactantes do que as que tem sido feitas até agora, algo como junho de 2013 ou uma greve geral. Sem ações de grande magnitude, o impeachment, que já está contratado entre burguesia, Senado e Supremo, vai acontecer,  é inevitável.

Muita gente acha que um governo Temer seria um governo fraco, que seria fácil de derrubar. A minha avaliação é outra, estou convencido que, se Temer toma posse, muda o regime político do país, exatamente porque o programa radical de austeridade, em torno do qual tem se unificado a burguesia, só pode ser imposto à classe trabalhadora por um regime autoritário. A opção pelo golpe não é casual, tampouco a escalada dos ataques ao estado de direito. A direita já mandou, como Passarinho no AI-5, todos os escrúpulos às favas. Até agora estes ataques tem se destinado a desestabilizar o governo e preparar o golpe. Mas com a posse do Temer, eles se generalização e terão como objetivo esmagar a reação popular ao programa de austeridade. E o poder, ou seja, os meios de repressão para isso seriam totais, porque a direita já controla as polícias dos estados e passaria a ter também o controle das Forças Armadas, da Força Nacional de Segurança e da Polícia Federal. Imagine uma repressão como as do Richa ou do Alckmim, só que em escala nacional e com a cobertura favorável da mídia, do Judiciário e do Legislativo. A esquerda e a classe trabalhadora colheriam derrota atrás de derrota. Por isso é que eu estou convencido de que o objetivo principal da esquerda hoje deve ser impedir a posse de Michel Temer.

Tenho dito que o golpe, ou seja, a derrubada do governo Dilma, não é fim, é meio para a tomada do poder à revelia do povo. A derrubada do governo nós não temos mais como evitar, porque a campanha contra o golpe não mobiliza as massas. Mas é possível mobilizar as massas para impedir a posse do governo golpista, através de uma campanha pela realização de uma eleição em que o povo possa escolher o seu novo presidente e decidir com que programa ele deve governar. As eleições tem sido as únicas ocasiões em que a esquerda tem conseguido dialogar com as massas. Fora delas o diálogo não tem sido nunca possível, porque a direita tem o controle absoluto da mídia. E a esquerda, por razões óbvias, tende sempre a levar vantagem sobre a direita no debate nacional programático. Tanto que, mesmo errando muito, foi possível ganhar quatro eleições presidenciais sucessivas. A classe trabalhadora pode ser de direita nas questões de gênero, orientação sexual e segurança pública, mas é de esquerda quando se trata de direitos sociais e trabalhistas.

A esquerda tem que procurar levar a disputa política para o campo em que ela pode ter mais vantagem e não para o campo onde a vantagem é da direita. E, para mim, o debate político programático numa eleição é o campo de disputa política que mais favoreceria hoje à esquerda, podendo inclusive potencializar a mobilização social nas ruas, que ainda tem sido insuficientes, contra a ofensiva da direita. Nunca conclui que a esquerda sairá vitoriosa de uma eleição antecipada. O que tenho dito é que a esquerda tem muito mais chances de vencer uma eleição hoje do que de impedir o impeachment da Dilma, que já está claramente consolidado no Senado e no Supremo. Eu não tenho dúvida nenhuma de que a esquerda tem melhores candidatos e programas de governo que correspondem muito mais aos anseios dos trabalhadores do que a direita.

A batalha do impeachment nós já perdemos. O objetivo agora deve ser impedir a posse do governo ilegítimo da direita e eleger um novo governo de esquerda, numa eleição presidencial antecipada, em cuja campanha os candidatos da esquerda, todos, num ato conjunto, lançariam a proposta de um plebiscito por eleições gerais, para a renovação da composição do Senado e da Câmara.

Silvio Melgarejo

04/05/2016


https://www.facebook.com/notes/silvio-melgarejo/elei%C3%A7%C3%A3o-com-debate-program%C3%A1tico-%C3%A9-o-campo-de-disputa-pol%C3%ADtica-que-mais-favorece-/1274818822531514

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.