sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Força para impedir o golpe e impulsionar reformas estruturais, o PT só conseguirá rompendo com Dilma e atuando na oposição.

Se Lula e o PT não tiverem a coragem de assumir uma posição firme em relação ao governo Dilma, colocando inclusive em perspectiva a possibilidade de uma ruptura, a esquerda do país vai continuar sem alternativa de direção e completamente desmoralizada, desmotivada, dispersa e desmobilizada, como se tem visto.

Do jeito que estamos, as chances de êxito de um golpe de Estado se tornam grandes, porque o próprio governo, com sua política, tem sabotado todos os esforços dos movimentos sociais que tentam organizar a resistência democrática. Mesmo assim, é preciso reconhecer que estes movimentos não são capazes de cumprir o papel que pode desempenhar um partido político de massas, e que o único partido de esquerda de massas, que tem em seus quadros uma liderança nacional de grande peso, é o Partido dos Trabalhadores.

Um povo muito insatisfeito com seu governo, logo procura alternativas políticas. O povo brasileiro está, como todos sabem, muito insatisfeito com o atual governo. E que alternativas encontra quando olha o quadro político? Alguma de esquerda, que seja viável? Não, nenhuma. E é exatamente isto que me leva a crer que se Lula e o PT não se apresentarem, desde já, como alternativas a Dilma Rousseff, é a oposição de direita quem vai capitalizar a insatisfação popular.

A resistência ao golpe de Estado e à ofensiva conservadora e obscurantista será insuficiente se não puder contar com a força do maior partido de esquerda e do maior líder popular do país. Ocorre que, amarrados, como estão, à política neoliberal de Dilma e à política corrupta e reacionária do PMDB, Lula e o PT se fragilizam, porque se desmoralizam, cada vez mais, e perdem a confiança e o apoio dos trabalhadores. O governo Dilma hoje sangra, mas sangram muito mais o PT e o próprio Lula, seus maiores fiadores.

Já não há mais, na prática, governo petista. Há um governo de coalizão onde o PT não tem a menor influência, porque a presidenta, sua filiada, resolveu dar as costas para os trabalhadores e governar com o mercado financeiro. Donde é justo e necessário que se pergunte: O que faz Dilma ainda no PT? E o que faz o PT ainda no governo Dilma?

Avança no Brasil a conspiração golpista, sem encontrar resistência relevante, porque o único partido de esquerda de massas e a maior liderança popular do país estão inteiramente comprometidos com este governo, que ajudaram a eleger, mas cuja legitimidade, perante as massas, se esvai a cada compromisso eleitoral traído.

Os trabalhadores não lutarão por uma democracia em que não vejam lideranças e partidos que se mostrem dignos da sua confiança, capazes de representar com fidelidade e desassombro os seus anseios, nas ruas e nas instituições do Estado. Se Dilma faz-se antagonista dos trabalhadores e Lula e o PT insistem em apoiar o seu governo, mantendo-se a ele vinculados, onde, na esquerda, achará o povo alternativas? Nos pequeninos partidos, de lideranças inexpressivas? E se não achar nada à esquerda, muito menos à direita? Não será natural que o povo dê de ombros e deixe a banda golpista passar, apeando do Planalto a presidenta que traiu seus votos?

É preciso que se diga hoje com todas as letras uma verdade que muito petista já deve intuir, sem ter coragem de admitir, com medo de favorecer à conspiração:

Força para impedir o golpe e impulsionar as reformas estruturais necessárias para o avanço do seu projeto, o PT só terá se estiver na oposição. Na oposição, Lula e o PT poderão recuperar a confiança das massas e mostrar que uma democracia onde elas tenham voz ainda é possível, porque o PT não desistiu de ser essa voz.

Ninguém pode servir a dois senhores. Ou o PT continua servindo à burguesia financeira, com o apoio incondicional que tem dado ao governo Dilma, ou volta a servir aos trabalhadores, desligando-se do governo para construir uma alternativa democrática de esquerda, em frente com outros partidos e organizações sociais, para lutar simultaneamente contra o golpismo da direita e contra o neoliberalismo do governo.

Lula e o PT têm que deixar de ser parte do problema dos trabalhadores, para serem parte da solução. Ou então não poderão ter outro destino senão a famosa "lata de lixo da História", onde foram parar tantas lideranças e partidos socialistas promissores.

Lula e o PT no governo deixam, de fato, a classe trabalhadora sem uma alternativa democrática de esquerda, sob o assédio intenso e permanente da direitia golpista. Como esperar que uma situação como esta não tenha o pior desfecho possível para a democracia?

Lula o PT na oposição serão a alternativa de esquerda que os trabalhadores precisam para dar sentido à sua mobilização pela democracia, contra o golpe e por uma nova política econômica.

Posições dúbias não inspiram confiança. O PT não pode ignorar a natureza antipopular do governo Dilma e precisa se posicionar claramente sobre ele perante os trabalhadores. Não dá mais prá continuar acendendo uma vela prá Deus, outra pro diabo e achar que os dois lados vão ficar satisfeitos. Já não estão. Por isso tanto o governo, quanto o próprio PT estão perdendo cada vez mais apoio na sociedade. Daqui a pouco, a direita não vai precisar mais de golpe, o governo cai de maduro.

Como eu já disse em outra nota, ninguém pode obrigar Dilma a salvar seu governo. Mas também não se pode exigir do PT que morra com Dilma, num abraço de afogados. É preciso salvar o projeto petista, que é muito mais do que o governo Dilma. O partido pode ou não sobreviver ao desvirtuamento e fracasso do governo. Mas isto dependerá da posição que ele assuma em relação ao governo, perante os trabalhadores. É isso que precisa ser considerado pela militância petista.

O que está em jogo hoje não é só o governo Dilma. É o futuro do projeto petista, que depende, antes de tudo, da relação que o PT consiga construir e manter com a classe trabalhadora. Ficar no governo Dilma ajuda ou dificulta esta relação?

Pois, eu não tenho a menor dúvida de que o compromisso histórico que o PT tem com os trabalhadores não deixa ao partido outra alternativa, senão romper com o governo Dilma, para atuar na oposição, com independência em relação à burguesia.

O PT já perdeu o governo Dilma. É hora de virar a página e começar a escrever novo capítulo.

Silvio Melgarejo

25/09/2015


https://www.facebook.com/notes/silvio-melgarejo/for%C3%A7a-para-impedir-o-golpe-e-impulsionar-reformas-estruturais-o-pt-s%C3%B3-conseguir%C3%A1/1136244733055591

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