segunda-feira, 19 de dezembro de 2016

Indisciplina dos dirigentes trava as engrenagens da máquina partidária.

(Terceira contribuição enviada à Tribuna de Debates do 6º Congresso do PT, no site oficial do partido)

A força de um partido está na unidade de ação dos seus membros. Para haver unidade de ação é preciso que haja organização e comando centralizado. Mas é tão impossível o Diretório Nacional do PT organizar e comandar diretamente a base de filiados do partido em todo o país, quanto o Estado-Maior de um exército organizar e comandar diretamente o exército todo, sem contar com uma cadeia de comando disciplinada atuando à frente de unidades militares menores.

Os exércitos mostram que a divisão do conjunto em um certo número de partes facilita a organização e comando do todo. Clausewitz, o general autor do clássico da literatura militar Da Guerra, diz que "não há como negar que o comando supremo de um exército (e o comando de qualquer força independente) será significativamente mais simples se as ordens só tiverem que ser transmitidas a outros três ou quatro homens".

Um dos princípios básicos da administração de qualquer organização é o da divisão do trabalho, que se realiza como especialização, departamentalização e hierarquia da autoridade. No PT, a divisão do trabalho, estabelecida no seu estatuto, dá-se por dois critérios: o funcional e o territorial.

Da divisão do trabalho por função, decorre a departamentalização funcional do partido, que é a criação de departamentos especializados em atividades específicas. Estes departamentos funcionais são as secretarias de Organização, Finanças, Formação Política, Comunicação e Mobilização.

Da divisão do trabalho por território, decorre a departamentalização territorial, que é a criação de departamentos responsáveis pela atuação partidária em espaços geográficos determinados. Estes departamentos territoriais são as instâncias chamadas diretórios.

A divisão do trabalho gera também a divisão da autoridade de modo proporcional ao tamanho da responsabilidade assumida, dando origem a uma cadeia de comando chamada "hierarquia da autoridade" ou simplesmente "hierarquia". A cadeia de comando ou hierarquia do PT materializa-se na sua estrutura verticalizada de diretórios, que são investidos de autoridade proporcional à abrangência territorial das suas jurisdições. De tal modo que a autoridade no partido fica distribuída entre diretórios de 4 níveis: o nacional, o estadual ou regional, o municipal e o zonal.

Todo diretório é, portanto, ao mesmo tempo, um grau da hierarquia partidária e uma jurisdição dentro deste grau hierárquico. A posição na hierarquia corresponde ao tamanho da jurisdição. Quanto maior a jurisdição, mais alta a posição hierárquica. E isto se materializa na seguinte relação entre os diretórios de diferentes níveis, estabelecida no artigo 17 do estatuto do PT:
"As instâncias e quaisquer organismos territoriais de nível zonal subordinam-se às instâncias de nível municipal, as quais estão subordinadas às de nível estadual, que, por sua vez, se subordinam às instâncias e aos organismos nacionais."
Basicamente, portanto, a cadeia de comando do PT começa pelo Diretório Nacional, passa pelos diretórios regionais ou estaduais, em seguida pelos diretórios municipais e termina nos diretórios zonais. Concebe-se, por conseguinte, a unidade de ação do partido no país todo como a ação unificada dos diretórios regionais, sob o comando do diretório nacional; a unidade de ação do partido nos estados como a ação unificada dos diretórios municipais, sob o comando dos diretórios regionais a que estão subordinados; a unidade de ação do partido nos municípios como a ação unificada dos diretórios zonais, sob o comando dos diretórios municipais a que estão subordinados; e a unidade de ação zonal como a ação unificada dos filiados de base, sob o comando dos diretórios zonais a que pertençam.

Sobre a organização e condução de um exército, dizia o general Clausewitz que:
"Determinadas partes, como batalhões, esquadrões, regimentos e baterias são tratados como unidades que servem como blocos de construção para estruturas maiores que, por sua vez, formam o conjunto, dependendo das exigências do momento."
Assim se constrói a unidade de ação nos exércitos para uma guerra e é assim que o PT pretende construir a unidade de ação dos seus membros para a luta de classes. Parafraseando Clausewitz, determinadas partes, como diretórios regionais, municipais e zonais, devem ser tratadas como unidades que servem como blocos de construção para estruturas maiores que, por sua vez, formam o conjunto, dependendo das exigências do momento.

As menores unidades partidárias do PT são os últimos elos da cadeia de comando do partido em cada região. Nas capitais com mais de 500 mil eleitores e nos municípios com mais de 1 milhão são os diretórios zonais. E nas capitais e municípios menores são os diretórios municipais. Estas instâncias são os blocos de construção, os tijolos que precisam ser forjados para comporem as estruturas maiores do partido, que são os diretórios municipais das grandes cidades, os diretórios regionais e o Diretório Nacional.

Fabricar estes tijolos para a construção do PT significa organizar e dar coesão à base de filiados destas instâncias. E esta é uma tarefa que compete exclusivamente aos dirigentes zonais e municipais, como pontas da cadeia de comando do partido, mediante o estrito cumprimento dos deveres políticos e administrativos que o estatuto do PT lhes atribui, o que vai depender, em boa medida, do estrito cumprimento de deveres, também previstos no Estatuto, pelos dirigentes das instâncias superiores, a que eles estão subordinados.

O cumprimento de deveres pelos membros dos diretórios de todos os níveis é condição fundamental para se garantir a organização da base partidária, o comando centralizado e a unidade de ação do partido nas disputas políticas municipais, estaduais e nacionais. Infelizmente, a disciplina na cadeia de comando do PT é extremamente frouxa e, por isso, o partido não funciona como deveria.

O estatuto do PT, concebido a partir de resoluções democraticamente aprovadas nos seus congressos e encontros nacionais, trata da questão da disciplina dos dirigentes e determina a punição dos infratores, estabelecendo, inclusive, as penas. Mas estas punições dependem de decisões políticas que nunca acontecem porque falta vontade política para tomá-las. Filiados já foram expulsos do PT por insubordinação política. Mas nunca houve um caso sequer de perda de função por negligência no cumprimento de deveres administrativos indispensáveis ao funcionamento de alguma instância. Historicamente, o PT tem sido absolutamente tolerante com estas negligências, que lhe trazem enormes e evidentes prejuízos políticos. É isso que precisa mudar o quanto antes.

A disciplina da cadeia de comando é fundamental para o adequado funcionamento do partido, para permitir que ele realize a sua democracia interna em plenitude e para permitir que ele tenha uma atuação nas ruas de amplitude e vigor proporcionais às dimensões da sua imensa base social, filiada e não filiada. O PT não funciona como determina o seu estatuto porque seus dirigentes não cumprem os deveres que o Estatuto lhes atribui. A indisciplina dos dirigentes, simplesmente, trava as engrenagens da máquina partidária. E este é o maior problema do PT. Porque a melhor, a mais acertada política, não sairá nunca dos discursos se não houver um partido capaz de realizá-la. E o PT não será capaz de realizar política alguma que dependa de mobilização social se não funcionarem plena e permanentemente todos os seus diretórios, de norte a sul do país.

Silvio Melgarejo

19/12/2016

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terça-feira, 13 de dezembro de 2016

6º Congresso: O desafio de envolver 1 milhão e 700 mil filiados no debate partidário.

(Segunda contribuição enviada à Tribuna de Debates do 6º Congresso do PT, no site oficial do partido)

Reunido em 10 e 11 de novembro de 2016, o Diretório Nacional do PT aprovou resolução convocando a realização do 6º Congresso Nacional do partido, nos dias 7, 8 e 9 de abril de 2017. Diz a resolução que "instrumento de reorganização, renovação, revitalização e retificação de nossas práticas internas, mas também de nossas relações com a sociedade, o 6o Congresso (...) deverá eleger as novas direções partidárias, a partir da base" e que, "além disso, em um amplo debate — aberto à participação de movimentos, estudantes, intelectuais, simpatizantes, jovens, militantes da esquerda, democratas –", deverá "atualizar nosso programa, nossa estratégia e nossas formas de organização, a fim de reafirmar nosso compromisso histórico de construir uma nova sociedade". E conclui o Diretório Nacional dizendo que "é para cumprirmos esta missão que convocamos toda a nossa militância".
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Sobre o Congresso Nacional do Partido, diz o Estatuto do PT:
Art. 126. O Partido realizará, periodicamente, Congressos Nacionais para analisar, discutir e deliberar sobre sua atuação política, sobre questões de âmbito nacional, atualização do Programa, formas de organização ou funcionamento partidário.

Art. 127. Os Congressos serão convocados pelo Diretório Nacional, a quem compete elaborar a pauta, devendo ser antecedidos de Congressos Estaduais e Municipais, conforme critérios definidos em Regulamento a ser estabelecido pelo próprio Diretório Nacional, que assegurem ampla participação das bases partidárias.
A decisão do Diretório Nacional de convocar o 6º Congresso é correta, não há o que discutir. O PT precisa realmente de um momento de reflexão profunda sobre sua atuação nos anos em que esteve à frente do governo do país, sobre o modo como ao governo chegou e sobre como deve enfrentar os gravíssimos desafios que lhe são postos pela conjuntura pós-golpe. Uma reflexão que precisa ser feita à luz dos valores, princípios e ideais que deram origem ao partido; à luz de um balanço honesto e corajoso dos resultados das escolhas que o partido fez, no campo da estratégia e das táticas; à luz da história das formas como o partido realmente organizou-se e funcionou internamente desde a sua fundação; uma reflexão, enfim, que precisa ser feita à luz de uma análise bastante realista do atual momento da luta de classes no Brasil e no mundo; para ao fim decidir qual a melhor estratégia para a disputa política dos próximos anos e como o partido deve se organizar e funcionar internamente para ser capaz de realizar esta estratégia.

Mas a esperança de um futuro melhor que a decisão do Diretório Nacional com certeza desperta traz consigo um desafio dos mais difíceis para os petistas. Porque a realização do 6º Congresso, a par de todas as boas perspetivas que abre, é na verdade mais uma prova de fogo para o PT como organização. Trata-se agora de mobilizar para participar do debate partidário um contingente de nada menos que 1 milhão e 700 mil filiados espalhados por todo o Brasil. Para se ter uma ideia do quanto isto será difícil, basta lembrar que no começo de 2013, há pouco mais de 3 anos, portanto, a direção nacional do PT decidiu lançar dois abaixo-assinados, com projetos de lei de iniciativa popular pela Reforma Política e pela Democratização da Mídia, com metas para cada um, definidas de acordo com os requisitos estabelecidos na Constituição, de um milhão e meio de assinaturas a serem colhidas. Bastava, portanto, pegar as assinaturas dos filiados do próprio partido para se atingir este objetivo. Mas o PT não conseguiu. Os abaixo-assinados logo sumiram e nunca se teve notícias de quantas assinaturas se chegou a colher.

Ou seja, o partido que não consegue mobilizar a sua base de filiados sequer para um abaixo-assinado, propõe-se agora a fazer um congresso nacional "com ampla participação" desta mesma base. E esta, com certeza, é uma missão bem mais complexa. O que significa que, para o partido ter êxito, a direção e a vanguarda partidárias vão ter que fazer um enorme esforço para superar os seus limites. Porque se mantiverem o padrão de atuação que têm tido até hoje, não poderá a participação dos filiados no congresso ser maior do que foi no caso dos abaixo-assinados fracassados.

O maior problema do PT é realmente a sua falta de poder de ação coletiva, ou seja, a incapacidade do partido de mobilizar a sua base para qualquer atividade. A falta de poder de ação coletiva é uma deficiência gravíssima porque inviabiliza não só a democracia partidária, mas também a atuação do partido nas ruas. O 6º Congresso será fortemente afetado por este problema, com repercussões inclusive na qualidade das suas resoluções, se não houver nestes meses que o antecedem uma verdadeira revolução na forma de o partido funcionar. O sucesso do 6º Congresso dependerá de uma firme decisão, do empenho e da capacidade da direção e da vanguarda do PT de solucionarem rapidamente o problema da falta de poder de ação coletiva do partido. Mas para que isto aconteça, é preciso que direção e vanguarda se conscientizem realmente da existência do problema, dos prejuízos que ele causa e da necessidade de superá-lo o quanto antes. Porque, a meu ver, infelizmente, esta consciência ainda falta.

Vejo com que interesse e profundidade a maior parte dos companheiros trata os temas relacionados à análise de conjuntura e concepção de estratégias e ao mesmo tempo o desinteresse que se tem pela organização e funcionamento do partido, a superficialidade e ligeireza com que se trata este tema, nas raras vezes em que ele é abordado. Como se a estratégia definida não dependesse, para ser realizada, do modo como o partido se organiza e funciona. Pois, eu lhes digo que depende, companheiros, depende completamente. Porque a mais acertada estratégia e as mais acertadas táticas precisam, evidentemente, de um partido capaz de operacionalizá-las, caso contrário nunca sairão do plano das boas e corretas intenções frustradas. Disso sabiam bem os generais de todos o exércitos vitoriosos da História, desde o lendário Sun Tzu. Além disso, a democracia partidária, pela qual todos dizem aspirar, também depende inteiramente da organização e funcionamento do partido. Então por que se trata com tanto desleixo este tema, com tanto desinteresse, por que se dedica a ele tão pouco tempo e atenção?

A falta de poder de ação coletiva do PT, ou seja, a incapacidade do partido de mobilizar a sua base para qualquer atividade, decorre dos problemas de organização e funcionamento do partido e, sem  a menor sombra de dúvida, representa o maior obstáculo à realização de um 6º Congresso com ampla participação dos filiados. O sucesso do 6º Congresso exige, portanto, o enfrentamento imediato, firme e persistente destes problemas de organização e funcionamento. A máquina partidária precisa funcionar como nunca para dar conta do gigantesco desafio de se envolver no debate político os mais de 1 milhão e 700 mil petistas filiados. O 6º Congresso, desde esta sua fase de preparação em que nos encontramos, deve ser encarado como um grande movimento de politização e comprometimento da base do PT com a construção do partido e com a luta pelos seus objetivos imediatos e estratégicos. Não se trata, portanto, apenas de fazer um congresso representativo, mas de incorporar efetivamente a massa de filiados ao partido para a elaboração e realização da sua política.

Um partido é uma associação e associar é somar. Quando um eleitor do PT se filia ao partido, ele afirma, com esse gesto, o seu desejo de somar, de contribuir com algo, além do voto nas urnas. O filiado é, portanto, alguém que se dispõe a ser mais do que eleitor. Ele quer participar da elaboração política e das decisões, quer contribuir financeiramente, e quer ser um trabalhador e um soldado voluntário a serviço do partido e suas causas. Ele quer realmente “fazer parte” e “fazer a sua parte”. O Pré Sal do PT é esta sua base de 1 milhão e 700 mil filiados. É dela, e só dela, que o partido pode extrair legitimamente todos os recursos humanos e materiais necessários para a implementação das suas estratégias de luta. E quem tem o dever político e a prerrogativa estatutária intransferível de extrair e administrar estes recursos é a direção partidária.

O dever da direção partidária é corresponder ao desejo do filiado de participar, acolhendo sua intenção de ajudar e absorvendo todos os recursos que ele queira e possa oferecer, para o devido emprego na realização das ações destinadas à conquista dos objetivos do partido. E a única maneira da direção partidária corresponder ao desejo do filiado de participar é cumprindo os deveres que o estatuto do PT atribui aos diretórios e garantindo o funcionamento pleno e regular destas instâncias. Não há outra alternativa senão esta para envolver a base de 1 milhão e 700 mil filiados do PT nos debates do 6º Congresso, assim como na luta contra o avanço do fascismo e do neoliberalismo no país. A disciplina dos dirigentes é fundamental, imprescindível mesmo, para a mobilização ampla da base partidária. Sem dirigentes disciplinados não se constrói uma democracia partidária de massas. E sem dirigentes disciplinados não se constrói uma organização política de milhões de combatentes ativos, um partido de massas que seja realmente militante.

Silvio Melgarejo

13/12/2016

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segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Sem mídia e sem partido, nenhuma estratégia de luta é viável.

(Primeira contribuição enviada à Tribuna de Debates do 6º Congresso do PT, no site oficial do partido)

Sem mídia e sem partido, o petismo tem se mostrado absolutamente impotente para reagir aos golpes que sofre na luta de classes. A força do ideal genuíno sucumbe de forma dramática à incapacidade flagrante de construir meios para lutar por sua conquista efetiva.

O petismo até hoje não entendeu que sem meios adequados para a luta, todo combate termina em derrota e que se na guerra o meio próprio para o combate chama-se exército, na política estes meios são o partido e as mídias que o partido cria ou adquire com recursos próprios,.

O petismo é uma nação de milhões que ainda não montou o seu exército, embora fale o tempo todo de luta. E retórica que não se materializa em ação de massas não basta para se conquistar e preservar democracia e direitos, muito menos para se fazer revolução socialista.

Sem mídia e sem partido, milhões de petistas dispersos, como átomos soltos no espaço, não conseguem formar um só corpo, mantém-se uns dos outros distantes, incomunicáveis, desorientados, impossibilitados de somar as energias que os mantém em permanente e solitária agitação para a realização de qualquer ação conjunta de impacto social e político equivalente à soma das forças de todos.

Há uma vaga consciência geral de que isto ocorre, mas também um forte conformismo e o conformismo é uma atitude essencialmente conservadora.

É preciso que se entenda de uma vez por todas que o partido está para a luta política, assim como o exército está para a guerra; que não se atinge o objetivo político sem um partido, como não se atinge o objetivo militar sem um exército; e que o partido é o instrumento principal da ação política daqueles que o constituem para realizar algum projeto.

É preciso que se entenda que, por isso mesmo, a construção do PT e a administração dos seus diretórios - que são suas unidades combatentes - devem ser as principais preocupações e as principais ocupações dos petistas e que descuidar destas tarefas é renunciar na prática a qualquer possibilidade de ver realizado o projeto petista de conquistar o poder político e construir no Brasil o socialismo democrático.

O PT, como organização, é uma ficção que só existe no seu estatuto e nas resoluções dos seus congressos e encontros nacionais.

Na vida real estes documentos são permanentemente ignorados e não se materializa a concepção de partido que eles contém.

As direções partidárias não sabem o que é "trabalho de base", não sabem o que é "dever" e "disciplina", permitem e permitem-se negligenciar impunemente o cumprimento das obrigações mais elementares, razão pela qual, da maioria das instâncias, pode-se dizer que são fantasmas.

O PT é uma organização e toda organização precisa cumprir 4 condições para alcançar seus objetivos.

A primeira é definir as ações que realizará para atingir estes objetivos e os recursos que usará na execução destas ações. Isto se chama planejamento.

A segunda é determinar o papel que cada membro do partido deve desempenhar nas ações planejadas e a forma como os meios necessários para a execução de suas tarefas serão distribuídos. Isto se chama organização.

A terceira é a orientação e motivação de cada membro do partido no momento da execução de cada ação planejada. Isto se chama liderança, direção ou comando.

E a quarta é a avaliação permanente da execução de cada ação, com a possibilidade de recomendações de ajustes ou mudanças. Isto se chama controle.

Tudo isso junto - planejamento, organização, comando e controle - chama-se administração.

E nada disso tem o PT, por isso o partido não funciona e não consegue nunca transformar a sua imensa quantidade de filiados e simpatizantes numa unidade coletiva ampla e rígida, capaz de intervir no processo político do país com vigor suficiente para influenciá-lo.

O PT, como organização, não vive, apenas vegeta. É um corpo fragilíssimo, cuja alma tem sido a burocracia indisciplinada e negligente que o governa.

O petismo, como doutrina, jaz, qual letra morta, no Estatuto e nas resoluções dos congressos e encontros.

E o petismo, como movimento social, que deveria ser a verdadeira alma do PT, não pode se-lo por estar fora do partido e do partido desvinculado, em razão da inatividade das instâncias em que poderia e deveria expressar-se e da surdez dos dirigentes, quando a eles se fala através de outros canais, como a internet.

Há um verdadeiro abismo entre PT e petismo, decorrente do péssimo funcionamento dos seus diretórios, que precisa ser superado para que o PT recupere sua vocação revolucionária original e o seu potencial como agente transformador da sociedade.

E a causa fundamental do mal funcionamento destas instâncias é claramente a indisciplina dos dirigentes do partido, desde a cúpula até o último elo da cadeia de comando, responsável pela organização e mobilização dos filiados de base.

Para conciliar com a burguesia, ninguém precisa de partido organizado e mobilizado. Mas para lutar contra a burguesia, sim.

Para construir e fazer funcionar um partido burocrático, governado por poucos de forma arbitrária, ninguém precisa se organizar e mobilizar. Mas para construir e fazer funcionar um partido democrático, governado por todos os seus membros de forma solidária, sim.

Organização e mobilização exigem disciplina. E disciplina nada mais é do que o compromisso e o hábito de cumprir deveres.

Que os petistas não esqueçam disso no seu 6º Congresso.

Ante o acirramento crescente da luta de classes, no entanto, não se pode mais esperar, é preciso exigir, desde já, que os dirigentes do PT cumpram os seus deveres e passem a garantir o funcionamento pleno e regular das instâncias partidárias, para que elas organizem e mobilizem, o quanto antes, a imensa reserva militante do partido, que permanece dispersa e ociosa por falta de comando.

Dirigentes disciplinados, é disso que o PT mais precisa hoje para realizar sua democracia interna em plenitude e para ser capaz de implementar uma estratégia de confronto com a burguesia, através da mobilização das massas.

Muda, PT.

Mas tem que ser já.

Senão a História nos atropela.

Silvio Melgarejo

12/12/2016

quarta-feira, 23 de novembro de 2016

É ditadura ou não é? E como derrubar?

O regime político do Brasil hoje é ou não é uma ditadura? Eu não tenho a menor dúvida que é. Muita gente acha que não ou, pelo menos, hesita em reconhecer que seja, porque o compara com as ditaduras passadas, sem atentar para algo que elas têm em comum umas com as outras e com o atual regime e que é exatamente o que define as ditaduras. E o que é uma ditadura? Ditadura, para mim, é o regime de manutenção do poder estatal através do seu exercício com meios que violam direitos humanos, reconhecidos ou não pelas leis nacionais e tratados internacionais de que o país é signatário, para anular a oposição política e impor uma determinada ordem à sociedade. Foi assim no Estado Novo, na Ditadura Militar e tem sido assim agora. Podem ser diferentes os graus de violações de direitos, os agentes destas violações e o número de vítimas. Mas nestes três casos as violações de direitos humanos estão presentes e se destinam claramente à anulação da oposição política.

O que nós temos hoje no Brasil é mais uma entre tantas formas de ditadura que a burguesia permanentemente exerce para manter o sistema capitalista. Desta vez, os agentes das violações de direitos humanos não são as forças armadas e polícias, mas os procuradores de justiça e juízes, com métodos mil vezes mais sofisticados de subjugação e aniquilamento de inimigos. Quando, no futuro, a História classificar o período atual como ditadura, dirá, com certeza, a Folha de São Paulo, que foi ditabrandíssima, já que chamou de ditabranda ao regime militar de 64. Aliás, quando o fez, foi comparando o grau e extensão das violências praticadas pela ditadura brasileira com as violências praticadas pelas ditaduras dos outros países sulamericanos. Mas não deixou de reconhecer que ditadura havia aqui. Porque não é um grau ou extensão maior das violações de direitos humanos o que define as ditaduras e sim a simples ocorrência destas violações como método de anulação da oposição política usado pelo Estado ou pelo Estado consentido.

O que nós temos no Brasil hoje é uma ditadura do Poder Judiciário associado ao Ministério Público Federal. No atual regime os carrascos do direito são os próprios operadores do direito. A lei e a ordem constitucional são despudoradamente pervertidas exatamente por quem tem o dever de zelar por elas. Banalizou-se a transgressão das normas institucionalizadas que existem para proteger os direitos de investigados, testemunhas, réus e advogados de defesa. Juízes, como Moro, e procuradores, como Dellagnol, diariamente defecam sobre estas normas – me perdoem, mas não me ocorre palavra melhor para definir o que têm feito –, assim como os ministros do Supremo Tribunal Federal, que envergonham o Brasil perante a humanidade civilizada.

Vivemos, portanto, naquela que, segundo Rui Barbosa, é a pior das ditaduras, por não haver a quem recorrer. Por isso é preciso, e só nos resta mesmo, lutar para resistir ao avanço do arbítrio. Lutar contra qualquer ditadura é antes de tudo disputar a opinião pública para esvaziar a base social de sustentação do regime. E para isto é necessário que se tenha uma estratégia adequada de comunicação com as massas e meios para desenvolvê-la de modo eficaz, algo que a esquerda, infelizmente, ainda não tem, sendo, por conseguinte, a definição dessa estratégia e a obtenção desses meios o grande desafio que precisa vencer nos próximos meses.

O objetivo da ditadura que existe no Brasil hoje é garantir a execução de um programa econômico ultra-neoliberal, contra toda resistência popular e nacionalista à sua implementação. Não é por acaso que o maior líder popular e o único partido de massas da esquerda são alvos de permanentes e pesadíssimos ataques da mídia de direita, do Ministério Público e do Judiciário. É que é preciso desmoralizar, para anular politicamente, as maiores referências de oposição perante o povo. E não é por acaso também que já se anunciam aumentos de salários aos militares e sua exclusão da reforma da previdência, preservando seus direitos. É que é preciso comprar a lealdade das forças de repressão para garantir que elas atuem de forma disciplinada na contenção da previsível revolta popular contra o desemprego, arrocho salarial e cortes de direitos. Porque sabem, direita e burguesia, que a revolta popular, se for tão ampla e intensa quanto é justo se prever que venha a ser, pode abalar profundamente o regime, abreviá-lo e permitir o avanço da democracia.

O grau de solidez e estabilidade de um regime político corresponde ao grau de unidade das forças sociais e políticas que o sustentam. Provocar ou estimular as contradições e antagonismos internos da ditadura, desde sua base social até a cúpula política dirigente, é a melhor maneira de fragilizá-la para mais facilmente vencê-la. E a melhor forma de provocar e estimular estas contradições e antagonismos da ditadura é impedindo a realização dos objetivos que a justificam, através da disputa da opinião pública e da mobilização social permanente e em grande escala. Quando as pressões aumentam e os resultados não vêm é que surgem os conflitos e instalam-se as crises no interior dos governos e no interior dos regimes políticos, levando-os à queda.

Derrubar a ditadura é possível, mas não é, evidentemente, uma tarefa fácil. Depende da capacidade da esquerda de estabelecer, no curso da luta, uma consistente aliança com a classe trabalhadora insurreta, que possa servir de base sólida para a conquista e sustentação de um novo governo. Mais difícil, porém, é sustentar-se este atual regime, com a podridão moral de que padece e com o programa de governo impopular que tem. A democracia, cedo ou tarde, vai voltar e avançar no Brasil, não há porque descrer. E é dever de todo militante de esquerda trabalhar e lutar com todo empenho para que isto, no prazo mais breve possível, aconteça. Lutemos, então, confiantes, sem descanso e com o máximo vigor, no limite das nossas forças, que a vitória, com certeza, virá.

Silvio Melgarejo

23/11/2016

segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Guerrilha da comunicação: O panfleto é a nossa arma.

O partido e a propaganda


No capítulo “Tática, propaganda e concepção de partido”, do “Projeto Ação PT de Diretório Zonal”, publicado em 2014 neste blog, eu digo que “tanto na luta institucional, quanto na luta social, esquerda e direita disputam a preferência e a adesão dos trabalhadores através da propaganda”. Digo que “propaganda é toda mensagem destinada a persuadir”, que “é o ato de propagar, difundir, disseminar uma ideia, com o intuito de ganhar adeptos e influenciar comportamentos” e que “é notória a sua importância nas eleições, plebiscitos e referendos, assim como nas ações da luta social incidentes sobre a economia, como a greve e o boicote, que só se realizam pela vontade e decisão de uma corrente de opinião pública formada com o uso da propaganda”.

Digo naquele texto que “a ação política junto às massas é, portanto, essencialmente, uma atividade de propaganda”; que “o partido político, como organização, é” – ou, pelo menos, deve ser – “uma máquina de propaganda a serviço da formação de uma corrente de opinião pública favorável ao seu próprio projeto e contrária aos projetos dos seus antagonistas”; e que “dessa corrente de opinião pública é que se originam todos os recursos necessários para a realização das ações destinadas à conquista dos objetivos do partido”.

Digo, além disso, que “a propaganda é a principal atividade do partido dos trabalhadores na luta de classes, porque é através dela que o partido organiza e conduz o seu contingente de filiados e simpatizantes, tanto no combate institucional, quanto na luta social” e que por isso mesmo “o poder de ação do partido e o poder de ação de cada diretório devem ser medidos sempre pela capacidade que demonstrem de organizar e mobilizar recursos para a realização de suas ações de propaganda”.

Digo, por fim, que “propaganda, nada mais é do que 'comunicação'". Se propaganda é comunicação, sem comunicação, não há propaganda. E sem propaganda não há persuasão, não há ação de convencimento das massas para a organização, mobilização e luta.

Golpe de Estado: Propaganda da direita foi mais eficaz


Reproduzo estes trechos daquele meu texto para dizer que o golpe de Estado e a derrota do PT nas eleições municipais de 2016 foram duas importantes vitórias da direita, produzidas pela eficácia da sua propaganda, que conseguiu efetivamente convencer a maioria dos trabalhadores de que a corrupção é a causa maior da inflação, desemprego e precariedade dos serviços públicos, e que o principal agente da corrupção no país é o Partido dos Trabalhadores. A mentira um milhão de vezes repetida acabou, para o povo, virando verdade. Mas só virou verdade porque não foi um milhão de vezes contestada, denunciada como mentira que era. E foi assim que se alimentou, por mais de uma década, a poderosa corrente de opinião pública antipetista que permitiu à direita tomar o poder, através do golpe, e vencer as eleições municipais, derrotando o PT.

Governo conciliador manteve a esquerda desarmada


A esquerda realmente se comunica muito mal com a classe trabalhadora. E não só pela linguagem mas também e sobretudo pela falta de meios. Não se faz disputa política num país de 200 milhões de habitantes sem meios de comunicação de massa e o PT, no governo durante 13 anos, simplesmente renunciou à luta pela aquisição destes meios. Esta renúncia, que deixou o partido completamente desarmado para o combate político, fez parte do pacote de concessões programáticas oferecidas à burguesia e à direita em troca da permissão para governar num regime de colaboração entre as classes. Os dois mandatos de Lula e o primeiro mandato de Dilma sustentaram-se politicamente sobre uma aliança com partidos de direita e com a burguesia que tinha como condição fundamental o compromisso dos presidentes petistas de boicotarem qualquer tentativa de reforma no ordenamento jurídico do país que pusesse em risco o controle da burguesia sobre o Estado. E uma destas reformas era exatamente a regulamentação democrática dos meios de comunicação eletrônica (TVs e rádios).

Tentando agradar inimigos, que ingenuamente acreditava poder manter como aliados, Dilma chegou a dizer que “regulação da mídia, pra mim, é o controle remoto do telespectador”. Acabou, assim como Lula, reconhecendo que isto era um erro. Mas, tarde demais, deu-se conta apenas quando sofreu o golpe de Estado. O controle remoto realmente não basta para garantir o direito do cidadão ao acesso à informação plural e diversa quando há monopólio ideológico dos meios de comunicação, controlados por oligopólios que expressam um pensamento político único, sem dar voz a opositores para a apresentação das suas versões dos fatos e para o exercício de questionamentos e críticas.

Alcance da TV ainda é maior que o da internet


Alimentou-se ao longo do período em que o PT governou e até hoje se alimenta uma expectativa muito grande em relação à internet como meio de comunicação alternativo, capaz de compensar a falta de acesso às mídias tradicionais. Pode ser que um dia chegue a isso, tem potencial, mas a realidade hoje é que a internet ainda não tem, nem de longe, o mesmo alcance que a TV.

No final de 2014, a Secretaria de Comunicação da Presidência da República divulgou a “Pesquisa Brasileira de Mídia – 2015 – Hábitos de consumo de mídia pela população brasileira”, que encomendou ao Ibope para, segundo a justificativa que se encontra no documento, “compreender como o brasileiro se informa”. As entrevistas foram feitas no mês de novembro daquele ano e revelam que a TV segue sendo o meio de comunicação predominante na sociedade, que 95% da população brasileira assiste TV, 73% diariamente, enquanto metade da população ainda não tem acesso nenhum à internet. Da metade que tem algum acesso não se tem, que eu saiba, nenhuma estimativa confiável quanto ao grau de exposição às mensagens divulgadas pelos internautas de esquerda. Mas há razões para supor que deve ser bastante limitado.

Bolhas de opinião


Sabe-se, por exemplo, que as redes sociais mais frequentadas, como o Facebook, têm filtros personalizados para cada usuário que selecionam para exibição em seus feeds de notícias os conteúdos que mais correspondam às suas opiniões e preferências, retendo tudo que não estiver de acordo com o padrão automaticamente identificado a partir dos registros das suas reações de interesse, indiferença, aprovação ou desaprovação a cada postagem que visualizou anteriormente. Os gestores das redes sociais querem casa sempre cheia e acreditam que aborrecer seus visitantes com publicações contrárias às suas ideias e gostos pode afastá-los e levá-los a buscar ocupações mais prazerosas. Com o intuito de agradar a todos, estes gestores criam e mantém mecanismos que aproximam pessoas que pensam e sentem da mesma maneira, formando "bolhas de opinião" sobre todos os temas, inclusive a política.

Em 27 de março a Agência Estado publicou um artigo intitulado “Redes sociais usam algoritmos e ajudam a formar 'bolhas políticas'”, citando a afirmação da professora e pesquisadora de mídias sociais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Raquel Recuero, de que "o Facebook tende a filtrar aquilo que é socialmente relevante para um grupo” e de que “isso dá a sensação de que toda a rede social concorda com você". 

Ora, quem assiste diariamente ao Jornal Nacional, sem dispor de fontes alternativas que informem o que a Globo omite e sem um contraponto crítico do que a Globo divulga, entra em sua rede social com uma percepção contaminada da realidade política, compartilha a opinião errada que forma e acaba tendo esta opinião fortemente reforçada pela enxurrada de postagens de sentido político igual que recebe em seguida no seu feed de notícias, atraídas pelo mecanismo automático de seleção de conteúdos da própria rede social. Neste caso, a internet serve apenas para confirmar as mentiras da Globo e blindá-las contra qualquer questionamento ou contestação, dando a sensação enganosa de que o mundo todo concorda com elas, o que alimenta as convicções de serem verdades irrefutáveis.

A bolha da esquerda


Atuando por iniciativa e conta próprias, de forma atomizada, sem organização e uma estratégia baseada na consideração desta tendência atual da internet à formação de bolhas de opinião, a militância de esquerda acaba inadvertidamente formando a sua própria bolha e isolando-se da classe trabalhadora de opinião contaminada pela propaganda política da televisão de direita. Sem perceber, a esquerda na internet só fala para si mesma, não dialoga com os trabalhadores em geral, que permanecem expostos à intensa e constante doutrinação ideológica reacionária, da qual, por ignorância, tornam-se quase sempre retransmissores, não só na internet, mas também nas ruas e nos seus locais de trabalho, estudo e lazer.

Em vista disso, é preciso que a militância do PT se conscientize, o quanto antes, de que os imensos esforços que tem feito para estabelecer comunicação com os trabalhadores através da internet e combater a influência que sobre a opinião deles exerce a propaganda das TVs da direita estão sendo absolutamente inúteis, já que as mensagens desta militância, emitidas a partir da bolha de opinião em que ela se encontra, raramente chegam à maior parte dos trabalhadores, também inconscientemente capturada e posta em isolamento nas bolhas de opinião criadas pelos filtros de conteúdo das redes sociais.

Estes filtros de conteúdo das redes e o monopólio ideológico das TVs criam uma verdadeira muralha que impede o PT de se comunicar com a classe trabalhadora. O grande desafio da militância petista hoje, portanto, consiste exatamente em vencer estas barreiras para restabelecer o diálogo com os trabalhadores.

Mas, como fazer isto com os parcos meios que temos? Penso que como fizeram todos os grupos sociais, ao longo da História, que precisaram combater inimigos mais fortes com recursos limitados: através da guerrilha, no nosso caso, a guerrilha da informação, da comunicação e da propaganda.

Guerrilha da informação


O dicionário Aurélio define Guerrilha como “luta armada realizada por meio de pequenos grupos constituídos irregularmente, sem obediência às normas estabelecidas nas convenções internacionais e que, com extrema mobilidade e grande capacidade de atacar de surpresa, visa ao crescimento progressivo das próprias forças mediante a incorporação de novos combatentes e abertura de novas frentes guerrilheiras até que se possam travar com êxito combates diretos contra as tropas regulares inimigas”. 

Acúmulo de forças, a partir de unidades de combate pouco numerosas, com autonomia de ação, muita mobilidade e extrema capacidade de ocultação no terreno, para atacar rapidamente o inimigo e rapidamente desaparecer das suas vistas. Este é o espírito da ação guerrilheira, que a militância petista precisa incorporar para enfrentar os grandes e poderosos conglomerados midiáticos da burguesia, liderados pelas Organizações Globo.

Furando bolhas


A guerrilha da comunicação petista nas redes sociais deve constituir-se de intervenções coletivas nos espaços de comentários das páginas que os sites de notícias mantém no Facebook, onde muitos trabalhadores vão buscar informação e se manifestar. Esta é a única maneira de penetrar e atuar dentro das bolhas de opinião criadas pelos filtros de conteúdo desta rede social. Mas é evidente que se metade da população não tem acesso nenhum à internet, isto só não basta, precisamos ter uma estratégia para atuação também fora das redes sociais virtuais.

Milhões de panfletos contra o cerco midiático


A guerrilha da comunicação petista tem que ir para a rua. E a única mídia utilizável nas ruas é a mídia impressa, sob as formas de panfleto, folheto ou jornal. Isto, obviamente, custa dinheiro que só pode ser arrecadado junto a quem concorde com a mensagem que pretendemos divulgar. O ideal seria que esta arrecadação fosse feita pelos diretórios do PT, que os diretórios encomendassem a impressão destes materiais e que montassem centrais de distribuição nas suas sedes, onde a militância pudesse adquiri-los para desenvolver suas atividades. O problema é que os diretórios simplesmente não funcionam.

Por isso a minha proposta é que os petistas formem, por conta própria, núcleos ou comitês por bairro ou região e que criem fundos, no sistema de “vaquinhas”, para financiar a impressão, sob a forma de panfletos ou folhetos, dos excelentes textos produzidos pela imprensa de esquerda que tem sido publicados em vários blogs e sites da internet. Porque está mais do que claro, é uma evidencia gritante, que não basta compartilhar as mensagens da esquerda na internet apenas, tem que compartilhar nas ruas também, com o povão que está lá fora. Na guerrilha da comunicação nas ruas, o maço de panfletos será nosso rifle leve de assalto, a nossa AK-47 disparadora de informações, análises, propostas, denúncias e desmentidos contra a direita e a burguesia e em favor da elevação da consciência de classe dos trabalhadores.

Depois da derrota sofrida, é hora da contraofensiva. A luta de classes não para e a militância petista não pode deixar de estar na linha de frente de cada combate. Ânimo, companheiros, porque o povo brasileiro precisa de nós. De panfletos em punho, vamos já para as ruas e praças divulgar nossa mensagem. Em cada esquina, ponto de ônibus, estação de trem ou metrô; na porta de cada órgão público ou empresa privada; nas universidades e escolas; nas UPAs, hospitais de emergência, postos de saúde, centros médicos e clínicas da família; e na porta ou interior de cada loja, supermercado e agência bancária.

Se não somos por ora capazes de formar um grande exército organizado de militantes, que atue sob o comando centralizado de um partido bem estruturado, com disciplina e estratégia bem definida, lancemos mão desta forma milenar de combate chamada guerrilha, formando por toda parte pequenos grupos, para disputarmos, por iniciativa e conta próprias, a opinião pública, com os poucos recursos que temos, afim de conquistarmos a adesão de cada vez mais trabalhadores para a luta em defesa dos seus empregos, salários e direitos e em defesa da democracia e da soberania do Brasil sobre os seus recursos naturais.

Atentos ao processo eleitoral interno do PT que se aproxima e ao congresso que definirá os novos rumos do partido, façamos a resistência possível ao avanço do neoliberalismo e do fascismo no país, combatendo, através da comunicação de guerrilha nas ruas, os consensos sociais equivocados, forjados, mediante a sistemática propagação de mentiras, pelos meios de comunicação da direita liderados pelas Organizações Globo. Avante, petistas!

Silvio Melgarejo

21/11/2016

(revisado em 04/03/2017)

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Meus votos na eleição do Rio.

Filiado ao PT, no Rio Janeiro, pela primeira vez na vida não votei em candidatos do partido. Foram duas decisões dolorosas, mas muito fáceis de serem tomadas porque as razões que as justificam eram por demais evidentes e não me davam outra alternativa. Votei em Tarcísio Mota, do PSOL, para vereador, para impedir que o PT alcançasse um coeficiente partidário que permitisse a eleição de dois candidatos que suspeito serem ligados a milícias e ao mesmo tempo ajudar a aumentar a bancada de esquerda na câmara municipal. E votei em Marcelo Freixo para garantir a presença de um candidato de esquerda no segundo turno da eleição para prefeito e ao mesmo tempo derrotar o PMDB de Pedro Paulo.

As razões da minha decisão de não votar em nenhum candidato do PT na eleição para vereador estão no texto "Voto petista não pode mais eleger milicianos", postado neste blog em 29 de setembro. Exatamente como eu previa, os candidatos do PT Elton Babu e Edson Zanata ficaram nas mesmas posições que alcançaram na eleição de 2012, como 3º e 4º colocados na lista de candidatos inscritos pelo partido. Só não foram reeleitos porque o coeficiente partidário do PT, que em 2012 garantiu 4 cadeiras na câmara, caiu pela metade e desta vez só deu direito a 2. De modo que o PT foi salvo pelo próprio encolhimento e me apraz saber que muito, mas muito modestamente mesmo, contribui para isso. Porque é evidente que o PT não encolheu apenas pela falta do meu mísero voto, encolheu pela política errada que adotou ao longo de anos.

Sobre o meu voto para prefeito, a história é um pouco mais longa. Ele veio amadurecendo desde janeiro deste ano, quando publiquei neste blog o texto "PT deve apoiar Marcelo Freixo (PSOL) para prefeito do Rio. Aliança com PMDB é formação de quadrilha que hoje só serve ao retrocesso". Mas só tomei a decisão mesmo na manhã do dia da eleição. As últimas pesquisas Datafolha e Ibope divulgadas na véspera, quando, por dever de fidelidade partidária, eu ainda tinha intenção de votar em Jandira, apontavam, numa estimativa que só considerava os votos válidos (descartados brancos, nulos e indecisos), empate no 2º lugar, dentro da margem de erro, entre Freixo e Pedro Paulo. Pelo Datafolha, os dois teriam 14% das intenções de voto e pelo Ibope, entre 12 e 14%. Estaria se dando, portanto, segundo estes dois institutos, uma acirrada disputa pela segunda vaga do 2º turno contra Marcelo Crivella, entre Freixo e Pedro Paulo, enquanto Jandira ficava pra trás, em 7º lugar, pelo Datafolha, com entre 5 e 9% das intenções de voto, e em 6º lugar, pelo Ibope, com entre 4 e 10%. Se a estimativa mais otimista para Jandira era esta do Ibope que dizia ser possível ela alcançar até 10% dos votos válidos - pelo Datafolha, 9% -, no limite máximo da margem de erro da pesquisa, para Freixo a estimativa mais otimista era de que ele poderia alcançar até 18% dos votos válidos, segundo o Datafolha, e até 16%, segundo o Ibope. Pelo Datafolha, o índice de rejeição a Jandira seria de 24% e o de Freixo, 12%, enquanto o Ibope indicava 37% de rejeição a Jandira contra 20% a Freixo. Eram mais do que evidentes a superioridade do potencial de votação do candidato do PSOL e a fragilidade da nossa candidatura.

Vi-me, então, ante o seguinte dilema: dar ou não dar crédito a estas pesquisas? Optei por acreditar, porque elas correspondiam exatamente à percepção e às expectativas que eu tinha desde o início do ano. Por isso votei em Marcelo Freixo. E, vendo o resultado da eleição, não tenho dúvida de que fizemos, eu e muitos outros petistas que aderiram na última hora ao chamado "voto útil', a melhor escolha possível. Porque as pesquisas estavam certas. O candidato do PSOL derrotou o do PMDB por uma diferença mínima, de apenas 2,14% dos votos válidos, um resultado bastante apertado. Freixo teve 18,26% dos votos e Pedro Paulo, 16,12%. O candidato do PMDB teve 2,12% a mais de votos do que o previsto tanto pelo Datafolha, quanto pelo Ibope, como limites máximos das suas respectivas margens de erro, enquanto o do PSOL teve 0,26% a mais do que o previsto como limite máximo para sua votação pelo Datafolha e 1,26% a mais do que o estimado pelo Ibope. Aparentemente, esquerda e direita praticaram o "voto útil'. E, felizmente, a esquerda levou a melhor. Agora, é juntar forças para ganhar o 2º turno e conquistar o direito de governar a Cidade Maravilhosa, derrotando o candidato da burguesia e da direita corrupta e obscurantista e elegendo o candidato dos trabalhadores e de toda esquerda não contaminada pelo mal do sectarismo, do qual, não obstante, ainda padece o próprio PSOL. Sectarismo não se combate com mais sectarismo. Sou PT e fecho com Freixo.

Silvio Melgarejo

10/10/2016

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Voto petista não pode mais eleger milicianos.

A todas as instâncias dirigentes do PT e ao conjunto dos membros deste partido ao qual sou filiado, aqui no Rio de Janeiro, comunico que não votarei em nenhum candidato a vereador do PT porque não quero favorecer, mesmo que indiretamente, à reeleição de dois parlamentares do partido que considero suspeitos de envolvimento com milícias.

Logo após a eleição de 2012, o jornal Extra publicou reportagem intitulada "Os campeões de voto nas áreas de milícia", apresentando um levantamento segundo o qual 88% dos votos do vereador Edson Zanata e 78% dos votos do vereador Elton Babu foram registrados em zonas eleitorais situadas em áreas dominadas por milícias.

Considerando o implacável controle que as milícias mantém sobre as atividades político-partidárias nos seus territórios, favorecendo nas eleições candidatos que a elas se associam e proibindo a presença e até matando os que não se submetem a lhes prestar favores ou que se opõem e denunciam suas atividades ilícitas, pergunto:

Como e por que Edson Zanata e Elton Babu conseguem atuar nestas áreas com tanta liberdade e desenvoltura, a ponto de alcançarem tão expressivas votações?

De Elton Babu, sabe-se que é irmão de Jorge Babu, ex-deputado estadual do PT, que foi expulso do partido e demitido da polícia civil depois de condenado pela Justiça sob a acusação de comandar uma milícia.

De Edson Zanata, nenhuma pista.


Creio que a concentração dos votos destes dois parlamentares em áreas que milícias controlam não chega a ser prova, mas é um forte indício de que eles podem realmente estar ligados a estas organizações criminosas. E considero que esta suspeita, por sua evidente gravidade. seria razão suficiente para o PT ter lhes negado legenda para se candidatarem agora, o que infelizmente não ocorreu. No caso de Elton Babu, as relações com o irmão miliciano são publicas e notórias, tendo os dois, inclusive, sido convocados a depor na CPI das Milícias, da Assembléia Legislativa, em 2008.

Não me parece que Elton Babu e Edson Zanata sejam bons nomes para representar o petismo. Decididamente, não são. Não os acuso de nada, apenas expresso suspeitas, que suponho não serem só minhas, mas de todos os filiados do PT que, tendo conhecimento dos fatos citados, veem-se, como eu, na incômoda posição de terem que responder perante a sociedade sobre a conduta e reputação deles, que afinal formalmente nos representam.

Fico me perguntando se a presença de Elton Babu e Edson Zanata no PT, com mandatos e como candidatos, não teria sido uma das misteriosas razões que levaram Marcelo Freixo a recusar fazer aliança conosco nesta eleição. Será que o "banho de purificação nas águas do rio Jordão", que o presidente do diretório estadual, Washington Quaquá, ironicamente disse ter sido cobrado do PT por Freixo, não teria sido, além da renúncia ao fisiologismo, a exclusão de candidatos suspeitos de vínculo com milícias, como Babu e Zanata? Teria ou não Marcelo Freixo razão para impor esta condição, ainda mais com a biografia que ostenta, tendo se notabilizado exatamente pelo combate às milícias? São só suposições que a imaginação, provocada pelo mistério, me sugere, mas creio que fazem bastante sentido.

Acho que muitos petistas não sabem, por isso informo, que pelo sistema proporcional com lista aberta, qualquer voto que se dê numa eleição para vereador, seja nominal, seja em legenda, contribui para o aumento do número de cadeiras a que o partido do candidato em que se vota terá direito no parlamento municipal. Estas cadeiras serão sempre ocupadas pelos candidatos mais votados da lista de cada partido. Na última eleição municipal do Rio, em 2012, a soma dos votos válidos do PT garantiu ao partido 4 cadeiras na câmara. E os 4 candidatos mais votados da lista do PT, que vieram a ocupar estas cadeiras, foram Reimont, com 18.014 votos, Marcelo Arar, 16.756, Elton Babu, 12.630, e Edson Zanata, com 12.120 votos.

Na eleição deste ano, Reimont, Babu e Zanata são candidatos à reeleição e a tendência é que novamente estejam entre os mais votados, tendo em vista a consistência das suas bases eleitorais e a absoluta inexpressividade da quase totalidade dos nossos demais candidatos que, não obstante suas possíveis virtudes, acabam servindo apenas para somar pequenas quantidades de votos ao coeficiente partidário que definirá o número de eleitos pelo partido. Na prática, os dirigentes do PT do Rio armaram uma verdadeira armadilha para os eleitores do partido. Quem vota em Reimont ou Roberto Monteiro, por exemplo, acaba involuntariamente ajudando a eleger Babu e Zanata.

Como militante, sinto-me no dever de lembrar aos companheiros que todos nós, filiados do PT, somos responsáveis pelos políticos que o partido ajuda a eleger dando legenda. Foi um erro, a meu ver gravíssimo, o PT ter dado legenda a Elton Babu e Edson Zanata, ajudado a elegê-los e os mantido como parlamentares na última legislatura. Mas será mais equivocado ainda fazer tudo isso de novo, no exato momento em que o PT vive a mais profunda crise de credibilidade da sua história perante a classe trabalhadora e perante os seus próprios filiados. O PT do Rio não me dá, portanto, outra alternativa senão negar-lhe, pela primeira vez na vida, o meu voto, para concedê-lo a algum candidato a vereador de outro partido de esquerda.

Dirão alguns que, sendo filiado, cometo infidelidade partidária . Pois eu lhes digo que a fidelidade partidária não está para mim e não pode estar para o PT acima da fidelidade aos princípios éticos e políticos com que eu e o partido nos comprometemos. Serei fiel ao PT sempre que o PT for fiel aos compromissos assumidos comigo e com a classe trabalhadora quando me filei. Mas se o partido trai estes compromissos e adota condutas com eles incompatíveis, não renuncio, não renunciarei jamais ao direito e dever de me rebelar e chamar à rebelião os meus pares, os demais filiados. É o que faço agora, quando tomo esta decisão que anuncio. Com meu voto, não se elegerão mais candidatos que suspeito serem apoiados por milícias.

As milícias são organizações criminosas que exploram financeiramente por meio de coação violenta os trabalhadores e pequenos empresários das comunidades mais pobres da cidade. Estas organizações são criadas por agentes e ex-agentes da segurança pública que estabelecem conexões com outros agentes do Estado, nos poderes executivo, legislativo e judiciário, constituindo uma verdadeira rede que dá cobertura às suas atividades ilícitas. Por isso as milícias não são incomodadas pelo poder público, não são investigadas, muito menos reprimidas, não há contra elas o menor combate. Mas a sociedade toda sabe onde as milícias atuam e os mapas com os resultados eleitorais indicam claramente quem podem ser seus braços políticos nos parlamentos e governos.

Não vamos fingir que não sabemos que estes mapas apontam para dois vereadores do PT, entre outros tantos políticos filiados a uma série de outros partidos, e que estes dois vereadores representam nada menos que dois terços da bancada atual do PT na câmara municipal do Rio. Não vamos fingir também que ignoramos a extrema gravidade deste fato, que ele é sintoma claro do elevado grau de deterioração do caráter ético e político do nosso partido. A imagem da árvore tomada por fungos e parasitas, usada por Dilma para explicar o golpe parlamentar que sofreu, serve também como metáfora da degeneração do PT pela ação dos seus burocratas de mente deformada pela política de conciliação de classes. Não são só as instituições democráticas do Brasil que tem sido destruídas aos poucos e por dentro pelas condutas ilegais e inconstitucionais dos seus próprios membros. O Partido dos Trabalhadores também tem sido destruído aos poucos e por dentro pela ação dos seus próprios líderes e dirigentes, com o consentimento de uma vanguarda majoritariamente complacente.

Depois de consentir durante mais de uma década a deformação do caráter do PT, com o permanente rebaixamento do seu padrão ético e programático, rebaixamento este necessário para a realização da estratégia de conciliação de classes, está mais do que na hora de a militância petista dar um basta a estas concessões. O PT não pode mais continuar abrindo mão de aspectos fundamentais da sua ética política e do seu programa de governo, incorporando a cultura política dos partidos de direita e induzindo a classe trabalhadora à conciliação com a burguesia, com total esquecimento do ideal anticapitalista e socialista que lhe deu origem e que tem sido afirmado e reafirmado em todos os congressos e encontros nacionais realizados desde a sua fundação. 

O PT não pode mais associar-se a partidos de direita, o PT não pode mais se comportar como um partido de direita e o PT não pode mais admitir que em seu nome falem, como legítimos representantes, direitistas, pelegos, corruptos e milicianos. O PT precisa urgentemente mudar, e mudar radicalmente, em relação ao que tem sido, para recuperar a confiança da classe trabalhadora e por ela voltar a ser reconhecido como representante político legítimo e como dirigente das suas mobilizações na sociedade. E um dos aspectos mais fundamentais dessa mudança deve ser uma seleção mais criteriosa da representação do partido nas eleições para parlamentos e governos. 

Durante muitos anos, desde que os candidatos que me empolgavam saíram do PT para outros partidos de esquerda, adotei o voto de legenda para manter a fidelidade partidária. Com isso acabei, involuntária e infelizmente, contribuindo para a eleição de alguns vereadores pelos quais não me sinto nem um pouco representado e nos quais não tenho a menor confiança. Não quero e não vou mais cometer este erro. O voto de legenda é um voto de confiança no partido e em todos os candidatos da lista que o partido apresenta numa eleição. 

Pois eu afirmo que não confio em Elton Babu e Edson Zanata, não me sinto por eles representado, porque acredito que não representam de maneira nenhuma o PT, assim como não representava o PT o vereador que elegemos, Marcelo Arar, filiado ao PSDB até um ano antes da eleição de 2012, que saiu do PT apenas em maio deste ano e concorre agora à reeleição pelo PTB. 

E não confio na direção do PT porque a direção do PT induziu o eleitorado petista a eleger em 2012 uma bancada de 4 vereadores, sendo 2 suspeitos de associação a milícias, 1 tucano e apenas 1 realmente petista. Por isso o voto de legenda deixou de ser para mim uma opção, assim como o voto nominal em qualquer outro candidato do PT, pela convicção que tenho de que ambas as formas de voto contribuirão para a reeleição destes dois parlamentares, Elton Babu e Edson Zanata, que não reconheço como representantes do meu partido. Me recuso terminantemente a colaborar para a consumação de mais este desastre para o PT. Não contem comigo para promover uma desgraça dessas. O voto petista não pode mais ajudar a eleger milicianos. 

Silvio Melgarejo

29/09/2016

segunda-feira, 12 de setembro de 2016

PT, uma organização boicotada.

A quem interessa o boicote ao funcionamento do único partido de massas da esquerda como agente de mobilização social?

Silvio Melgarejo

12/09/2016

domingo, 4 de setembro de 2016

Moral da História: Não confie na burguesia, sua mídia, seus partidos e seu Estado.

Se as derrotas mais perturbadoras e dolorosas são as que nos pegam de surpresa, não se pode dizer que seja o caso da derrota que sofremos, com o golpe de Estado que acaba se dar no Brasil. Desde o 17 de abril, em que a Câmara aprovou a admissibilidade da abertura do processo de impeachment, sob o olhar absolutamente indiferente da imensa maioria dos trabalhadores, a deposição de Dilma já se afigurava como o resultado mais provável do julgamento que se daria. Não pegou de surpresa à esquerda, portanto. No fundo das nossas almas aflitas, por impotentes, todos sabíamos que assim terminaria. Não foi qual morte súbita, foi como a morte depois de uma doença prolongada. Por isso há dor, mas não perplexidade que nos paralise e é bom que não haja, porque as batalhas mais duras ainda estão por vir e não tardam a explodir na nossa porta.

Dói a derrota, dói demais, mesmo assim, mesmo não sendo surpresa. Mas é preciso lembrar que estamos numa guerra, que continua porque persistem as razões que lhe originam, que são as injustiças produzidas pelo capitalismo. Perdemos uma batalha importante, o inimigo nos tomou uma posição estratégica, a presidência da república, e não o fez senão para, a partir dela, desencadear uma violenta ofensiva, cujos objetivos já vem sendo anunciados desde 2015, quando foi lançado o programa “Uma ponte para o futuro”, pelo PMDB. A burguesia, que encomendou e patrocinou o golpe, tem pressa de ver este programa implementado. Por isso não há tempo a perder, é preciso avaliar rapidamente as razões do revés que sofremos, afim de iniciarmos de modo adequado os preparativos para o combate que em breve se fará necessário.

Se o resultado de qualquer disputa decorre da interação das forças antagonistas, à eficácia dos movimentos executados pela direita para realizar o golpe, corresponde diretamente a ineficácia dos movimentos executados pela esquerda para neutralizá-los. Nós perdemos a batalha do impeachment porque cometemos erros que nos fragilizaram imensamente perante a direita e possibilitaram o seu avanço e triunfo. E o maior de todos os erros, do qual decorre a maior parte dos outros, foi confiarmos de modo irrestrito na burguesia e nas instituições do Estado que ela controla. Por confiarmos, não nos armamos para a luta e, por desarmados, não pudemos reagir quando atacados. Faltou-nos um partido de massas militante e organizado, como aquele que o PT propôs-se a ser quando fundado, e faltou-nos uma mídia própria, de alcance nacional, para disputarmos a opinião pública com a direita e mobilizarmos os trabalhadores para o confronto com a burguesia.

Renunciamos à construção deste partido e à criação desta mídia porque fomos tomados pela ilusão de ser possível reformar o capitalismo e melhorar a vida do povo apenas através das disputas no campo institucional da política, regidas pelo ordenamento legal e constitucional do país. Pior: associamo-nos a partidos de direita, adotamos o modo burguês de fazer política e fizemos acordos econômicos que foram sempre muito mais vantajosos para os ricos do que para os pobres. Tudo na vã esperança de satisfazer ao mesmo tempo às expectativas de burgueses e trabalhadores sobre o nosso governo e evitar que eles entrassem em conflito entre si e conosco. Agimos como pelegos. Desprezamos a História, que ensina, através de mil exemplos, que a burguesia é por demais gananciosa e só respeita acordos, leis e constituições enquanto lhe convém. Traímos nossos mais caros princípios, renunciamos ao socialismo e à mobilização social como meio de transformação da sociedade, rebaixamos até não mais poder nosso programa de governo e nosso padrão de exigência ética, e acabamos traídos por aliados circunstanciais que sempre foram mercenários a serviço da burguesia, sem poder contar com a solidariedade dos trabalhadores, de quem, merecidamente, perdemos a confiança.

E se o golpe não foi surpresa, muito menos poderá sê-lo a rápida instalação no país de um regime autoritário. Porque, como venho alertando desde março, o programa de governo dos golpistas é simplesmente irrealizável num regime democrático, em razão das fortes reações que tende a provocar na sociedade, por seu conteúdo radicalmente antinacional e antipopular. Para que este programa seja implementado é preciso que as reações a ele sejam desencorajadas ou sufocadas. O governo Temer nasce com este propósito e já é, de fato, uma ditadura envergonhada, como foi, segundo o jornalista Elio Gaspari, a ditadura militar nos seus primeiros anos. Os militares e seus apoiadores civis chamavam o golpe de 64 de revolução democrática e sempre autodefiniram-se como defensores da democracia. Temer e os seus dizem já e dirão sempre exatamente o mesmo, enquanto preparam fuzis e porões para inibir ou esmagar a resistência realmente democrática e a reação cidadã ao roubo das riquezas do país e dos direitos dos trabalhadores.

A ilusão de um país capitalista sem luta de classes, alimentada por Lula, Dilma e a maioria dos dirigentes do PT durante 13 anos, desfaz-se agora, de forma trágica, sob a luz da realidade revelada pelo golpe e pela ditadura que o golpe origina. O golpe e a ditadura não são de Temer, Aécio, do PMDB ou dos tucanos. O golpe e a ditadura são da burguesia. Os políticos e partidos são meros agentes. A disputa política no Brasil não pode ser mais vista e tratada, portanto, como se fosse apenas uma briga entre partidos. Está mais claro do que nunca que é e sempre foi uma briga entre as  classes sociais, uma que oprime, outra que é vítima e resiste à opressão. A partir de agora, é sob esta perspectiva que deve ser encarada a luta política no Brasil. Tem que ser trabalhador contra burguês, sem arrego e sem trégua, nas urnas e nas ruas, nas cidades e no campo.

O PT, derrotado pela própria ilusão, continua sendo, não obstante, o único partido de massas da esquerda e, por isso mesmo, o partido que mais pode contribuir com a luta pela redemocratização do país. Desde, é claro, que saiba tirar da experiência vivida as devidas lições. E a mais importante lição que os petistas podem tirar dos 13 anos de governo do PT e do golpe de 2016 é que os trabalhadores não devem confiar jamais na burguesia, na mídia e nos partidos que a burguesia sustenta e nas instituições do Estado que a burguesia controla. Um novo PT precisa surgir a partir deste golpe e tem que ser um partido que assuma, pra valer e de uma vez por todas, o ideal socialista proclamado nas resoluções dos seus congressos e encontros nacionais, reassumindo definitivamente o seu compromisso histórico original de manter total independência política em relação à burguesia, para melhor combatê-la. Se a conciliação com a burguesia nos trouxe até onde estamos, com o Brasil governado por uma gangue, sob um regime autoritário, só a confrontação com a burguesia poderá restabelecer a democracia, ampliá-la e aprofundá-la, abrindo caminho para o início de um processo de transformações radicais na sociedade, a partir das demandas populares, que conduza o país ao socialismo. Confiar na burguesia, nunca mais! Esta é a firme decisão que devem tomar os petistas depois do golpe de 2016.

Mas houve um outro erro que a mim parece ter sido decisivo para a derrota da esquerda na batalha do impeachment, que foi o total desprezo pelas circunstâncias reais da disputa política na definição da sua estratégia de luta. Quando mais de 60% dos trabalhadores diziam em abril, através das pesquisas de opinião, que queriam a antecipação da eleição presidencial, porque não queriam nem Temer, nem Dilma no governo, estava mais do que claro que a antecipação da eleição era a única bandeira capaz de mobilizá-los. A maior parte da esquerda, no entanto, negou-se a empunhar esta bandeira, por medo de enfrentar uma eleição e ser derrotada e por medo de perder o discurso de denúncia do golpismo da direita. Assim, para evitar o confronto com a direita no campo de batalha que mais favorece à esquerda, que é o campo do debate público sobre programas de governo, exigido pelos trabalhadores nas campanhas eleitorais, e para não perder um discurso que pouco valor teve, tem e terá como fator de mobilização social, renunciamos ao uso da única estratégia capaz de evitar que o golpe se consumasse e a ditadura se instalasse. Pois o golpe se consumou, a ditadura se instalou e só agora aquela maioria da esquerda, PT à frente, resolve defender a antecipação da eleição presidencial.

Ontem foi divulgada uma pesquisa Ibope, dando conta de que 31% dos brasileiros consideram o governo Temer ruim ou péssimo e que 38% o consideram regular. Apenas 13% o consideram bom ou ótimo. Os 38% que avaliam o governo Temer como regular, expressam na verdade a esperança desta parcela da população de que o atual governo seja melhor do que o anterior. Apenas esperança, já que mal começou a experiência das massas com o governo Temer. Quando os efeitos das medidas que tem sido anunciadas chegarem no chão da sociedade é que haverá, com toda certeza, uma substancial transferência dos que consideram o governo regular para a coluna dos que consideram o governo ruim ou péssimo, nas pesquisas. Temer tende a ser realmente um presidente extremamente impopular. Mas não por ser golpista, porque para a imensa maioria dos trabalhadores, isto não faz a menor diferença. Ele será impopular porque seu governo é antipopular e notoriamente corrupto, por isso o povo já começa a rejeitá-lo. Verdade que o fato de ser golpista legitima a sua derrubada imediata, antes do pleito de 2018, perante os setores da sociedade, especialmente da classe media, que sabem o que é um golpe de Estado e que têm uma consciência democrática mais desenvolvida. Mas o que mobilizará as massas, mesmo, não será, como não tem sido até agora, a rejeição ao golpismo, e sim a rejeição à corrupção, ao entreguismo e, sobretudo, ao desemprego, arrocho salarial e corte de direitos que ainda estão por vir.

A estratégia de defesa do emprego, salário, direitos, da soberania nacional e da antecipação da eleição presidencial, que poderia ter evitado a consumação do golpe, é agora, sem dúvida nenhuma, o melhor caminho para a derrubada do governo Temer e restabelecimento da ordem constitucional no país. A esquerda finalmente começa a falar a língua do povo e sobre o que ao povo interessa. Unificada e unida ao centro democrático com uma estratégia de elevado potencial de mobilização social, faltam-lhe agora apenas os meios para realizar esta estratégia, que são um partido militante de massas e uma mídia própria de alcance nacional. Este partido e esta mídia precisam urgentemente ser construídos, porque, sem eles, nenhuma estratégia de luta é viável, por mais acertada e promissora que seja e por maior que seja o empenho e combatividade dos que se dedicarem à sua execução. Não basta estabelecer objetivos e ações para alcançá-los, é preciso dispor dos meios necessários para realizar estas ações. Senão o plano fica no papel ou, quando muito, será mal executado.

Silvio Melgarejo

04/09/2016

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Debate sobre o post "Por eleição, o povo já teria abortado a ditadura". (II)

O debate sobre meu texto "Por eleição, o povo já teria abortado a ditadura", que fazia no Facebook em 16 de agosto com o companheiro Beto Mafra, continuou naquele dia e aqui o registro.

Disse o companheiro Beto Mafra:
Vamos concordar numa coisa. QUALQUER solução futura terá de ser forçosamente com ampla e irrestrita participação popular, sob o comando da presidenta Dilma, a ÚNICA com legitimidade suficiente para dar base a uma iniciativa. por isso, para não perder esse foco, tenho me recusado a qualquer conjetura a respeito do "pós golpe". Em um estado de normalidade constitucional tudo é possível. Portanto, FORA TEMER e VOLTA DILMA, para não corrermos o risco de outro golpe dentro do golpe. Abraço.
Eu lhe respondi:
Não é solução futura, Beto Mafra. Aliás, não seria, porque agora já perdeu viabilidade. A campanha pela antecipação da eleição seria uma mobilização por algo que aconteceria depois do desfecho do processo de impeachment, mas que teria influencia imediata sobre a evolução do próprio processo. E como se daria esta influencia? Através da ampla e intensa mobilização popular que esta proposta tem potencial para provocar, como demonstram as pesquisas.

"A ampla e irrestrita participação popular", que você cita, não é condição para a solução, é a própria solução. Só que o "Fora Temer, Volta Dilma" e o discurso sobre a legitimidade não convencem a maioria da classe trabalhadora e não a empolgam a participação nenhuma. Não é possível que você e os demais até hoje não tenham se dado conta disso. O golpe só chegou onde está porque a resistência democrática foi e tem sido fraca. E a resistência democrática foi e tem sido fraca porque a esquerda escolheu uma estratégia que não mobiliza a maioria do povo.

Em um estado de ANORMALIDADE constitucional, como o que teremos depois que o golpe se consumar, muito menos poderá ser feito pela esquerda do que tem sido possível até agora, Beto Mafra. O que nós não fizemos até agora, muito dificilmente teremos condições de fazer depois, quando estivermos sob uma ditadura.

Pense bem, companheiro. Por que você acha que Globo, Estadão, Folha, Temer, Jucá, Alckmin e agora Gilmar Mendes, são tão contrários à antecipação da eleição presidencial e até mesmo ao plebiscito sobre ela? Você não acha estranho defender a mesma posição que eles, embora por razões diversas? Não te passa pela cabeça que eles podem estar certos e você errado?

Um abraço.
Beto Mafra disse:
O que tenho visto é que, por falta de direção das esquerdas, no tocante às prioridades, estamos todos batendo cabeça sem chances de um mínimo de consenso. seria, sim, essa chamada feita pela liderança do governo, o que seria um cavalo de pau nas pretensões golpistas do vice e seus asseclas. Prometo refletir mais a fundo e mudar minha postura, se eu me convencer. O problema maior tem sido "combinar com os russos" e implementar uma bandeira que seja aglutinadora e eficaz para efeito de mobilização. Mas... acho que o tempo até para isso nós perdemos por falta de iniciativa. Já penso em como fazer oposição à canalha bandida que usurpou nosso estado de direito.
Eu respondi:
Eu também. Mas, com os "russos" a gente não tem que combinar nada, tem é que dar combate. A gente tem combinar é com a classe trabalhadora, isso é o que faltou e tem faltado nessa história toda, a esquerda combinar com a classe.
Beto Mafra retrucou:
Rirrirri... "Combinar..." foi retórico, pelo descompasso. eles tiveram 13 anos para armar o bote enquanto a gente cantava as maravilhas do novo país que aparecia sob a direção democrática e popular sem a consequente vinculação aos novos atores emersos da miséria, bem como o aprofundamento de nossos vínculos históricos com a classe trabalhadora. Os "russos" citados são os beneficiados pelas nossas políticas que se uniram ao berreiro puxado pela mídia e pelo púlpito.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Debate sobre o post "Por eleição, o povo já teria abortado a ditadura". (I)

Divulgado na lista de e-mails do 1º Diretório Zonal e no Facebook, o texto "Por eleição, o povo já teria abortado a ditadura", postado ontem neste blog, recebeu dois comentários no grupo da tendência petista Articulação de Esquerda, no Facebook. Registro aqui as respostas que lá publiquei.

O companheiro Beto Mafra disse:
[Pro]por eleição, com as esquerdas divididas e a base militante atônita por falta de direção, com os meios de comunicação homogeneamente funcionando como porta vozes dos golpistas, seria a vitória "legítima" do discurso das ratazanas movidas pelas forças fascistas dos púlpitos dos parasitas da fé. Não concordo com essa temeridade (com raiva do trocadilho embutido), que a solução "democrática" fosse solução onde as instituições de Estado foram tomadas por ratazanas. Deveriam ser tratadas como tal.
Eu lhe respondi:
Beto Mafra. Os problemas da esquerda que você cita já estavam presentes nas eleições de 2006, 2010 e 2014 e, no entanto, Lula e Dilma venceram. E o que garantiu a vitória da esquerda nestas eleições? A minha convicção é de que foi o confronto de programas de governo no debate público das campanhas. Nas campanhas presidenciais este debate sempre tem favorecido à esquerda, mesmo nos cenários mais adversos, pela razão evidente de que os programas de governo da esquerda respondem muito melhor às demandas e expectativas da classe trabalhadora dos que os programas da direita. 

A tendência natural, pelo conteúdo dos programas de governo, é a esquerda sempre levar vantagem sobre a direita no debate público programático que as campanhas impõem nas eleições presidenciais. Por isso é que direita foge deste debate, buscando abrigo em geral na pauta da corrupção. Mas, não consegue se esconder, porque o povo quer saber o que vai acontecer com  salário e emprego, como vão ser tratadas as questões da educação, da saúde, etc. E todos nós sabemos qual é o tratamento que estas questões têm nos programas de austeridade da direita. Por isso a direita precisa do golpe, para tomar o poder, sem precisar passar pelo debate público  sobre programas de governo, que as eleições impõem. 

Isto, que a maior parte da esquerda não enxerga, para mim parece óbvio. Mas, mesmo que não fosse, ainda se tem a confissão de uma das mais importantes lideranças golpistas. Em 26 de maio foram divulgados trechos das gravações feitas por Sérgio Machado para serem usadas na sua delação premiada. Numa das conversas gravadas, Romero Jucá conta a Machado como convenceu o PSDB a apoiar o golpe. O PSDB, até então, queria esperar o julgamento das contas de campanha da chapa Dilma-Temer, porque pensava em disputar, com Aécio, Serra ou Alckmin, a eleição que fosse convocada, caso as contas fossem reprovadas e a chapa impugnada. Jucá conta qual foi o argumento que usou para convencer os tucanos de que o melhor para os tucanos seria eles apoiarem o impeachment de Dilma e a posse de Michel Temer como presidente da república. Disse Jucá, na gravação divulgada pela imprensa:

Falar com o Tasso, na casa do Tasso. Eunício, o Tasso, o Aécio, o Serra, o Aloysio, o Cássio, o Ricardo Ferraço, que agora virou psdbista histórico. 
Aí, conversando lá, que é que a gente combinou? Nós temos que estar junto para dar uma saída pro Brasil (inaudível). E, se não estiver, eu disse lá, todo mundo, todos os políticos (inaudível), tão f***, entendeu?  

Porque (inaudível) disse: 'Não, TSE, se cassar...'. 

Eu disse: 'Aécio, deixa eu te falar uma coisa: se cassar e tiver outra eleição, nem Serra, nenhum político tradicional ganha essa eleição, não. (inaudível) Lula, Joaquim Barbosa... (inaudível) 

Porque na hora dos debates, vão perguntar: 'Você vai fazer reforma da previdência?' 

O que que que tu vai responder? Que vou! 

Tu acha que ganha eleição dizendo que vai reduzir aposentadoria das pessoas? 

Quem vai ganhar é quem fizer maior bravata. E depois, não governa, porque a bravata, vai ficar refém da bravata, nunca vai ter base partidária...' (inaudível) Esqueça!
No dia seguinte a esta conversa entre lideranças do PSDB e PMDB, o PSDB anunciou que "caminharia junto como PMDB" pela aprovação do impeachment. 
Olha, Beto Mafra, o que eu vejo é que a esquerda tem tanto medo de eleição quanto a direita. E se os dois lados têm medo, eu só posso deduzir que um tem razão e o outro tá vendo fantasma. Para mim, a direita tem razão para ter medo de eleição. O Romero Jucá disse tudo. Agora, a esquerda, não tem razão nenhuma, está com medo de encarar riscos que não existem.


***

Sobre o seguinte trecho do seu comentário:
Não concordo com essa temeridade(com raiva do trocadilho embutido), que a solução "democrática" fosse solução onde as instituições de Estado foram tomadas por ratazanas.
O equívoco, seu e dos demais opositores da proposta de antecipação da eleição, é considerar esta estratégia como uma solução institucional. Não é. A solução é a mobilização social que a proposta tem potencial para provocar. Veja o que eu digo no meu texto:
Desde abril, as pesquisas de opinião vinham indicando que a única bandeira com potencial para mobilizar a maioria da classe trabalhadora, permitindo a criação de uma barreira social de contenção contra o avanço do golpe, seria a bandeira da antecipação da eleição presidencial ou, pelo menos, da convocação de um plebiscito que dela tratasse.
A eleição poderia nem acontecer. Mas a mobilização social que a defesa da eleição tem potencial para provocar, por corresponder ao desejo da maioria dos trabalhadores, seria muito maior e mais eficaz para derrotar o golpe do que todas as manifestações convocadas até hoje, pautadas pela simples denúncia e repúdio ao golpe e defesa da democracia. 
A melhor estratégia para a esquerda será sempre a estratégia que mais tem potencial para mobilizar as massas para a defesa dos seus objetivos. Se o principal objetivo do golpe é a tomada do poder, derrotar o golpe é impedir a tomada do poder. E a melhor maneira de impedir a tomada do poder através deste golpe seria uma campanha de massas pela antecipação da eleição. 
Por isso, todos os agentes do golpe são contrários à antecipação da eleição, há várias declarações e editoriais de jornais da direita expressando esta posição, dizendo, inclusive, que a antecipação da eleição, sim, é que seria golpe. 
E o mais bizarro desta história toda é que a esquerda, por razões diferentes, mas com a mesma intensidade que a direita, se opõe à antecipação da eleição. E ninguém vê nada de estranho nisso. E aí eu me pergunto: onde é que essa rapaziada está com a cabeça?
Um abraço, companheiro.
***

O companheiro Eduardo Nunes Loureiro disse:
Posso estar redondamente enganado. Mas, como diz o Belchior, "eles venceram e o sinal está fechado para nós". Apesar de não sermos mais jovens (eu, ao menos, não sou), isso deve ser levado em consideração, até para que possamos elaborar estratégias para o próximo período.

Não adianta a gente ficar colocando a culpa na sintonia fina. O que ocorreu foi uma brutal ofensiva da direita, potencializada por erros grotescos nossos, como praticamente se divorciar da base que nos elegeu em 2014 com as medidas que dissemos que seriam utilizadas pelos inimigos - medidas estas que não arrefeceram os ânimos da direita e desmobilizaram aqueles que elegeram Dilma. 

Não ter chamado plebiscito, não ter feito acordo com o Congresso, não ter uma posição unificada etc. são mais consequências dos erros anteriores que sua causa. O momento é de autocrítica, contar os mortos, lamber as feridas e arregimentar forças para continuar lutando. Se a gente continuar dando murro em ponta de faca como tem sido feito desde o dia 17 de abril, as chances de continuarmos nos perdendo e nos desorientando são ainda maiores.
Minha resposta:
Eduardo Nunes Loureiro. Os erros que cometemos nos trouxeram à batalha do impeachment, mas não condicionaram as escolhas e decisões que tomamos nesta batalha, nem estabeleceram que o único desfecho possível desta batalha deveria ser a nossa derrota. Nós poderíamos ter vencido a batalha do impeachment, se ao longo dela tivéssemos feito as escolhas estratégicas certas. Erramos e persistimos no erro, apesar de o erro estar evidente, dando, como você disse, murro em ponta de faca desde o 17 de abril. Nem parecia que queríamos realmente derrotar o golpe. 

O balanço da guerra se faz a partir do balanço das batalhas e esta batalha do impeachment não é qualquer batalha, uma batalha à qual se possa atribuir peso desprezível no balanço da guerra contra a burguesia. O golpe arma ainda mais a burguesia e desarma a classe trabalhadora. Se tem sido brutal a ofensiva da direita contra o PT e o governo Dilma desde 2015, muito mais brutal ainda será a ofensiva que fará a partir de agora contra a classe trabalhadora e o conjunto da esquerda. Não é qualquer derrota que estamos sofrendo e exatamente por ser uma derrota importante é que exige um balanço sério e imediato, com vistas às próximas batalhas.

Minha avaliação, muito sucintamente, é que a esquerda sai derrotada deste processo golpista porque trocou o oportunismo pelo esquerdismo. E se não conseguir se livrar de uma coisa e de outra vai ser derrotada de novo, de novo e de novo. É isso.

Um abraço, companheiro.
Agradeço os comentários de Beto e Eduardo, que me deram oportunidade de esclarecer meu ponto de vista e avançar na minha reflexão.

domingo, 14 de agosto de 2016

Por eleição, o povo já teria abortado a ditadura.

Imperam o cinismo e a hipocrisia nas instituições do Estado e na imprensa corrupta da direita, enquanto na esquerda reina a angustia impotente pela iminência da consumação do golpe e instalação da ditadura. A sensação geral é de que o jogo está decidido e que só um milagre pode evitar o impeachment de Dilma. O golpe, ao que tudo indica, está dado, a direita vence e vence com enorme facilidade, porque a resistência da esquerda foi pífia. Foi fácil, fácil demais nos derrotar e isto é que é o mais preocupante. Porque uma ditadura é bem mais difícil de ser vencida do que um golpe, ainda mais parlamentar.

Resulta, a meu ver, este desfecho melancólico, com suas trágicas perspectivas de desdobramentos, de um gravíssimo erro de estratégia da esquerda. Desde abril, as pesquisas de opinião vinham indicando que a única bandeira com potencial para mobilizar a maioria da classe trabalhadora, permitindo a criação de uma barreira social de contenção contra o avanço do golpe, seria a bandeira da antecipação da eleição presidencial ou, pelo menos, da convocação de um plebiscito que dela tratasse. O erro da esquerda foi desprezar inteiramente este dado da realidade na definição da sua estratégia. E o fez porque tinha, claramente, como objetivo, antes a preservação do que passou a chamar de "discurso do golpe" do que efetivamente derrotar o golpe. A esquerda não estabeleceu uma estratégia para derrotar o golpe, mas uma estratégia para não perder o tal "discurso do golpe". E não perdeu mesmo. Só que o golpe venceu.

O que a esquerda até hoje não entendeu é que a direita sempre quis não só o golpe, mas também uma ditadura, porque o programa de governo que ela defende, a mando da burguesia, é um programa que é não só impossível de ser aprovado numa eleição, como impossível de ser implementado num regime democrático, em razão das fortes reações que tende a provocar na sociedade. A direita precisa de uma ditadura exatamente para inibir ou esmagar estas reações que prevê, assim como precisa do golpe para tomar o poder e assenhorear-se dos meios necessários para estabelecer a ditadura.

A esquerda subestimou a direita. Ou iludiu-se achando que a direita tinha aceitado a democracia ou enganou-se acreditando que a direita não teria coragem de avançar do golpe à ditadura. E, no entanto, era lógico que o faria, porque não teria sentido tomar o poder de forma antidemocrática, com objetivos tão bem definidos, para submeter-se a governar de forma democrática, inviabilizando a realização destes objetivos. A esquerda subestimou a vontade e a capacidade da direita de dar o golpe e criar a ditadura e agora subestima a própria ditadura, avaliando que ela não terá força para se sustentar durante muito tempo. Em 64, ninguém também imaginava que a ditadura durasse 20 anos, muita gente até se preparava para as eleições de 65 e as eleições não vieram, canceladas por um ato institucional dos militares.

A força da ditadura que será inaugurada por Michel Temer, mas que poderá a qualquer tempo passar a ser comandada por outros gerentes, estará exatamente no pacto de unidade da burguesia em torno do programa de governo que vem sendo anunciado. Tem tudo para ser um regime forte e muito difícil de ser vencido, exatamente pelo controle quase absoluto que a burguesia tem do Estado e dos grandes meios de comunicação de massa. Por isso a meses eu venho defendendo a tese de que o objetivo principal do PT e do restante da esquerda deveria ser impedir a posse definitiva de Temer, mesmo que para isso fosse necessário sacrificar o restante do mandato de Dilma, com a antecipação da eleição presidencial. Mas aí diziam que isto legitimaria o golpe e que nos tiraria o discurso. Como, se o objetivo do golpe não é outro senão a tomada do poder e é exatamente a tomada do poder que se pretendia e poderia, efetivamente, evitar com a campanha pela antecipação da eleição ou pelo plebiscito?

Não entendo, além disso, porque se atribui tanto valor ao tal discurso do golpe. O discurso do golpe, que não convenceu a maioria mais pobre da classe trabalhadora a participar das mobilizações contra o impeachment, não salvará a esquerda das perseguições que se intensificarão contra ela a partir de agora, nem poupará a classe trabalhadora dos prejuízos imensos que terá, quando seus direitos começarem a ser realmente atacados. O discurso do golpe sempre teve e continua tendo um potencial de mobilização social limitadíssimo. As pessoas movem-se pelo que desejam e o que as massas querem hoje e já queriam desde abril é mudança, através da antecipação da eleição presidencial ou, melhor ainda, de uma eleição geral. De modo que mesmo que a defesa da antecipação da eleição ou do plebiscito legitimassem o golpe - algo que eu não acredito que aconteça -, a perda do discurso não representaria um prejuízo maior para a democracia do que a vitória efetiva do golpe, com a tomada do poder pela direita e instalação de uma ditadura no país.

Penso que o discurso do golpe é, na verdade, uma auto-consolação de quem admite e aceita a derrota, acreditando que da derrota poderá erguer-se com facilidade e fortalecido, por estar do lado certo da História. Estas pessoas não consideram o fato mais que evidente de que é muito mais difícil derrubar uma ditadura instalada do que uma ditadura em gestação, como a que temos agora. Havia, até bem pouco tempo, condições para abortar a ditadura de Temer, através da mobilização social pela antecipação da eleição presidencial. Mas, como as lideranças de esquerda recusaram-se a adotar esta estratégia, reduziram-se as perspectivas disso acontecer à possibilidade, mais que remota, de que o impeachment seja derrotado por um natural e súbito despertar das consciências de senadores ou ministros do Supremo.

Passou, infelizmente, da hora de se tentar transformar o anseio das massas por mudanças, através de eleições imediatas, em mobilização nas ruas capaz de influenciar decisivamente o julgamento do processo de impeachment. Não tendo sido alterados nem o pensamento e as disposições da maioria dos trabalhadores, nem a estratégia do movimento contra o impeachment, não se pode esperar que haja mudanças significativas no padrão qualitativo e quantitativo das manifestações de agora até 25 de agosto, data da decisão final do senado. Continuará a esquerda isolada da maioria da classe trabalhadora, simplesmente por insistir numa estratégia e discurso que não correspondem aos anseios e disposições que ela expressa. Estas mobilizações continuarão sendo insuficientes e não terão força para impedir que o impeachment seja aprovado. Resta a quem tem consciência da gravidade do momento por que passamos, torcer por um milagre no senado ou no STF e preparar-se para enfrentar tempos difíceis. É difícil acreditar que esta esquerda que foi tão facilmente derrotada pelo golpe, possa não de ser, também facilmente, subjugada pela ditadura que do golpe se origina. A menos, é claro, que consiga tirar as devidas lições da derrota que sofre. Oxalá isto aconteça.

Silvio Melgarejo

15/08/2016