quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Debate com o companheiro Kadu Machado sobre a investigação policial da ligação do PSOL com os Black Blocs e as críticas de petistas ao partido.

Em 10/2/2014, o companheiro Kadu Machado, filiado de base do 1º Diretório Zonal, postou o seguinte texto no Facebook:
"Gostaria de lembrar a companheiros do meu PT que, no passado, nossa presidente Dilma já foi acusada de promover a violência e a morte de inocentes em assaltos a banco, sequestros e justiçamentos.

Ela vários outros militantes - muitos fundadores - do Partido dos Trabalhadores, que hoje completa 34 anos.

O momento agora é de solidariedade com o Deputado Freixo, com a juventude que vai às ruas se manifestar contra a privatização das nossas cidades e com o movimento social.

Isso, sem prejuízo da crítica às táticas equivocadas que abrem espaço para tragédias manipuláveis pela mídia comercial.

E crítica incansável, diuturna, à violência policial, que reprime de fora e infiltra provocadores dentro das passeatas e que promove assassinatos em massa nas favelas."
Sobre este texto, publiquei no dia 12 o seguinte comentário:
"'A VIOLÊNCIA REVOLUCIONÁRIA SE APRESENTA COMO NECESSÁRIA E LÍCITA TÃO SOMENTE EM DETERMINADAS CIRCUNSTÂNCIAS' (Lenin, Esquerdismo: Doença infantil do comunismo)

A comparação que você faz é completamente descabida, Kadu Machado. Dilma lutou contra uma ditadura, numa época em que toda manifestação de oposição ao regime vigente estava proibida e todo oposicionista era cassado, encarcerado, torturado, assassinado ou banido do país. Vivemos hoje uma situação absolutamente diferente. Ninguém é perseguido neste país por protestar contra nada. O problema é que tem gente que acha que todo protesto tem que ser violento. Não tem que ser violento, não senhor. E problema maior ainda é quando gente velha e influente justifica e até incentiva a violência nas manifestações de rua, induzindo jovens como Fábio Raposo e Caio Silva de Souza a cometerem desatinos como este, de matarem um jornalista. Você compara Dilma com os Black Blocs como se houvesse alguma similaridade entre os contextos históricos. Não há. As circunstâncias são completamente diversas. As restrições às liberdades de reunião, associação e expressão e a supressão de outros direitos e garantias constitucionais do indivíduo frente ao Estado, que existiam durante a ditadura de 64-84, não existem hoje, o que torna o uso da violência na atuais manifestações políticas absolutamente desnecessário e ilícito.

Sou solidário com a luta dos trabalhadores, porque sou trabalhador e militante de esquerda. Mas não sou solidário com nenhuma forma de violência gratuita, por isso não posso ser solidário com Marcelo Freixo. Ele e seu partido têm ajudado a alimentar a escalada da violência nas ruas, durante as manifestações de que participam, com o nítido propósito de angariar a simpatia dos adeptos da tática black bloc e de criar um ambiente de terror nas cidades, que atinja os governos Cabral e Dilma Roussseff. Eles nunca condenaram as ações dos Black Blocs, ao contrário, sempre os apoiaram e defenderam. Fábio Raposo e Caio Silva de Souza mataram um trabalhador inocente e vão pegar 35 anos de cadeia. Mas não passam de buchas de canhão dos oportunistas do PSOL, dentre os quais o deputado Marcelo Freixo. 

Não há movimento político que sobreviva e tenha êxito se não tiver a capacidade de fazer autocrítica, revisão de conceitos e correção de rumos. Criticar apenas a ação policial não vai ajudar a classe trabalhadora de esquerda e seus partidos a aperfeiçoarem sua atuação na luta de classes que se desenvolve nas ruas. A grande discussão que precisa ser feita hoje é: a quem servem, de fato, os Black Blocs e demais grupos e partidos esquerdistas? Não é uma discussão nova, vem desde o tempo de Lenin. Mas continua atual e necessária, porque os tempos mudam mas as mentes parecem as mesmas. 

Além do drama humanitário, do choque da perda brutal de uma vida e da desgraça de outras duas, ainda tão jovens, há o aspecto político que precisa ser analisado. As ações violentas de Black Blocs e similares afastam as massas das ruas e subvertem inteiramente o sentido político de todas as manifestações em que eles atuam, transformando-as em meros palcos para performances que a imensa maioria dos trabalhadores desaprova e que tem servido unicamente para justificar a ação repressiva do Estado. 

A burguesia e a direita agradecem penhoradamente, porque o resultado disso tende a ser o reforço do preconceito popular contras as manifestações políticas coletivas, desde muito tempo associadas à baderna, e uma dificuldade ainda maior dos partidos de esquerda de mobilizarem as massas para novas manifestações. As ruas tendem a se esvaziar, saindo o povo de cena e permanecendo as gangues de debiloides fantasiados, dando vazão aos mesmos instintos que movem as torcidas organizadas dentro e em torno dos estádios de futebol. 

Os Black Blocs são os Hooligans das manifestações de rua e precisam ser banidos para o bem da democracia do país e do avanço das massas no rumo do socialismo democrático. Eles servem, de fato, à direita e a burguesia e, por isso, devem ser tratados e denunciados como inimigos dos trabalhadores. Eles não são apenas equivocados, porque seus equívocos não inócuos, têm, ao contrário, um elevado custo para a esquerda toda e para os trabalhadores.

Quero também comentar mais uma coisa. É estranho, prá mim, ver dentro do PT gente, como você, fazendo corrente de solidariedade em favor de um partido e de um deputado que nunca nos foram solidários, que, ao contrário, têm tratado há anos o PT com inimigo mortal prioritário a ser batido, sustentando inclusive, até hoje, junto com a direita golpista, a tese do mensalão, a despeito de todas as provas, amplamente divulgadas na internet, de que o mensalão nunca existiu. Até o PCO tem tido atitude mais honesta, sem abrir mão das mesmas críticas que nos fazem os psolistas. Solidariedade a um inimigo declarado do PT, contra quem dirigem suspeitas que se justificam pela sua conduta, assim como a de seu partido, me parece algo despropositado. 

O momento agora não é de solidariedade com o deputado Freixo, é de reflexão da esquerda toda sobre seus métodos e alianças. Se do PT cobram explicações e até condenam equivocadamente uma política de alianças que, na presente correlação de forças, é a única capaz de garantir a governabilidade do país, é justo que se cobre do PSOL explicações e que também se condene a exploração oportunista, irresponsável e criminosa da inexperiência e da impetuosidade naturais da juventude, com suas revoltas e anseios mais do que justificados. Eu não sou solidário com Marcelo Freixo, não vejo razão prá isso, e tenho cobrado do PSOL uma autocrítica que, pelo que vejo, já saiu hoje, o que é bastante positivo, mas previsível, em se tratando de um partido que tem se pautado pelo oportunismo. A bomba que matou o cinegrafista Santiago Andrade é, para o PSOL, o que foi a bomba do Riocentro para a ditadura de 64-84. Uma ação desastrada que os levará a um isolamento político ainda maior na sociedade."
No mesmo dia, 12, Kadu respondeu:
"Silvio, concordo com essa afirmação de Lenin.

Creio que, neste sentido, os militantes que foram para a luta armada nos anos 1960/1970 e os que adotam a tática black bloc foram e são anti-leninistas.

Mas permito à juventude sua parcela de porra-louquice, faz parte da idade.

Isso, naquela época como agora, sem prejuízo de crítica e interpelação política e ideológica dessas ações que, como você constatou, estão além do nível de consciência e afastam as massas das ruas.

Agora, como comunista, sei que a violência - como lembra a passagem de Lênin que você cita - faz parte da luta revolucionária.

Por fim, Silvio, entendo que este assédio a Freixo e ao P-Sol é um ataque a toda a esquerda e ao movimento social e democrático popular.

Reitero que é hora de cerrarmos fileiras contra esse ataque às liberdades democráticas."
Neste mesmo dia, Kadu postou num outro tópico:
"A perseguição ao P-Sol e ao Freixo atinge toda a esquerda e o movimento social e democrático."
Ao que eu lhe respondi:
"Você está invertendo as coisas, Kadu Machado. 

O único partido realmente perseguido no Brasil é o PT, embora seja governo. 

Perseguido inclusive pelo PSOL, que até hoje sustenta, junto com o STF, a Globo, a Veja, o PSDB e o DEM, a farsa do mensalão, que comprovadamente nunca existiu. 

Quem atinge toda a esquerda e o movimento social e democrático e lhes traz imensos prejuízos é quem opta pela transformação de manifestações populares pacíficas em campos de batalha com as forças de segurança do Estado. 

O PT deve repudiar firmemente esse tipo de proposta e denunciar os seus autores para deles se distanciar e se distinguir, afirmando-se perante os trabalhadores como uma alternativa de esquerda realmente democrática e comprometida com os seus interesses."
Prossegui, mais adiante:
"Se a esquerda toda se omitir ante a violência alimentada pelo PSOL durante as manifestações de rua, aí sim, vamos deixar os trabalhadores sem outra escolha senão a de apoiar eventuais soluções autoritárias, propostas pela direita, para restabelecer a ordem. 

Nós temos que nos preservar como alternativa de esquerda para a manutenção da ordem democrática vigente, trabalhando e lutando para reunir condições que nos permitam evoluir de patamar. 

Se a massa entender que a esquerda toda é essa horda de baderneiros que a direita sempre disse que era, e que o PSOL, com seus atos, faz questão agora de confirmar que é, nós vamos voltar ao tempo em que as discussões se davam pela oposição entre democracia e comunismo, como se as duas coisas fossem excludentes, e a tendência é que a massa caia mesmo para a direita, como caiu em 1964 e em 1968. 

O PSOL está se isolando da massa e, se o PT ficar do lado dele vai se isolar junto e jogar a massa no colo da direita. Isto seria um desastre para o país, caminho certo para o retrocesso em tudo que foi conquistado até agora."
E conclui, dizendo:
"Kadu Machado. Insisto, você está invertendo as coisas. 

O PSOL não é perseguido. 

Perseguido é o PT. 

O PSOL, ao contrário, é um dos perseguidores do PT, em aliança com o STF, a Globo, a Veja, o PSDB e o DEM. 

O que você chama de ataque e perseguição ao PSOL são repercussões das escolhas equivocadas do partido que estão sendo questionadas pela sociedade toda, inclusive pela maioria da classe trabalhadora que as desaprova. 

Não sei porque o PT tem que proteger um partido inimigo de responder por seus erros, quando este mesmo partido aprova a condenação do PT por erros que o PT comprovadamente não cometeu."

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