No dia 3 de setembro, publiquei a imagem abaixo no Facebook. Quatro dias depois, o companheiro Marat Calado escreveu sobre ela e iniciamos um diálogo sobre a situação do PT e as possíveis saídas para a crise vivida pelo partido. Reproduzo nossa conversa abaixo.
MARAT CALADO
Sobre O QUE TEM FEITO OS PRESIDENTES DE DIRETÓRIOS...
Por aqui, na Freguesia de Jpa., posso garantir que o PT é um grupo fechado. Encontrei duas vezes o presidente (uma nas eleições para prefeito e outra para governador) que atua como todos os novatos inseguros. Anotam teu telefone, e-mail, diz que fará contato, não informa onde fica a sede ou sala de reunião e sai consciente que vc está a disposição dele. Um infantil. Nunca houve uma ação na rua. Na primeira vez, não me identifiquei, só dei nome e e-mail, pensei que era por isso. Na segunda conversei um pouco e tentei criar uma identificação, falando de passagens históricas, pareceu ser pior, fez cara de interjeição... tipo, esse cara vai me trazer problema... Estou esperando contato até hoje. Achei bom que fosse assim. Sei que fez parte dos que impediam a votação no TED, burocratizando e colocando garotas desinformadas para bloquear a votação. Este é o quadro.
SILVIO MELGAREJO
E, infelizmente, isto deve ser geral, Marat. Não é casual que você tenha encontrado este dirigente apenas em campanhas eleitorais. É que fora das eleições, internas e externas, o PT não funciona mesmo para nada.
O partido não tem política nenhuma para garantir o funcionamento dos diretórios do modo como o seu estatuto determina.
Os dirigentes são, na verdade, cabos eleitorais, não são orientados, não têm suporte e não estão submetidos a controle nenhum, nem por parte das suas instâncias superiores, nem por parte das suas próprias bases de filiados, que eles de fato marginalizam com sua permanente inoperância. Respondem unicamente ao comando dos parlamentares ou tendências a que estão vinculados.
Se existe alguma política para os diretórios do PT, parece que é exatamente para garantir que eles não funcionem e mantenham os filiados à margem de todo debate, decisão e atividade. E é o que tem acontecido desde sempre.
Como mudar isto? Exigindo da direção nacional o cumprimento do Estatuto no que tange à disciplina dos dirigentes de todos os níveis, para que eles realizem, pelo menos, aquelas obrigações básicas que o Estatuto explicitamente lhes atribui e que, em geral, eles não cumprem, não sofrendo por isto nenhuma sanção, nem a mais leve advertência.
Esta questão da disciplina dos dirigentes é a chave para a solução do problema do funcionamento dos diretórios. Mas é preciso que haja uma política administrativa global para o partido que também oriente melhor a atuação destes dirigentes. Eles precisam ser cobrados, mas precisam também ser melhor orientados para serem capazes de cumprirem suas funções e responderem adequadamente às exigências dos cargos que ocupam.
Esta é uma reflexão que precisa ser feita no PT para que se desenvolva no partido a consciência, ainda ausente, de que política nenhuma, por mais acertada que seja, se realiza sozinha, espontaneamente, sem método de trabalho, mecanismos de controle e rigorosa disciplina.
MARAT CALADO
É exatamente isso. O problema é que ao levar para a Direção Nacional (vou citar apenas um nome) vc não encontra respaldo algum. É outra 'igrejinha', companheiro. Que moral tem um Cantalice (Vice Presidente Nacional) para implementar formação para os componentes de Diretórios e implementação de qualquer trabalho de rua, se ele foi um dos grandes omissos e inibidores e burocratas (no mau sentido da palavra), quando foi presidente da Regional/RJ. Essa figura (não quero com isso, conflitar com ninguém) acabou de enterrar o PT, em sua gestão. Faz parte da CNB, apenas para galgar o poder e os dirigentes paulistas que nada sabem e nem querem saber, elegem esses 'quadros' enganadores para conclamar as bases. Observe como ele fala nas entrevistas do jornal do PT ou qualquer outro veículo, é risível. Dá vergonha. Estamos nos enganando, quando acreditamos nessas lideranças. Pessoas com a tua consciência (sinceramente, sem média) são pouquíssimas. É difícil encontrar na direção. Quando eles elegem, a figura é cooptada ou já chega lá, porque aceitou a 'regra do jogo'. Sei não, não vislumbro grandes avanços, apesar de torcer (internamente nada posso fazer) sinceramente, para que a militância ativa e capaz, independente, conquiste um grande espaço para tirar o PT dessa letargia, que parece ter sido inoculada na maioria das direções do Partido dos Trabalhadores. Grande abraço.
SILVIO MELGAREJO
Marat. Tenho a mesma percepção que você. Mas, sou mais otimista. Internamente, realmente, nenhum de nós pode fazer nada. Mas, aqui fora, graças às redes sociais da internet, é possível criar um amplo movimento, ao mesmo tempo crítico e propositivo, que desperte uma nova consciência na militância petista e a leve a demandar mudanças na atuação das nossas mais influentes lideranças.
Estou absolutamente seguro, companheiro, de que o ambiente possível e ideal para a disseminação de uma nova cultura partidária petista é a internet, com suas redes sociais. Aqui é possível compartilhar pensamentos e debater ideias, sem limitações de espaço, nem de tempo. E compartilhar pensamentos e debater ideias é tudo que mais se precisa para iniciar e dar curso a transformações políticas, a partir da mudança das mentalidades.
Temos a internet e isto não é pouco, Marat. Vamos usá-la, fazendo o possível, a nossa parte, sem esperar milagres, mas dando crédito à capacidade de discernimento dos milhares de petistas que encontramos nas redes sociais e apostando na capacidade destas redes de multiplicarem ao infinito a reprodução de mensagens de qualquer natureza.
É preciso realmente mudar a direção do PT. Mas antes é preciso mudar a mentalidade da vanguarda do partido, para que dela surja uma direção alternativa que não seja uma mera continuidade do que temos hoje. A mudança que a direção do PT precisa não é de caras e nomes, não é geracional, racial, nem de gênero. A direção do PT precisa de uma mudança de valores e hábitos, que têm que ser determinados pela vanguarda do partido na permanente reflexão coletiva que esta vanguarda faça nas redes sociais e nas ruas.
Vejo o PT como um doente em fase terminal, Marat. Mas, como diziam os Titãs, "o pulso ainda pulsa". E, enquanto pulsar, acho que, como militantes de esquerda, temos o dever de tentar salva-lo. Porque, indiscutivelmente, sua morte, hoje, traria imensos prejuízos para a classe trabalhadora brasileira e latino-americana. Esta é, a meu ver, uma excelente razão para não desistirmos de lutar pelas mudanças que julgamos necessárias.
MARAT CALADO
Concordo. Este apêndice (Rede Social) pode funcionar e gerar novas cabeças com novos pensamentos. Conheci alguns novos, realmente livres do 'ranço' intelectualoide existente no Partido. Gostei e mantenho um leve contato, para não aparentar 'patrulha' ou 'cabresto', e o papo flui. Agora, arregimentar essa turma, não sei como fazer ou iniciar. Talvez seja um pouco de cansaço da minha parte. 'Preguiça' da mesmice histórica. Rsrs. Mas, alguém do nosso meio, com essa visão que vc está passando, deve conseguir. Uma observação: Continuo achando a Rede Social, bastante vulnerável e com 'figuras dissimuladas'. Detectar isso, é a missão mais difícil. É o que penso.
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