sábado, 29 de novembro de 2014

Correlação de forças e administração partidária: Dois temas que precisam ser estudados e discutidos pela vanguarda petista.

(Resposta ao comentário de um companheiro no Facebook)

Luiz Claudio. É evidente que usamos critérios diferentes para avaliar a correlação de forças e acho que seria útil explicitarmos estes critérios para julgar suas validades. Acredito que boa pate das divergências no campo da esquerda decorrem da relevância maior ou menor que se dá a este fator da luta da classes, a correlação de forças, para a concepção das ações políticas, mas também da aparente diferença de critérios usados para avaliá-lo. Por isso acho que o conceito da correlação de forças deveria ser mais estudado e debatido, não só dentro do PT, mas no conjunto da esquerda. Acho que ter mais clareza sobre o que é correlação de forças contribuiria para que os debates fossem mais produtivos, no sentido da unidade de ação.

A outra questão que precisa ser discutida é sobre o aspecto administrativo das organizações de esquerda. O PT vive uma crise organizativa crônica desde 1982, segundo diagnósticos aprovados em resoluções de vários encontros nacionais. Os problemas, portanto, vêm de muito antes de 1987. A deficiência administrativa tem gerado desde aquela época graves problemas políticos, dentre os quais o precário funcionamento da democracia partidária e uma total incapacidade de mobilizar o conjunto dos filiados para as ações mais simples. Veja o exemplo do abaixo-assinado da Reforma Política.

Nada mais fácil do que colher assinaturas. A meta estabelecida pelo PT desde março ou abril de 2013 era colher 1,5 milhão de assinaturas. Ora bolas, o PT tem 1,5 milhão de filiados. Bastava colher as assinaturas desses filiados que a gente batia essa meta. Por que não o fizemos? Por que não o fazemos? Porque falta planejamento, organização, direção e controle nos diretórios para a execução dessa tarefa. E planejamento, organização, direção e controle são etapas do processo administrativo.

É isso que falta ao PT para se tornar uma ferramenta realmente útil à luta dos trabalhadores: capacidade de administrar os  recursos presentes em sua base de filiados. Falta ADMINISTRAÇÃO PARTIDÁRIA. Este é um tema fundamental que precisamos discutir e que encontra, não obstante, uma enorme resistência na vanguarda do partido.

A política precisa da administração para se realizar. Este é o conceito que defendo e que considero ser a chave para a solução destes dois problemas crônicos que o PT tem tido desde a sua fundação, que são a precariedade da democracia interna e a falta de poder de ação coletiva, e para que vençamos o desafio de construir um partido que seja realmente indutor, organizador e dirigente de grandes mobilizações de trabalhadores.

Correlação de forças e administração partidária. Estes, Luiz Cláudio, são a meu ver os dois temas mais importantes que precisam ser discutidos pelos que compreendem a importância da ação política partidária na luta de classes. Um abraço, companheiro.

sábado, 22 de novembro de 2014

Sobre uma esquerda que não tem noção de sua própria fragilidade e sua injustificada revolta ante o convite de Dilma à Katia Abreu para o Ministério da Agricultura.

Embora Dilma nada diga sobre a reforma ministerial que está preparando, tem-se noticiado que ela convidou a líder ruralista Kátia Abreu para a pasta da agricultura. E isso tem dado ensejo a que velhos e contumazes críticos esquerdistas se precipitem a condenar Dilma e acusá-la de traição aos seus eleitores. Um deles publicou ontem no Facebook:

"Vergonha Dilma, muita vergonha. Vergonha. Vergonha = Ministério da Agricultura."

E deu-me oportunidade de, movido pela indignação contra estas palavras injustas, expressar meu ponto de vista sobre o atual momento político.

Vergonha?

Assim respondi:

Vergonha é ignorar que este governo é um governo de coalizão, não um governo de esquerda, de uma só classe e de um só partido.

Vergonha é ignorar que a coalizão com setores do centro e da direita impõe-se pela razão muito simples de que a esquerda não tem base parlamentar para sustentar um governo de esquerda.

E digo mais. A esquerda não tem sequer base social capaz de sustentar hoje o governo Dilma, porque os partidos de esquerda de um modo geral têm agido como se abominassem a organização e a mobilização das massas, são radicais no discurso de cobrança ao governo, mas têm uma prática ultra-conservadora, que despreza por completo a disciplina militante e as ações partidárias organizativas.

O vigor das cobranças verbais precipitadas e irracionais vem de gente e de partidos que fingem não saber que no plano institucional a correlação de forças não favorece nem um pouco a um governo de esquerda; que a única forma desse governo não ser capturado pela direita é mudar a correlação de forças na sociedade; e que a única forma de mudar a correlação de forças na sociedade é investir na construção de partidos de esquerda que sejam indutores, organizadores e dirigentes de grandes mobilizações de trabalhadores. E isso não tem sido feito.

As cobranças a Dilma vêm de gente e de partidos que não movem uma palha sequer para ajudar a criar condições que realmente favoreçam à construção de uma base social de esquerda ampla, sólida, organizada e atuante que fortaleça a posição da esquerda dentro da coalizão governista e permita a Dilma governar menos limitada por uma correlação de forças, na institucionalidade, que é imensamente desfavorável à esquerda. Na Câmara Federal são 16,37% de deputados da esquerda contra 83,63% de deputados da direita e do centro. Isto sem falar na mídia e no Judiciário, inteiramente dominados pela direita.

A correlação de forças no Estado já está definida e aí a esquerda está em minoria. A disputa que tem que ser feita agora é na sociedade, nas ruas, na internet. É a disputa da opinião pública e a organização das massas para a realização de ações políticas de grande envergadura, que tenham forte impacto na sociedade e no Estado e sejam capazes de influenciar o processo político institucional. O governo Dilma precisa do apoio das ruas e esse apoio só pode ser construído por partidos de esquerda que sejam máquinas de organizar e mobilizar multidões. Estes partidos ainda estão por ser construídos.

Cobrar de Dilma que faça um governo de esquerda pura e classista, quando não há base de esquerda para sustentar este governo nem no Parlamento, nem no Judiciário, nem na mídia e nem na sociedade, é exigir o impossível e dar mostras de muito pouco discernimento político. Cobra-se que ela ignore as circunstâncias que cercam seu governo, que aja de forma irresponsável e voluntarista e que busque deliberadamente o fracasso e a derrota.

Nem Dilma, nem a esquerda que ajudou a elege-la e que sobre seu governo tem tantas expectativas, podem ignorar as circunstâncias do atual momento da luta de classes. E as circunstâncias hoje exigem o protagonismo das massas trabalhadoras nas ruas, organizadas e dirigidas por bem estruturados partidos de esquerda. É com a construção destes partidos que a esquerda deve se ocupar e não com críticas e cobranças à Dilma que a realidade política do país não justifica.

***

Publicado em:

https://www.facebook.com/melgarejo.silvio/posts/946161165412282
https://www.facebook.com/rosana.p.machado.7/posts/10152387699015703

Próxima missão dos petistas: Pacto pela Construção Partidária.

A esquerda na Câmara Federal - Legislatura 2015-2018

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

O impeachment de Dilma continua sendo a estratégia da oposição de direita.

Anteontem, 19/11/2014, um companheiro chamado Daniel Spirin Reynaldo postou no Facebook a seguinte mensagem:
"BANHO DE ÁGUA FRIA NOS EXTREMISTAS GOLPISTAS

Mônica Bérgamo traz uma notícia em sua coluna de hoje na Folha de S. Paulo que põe fim às pretensões golpistas/intervensionistas da direita radical e das viúvas da ditadura."
 Respondi-lhe no dia seguinte, 20, com o seguinte texto:
"Daniel. O que está descartado é a 'quartelada', ou seja, o golpe de Estado que tem como agentes as forças armadas. A ameaça real, que ainda persiste, é a do golpe que tem como agentes o parlamento, o Judiciário, o Ministério Público e a Polícia Federal. O impeachment de Dilma continua sendo a estratégia da oposição de direita."
Compartilhei o link abaixo:
Segredo do golpe é parecer algo constitucional e democrático
E conclui com a seguinte imagem:

O que é "organizar a base do partido".

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Por um partido indutor, organizador e dirigente das mobilizações dos trabalhadores.

Não existe mobilização espontânea. A importância do partido militante e dirigente.


Em 18/11/2014 postei a imagem acima como comentário em um status do deputado Alessandro Molon.

No dia seguinte, 19, uma companheira chamada Joseli Lannes disse a respeito da mensagem desta minha imagem:
"Como simpatizante e participante desde 1982, acho que está na hora de re-construir o PT e re-sintoniza-lo às ações de trabalhadores e da sociedade - a sociedade se mobilizará e organizará nova vias, com ou sem PT. Eu gostaria que fosse com, como tenho trabalhado. Mas sem achar que o PT 'fará indução e dirigira as mobilizações de trabalhadores'. Armadilha perigosa."
Em resposta a ela, postei o seguinte texto:
"Joseli Lannes. Não existe mobilização espontânea. Todas são induzidas por alguma organização, que pode ser uma entidade do movimento social, uma rede de televisão ou um partido ou frente de partidos políticos. 

Também não existe mobilização social bem sucedida se não houver uma direção que seja capaz de garantir a unidade de ação e de propósitos. Mobilização sem direção resulta em dispersão e desvirtuamento de objetivos. 

O mais recente exemplo disso foram as manifestações de junho de 2013 que nasceram movidas por bandeiras democráticas e de esquerda e acabaram se esgotando sem alcançar outro resultado significativo além do fortalecimento da direita. 

Os protestos de junho começaram com a demanda de um pequeno movimento em São Paulo, o Movimento Passe Livre, e se agigantaram, ganhando uma dimensão nacional e ampliando e diversificando sua pauta. 

O problema é que não havia nenhuma organização de esquerda capaz de dar direção às massas que foram para as ruas em todo o país. E este vazio de direção acabou sendo ocupado por uma poderosa organização de direita, que foi a Globo. 

A emergência do fascismo, que hoje vemos desfilar, desafiar e ameaçar a democracia, se deu em junho de 2013, induzida e orientada pela Globo para o desgaste - que efetivamente se deu - do governo Dilma e do PT. Alcançado o objetivo pretendido, a própria Globo tratou de esvaziar o movimento com a colaboração dos black blocs.

A lição que se pode tirar destes eventos é que não basta à esquerda botar o povo na rua para alcançar seus objetivos. É preciso fazê-lo de forma organizada para garantir a unidade de ação e de propósitos. E não existe organização sem direção. 

O que eu defendo é que o PT se prepare para ser essa direção que as massas precisam para atuarem de forma coesa e coordenada na defesa do mandato de Dilma e da democracia e na luta pela Reforma Política e pela Democratização da Mídia."

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Por um partido indutor, organizador e dirigente das mobilizações dos trabalhadores.

Sem organização, o partido é uma máquina desmontada. Debate com o presidente do 2º Diretório Zonal e outros companheiros.


Compartilhei ontem esta imagem em minha página pessoal no Facebook e em algumas comunidades petistas. A publicação deu início ao debate que reproduzo abaixo.

Messias Gonçalves Cardoso - "A máquina é de todos nós, quais são suas avaliações para que possamos avalia-lo, Silvio?"

Silvio Melgarejo - "A máquina é de todos nós. Mas você conhece o estatuto do partido? Sabe que ele estabelece prerrogativas e responsabilidades diferentes para filiados de base e dirigentes? Pelo visto, não. Eu sou filiado de base. E você? É dirigente? Leia, por favor, o estatuto do seu partido."

Jose Aureliano Barbosa - "Todos nós militantes que acreditam e lutam por um Brasil melhor, a luta continua."

Silvio Melgarejo - "Nós somos 'peças' da 'máquina', Jose Aureliano Barbosa. Quem tem que juntar as peças e montar a máquina é a direção do partido. Esses dirigentes são eleitos no Processo de Eleição Direta (PED) e compõem instâncias chamadas 'diretórios'. Os diretórios têm atribuições que estão definidas no estatuto do partido. Uma das missões dos diretórios é exatamente organizar a sua base de filiados. Para isso, eles precisam cumprir as seguintes tarefas que cito abaixo:"



Juliana De Brito Sellani - "Somos militantes e não fugimos a luta ...."

Silvio Melgarejo - "Os filiados ficam em sua imensa maioria dispersos e sem contato nenhum uns com os outros e com a direção do partido exatamente porque estas atribuições previstas no estatuto do PT não são em geral cumpridas pelos nossos diretórios."

Jorginho Do Andaraí - "Isso não é verdade. Sou presidente do diretório da 2ª Zonal do PT no Rio de Janeiro e sei muito bem quem são os filiados e filiadas do partido."

Silvio Melgarejo - "Jorginho Do Andaraí. Você tem endereços, telefones e e-mails atualizados de TODOS em seu cadastro? Mantém contato permanente com TODOS como determina o Estatuto? Como você faz essa atualização do cadastro? Pode dizer?"

Jorginho Do Andaraí - "Silvio Melgarejo não compete ao presidente do Diretório Zonal tomar conta de filiados/as 24 horas por dia. Acabamos de sair de uma eleição nacional e a militância do partido mostrou sua força e organicidade. No RJ estamos trabalhando com núcleos do partido e cabe aos coordenadores/as dos núcleos manter sua organização interna. A 2ª Zonal é composta por 11 bairros e 23 comunidades. Desta forma sabemos quem são os filiados do partido."

Silvio Melgarejo - "Jorginho Do Andaraí. O que você chama desdenhosamente de 'tomar conta de filiados' eu chamo de 'fazer trabalho de base'. E isso compete sim, companheiro, ao presidente e ao conjunto do seu diretório zonal, particularmente à sua comissão executiva. É para isso que vocês foram eleitos no PED, para cumprir deveres que estão muito bem definidos no estatuto do partido, que todo dirigente tem a obrigação de conhecer e cumprir. 

Cito abaixo dois artigos do estatuto do PT, aos quais já fiz menção acima, que estabelecem claramente como COMPETÊNCIAS dos diretórios zonais a manutenção do cadastro de filiados e a comunicação permanente com todos os filiados. Dizem estes artigos:
'Compete aos Diretórios Zonais (...) manter em dia o cadastramento dos filiados e filiadas do Zonal.' (Artigo 87, letra 'c', do Estatuto do PT)

'Compete à Comissão Executiva Zonal (...) informar e atualizar TODOS os filiados e filiadas sobre políticas, propostas, publicações, materiais e demais iniciativas do Partido.' (Artigo 88, letra 'g', do Estatuto do PT)
O estatuto é claro. Estas duas tarefas são atribuições dos diretórios zonais, que são instâncias dirigentes, e não dos núcleos, que são instâncias de base. 

O que você está dizendo é que simplesmente transferiu para os coordenadores de núcleos uma responsabilidade que o estatuto do PT diz, com todas as letras, ser sua, como presidente do diretório zonal. 

Eu não sei quantos núcleos você tem realmente estruturados e atuantes na sua zonal. Mas tenho absoluta certeza de que a imensa maioria dos filiados da sua base territorial está fora deles, dispersa e sem contato com o partido, como a maioria dos filiados Brasil afora.

O seu depoimento é importante, Jorginho, porque confirma o que venho dizendo. Os dirigentes dos diretórios do PT não têm a disciplina do trabalho de base e por isso não cumprem a missão de organizar o partido em suas jurisdições.

A verdade é que os diretórios raramente funcionam e inexistem rotinas de trabalho em suas secretarias. E isso acontece porque não existe controle e cobrança tanto da base destes diretórios quanto das instâncias que lhes são superiores.

Eu te pergunto, Jorginho: que tarefas têm cumprido regularmente os seus secretários de Organização, Finanças, Comunicação, Formação Política e Mobilização, desde que tomaram posse no início do ano? Não me refiro, evidentemente, a campanhas e sim a tarefas específicas de cada secretaria, que são vitais para o funcionamento regular do partido.

Um abraço, companheiro."

terça-feira, 11 de novembro de 2014

A presidência da república é ou não é do PT? Correlação de forças, governo de coalizão e partido militante.

Em 7/11/2014, o jornal O Globo publicou uma notícia que tinha o seguinte título:
‘Eu não represento o PT, represento a Presidência da República’, diz Dilma
No corpo da matéria, a declaração completa da presidenta:
"Eu não represento o PT. 

Eu represento a Presidência da República. 

A opinião do PT é a opinião de um partido. 

Não me influencia, eu represento o país. 

Sou presidente dos brasileiros. 

Acho que o PT, como qualquer partido, tem posições de parte e não do todo, é deles, é típico."
Em 9/11/2014, o companheiro Pedro Bernardes Neto, da tendência Esquerda Marxista, compartilhou o link desta notícia numa comunidade petista do Facebook, com o seguinte comentário:
"O que é isso companheira? Então porque é filiada ao PT? "
No dia seguinte, 10, publiquei o seguinte texto, em resposta a ele:
"Dilma é presidenta de um governo de coalizão. 

O governo não é exclusivamente do PT, é composto por outras forças, inclusive de direita. 

É evidente que dentro da coalizão há disputa entre os partidos e que Dilma participa dessa disputa como defensora maior das posições petistas. 

Mas não o faz de maneira ostensiva para evitar melindres e preservar a integridade dessa coalizão que já é por natureza frágil em razão de suas agudas contradições. 

O desafio da nossa presidenta e da direção do PT é conseguir construir e manter uma base de sustentação parlamentar que dê um mínimo de segurança ao nosso governo de que ele pelo menos não seja interrompido por um processo de impeachment. 
Já os compromissos assumidos por Dilma com os trabalhadores durante a campanha só poderão ser honrados se ela tiver uma ampla e consistente base de sustentação na própria sociedade.

E isso tem que ser construído pelo próprio Partido dos Trabalhadores.

A partir de agora, quem tem que falar pelo PT, para o governo e para o parlamento são as massas trabalhadoras organizadas e mobilizadas pelo próprio PT. 

A presidenta Dilma é filiada ao PT e já afirmou e provou seu compromisso com a classe trabalhadora. 

Mas não terá força política para honrar os compromissos assumidos durante a campanha se ficar refém da direita parlamentar, midiática e do Judiciário. 

Neste próximo mandato de Dilma, a classe trabalhadora tem que assumir o papel de protagonista real do processo político brasileiro, para dar suporte à Dilma e protegê-la do cerco conservador que já se ergue em torno dela. 

Contra o golpe de Estado, pela Reforma Política e pela Democratização da Mídia, a estratégia petista deve ser uma só: 

Construir o partido e mobilizar os trabalhadores."
Compartilhei, em seguida, no mesmo dia, dois links:
"Dilma Rousseff no Twitter: 'Eu tenho lado! O lado dos trabalhadores e das trabalhadoras deste país!'"

"Dilma diz que tem lado e que verdade vencerá 'pessimismo e desinfomação'"
Pedro Bernardes respondeu com o link abaixo, de um texto de sua tendência:
"Não existe 'onda conservadora' no Brasil, nem em SP"
Respondi-lhe com o seguinte texto:
"Soma aí, então: 

70 deputados federais do PT 

+ 9 do PCdoB 

+ 5 do PSOL, que é oposição. 

Tem mais algum partido de esquerda naquele Congresso? 

Acho que não, né. 

Então PT+PCdoB+PSOL totalizam 84 deputados. 

Sabe quantos tem o Congresso? 

513. 

Isto significa que a esquerda tem apenas 16,37% das cadeiras da Câmara. 

Com 83,63% das cadeiras, ou o PT faz acordo com algum setor da direita ou se isola e cava o impeachment da Dilma. 

Estranho é que os que exigem uma radicalização da presidenta sejam tão moderados, prá não dizer omissos, em relação ao tema da construção partidária e da mobilização dos trabalhadores. 

O que sugere que a radicalização, de fato, seja só 'gogó', retórica ultrarrevolucionária sem compromisso nenhum com luta nenhuma, nem com a realização de nada."
Disse, então, Pedro Bernardes:
"Companheiro, quando o PT tinha 16 deputados e PCdoB 4, mas tinha BASE NA RUA foi o período em que os trabalhadores mais conquistaram direitos.

O problema é que a partir de 1987 a política do partido foi COALIZÃO, COALIZÃO e mais COALIZÃO se distanciando da base e ficando a mercê desse congresso que NUNCA resolveu nada para os trabalhadores."
Peguntei a ele:
"O que a Esquerda Marxista tem a dizer sobre a construção partidária? Isso é o que eu gostaria de saber."
Bernardes disse:
"Essa é a posição da EM quanto à construção do partido Silvio Melgarejo:
'Carta Aberta ao companheiro Lula, à Presidente Dilma Rousseff e ao Diretório Nacional do PT' '"
Ao que eu lhe respondi:
"Pedro Bernardes Neto. Eu já tinha lido essa carta, reli agora, e não achei uma linha sequer tratando de construção partidária."


Uma companheira chamada Carmem Mascarenhas ponderou:
"Devemos entender que uma presidente deve governar para toda a população e não só para os que votaram nela. Dilma é bastante consciente de seu papel e está certa ao dizer que na presidência ela não representa o PT, pois seria o mesmo que dizer que só governaria para os petistas, assim como o PSDB sempre governou para a elite."
O companheiro Miranda JC, da Esquerda Marxista, retrucou:
"Ah tá, então vai governar para os ricos... também? Alguém aí acha possível governar para os ricos e pobres ao mesmo tempo?"
Em resposta a ele, compartilhei de novo a declaração que Dilma tinha dado no Twitter:
"Dilma Rousseff no Twitter: 'Eu tenho lado! O lado dos trabalhadores e das trabalhadoras deste país!'"
E disse:
"'Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado', dizia Marx em seu 18 Brumário."
Mais um outro companheiro, chamado Arthur Martinatti Penna, intervem:
"Antes da vitória, quando ela corria sério risco de perder, ela disse mesmo que estava do lado dos trabalhadores. Depois que o segundo mandato está garantido, ela chama a imprensa burguesa para garantir que não representa o PT, e vai seguir mantendo todos os compromissos com os ricos... Discurso eleitoreiro não vale!"
Eu lhe disse:
"A defesa do emprego, do salário e dos direitos sociais e trabalhistas em plena crise econômica mundial não é discurso. É fato."
Arthur prosseguiu:
"É mesmo? Só se for nos dados do governo federal, porque a própria CUT exibe dados que contestam essa tal 'defesa'."
Eu:
"Ah é? E onde estão estes dados?"
Arthur:
"Procure-os, é fácil de achar. E se você acha que os direitos sociais são defendidos, é porque nunca viveu nem trabalhou na periferia..."
Eu:
"Mostre-me. É um desafio."
Miranda JC opinou:
"Olha, sou militante do PT desde 1981 e sinceridade... A cúpula está cada vez mais a direita (o governo então nem se fale...). E como dizia o velho ditado: 'quanto mais se agacha, mais apanha'."
Eu:
"O problema é que a Esquerda Marxista é, pelo visto, tão conservadora quanto a CNB em termos de construção partidária. Omissão total. E o pior é que é esquerdista."
Miranda JC:
"E as massas sentem isso, e a perda de mais de 20% das bancadas estaduais e federais e a votação do primeiro turno são o FATO!"
Eu:
"O fato é que desemprego, arrocho salarial e cortes de direitos sociais e trabalhistas tem sido pauta de tudo quanto é manifestação que tem tido pelo mundo durante essa crise econômica. 

No Brasil, não houve um protesto sequer contra desemprego, arrocho e corte de direitos, e nenhum desses temas pode surgir no debate eleitoral, simplesmente porque o povo sabe que eles não existem. Se existissem a oposição os teria usado contra Dilma durante a disputa."


Pedro Bernardes Neto retorna ao debate dizendo:
"Romper com a burguesia é o primeiro passo para a construção partidária de qualquer partido operário. O programa de um partido é o primeiro ponto para qualquer tática de construção e a carta coloca as condições para que o PT volte a crescer."
Eu, então, lhe disse, encerrando minha participação na discussão:
"Quanto menos partido tivermos, mais dependentes ficamos da tal coalizão. 

Se o tempo que se gasta cobrando radicalidade da Dilma fosse empregado na execução de uma política radical de construção partidária, nós teríamos condições de mobilizar até 1,5 milhão de filiados que hoje estão dispersos por esse país afora, sem receber uma carta, um telefonema sequer de seus dirigentes ou de qualquer militante. 

Antes de tentarem mudar a Dilma, olhem para o partido, e vejam quanta mudança precisa ser feita para torná-lo capaz de cumprir a missão para a qual realmente foi criado, que é a luta pelo socialismo democrático.

A coalizão governamental não impede que a direção do PT e suas diversas tendências invistam na construção do partido. Se não o fazem é porque não querem. É mais fácil criticar a Dilma do que fazer auto-crítica e mudar de atitude."

terça-feira, 4 de novembro de 2014

PT deve estar preparado para enfrentar e vencer as agressões fascistas e fazer valer o seu direito à livre manifestação democrática nas ruas. Debate com Mara Rocha.

Em 3/11/2014, a companheira Mara Rocha, de São Paulo, publicou o seguinte texto no Facebook:
"As manifestações violentas da direita fascista, só afastarão cada vez mais o povão das ruas. 

Isso aconteceu no final das jornadas de junho, onde só milícias e ativistas radicais de direita e esquerda se enfrentaram,apoiados pelo submundo do crime. 

Estão lançando a isca, para ver se revidamos nas ruas, entretanto isso seria um erro,pois daria respaldo a tese de país dividido e em convulsão.

Dilma pode usar essa selvageria fascista contra eles mesmos, para convencer os deputados e senadores do perigo de um golpe, afinal o congresso é o representante da vontade popular, juntamente com o executivo.

Dar condições de governabilidade a Dilma, significa defender a democracia e as instituições. 

Com um golpe todos teriam a perder."
No mesmo dia, comentei:
"Fugir das ruas e permitir que as manifestações públicas coletivas se tornem uma exclusividade da direita, quando a direita já tem o controle da mídia, do parlamento e do judiciário seria um suicídio político para o PT e para o conjunto da esquerda.

As ruas tem que ser disputadas, sim. Nós temos que nos preparar e enfrentar essa briga ou estaremos renunciando na prática à democracia.

Porque democracia de verdade tem que ter povo na rua defendendo seus direitos. A democracia nunca foi e nunca será uma concessão da burguesia. Democracia é algo que o povo só conquista se lutar.

O sucesso do próximo governo Dilma dependerá do apoio popular que ela tiver. E o apoio popular só pode se expressar no espaço público das ruas e praças das cidades. Sem esse apoio das massas trabalhadoras o governo Dilma acabará sendo inviabilizado e até interrompido por um golpe.

Nunca, nestes 12 anos de presidência da república, foi tão vital para o PT investir na construção da governabilidade social. E isto só se faz com um partido organizado que seja capaz de atuar de forma disciplinada junto aos trabalhadores no cotidiano das ruas.

A resposta a todos os ataques que a democracia vem sofrendo por parte dos que desejam deter os avanços sociais do governo petista deve ser um investimento ainda maior no fortalecimento da democracia. E não existe nada que dê mais vigor à democracia de um país do que a participação popular no espaço público de suas ruas e praças."


Mara Rocha respondeu:
"acho que temos que ir as ruas pela reforma política, pela regulamentação da mídia, enfim dar apoio a Dilma, entretanto se formos com a intenção de enfrentar a direita, que já está nas ruas, armadas e com apoio da Mídia....creio que isso não será bom....

então ir as ruas organizadamente, para não espantar o povo em geral que está com a gente....pois se a violência comer solta...e isso a direita faz muito bem...não haverá povo, haverá apenas militantes se enfrentando e mais, nesse enfrentamento nós não estaremos armados...."
E seguimos debatendo.

SILVIO MELGAREJO
"Nós temos que ser capazes de garantir o nosso espaço nas ruas. Ou então deixaremos de ser o PT. 

Se a direita vier nos agredir, temos que estar preparados para defender nossas integridades físicas e o nosso direito à livre manifestação democrática. 

Não podemos de maneira nenhuma ceder a essas tentativas de intimidação, porque é isso mesmo que os fascistas querem, que o PT tenha medo de ir prás ruas encontrar com o povo.

Imagine se o PT tivesse se acovardado nos anos 80 ante as agressões das gangues malufistas."
MARA ROCHA
"eles já deram um panorama do que são capazes nas manifestações de junho.....creio que uma vez nas ruas, precisa ser muito organizada e sem infiltrações.....se houver violência e revide de nossa parte, perderemos a razão e seremos massacrados pela mídia.

sou totalmente contra o revide, temos que organizar as manifestações de forma muito racional e responsável, não podemos dar tiro no nosso próprio pé."
SILVIO MELGAREJO
"Perderemos a razão se a violência partir de nós. O que você propõe é que renunciemos à autodefesa."
MARA ROCHA
"vc sabe que para a mídia,,,a verdade não importa."
SILVIO MELGAREJO
"O PT nasceu e cresceu lutando nas ruas tendo a mídia, o judiciário e o parlamento contra si. Isso não é nenhuma novidade.

Nós hoje temos até mais mídia do que lá no começo.

Temos a internet.

Podemos gravar tudo e divulgar.

O que não podemos é deixar que o medo nos paralise."
MARA ROCHA
"santa ingenuidade Silvio Melgarejo, a correlação de forças não é a mesma....temos que ter capacidade de analisar ontem e o agora...."
SILVIO MELGAREJO
"Sim, não é a mesma. É melhor. O PT nasceu durante uma ditadura militar, lembra?"
MARA ROCHA
"NÃO É A MESMA COISA.....nem pior nem melhor....é mais complexa. vamos parar de tolices."
SILVIO MELGAREJO
"O PT tem hoje mais de 1,5 milhão de filiados.

Tolice?

Que é isso?"
MARA ROCHA
"sim. a maioria não vai para o enfrentamento meu caro."
SILVIO MELGAREJO
"Partiu para o adjetivo, é porque faltou argumento."
MARA ROCHA
"nem vai pegar em armas....rsrsrs"
SILVIO MELGAREJO
"Ninguém falou em pegar em armas. Alguém já deu algum tiro?"
MARA ROCHA
"cai na real meu filho...não vivemos numa ditadura, temos que atuar segundo a democracia."
SILVIO MELGAREJO
"MINHA FILHA, CALMINHA."
MARA ROCHA
"com inteligência e racionalidade...não vamos enfrentar fascistas!"
SILVIO MELGAREJO
"É isso que estou propondo. Atuar numa democracia que está sob ameaça."
MARA ROCHA
"não vamos colocar em risco com nossa audácia tola, o governo que lutamos para eleger."
SILVIO MELGAREJO
"Elegemos porque fomos prá rua. Foi uma audácia tola? Mas deu resultado."
MARA ROCHA
"ir para rua para fazer campanha é muito diferente de ir pra rua pra manifestar e apoiar Dilma. Isso exige muita responsabilidade."
SILVIO MELGAREJO
"Sem povo na rua esse governo não será capaz de cumprir os compromissos assumidos durante a campanha.

Qualquer ação política exige responsabilidade.
MARA ROCHA
"Acho que só existe uma saída, para colocar muito povo na rua.....organização...

e tem que ter muita gente...uma gente bem consciente do que fará nas ruas...e sem aceitar provocações e infiltrados. 

Isso é possível... se houver disposição das lideranças. 

Meia dúzia de gatos pingados não surtirá efeito algum...então tem que ter organização da base das lideranças... do contrário é vexame na certa."
SILVIO MELGAREJO
"É exatamente isso que proponho.
RESOLUÇÃO DO 5º ENCONTRO NACIONAL DO PT - 1987
'Precisamos de um partido organizado e militante, o que implica a necessidade de quadros organizadores. 
Um partido que seja de massas porque organizará milhares, centenas de milhares ou até milhões de trabalhadores ativos nos movimentos sociais, e porque será uma referência para os trabalhadores e a maioria do povo.'"

sábado, 1 de novembro de 2014

O que divide a esquerda.

(Texto publicado em debate aberto no Facebook hoje por Rosana Pinheiro-Machado)

Não existe uma esquerda por natureza mais radical e uma outra por natureza mais moderada.

O que existe é uma esquerda que compreende e uma esquerda que não consegue compreender "a necessidade de levar em conta, com estrita objetividade, as forças de classe e suas relações mútuas antes de empreender qualquer ação política".

O que nos divide é a atitude que temos ante o fator "correlação de forças".

É fácil ser radical quando se está fora do governo.

Quando se esta governando a coisa muda.

O PSOL, por exemplo, começou radicalizando no governo do município de Itaocara, no Rio de Janeiro.

Só que acabou pedindo arrego pro Garotinho prá salvar seu prefeito de um processo de impeachment.

É que a oposição tem 10 das 11 cadeiras do parlamento de lá.

O PMDB de Cabral tem 5 vereadores.

O PR de Garotinho tem 5.

E o PSOL apenas uma.

O que fez então o PSOL?

Mandou o Marcelo Freixo ligar pro Garotinho e tentar um acordo.

Os dois se encontraram, chegaram a um acordo e o processo de impeachment foi suspenso com a intervenção providencial de Garotinho.

Em troca de que, não sei.

Mas isso mostra que, se estivesse no lugar do PT, no governo federal, o PSOL faria exatamente o que o PT tem feito.

Pois se nem numa pequena prefeitura do interior conseguiu sustentar o radicalismo que mantém enquanto está na oposição, imagine governando o país, condição em que se está sujeito a pressões muito maiores.