A dubiedade e tibieza do único partido de esquerda de massas e do maior líder popular do país desmobilizam a própria base social da esquerda governista e geram desconfianças imensas e justificadas nas bases sociais e entre as lideranças da esquerda oposicionista e dos movimentos sindical e popular, o que inviabiliza a unidade de ação, em torno de uma pauta comum, para a realização de mobilizações de grande envergadura.
A essência de um governo é a sua política econômica. Por isso não é possível combater uma política econômica e ao mesmo tempo apoiar o governo que a concebe e implementa. O compromisso de Lula e do PT com o governo Dilma representa, na prática, um compromisso com a política econômica do governo Dilma.
A unidade de ação das esquerdas inviabiliza-se pelo justificado receio de amplos setores da vanguarda de partidos e movimentos de que a luta contra o golpe acabe sendo instrumentalizada para servir ao governismo, com a defesa do mandato da presidenta Dilma transformando-se numa defesa do governo Dilma, a despeito de sua política econômica. Isto não aconteceria se Lula e o PT estivessem na oposição. Hoje perguntam, com razão, muitos lutadores:
- “Como confiar em Lula e no PT, se eles estão formal e efetivamente comprometidos com o governo executor da política econômica que combatemos? O que farão, Lula e o PT, se Dilma se mantiver intransigente? Continuarão no governo, fieis à presidenta e dando-lhe suporte para implementar sua política antipopular?”Lula e o PT no governo se enfraquecem, portanto, e com isso enfraquecem à esquerda em seu conjunto. Por isso defendo que rompam com Dilma e passem a atuar com independência na oposição. Desta forma, acredito que poderão contribuir muito melhor e mais efetivamente, tanto com a resistência democrática ao golpismo, quanto com a resistência popular ao neoliberalismo. O futuro da democracia e da esquerda no Brasil dependerá deste reposicionamento do PT em relação ao governo. Ou o PT se apresenta, doravante, como parte integrante de um projeto alternativo democrático e de esquerda ou deixará a classe trabalhadora sem perspectivas, no meio do fogo cruzado entre a conspiração golpista e o governo neoliberal.
O PT não pode mais servir a um governo que serve incondicionalmente aos banqueiros, impondo sacrifícios injustificados aos trabalhadores. Se quiser recuperar a confiança das massas e animá-las a lutar contra o golpe, tem que romper com o governo Dilma e combater implacavelmente a sua política econômica, enquanto denuncia as intenções ocultas do golpismo. Só assim será possível construir uma frente de esquerda ampla e sólida, com força suficiente para influenciar decisivamente o processo político do país.
Lutar contra o governo neoliberal não favorecerá à conspiração golpista, e lutar contra a conspiração golpista não favorecerá ao governo neoliberal, se ambos forem combatidos com igual vigor por uma esquerda unida e independente de compromissos com os agentes dos dois males. Sem vínculos com o golpismo e sem vínculos com o governo, Lula e o PT se credenciarão para liderar uma esquerda revigorada pela unidade e livre das vacilações, recuos e dubiedades que geram desconfiança, desagregam e desmobilizam. Ousadia e coragem é o que se espera do PT e de Lula, para mostrarem aos trabalhadores hoje que outro caminho é possível e que, com luta, é possível ter dias melhores.
Silvio Melgarejo
27/09/2015
https://www.facebook.com/notes/silvio-melgarejo/perman%C3%AAncia-do-pt-no-governo-enfraquece-lula-o-partido-e-a-frente-de-esquerda/1137365299610201
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