Essa fúria toda, que tenho visto, contra o deputado Molon, vindo de tanta gente que silenciou ante o apoio do PT do Rio à concessão da Medalha Tiradentes a Eduard0 Cunha, e ante o estarrecedor anúncio, pelo presidente do diretório regional do partido, Washington Quaquá, de que o PT apoiará o candidato do PMDB, Pedro Paulo, na eleição para prefeito do Rio, me parece absolutamente desproporcional e incoerente.
E mais desproporcional e incoerente, ainda, me parece, quando lembro que o próprio Molon não sofreu a menor crítica quando, equivocadamente, votou, junto com a quase totalidade da bancada petista na Câmara Federal, a favor das MPs 664 e 665, do ajuste fiscal de Dilma, que eram desaprovadas pelo conjunto das centrais sindicais e movimentos populares. É esta a ajuda que esperavam que o deputado continuasse dando à presidenta?
Dizem que Molon foi para um partido de direita, por isso é um traidor. Mas que diferença há entre servir ao neoliberalismo de Marina - como supõem, os críticos, que Molon fará - e servir ao neoliberalismo de Dilma - como o deputado já vinha fazendo, com a aprovação da maioria destes que agora o condenam? Marina, pelo menos, não enganou ninguém, disse na campanha que faria o que Dilma hoje faz, tendo jurado que não faria. E, no entanto, Dilma é que é boa, traíra é Marina?
Ora, meus amigos, vamos ser razoáveis. Ajudar Marina, hoje, não é pior do que ajudar Dilma, porque há uma enorme semelhança entre a política implementada pela presidenta e a política defendida por sua adversária na campanha. Mais que isso, há uma enorme semelhança também entre as políticas de ambas e a então defendida pelo concorrente tucano, Aécio Neves. Tanto que a própria direita neoliberal - Globo à frente - tem cobrado coerência de Aécio e do PSDB, quando eles tentam sabotar o governo Dilma, na aplicação de sua política econômica.
Chamo atenção para o fato de que os dois concorrentes de Dilma na eleição presidencial, anunciaram ainda durante a campanha, os nomes dos seus ministros da fazenda, caso fossem eleitos. O de Aécio Neves, era Armínio Fraga. O de Marina Silva, André Lara Resende. E o de Dilma? O de Dilma ninguém soube, porque a presidenta omitiu, tendo anunciado apenas depois de reeleita, que seria Joaquim Levy. E que diferença há entre os economistas Levy, Lara Resende e Fraga? Nenhuma. Por isso o nome de Levy foi ocultado por Dilma dos seus eleitores. Não era conveniente que eles soubessem. O que dizer desse tipo de manobra?
Dizem os críticos de Molon que, assim como Marta Suplicy, ele desrespeitou a vontade dos seus eleitores, levando o mandato conquistado para outra legenda. Mas a verdade é que Dilma também desrespeita a vontade dos seus eleitores, quando governa com o programa de Aécio e Marina; que a bancada petista na Câmara Federal desrespeitou a vontade dos seus eleitores, quando votou a favor das MPs 664 e 665, do ajuste fiscal; que a bancada petista na Alerj também desrespeitou a vontade dos seus eleitores, quando votou a favor de uma homenagem especial a Eduardo Cunha; e que Washington Quaquá, presidente do diretório regional, desrespeita a base de filiados do PT do Rio, quando decreta que o partido apoiará o candidato do PMDB à prefeitura, na eleição do ano que vem. E quanto a isso tudo, todos estes críticos de Molon se calam.
Não consigo ver traição maior na mudança inesperada de partido do deputado Molon, do que na também inesperada mudança de política econômica de Dilma e nas posições mencionadas, do diretório regional do PT do Rio e das bancadas do partido na Alerj e na Câmara Federal. A ida de Molon para a Rede me parece menos absurda e menos prejudicial ao PT e aos trabalhadores do que estes outros fatos, contra os quais não se levanta uma voz sequer, destas tantas que ora se mostram indignadas. “Por que será?”, me pergunto. “Por que será?”, lhes pergunto.
Onde a coerência dos críticos de Molon? Por que combatem com tanto vigor a suposta traição do deputado - afinal, divórcio não é traição - e ao mesmo tempo convivem pacificamente com tantas inequívocas traições, sem esboçar a menor reação e, em alguns casos, até premiando o adultério com homenagens e expressões de incondicional apoio? Me perdoem, mas penso que falha o discernimento dos que assim procedem. Protestar contra um filiado que se desliga e contra os erros dos outros partidos e fazer, ao mesmo tempo, vista grossa para os erros do próprio PT, que provocam a maioria das defecções que ele sofre, não vai fazer do PT um partido melhor do que os outros, aos olhos da classe trabalhadora.
Erros, não se corrige sem críticas. Molon pode até ter errado, mas não foi o único e agora está fora do PT. Críticas a ele, não mais contribuem para a identificação e correção dos erros do partido e seu governo. Há traições, inúmeras, que tem sido consentidas pela maioria da militância petista, que podem custar muito mais caro ao PT e à classe trabalhadora do que esta suposta traição do deputado, que tanta revolta, inexplicavelmente, tem gerado.
Os atos de Molon, desde que saiu do partido, já não dizem mais respeito à militância petista. Já os atos do PT e do governo Dilma, estes sim é que nos dizem respeito e é com eles que devemos nos ocupar, exercitando a nossa aptidão crítica, para aperfeiçoar o desempenho de ambos. A omissão fará desta militância cúmplice de todas as traições cometidas contra a classe trabalhadora pelos dirigentes, parlamentares e governantes do PT, inclusive Dilma. Não nos omitamos, portanto, companheiros. Reajamos. Molon poderia até ser considerado parte do nosso problema quando estava no partido. Mas ele já saiu e os problemas continuam, tão graves quanto antes. Tratemos, então, de resolve-los que isto, sim, é que pode tornar o PT mais forte e mais capacitado para atingir os seus reais objetivos, que espero não terem sido esquecidos pela militância petista.
Silvio Melgarejo
28/09/2015
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