segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Relação do PT com o PSOL: Debate com Glória Melgarejo.

No dia 20 de fevereiro, minha irmã, Glória Melgarejo, postou no Facebook o link de um vídeo em que o deputado Paulo Rocha, do PDT, condena, na tribuna da ALERJ, o apoio de sua correligionária, Cidinha Campos, e demais membros da bancada pedetista ao governador Sérgio Cabral e lança suspeitas sobre as possíveis razões para a mudança de atitude de seus pares de partido em relação à legislatura anterior. Na legenda do post, ela diz:
"Para refrescar a memória de quem anda curtindo a opinião da Cidinha Campos (que apoia o Cabral descaradamente) sobre o Marcelo Freixo. Com a palavra, Paulo Ramos, do partido dela (PDT)."
A opinião de Cidinha a que Glória se refere é a que a deputada expôs em seu artigo publicado no mesmo dia, 20,  que reproduzo abaixo:

Cidinha Campos: Freixo, o intocável


Todos os homens públicos não estão sujeitos a ter a sua conduta questionada em algum momento da vida? Mas Marcelo Freixo, enfant-gaté da esquerda caviar, não

Rio - Era previsível a reunião de “desagravo” a Marcelo Freixo. Esquerdistas do Posto 9, humanistas do Leblon e turistas da política em geral gritaram: “Com ele não!!!”. Mas por que não? Todos os homens públicos não estão sujeitos a ter a sua conduta questionada em algum momento da vida? Mas Marcelo Freixo, enfant-gaté da esquerda caviar, não.

Ter dois advogados em seu gabinete, pagos com dinheiro público, trabalhando num instituto que defende black blocs, só seria questionável se o contratante fosse o Bolsonaro. Freixo não! Sem falar nos outros dois advogados na mesma situação exonerados recentemente.

Nepotismo, ainda que cruzado, só é feio quando praticado pelos outros. Freixo não! Sua mulher, Renata Stuart, é funcionária do vereador Renato Cinco (aquele que doou dinheiro para a Sininho), mas já passou pelo gabinete de Eliomar Coelho, todos do Psol. Imagina se fosse o Renan?

Taí um partido generoso com as esposas dos companheiros. A mulher do ex-deputado Milton Temer, Rosane Andrade de Aguiar, que recentemente passou com o marido temporada de três meses em Paris, é empregada no gabinete da liderança do Psol, onde também bate ponto (será?) Cristiane Pena Dutra, esposa do bombeiro Daciolo, aquele que colocou fogo na greve dos bombeiros.

Quando o telhado é do Psol, ninguém pode jogar pedra. O senador Randolfe Rodrigues (AP) — também presente ao “desagravo” a Freixo — foi acusado de receber um mensalinho. Ficou indignado porque saiu no jornal. Mas quando é o Zé Dirceu...

Conheço bem o Freixo. Fui vice-presidente da CPI das Milícias, junto com outros seis companheiros. Eu e minha família fomos ameaçados por Cristiano Girão, hoje preso fora do estado. A imprensa — essa mesma que hoje ele acusa de perseguição — nos ajudou e muito na investigação. Da parte dele, nenhuma palavra de agradecimento.

Estranhei a ausência da deputada Janira Rocha no “desagravo” a Freixo. Depois do escândalo em que meteu, não convinha mesmo dar as caras. No “desagravo”, também não vi manifestações de solidariedade à família de Santiago Andrade. No Facebook do deputado, tem uma declaração formal: “Sinto muito. Minha mulher trabalhou com ele.” E se fosse um policial a ter a cabeça estourada? Ele se solidarizaria? Ou policial só é legal na sua segurança pessoal?

O deputado tem um jeito muito particular de lidar com a democracia e a liberdade de imprensa. Para Marcelo Freixo, a mídia só é boa quando ele é a fonte ou a estrela. 

Deputada estadual pelo PDT
Sobre o post de Glória, fiz o seguinte comentário, no dia 21 de fevereiro:
"As críticas da deputada Cidinha Campos a Marcelo Freixo e ao PSOL são tão válidas e consistentes que os psolistas, na impossibilidade de contestá-las, evitam abordá-las e partem para a desqualificação da própria Cidinha, como se isso pudesse invalidar o que ela diz. Não invalida. Porque quem anda curtindo a opinião da Cidinha sobre Freixo e o PSOL, não curte, necessariamente, a opinião dela sobre Sérgio Cabral. Neste seu recente artigo, ela opina sobre fatos que são, em sua maioria, de conhecimento público. Os que não são, podem perfeitamente ser contestados pelos acusados, inclusive com interpelações judiciais. 

O apelo ao vídeo do Paulo Ramos, só o que 'desmascara' é a incapacidade que os militantes e simpatizantes do PSOL estão sentindo para refutar, ponto a ponto, parágrafo a parágrafo, cada um dos argumentos apresentados por Cidinha Campos, em sua contundente crítica ao PSOL, ao deputado Marcelo Freixo e a todos os que se empenham em blindá-los de críticas."
No mesmo dia, Glória ponderou:
"Tá bom. Então, se o caráter de quem 'denuncia' sem provas não importa, vamos acreditar no safado do Jefferson quando incrimina o PT. Pra começar, o Freixo não está sendo questionado. Está sendo acusado sem provas. Depois, quem está se solidarizando com ele neste lamentável episódio não são apenas "militantes e simpatizantes do PSOL". São personalidades como Leonardo Boff, Frei Betto e até parlamentares do PT, como Lindberg Farias. Não devemos, então, votar no Lindberg? Afinal, ele está apoiando o Freixo..."
Ao que eu lhe respondi:
"Leonardo Boff, Frei Betto e os tais parlamentares do PT, como Lindberg Farias, denunciaram a farsa do mensalão e participaram de atos de solidariedade e desagravo aos condenados no julgamento fraudado da AP-470. O PSOL participou de algum desses atos? Não. Ao contrário, até hoje divulga e endossa a mentira do safado do Jefferson, junto com o STF, a Globo, o PSDB e o DEM, com o claro intuito de criminalizar o PT e tirar proveito político, apresentando uma falsa imagem de virtude e ética, que a denúncia comprovada do roubo de dinheiro do sindicato dos previdenciários, para financiamento de suas campanhas eleitorais, jogou definitivamente por terra. Até o PCO teve uma posição mais honesta em relação ao caso do mensalão. Dirceu, Genoíno, João Paulo, Delúbio e Pizzolato foram condenados sem provas. Aliás, as provas de suas inocências são fartas e estão há quase um ano disponíveis na internet. E o que tem feito o PSOL? Tem aplaudido as condenações injustas e chamado os petistas de mensaleiros, em coro afinadíssimo com a direita golpista. Não é incoerente reclamarem agora de serem vítimas daquilo mesmo que fazem ao partido que tem por maior rival?

O PSOL tem o PT como inimigo principal a ser batido. Ele não quer saber de disputar agora o governo do país, quer disputar a direção do campo da esquerda e, para isso, alia-se à direita e vale-se dos mais sórdidos métodos, para tentar desestabilizar o governo Dilma, destruir a imagem do PT e levá-los à uma derrota eleitoral e política, mesmo que isto represente o retorno dos tucanos à presidência do país. O apoio de Plínio de Arruda Sampaio, candidato do PSOL na eleição presidencial de 2010, a José Serra, contra Fernando Haddad, na última eleição municipal de São Paulo, ilustra muito bem o que digo. 

Eu quero ver as tais acusações contra Marcelo Freixo e o PSOL serem contestadas uma a uma. Que o PSOL foi fundado e teve suas campanhas eleitorais financiadas por dinheiro roubado do sindicato dos previdenciários, isto está provado, a deputada Janira confessa isso numa gravação. Não vou dar colher de chá prum partido que é inimigo declarado do PT e que tem um histórico desses. Quero respostas e que elas sejam convincentes. Se os psolistas querem boa vontade e solidariedade dos petistas, que tomem vergonha na cara, deixem de ser desonestos, oportunistas e desleais na disputa política, e façam autocritica da mentira do mensalão, que há anos tem corroborado. A militância do PT, em sua imensa maioria, não será solidária com quem trata o PT como inimigo maior a ser batido, com quem festeja a desgraça de nossos companheiros presos, à revelia de todas as provas que os inocentam."
E prossegui:
"Dirceu, Genoíno, João Paulo, Delúbio e Pizzolato foram condenados sem provas. Aliás, as provas de suas inocências são fartas e estão há quase um ano disponíveis na internet. E o que tem feito o PSOL? Veja abaixo:
"
No dia seguinte, 22/2/2014, Glória disse:
"Diante de tudo isso, pergunto: a presença do Lindberg Farias no ato de desagravo foi puro oportunismo político?"
No dia 23, postei o seguinte texto explicando a atitude de Lindberg e analisando a relação entre PT e PSOL:
"Existe antipetismo na direita e na esquerda, e ele é nos dois casos tão forte que chega a unir os dois polos extremos contra o Partido dos Trabalhadores. Já o antipsolismo é um fenômeno, que acredito só haver dentro do PT, que resulta da oposição raivosa e desonesta que o PSOL tem feito ao partido desde a sua fundação, em 2004. 

Quando o PSOL foi fundado, muita gente no PT tinha simpatia e torcia, até, prá que conseguisse se constituir como alternativa de esquerda ao próprio PT, na esperança de que sua existência fortalecesse a esquerda brasileira e ajudasse o PT a governar o país sem precisar fazer alianças com os partidos de direita. Mas não foi isso que ocorreu. O PSOL, como se tem há anos visto, acabou virando uma mera força auxiliar da direita golpista. 

O ódio da imensa maioria da militância do PT pelo PSOL foi plantado e cultivado pelos próprios psolistas durante quase 10 anos de hostilidades. Não me refiro a críticas, que estas são naturais e desejáveis na democracia, mas à oposição sistemática e à colaboração permanente com os atos de sabotagem da direita golpista ao nosso governo e com as agressões de todo tipo que essa mesma direita nos dirige. 

O que quero dizer é que o PSOL é um partido essencialmente antipetista e que o PT não é essencialmente antipsolista. Destruir o PT faz parte da estratégia política do PSOL para hegemonizar a esquerda brasileira. O PT, ao contrário, não quer, nunca quis destruir o PSOL, apenas reage às suas ofensivas, responde à altura, como é justo, a uma declaração de guerra que partiu dos psolistas. 

Sobre oportunismo político, não é um mal em si, embora o termo carregue o sentido pejorativo atribuído a quase tudo relacionado à atividade política. Oportunismo é a capacidade de perceber e tirar proveito de uma oportunidade para atingir algum objetivo. Oportunidade é um conjunto de circunstâncias favoráveis ao sucesso de alguma iniciativa. 

O oportunismo político é de fato negativo quando, divorciado da ética, serve a propósitos injustos e vale-se de meios moral e legalmente condenáveis. Não é o caso da presença de Lindbergh ao ato de desagravo a Freixo, tampouco da nota do PT do Rio, do dia 17 de fevereiro, que trata da proposta da lei-antiterrorismo, na qual o partido posiciona-se enquanto se solidariza, em primeiro lugar, com os familiares e amigos de Santiago Andrade, e depois com Freixo e com o PSOL ante uma suposta perseguição que eles estariam sofrendo da mídia, algo que, francamente, eu não vi. 

Há, nos dois casos, oportunismo político, sim, mas positivo, a meu ver, na medida em que são movimentos inspirados pela identificação de uma circunstância favorável à aproximação e à superação do clima de guerra entre os dois partidos, PT e PSOL, uma guerra que foi provocada pelo próprio PSOL. Não há nada de antiético ou ilegal nisso. 

O PT precisa mesmo do fortalecimento da esquerda no parlamento, sobretudo na base de sustentação ao governo Dilma, porque é a composição dessa base e do parlamento como um todo que vão, não só garantir a governabilidade do país, como determinar os rumos do próprio governo. Como diz o Mino Carta, até o reino mineral sabe disso. 

O PT tem um projeto de esquerda que não tem podido se realizar plenamente porque a esquerda brasileira toda, incluindo a oposicionista, não chega a ter nem 29% das cadeiras do parlamento. O PSOL tem apenas 0,58% dos deputados da Câmara Federal. PSTU, PCO e PCB não têm nenhum. Cobram do PT um governo com um perfil de esquerda mais radical, desprezando completamente o fato de que, com 70% do parlamento e com o controle da mídia, do judiciário e das forças armadas, a direita facilmente nos derrubaria, seja pela inviabilização da gestão governamental através de sabotagens e boicotes, ou pelas vias do impeachment e do golpe. 

Ao PT interessa o fortalecimento da esquerda porque disso depende a sobrevivência e o avanço do seu projeto. Ao PT interessa ter o PSOL como aliado e que o PSOL cresça enquanto realiza conosco aquilo que a correlação entre as forças políticas das classes sociais permite a cada momento. 

O PSOL não cresce porque exige do PT o que ele próprio não teria condições de fazer se estivesse no governo, com a presente correlação de forças. Lenin chamava esse desprezo pela correlação de forças, de esquerdismo, dizia que era a doença infantil do comunismo. Eu chamo de burrice. 

O PSOL precisa superar o esquerdismo, mas também precisa superar o ódio ao PT que traz e cultiva desde sua origem. Caso contrário, continuará sendo esse partido pequeno, sectário e moralista, com composição e eleitorado predominantemente de classe média, incapaz de dialogar com as massas e de oferecer a elas um projeto alternativo ao que condenam, um projeto que atenda aos interesses populares e que seja exequível nas atuais circunstâncias políticas. 

Lindbergh e o PT do Rio, o que fizeram foi um movimento de aproximação e um convite ao PSOL para o diálogo e para uma mudança de postura. Não se diga que essa mudança de postura não é possível, porque o PSOL tem se mostrado bastante flexível e pragmático quando lhe convém. Haja visto o pedido de ajuda de Marcelo Freixo a Garotinho para que ele salvasse do impeachment o prefeito psolista de Itaocara. O PR, do ex-governador, tem a presidência da câmara de lá e quase metade dos vereadores.

Lindbergh e a direção do PT do Rio querem, evidentemente, criar as condições para conquistar o apoio do PSOL em um eventual segundo turno, na eleição deste ano, contra os candidatos dos partidos de direita. Aí vamos ver que tipo de acordo o Marcelo Freixo realmente fez com Garotinho para preservar o mandato do prefeito de Itaocara, se houve na ocasião algum compromisso de contrapartida, de manter pelo menos uma postura de neutralidade, num eventual segundo turno da eleição estadual.

Portanto, como eu disse, há oportunismo na presença de Lindbergh ao ato de apoio ao Freixo, assim como há oportunismo na manifestação de solidariedade do PT do Rio a ele e ao PSOL. Mas considero esse oportunismo positivo - embora ele não corresponda às disposições da maioria da militância petista - porque tem como perspectiva a superação de desarmonias no campo da esquerda que só tem favorecido à direita, inimiga por natureza de todo ideal de igualdade. 

A militância do PT vai continuar em guerra contra o PSOL enquanto este partido não der sinais de que pretende ter conosco outro tipo de relação. Dito de outro modo: se querem guerra, vão ter guerra; se querem paz, então vamos conversar."

sábado, 22 de fevereiro de 2014

Argumentos políticos para um julgamento, desde o início, político.

DEFESA DE JOSÉ GENOÍNO CONTRA A ACUSAÇÃO DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA

(advogado Luiz Fernando Pacheco, sustentação oral na tribuna do STF, durante a sessão do dia 20/2/2014, trecho de 46:38 a 58:40 do vídeo abaixo)
“Não houve, jamais, formação de quadrilha. Houve, em 1980, a criação de um partido político, que encampou o poder nas eleições de 2002, um partido político que construiu um projeto para este país, que implementou um projeto de poder nesse país, projeto, até hoje, vencedor, apesar de tudo e todos que detrataram o governo, a partir do senhor Roberto Jefferson, um mentiroso compulsivo, que engendrou a maior farsa da história política brasileira, e que, infelizmente, em parte, foi acolhida pelo Supremo Tribunal Federal que tínhamos em 2012.

Não tratarei aqui, porque não posso, da condenação pelo crime de corrupção ativa, condenação infringida ao José Genoíno Neto. Porém, tenho absoluta certeza de que um dia, seja quando for, daqui há dez, vinte, trinta ou cem anos, este mesmo Supremo Tribunal Federal, em sede de revisão criminal, há de fazer justiça a José Genoíno, o absolvendo do suposto crime de corrupção ativa, que não foi delineado, de maneira alguma, nem sequer minimamente, por essa casa, quando o condenou. Nem quando, nem onde, nem como, nem em que circunstâncias, nem porque ele teria praticado corrupção ativa. Ele foi condenado por meras suposições e indícios. E, ora, se não há crime de corrupção ativa, muito menos há crime de formação de quadrilha, ministro Gilmar. Porque quadrilha, são mais de três pessoas se associarem de maneira estável para a prática de delitos. Ora, se nós não reconhecemos que houve prática de delito algum, especialmente o de corrupção ativa, jamais poderíamos reconhecer que houve a prática do crime anterior, a prática da quadrilha, associação para delinquir.

Mas isso, como disse já, não é matéria para tratarmos aqui e agora, é matéria para tratarmos no futuro, quando o calor e as paixões que marcaram essa ação penal 470 já tenham se apagado de nossos corações e mentes. (...) se prática de delito houve – o que eu estou admitindo apenas a título de argumentação, porque eu refuto veementemente a prática do crime de corrupção ativa, mas admitindo, já que temos o manto do ‘trânsito em julgado’ sobre a corrupção ativa, admitindo que tivesse havido corrupção ativa – ela teria sido pontual e circunstancial, conforme a descrição formulada na exordial, pelo então Procurador Geral da República.

Não houve uma associação de mais de três pessoas para a prática de diversos crimes, não houve a intenção de formar uma sociedade de delinquentes. Ao contrário, houve, desde 1980, com o início do fim da ditadura, a formação de um partido político, e lá estavam José Dirceu, José Genoíno, Delúbio Soares, todos eles formando esse partido, que encampou o poder, e o poder vem mantendo há doze anos, sinal de que o povo brasileiro concorda com as práticas que vem sendo adotadas por esse poder. Dizer que ali, no núcleo do poder, do outro lado da praça, havia uma quadrilha, é um escancarado absurdo, e o povo brasileiro já refutou isso. Aliás, pesquisa publicada anteontem dá como certa a reeleição da presidente Dilma, já no primeiro turno. Então, o nosso povo quer ser comandado por quadrilheiros? Penso que não.

Penso que o tribunal incorreu em grande equívoco ao proclamar esta condenação por quadrilha. (...) Portanto, (..) peço que vossas excelências (...) corrijam a injustiça precariamente perpetrada (..) a partir de agosto de 2012, e nesta sessão, tenham a coragem de rever o que foi decidido, para absolver José Genoíno da infame condenação injustamente sofrida pelo crime de formação de quadrilha, crime que ele jamais cometeu.”

sábado, 15 de fevereiro de 2014

Mentes, Gilmar.

A "bomba do Riocentro" do PSOL.

Militantes e simpatizantes do PSOL têm reclamado muito da repercussão que se tem dado ao assassinato do cinegrafista da Band. Dizem que nove manifestantes morreram desde junho e não se deu tanta atenção. Estaria havendo, segundo eles, perseguição política ao PSOL. A Globo, de quem o partido tem sido aliado desde 2005, na sustentação da mentira do mensalão, contra o PT, subitamente teria passado a vê-los como inimigos, iniciando a campanha insidiosa. Acostumados a ser pedra, não estão gostando nada de virar vidraça. Parece que a Globo está descartando mesmo o PSOL. Não precisa mais dos amarelos.

Mas a queixa dos psolistas de que a indignação da imprensa, de um modo geral, está sendo seletiva, porque não dá tratamento igual a outros casos, não se justifica. Pergunto: quantas dessas outras mortes, ocorridas desde junho em protestos, foram fotografadas e filmadas? Quantas foram tão espetaculares quanto a de Santiago Andrade? Descrevo brevemente. Um rojão, chamado de Treme-Terra, explodiu na cabeça dele, afundando-lhe o crânio, arrancando-lhe uma orelha e partes do cérebro. Enquanto ele arriava o corpo em direção ao chão, luzes coloridas emolduravam a sua queda. A cabeça literalmente aberta, o sangue jorrando e um socorrista tentando estancá-lo, sem sucesso, em meio à confusão e aos gritos dos que se precipitaram a acusar a polícia. Imagens impactantes, captadas de vários ângulos, e que ganharam o mundo através das agências de notícias. Que outra morte de manifestante se deu nessas circunstâncias? Acho que nenhuma. Como então lhe ser indiferente? Não dá. Como tratá-la do mesmo modo que às outras mortes em protestos? Acresce o fato de a vítima ser um trabalhador da imprensa, algo que mobiliza estes profissionais, preocupados com a segurança da categoria, e o oportunismo dos donos das empresas de comunicação, que logo alardeiam, como se tem visto, ameaças à liberdade de expressão.

Se os precipitados manifestantes que cercaram o corpo de Santiago Andrade tivessem razão, se ele tivesse sido atingido por um disparo da polícia, Cabral seria chamado de assassino. Como as imagens mostraram black blocs, ninguém fala em assassinato e surgem as teorias de conspiração contra o PSOL. Ora o PSOL sempre apoiou os black blocs, nunca os condenou por suas ações violentas e sempre lhes deu assistência jurídica quando foram presos. Isso é do conhecimento público. Sempre houve uma associação. Cabral seria assassino se a polícia tivesse matado Santiago Andrade. Os black blocs matam o cinegrafista e o PSOL, que sempre os apoiou, não tem nada a haver com isso? A morte de Santiago Andrade é a bomba do Riocentro do PSOL. Estourou, no colo do partido, a morte cinematográfica de um trabalhador, uma morte brutal que chocou a sociedade e bota em xeque a opção política do PSOL de apoiar a violência gratuita e desnecessária dos black blocs.

sexta-feira, 14 de fevereiro de 2014

Mensalão não é mineiro. É tucano.

Usina de teorias da conspiração em ação.

A usina de teorias da conspiração anda trabalhando a todo vapor esses dias. Estão dizendo agora que o Caio Silva de Souza é esse integralista mais alto, de óculos, que aparece nestas fotos, cujas legendas dizem ser José Eduardo Moura Viana, da cidade de Barbalha, Ceará. É, parece que a moçada tá desesperada prá encontrar alguma sujeira do Cabral que salve a pele do PSOL. Esse rapaz, o José Eduardo, não passaria nunca num concurso de sósias do Caio que foi preso. Os caras são completamente diferentes. 

Antes já tinham dito que o verdadeiro assassino não era o Caio, que era um outro cara de camisa cinza suada, supostamente P2, que apareceu ao lado dos PMs num vídeo. Não era. O cara apareceu e se identificou. Chama-se Tomaz Cesário Alvim Martinelli e não tem nada a haver com a polícia. Tem gente que ainda não se convenceu que o Caio é mesmo o cara que aparece na foto, de costas, correndo. Dizem que o cara da foto é branco e mais forte. Ainda não vi nenhum perito criminal de verdade corroborando essa tese, só uma porção de gente chutando palpite. Curiosamente, os que dizem que o cara da fotografia não é Caio Silva de Souza, são quase sempre os mesmos espertos que dizem que o Caio Silva de Souza é o integralista cearense aí das fotos.


quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Debate com o companheiro Kadu Machado sobre a investigação policial da ligação do PSOL com os Black Blocs e as críticas de petistas ao partido.

Em 10/2/2014, o companheiro Kadu Machado, filiado de base do 1º Diretório Zonal, postou o seguinte texto no Facebook:
"Gostaria de lembrar a companheiros do meu PT que, no passado, nossa presidente Dilma já foi acusada de promover a violência e a morte de inocentes em assaltos a banco, sequestros e justiçamentos.

Ela vários outros militantes - muitos fundadores - do Partido dos Trabalhadores, que hoje completa 34 anos.

O momento agora é de solidariedade com o Deputado Freixo, com a juventude que vai às ruas se manifestar contra a privatização das nossas cidades e com o movimento social.

Isso, sem prejuízo da crítica às táticas equivocadas que abrem espaço para tragédias manipuláveis pela mídia comercial.

E crítica incansável, diuturna, à violência policial, que reprime de fora e infiltra provocadores dentro das passeatas e que promove assassinatos em massa nas favelas."
Sobre este texto, publiquei no dia 12 o seguinte comentário:
"'A VIOLÊNCIA REVOLUCIONÁRIA SE APRESENTA COMO NECESSÁRIA E LÍCITA TÃO SOMENTE EM DETERMINADAS CIRCUNSTÂNCIAS' (Lenin, Esquerdismo: Doença infantil do comunismo)

A comparação que você faz é completamente descabida, Kadu Machado. Dilma lutou contra uma ditadura, numa época em que toda manifestação de oposição ao regime vigente estava proibida e todo oposicionista era cassado, encarcerado, torturado, assassinado ou banido do país. Vivemos hoje uma situação absolutamente diferente. Ninguém é perseguido neste país por protestar contra nada. O problema é que tem gente que acha que todo protesto tem que ser violento. Não tem que ser violento, não senhor. E problema maior ainda é quando gente velha e influente justifica e até incentiva a violência nas manifestações de rua, induzindo jovens como Fábio Raposo e Caio Silva de Souza a cometerem desatinos como este, de matarem um jornalista. Você compara Dilma com os Black Blocs como se houvesse alguma similaridade entre os contextos históricos. Não há. As circunstâncias são completamente diversas. As restrições às liberdades de reunião, associação e expressão e a supressão de outros direitos e garantias constitucionais do indivíduo frente ao Estado, que existiam durante a ditadura de 64-84, não existem hoje, o que torna o uso da violência na atuais manifestações políticas absolutamente desnecessário e ilícito.

Sou solidário com a luta dos trabalhadores, porque sou trabalhador e militante de esquerda. Mas não sou solidário com nenhuma forma de violência gratuita, por isso não posso ser solidário com Marcelo Freixo. Ele e seu partido têm ajudado a alimentar a escalada da violência nas ruas, durante as manifestações de que participam, com o nítido propósito de angariar a simpatia dos adeptos da tática black bloc e de criar um ambiente de terror nas cidades, que atinja os governos Cabral e Dilma Roussseff. Eles nunca condenaram as ações dos Black Blocs, ao contrário, sempre os apoiaram e defenderam. Fábio Raposo e Caio Silva de Souza mataram um trabalhador inocente e vão pegar 35 anos de cadeia. Mas não passam de buchas de canhão dos oportunistas do PSOL, dentre os quais o deputado Marcelo Freixo. 

Não há movimento político que sobreviva e tenha êxito se não tiver a capacidade de fazer autocrítica, revisão de conceitos e correção de rumos. Criticar apenas a ação policial não vai ajudar a classe trabalhadora de esquerda e seus partidos a aperfeiçoarem sua atuação na luta de classes que se desenvolve nas ruas. A grande discussão que precisa ser feita hoje é: a quem servem, de fato, os Black Blocs e demais grupos e partidos esquerdistas? Não é uma discussão nova, vem desde o tempo de Lenin. Mas continua atual e necessária, porque os tempos mudam mas as mentes parecem as mesmas. 

Além do drama humanitário, do choque da perda brutal de uma vida e da desgraça de outras duas, ainda tão jovens, há o aspecto político que precisa ser analisado. As ações violentas de Black Blocs e similares afastam as massas das ruas e subvertem inteiramente o sentido político de todas as manifestações em que eles atuam, transformando-as em meros palcos para performances que a imensa maioria dos trabalhadores desaprova e que tem servido unicamente para justificar a ação repressiva do Estado. 

A burguesia e a direita agradecem penhoradamente, porque o resultado disso tende a ser o reforço do preconceito popular contras as manifestações políticas coletivas, desde muito tempo associadas à baderna, e uma dificuldade ainda maior dos partidos de esquerda de mobilizarem as massas para novas manifestações. As ruas tendem a se esvaziar, saindo o povo de cena e permanecendo as gangues de debiloides fantasiados, dando vazão aos mesmos instintos que movem as torcidas organizadas dentro e em torno dos estádios de futebol. 

Os Black Blocs são os Hooligans das manifestações de rua e precisam ser banidos para o bem da democracia do país e do avanço das massas no rumo do socialismo democrático. Eles servem, de fato, à direita e a burguesia e, por isso, devem ser tratados e denunciados como inimigos dos trabalhadores. Eles não são apenas equivocados, porque seus equívocos não inócuos, têm, ao contrário, um elevado custo para a esquerda toda e para os trabalhadores.

Quero também comentar mais uma coisa. É estranho, prá mim, ver dentro do PT gente, como você, fazendo corrente de solidariedade em favor de um partido e de um deputado que nunca nos foram solidários, que, ao contrário, têm tratado há anos o PT com inimigo mortal prioritário a ser batido, sustentando inclusive, até hoje, junto com a direita golpista, a tese do mensalão, a despeito de todas as provas, amplamente divulgadas na internet, de que o mensalão nunca existiu. Até o PCO tem tido atitude mais honesta, sem abrir mão das mesmas críticas que nos fazem os psolistas. Solidariedade a um inimigo declarado do PT, contra quem dirigem suspeitas que se justificam pela sua conduta, assim como a de seu partido, me parece algo despropositado. 

O momento agora não é de solidariedade com o deputado Freixo, é de reflexão da esquerda toda sobre seus métodos e alianças. Se do PT cobram explicações e até condenam equivocadamente uma política de alianças que, na presente correlação de forças, é a única capaz de garantir a governabilidade do país, é justo que se cobre do PSOL explicações e que também se condene a exploração oportunista, irresponsável e criminosa da inexperiência e da impetuosidade naturais da juventude, com suas revoltas e anseios mais do que justificados. Eu não sou solidário com Marcelo Freixo, não vejo razão prá isso, e tenho cobrado do PSOL uma autocrítica que, pelo que vejo, já saiu hoje, o que é bastante positivo, mas previsível, em se tratando de um partido que tem se pautado pelo oportunismo. A bomba que matou o cinegrafista Santiago Andrade é, para o PSOL, o que foi a bomba do Riocentro para a ditadura de 64-84. Uma ação desastrada que os levará a um isolamento político ainda maior na sociedade."
No mesmo dia, 12, Kadu respondeu:
"Silvio, concordo com essa afirmação de Lenin.

Creio que, neste sentido, os militantes que foram para a luta armada nos anos 1960/1970 e os que adotam a tática black bloc foram e são anti-leninistas.

Mas permito à juventude sua parcela de porra-louquice, faz parte da idade.

Isso, naquela época como agora, sem prejuízo de crítica e interpelação política e ideológica dessas ações que, como você constatou, estão além do nível de consciência e afastam as massas das ruas.

Agora, como comunista, sei que a violência - como lembra a passagem de Lênin que você cita - faz parte da luta revolucionária.

Por fim, Silvio, entendo que este assédio a Freixo e ao P-Sol é um ataque a toda a esquerda e ao movimento social e democrático popular.

Reitero que é hora de cerrarmos fileiras contra esse ataque às liberdades democráticas."
Neste mesmo dia, Kadu postou num outro tópico:
"A perseguição ao P-Sol e ao Freixo atinge toda a esquerda e o movimento social e democrático."
Ao que eu lhe respondi:
"Você está invertendo as coisas, Kadu Machado. 

O único partido realmente perseguido no Brasil é o PT, embora seja governo. 

Perseguido inclusive pelo PSOL, que até hoje sustenta, junto com o STF, a Globo, a Veja, o PSDB e o DEM, a farsa do mensalão, que comprovadamente nunca existiu. 

Quem atinge toda a esquerda e o movimento social e democrático e lhes traz imensos prejuízos é quem opta pela transformação de manifestações populares pacíficas em campos de batalha com as forças de segurança do Estado. 

O PT deve repudiar firmemente esse tipo de proposta e denunciar os seus autores para deles se distanciar e se distinguir, afirmando-se perante os trabalhadores como uma alternativa de esquerda realmente democrática e comprometida com os seus interesses."
Prossegui, mais adiante:
"Se a esquerda toda se omitir ante a violência alimentada pelo PSOL durante as manifestações de rua, aí sim, vamos deixar os trabalhadores sem outra escolha senão a de apoiar eventuais soluções autoritárias, propostas pela direita, para restabelecer a ordem. 

Nós temos que nos preservar como alternativa de esquerda para a manutenção da ordem democrática vigente, trabalhando e lutando para reunir condições que nos permitam evoluir de patamar. 

Se a massa entender que a esquerda toda é essa horda de baderneiros que a direita sempre disse que era, e que o PSOL, com seus atos, faz questão agora de confirmar que é, nós vamos voltar ao tempo em que as discussões se davam pela oposição entre democracia e comunismo, como se as duas coisas fossem excludentes, e a tendência é que a massa caia mesmo para a direita, como caiu em 1964 e em 1968. 

O PSOL está se isolando da massa e, se o PT ficar do lado dele vai se isolar junto e jogar a massa no colo da direita. Isto seria um desastre para o país, caminho certo para o retrocesso em tudo que foi conquistado até agora."
E conclui, dizendo:
"Kadu Machado. Insisto, você está invertendo as coisas. 

O PSOL não é perseguido. 

Perseguido é o PT. 

O PSOL, ao contrário, é um dos perseguidores do PT, em aliança com o STF, a Globo, a Veja, o PSDB e o DEM. 

O que você chama de ataque e perseguição ao PSOL são repercussões das escolhas equivocadas do partido que estão sendo questionadas pela sociedade toda, inclusive pela maioria da classe trabalhadora que as desaprova. 

Não sei porque o PT tem que proteger um partido inimigo de responder por seus erros, quando este mesmo partido aprova a condenação do PT por erros que o PT comprovadamente não cometeu."

segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

Os linchadores do Flamengo e os black blocs têm em comum a mesma estupidez e covardia.


Justiceiro bom é justiceiro preso. Cadeia pros playboys bandidos do Flamengo!


Qualquer semelhança com o que aconteceu no Flamengo não é mera coincidência.


Santiago Andrade morreu. Fora black blocs assassinos!


Santiago Andrade: Trabalhador, vítima da violência dos black blocs. (3)

Santiago Andrade: Trabalhador, vítima da violência dos black blocs. (2)


Santiago Andrade: Trabalhador, vítima da violência dos black blocs. (1)

Quem são os assassinos de Santiago Andrade?

Se a polícia do Rio de Janeiro tivesse matado Santiago Andrade, Sérgio Cabral seria chamado de assassino. Mas quem matou Santiago Andrade não foi a polícia, foram os Black Blocs. Eles e todos os que os incitaram, apoiaram, justificaram ou se omitiram ante seus crimes, desde junho passado.

O PSOL é assassino. Marcelo Freixo é assassino. Chico Alencar é assassino. São cúmplices da morte brutal de um trabalhador inocente e da transformação de um jovem estudante e trabalhador num homicida. Toda manifestação de pesar que façam sobre este caso, não será mais que odiosa hipocrisia, se não vier acompanhada de uma auto-critica em que assumam suas responsabilidades.

Tentar transferir a culpa da tragédia para o Estado será subestimar a inteligencia dos trabalhadores. Quem estimulou ou foi tolerante com os protestos violentos é responsável pela perda de uma vida humana e pela desgraça de pelo menos duas outras. Os velhos dirigentes da esquerda burra e inconsequente, roubaram a vida do trabalhador Santiago Andrade e mataram a liberdade e o futuro do jovem Fábio Raposo e seu comparsa.

Quem planta e cultiva a violência não pode colher senão mais violência e eventos trágicos. Menos de um ano de ações Black Bloc e já se colhe no Brasil uma morte. Quantas mais serão necessárias para que se entenda, de uma vez por todas, que trilhar este caminho não vai tornar o país nem mais democrático, nem mais socialmente justo, pode, ao contrário, levar o Brasil para o abismo profundo da barbárie e do autoritarismo?

Joaquim Barbosa, os Black Blocs e os linchadores do Flamengo, são expressões da visão deformada de justiça que tem tentado se impor à nossa sociedade. A justiça fora da lei, de que eles se propõem ser agentes, é a negação da própria democracia, porque só a lei institui direitos e pode estabelecer mecanismos para protegê-los. Eles abominam a lei porque não suportam a democracia.

Mais do que ano de eleições ou ano da Copa, 2014 deve ser o ano de reafirmar a democracia no Brasil, dizendo NÃO às intenções fascistas que estão por trás dos discursos e atos justiceiros. Que a morte de Santiago Andrade sirva de lição ao país, e que a partir de agora sejamos menos tolerantes com a transgressão da lei a pretexto de fazer justiça.

Os Black Blocs e os linchadores das ruas, da mídia e do Supremo são ameaças reais à democracia brasileira que precisam ser contidas, antes que provoquem ainda mais prejuízos à nação. Basta de violência contra a vida e contra a reputação de inocentes! Basta de prepotência e covardia contra os mais fracos! Basta de terror nas ruas, nos tribunais e nas manchetes! A democracia do Brasil não pode mais admitir esses ultrajes.

sábado, 8 de fevereiro de 2014

PT deve combater o racismo e a barbárie na Zona Sul do Rio. Proposta de plano de ação para o 1º Diretório Zonal.



Racismo e barbárie na Zona Sul


Em 3/2/2014, compartilhei no Facebook a seguinte matéria do jornal Extra:

Adolescente atacado por grupo de ‘justiceiros’ é preso a um poste por uma trava de bicicleta, no Flamengo

Um adolescente foi espancado e preso a um poste por uma trava de bicicleta, nu, na noite da última sexta-feira, na Av. Rui Barbosa, no Flamengo, Zona Sul do Rio. Ele teria sido atacado por um grupo de três homens, a quem chamou de “os justiceiros”, segundo a coordenadora do Projeto Uerê, Yvonne Bezerra de Melo, de 66 anos. A artista plástica foi chamada por vizinhos que flagraram a cena, registrou a situação e compartilhou em sua página no Facebook. Internautas afirmam que o adolescente praticaria roubos e furtos na região do Flamengo.

— Eu não quero saber se ele é bandidinho ou bandidão, você não pode amarrar uma pessoa no meio da rua. Aquela área do Flamengo teve um aumento muito grande de violência e roubos recentemente. Como as coisas não melhoram, um bando de garotões se juntam e começam a fazer justiça pelas próprias mãos. Sei que tem muita marginalidade e a polícia é ineficaz, mas você não pode juntar um grupo e começar a executar pessoas — explica Yvonne, que estima que o rapaz tenha entre 16 e 18 anos. — Eu perguntei a ele quem tinha feito aquilo e ele disse que eram os “justiceiros de moto”. Ele foi espancado, levou uma facada na orelha, arrancaram a roupa dele e prenderam pelo pescoço. E ninguém na rua faz nada para impedir.

Ameaças

Bombeiros do Quartel do Catete atenderam a ocorrência de agressão e soltaram o rapaz. Ele foi levado para o Hospital Municipal Souza Aguiar. Yvonne conta que os bombeiros precisaram usar um maçarico para abrir a trava de bicicleta.

A artista plástica já chegou a receber ameaças por ajudar e defender o rapaz:

— Eu recebo ameaças por defender, mas estamos falando de seres humanos. Recebi no Facebook a seguinte mensagem: “Pra mim essa raça tem que ser exterminada com requintes de crueldade”. De um rapaz jovem, que não deve ter nem 20 anos. Se o Estado não toma providências para resolver o problema da violência, os grupos nazistas, neonazistas se unem e essa mentalidade toma conta.

Fundadora do Projeto Uerê — ONG que oferece educação a crianças e adolescentes com dificuldades de aprendizagem decorrentes de traumas —, Yvonne trabalha com projetos sociais no Brasil desde os anos 1980. Ela conta que, nesta época, esse tipo de ataque era comum.

— Nos anos 80 existiam, na Zona Sul, gangues de rapazes que saiam à noite para bater em mendigos e em meninos de rua. Depois, isso parou porque houve certa redução da criminalidade. Se ele rouba, que prendam, mas não pode torturar no meio da rua — conclui. — Esse tipo de crime tem muito racismo, muito preconceito. Se fosse o contrário, ia ser um Deus nos acuda. “O branquinho amarrado no poste, coitadinho!”. O que está acontecendo é que a violência está criando o ódio da população. Eu entendo, ninguém quer ser esfaqueado andando no Aterro (do Flamengo), mas você tem leis, tem uma polícia. Não pode fazer justiça com as próprias mãos.

Comentários

Nas redes sociais, internautas apoiaram a ação do grupo. "Acordem seus tapados... quem anda no Flamengo sabe... isso ai é LADRÃO que assalta senhoras e mulheres todos os dias na rua Oswaldo Cruz e adjacentes... ele tem uma gangue... geralmente anda com mais 4 pivetes homens e 2 mulheres... fizeram foi pouco... faltou álcool e isqueiro pra 'esterilizar' o meliante", disse um rapaz. "Se é bandido, pena eu não ter passado com meu pitbull pra deixar ele brincar um pouquinho... Bandido bom é bandido morto!!", comentou um jovem.

Um terceiro homem reiterou: "Sinceramente, acho q só quem mora em Botafogo sabe o quanto esses pivetes estão colocando o terror, já tá todo mundo de saco cheio, é muito fácil ficar defendendo e dizendo q foram ladrões q fizeram isso!! Pelo q vi na foto, ele não está nada machucado, só está preso, acho até q foi um ato simbólico, pois já que quando alguém reclama com a policia que foi assaltado por um bando de pivetes eles simplesmente dizem que não podem fazer nada, que não adianta prendê-los!! Então, alguém foi lá e prendeu!!"
No dia seguinte, 4, publiquei no espaço para comentários a seguinte matéria do O Globo sobre o caso:

Polícia autua 13 acusados de agredirem supostos bandidos no Flamengo 

Grupo, que possui página no Facebook, estaria fazendo justiça com as próprias mãos

RIO - Policiais da 9ª DP (Catete) estão analisando imagens de vídeo para tentar levantar provas contra um possível grupo que estaria “fazendo justiça com as próprias mãos” na região do Flamengo. Por volta das 23h desta segunda-feira, 14 pessoas — todos moradores da Zona Sul, sendo um menor — foram detidos por policiais militares no Parque do Flamengo. Dois menores denunciaram estarem sendo perseguidos pelo grupo. Treze foram autuados por formação de quadrilha, tentativa de lesão corporal e corrupção de menor.

Segundo os menores, o grupo ameaçava agredi-los e dizia não gostar “nem de mendigos nem de pobres”. Durante depoimento na 9ª DP (Catete), dois deles confirmaram que pertecem a um grupo autodenominado “Bairro do Flamengo”, criado no facebook que tem como objetivo se reunir para patrulhar o Aterro em busca de “potenciais autores de delitos”. Um dos acusados, um estudante de 22 anos, afirmou ainda que o objetivo era encontrar infratores e agredi-los. Em depoimento, um dos jovens alegou ainda que o grupo foi criado em razão do “descontentamento de moradores com os recorrentes assaltos no Aterro”. Os outros 12 envolvidos afirmaram que só falariam em juízo.

A página no Facebook do grupo Informa que seu objetivo é criar uma comunidade de amigos “para vigiar os acontecimentos e pressionar os órgãos competentes por melhorias no nosso bairro”. Também afirma que incitar a violência não é o foco do grupo, além de ser crime. Procurado pelo GLOBO, o engenheiro Luís Carlos Júnior, administrador da página, afirmou que criou o grupo em novembro para debater questões do bairro e se assustou com a violência de alguns internautas.

A delegada Monique Vidal instaurou inquérito para apurar crime de quadrilha ou bando, tentativa de lesão corporal e corrupção de menores, uma vez que um dos agressores tem apenas 15 anos. Monique também investiga se o grupo também esteve envolvido na agressão ao menor, de 15 anos, que foi encontrado algemado pelo pescoço a um poste em frente a Avenida Rui Barbosa, no final da noite de sexta-feira passada. O caso, que ganhou a rede a partir da divulgação da imagem do rapaz acorrentado, parece inspirado na série american Breaking Bad. Nela, Jesse Pinkman, personagem de Aaron Paul, aprisiona o traficante Krazy-8 (Domingo Molina) no porão de sua casa, usando um cadeado de bicicleta.

Segundo os menores, o grupo ameaçava agredi-los e dizia não gostar “nem de mendigos nem de pobres”. Durante depoimento na 9ª DP (Catete), dois deles confirmaram que pertecem a um grupo autodenominado “Bairro do Flamengo”, criado no facebook que tem como objetivo se reunir para patrulhar o Aterro em busca de “potenciais autores de delitos”. Um dos acusados, um estudante de 22 anos, afirmou ainda que o objetivo era encontrar infratores e agredi-los. Em depoimento, um dos jovens alegou ainda que o grupo foi criado em razão do “descontentamento de moradores com os recorrentes assaltos no Aterro”. Os outros 12 envolvidos afirmaram que só falariam em juízo.

A página no Facebook do grupo Informa que seu objetivo é criar uma comunidade de amigos “para vigiar os acontecimentos e pressionar os órgãos competentes por melhorias no nosso bairro”. Também afirma que incitar a violência não é o foco do grupo, além de ser crime. Procurado pelo GLOBO, o engenheiro Luís Carlos Júnior, administrador da página, afirmou que criou o grupo em novembro para debater questões do bairro e se assustou com a violência de alguns internautas.

A delegada Monique Vidal instaurou inquérito para apurar crime de quadrilha ou bando, tentativa de lesão corporal e corrupção de menores, uma vez que um dos agressores tem apenas 15 anos. Monique também investiga se o grupo também esteve envolvido na agressão ao menor, de 15 anos, que foi encontrado algemado pelo pescoço a um poste em frente a Avenida Rui Barbosa, no final da noite de sexta-feira passada. O caso, que ganhou a rede a partir da divulgação da imagem do rapaz acorrentado, parece inspirado na série american Breaking Bad. Nela, Jesse Pinkman, personagem de Aaron Paul, aprisiona o traficante Krazy-8 (Domingo Molina) no porão de sua casa, usando um cadeado de bicicleta.

— Pelo modus operandi pode ser que eles estejam envolvidos no caso do menino, barbaramente amarrado ao poste, mas ainda não temos o depoimento da vítima, porque ela fugiu do hospital e ainda não foi localizada. Por isto, estamos pedindo a colaboração de quem tiver fotos, vídeos ou tenha presenciado a agressão que nos procure — afirmou a delegada, que também vai chamar Yvonne Bezerra de Mello para prestar depoimento sobre o caso e também requisitou o Boletim Médico do menor ao Hospital Souza Aguiar, onde o jovem foi medicado.

Coordenadora do Grupo Uerê e moradora do Flamengo, Yvonne fotografou o adolescente preso ao poste e foi quem chamou o corpo de Bombeiros para resgatá-lo. De acordo, com a Secretaria Municipal de Saúde, o jovem deu entrada aos 3 minutos do dia 1º de fevereiro, se queixando de dor no tórax. Os exames nada constataram e ele foi posto em observação, desaparecendo pouco tempo depois.

— Requisitei também o boletim médico do Hospital Souza Aguiar e vou ouvir os bombeiros que participaram do resgate do menino — afirmou Monique, que instaurou outro procedimento para apurar a agressão ao jovem , assim que tomou conhecimento do crime pelos jornais.

Já os 14 detidos no final da noite de segunda-feira foram presos por policiais do 2º BPM (Botafogo), que foram chamados pelas duas vítimas da tentativa de agressão. Na delegacia os jovens afirmaram que o grupo chegou ameaçando espancá-los e se disseram inimigos de moradores de rua. Nenhum deles carregava qualquer tipo de armamento. Nesta terça-feiram, policiais percorreram prédios do bairro atrás de imagens que possam provar a prática de crimes de tortura e agressão.

A página do grupo Bairro no Facebook, no entanto, informa que o objetivo deste grupo é criar uma comunidade de amigos “para vigiar os acontecimentos e pressionar os órgãos competentes por melhorias no nosso bairro” e garante que incitar violência não é o foco do grupo e é crime.

Relatos de violência por uma suposta onda de “justiceiros” continuam surgindo na rede e em denúncias encaminhadas por moradores ou mesmo vítimas. Foi o caso de um morador do bairro que pediu para não ser identificado:

— Eu estava na rua e vi. Eram cerca de 20 garotos entre 16 e 21 anos, com pedaços de pau e e o que eles estavam fazendo era também um arrastão homofóbico gritavam dizendo que iam "limpar o Aterro do Flamengo e o bairro dos gays, drogados e ladrões". Estavam correndo atrás de todo mundo que corresse deles. Quem não correria às 23h, meia-noite de um grupo armado de 20, 25 moleques de classe média armados com porretes? Eu corri e correram atrás de mim, e de um monte de gente que estava no caminho. Não importou se era branco, negro, gay, hetero, nada. Eles nem perguntavam.

Ainda segundo o relato do morador, a perseguição continuou até que ele entrasse no carro de polícia que passava no local. Segundo ele, não houve registro. A polícia apenas mandou o grupo dispersar e o levou até a esquina de casa.

Na manhã desta terça-feira, Guardas Municipais detiveram seis jovens, entre eles, um maior de idade, que estava armado com uma faca e é foragido da Justiça. Eles estariam praticando arrastões no Aterro. Enquanto esperava para prestar depoimento o homem identificado como Márcio de Oliveira da Silva, afirmou que não era ladrão, mas catador de lixo e falou que vem sendo vítima constante de “patrulhas de playboys”:

— Eles estão dizendo que eu sou Márcio. Mas digo que meu nome é Marcelo. Eu estava com essa faca porque a encontrei no lixo. Se não tem vítima, eles não podem me prender. Têm que prender os playboys que andam por aí batendo em tudo que vêm pela frente.

Funcionária de um estacionamento no Aterro, Rosineide Barbosa de Oliveira acompanhava atenta o discurso do suspeito. Ela contou que tinha sido furtada pela manhã por outro morador de rua. Segundo ela, eles estão sempre próximos do lago em frente ao MAM.

— A situação é muito difícil. A todo instante eles roubam e furtam moradores e quem trabalha ali. É uma guerra.
Na mesma data, compartilhei também o link da seguinte matéria do jornal O Dia, de 1/11/2013:

'Mendigo não tem direito de cidadão', afirma vereadora Leila do Flamengo 

Fala de parlamentar na Câmara Municipal causou polêmica

Rio - Menos de um mês após um vereador de Piraí sugerir que mendigo deveria virar ração para peixe, uma outra declaração envolvendo o mesmo assunto voltou para as rodas de discussão, por revelar a falta de sensibilidade social de alguns políticos no país. A vereadora Leila do Flamengo (PMDB), em discurso na quarta-feira no plenário da Câmara do Rio, afirmou que mendigo não tem o mesmo direito que os cidadãos. Nesta quinta-feira, ao comentar o assunto, ela não hesitou ao afirmar que a grande maioria das pessoas mora na rua porque quer. 
“Defendo as famílias e os moradores, não os desocupados. (...) Não estamos falando aqui em discursos hipócritas, de querer dizer que o mendigo tem o mesmo direito que os cidadãos”, afirmou ela, no plenário. Questionada, a vereadora garantiu que a sua fala é reprodução do que ouve das pessoas nas ruas. 
Segundo a vereadora, o público que perambula nas calçadas é formado principalmente por homens fortes e bêbados, prontos para o trabalho, mas que preferem ficar sem fazer nada. Suas falas pesam inclusive sobre sua própria origem e história de vida. Nascida em Natal, capital do Rio Grande do Norte, mas criada no Rio, ela defende o retorno de pessoas que vivem de mendicância para sua terra natal. “Eu, com 16 anos, tomava três ônibus para trabalhar. Mas tinha uma base boa. Minha família tinha condições, mas perdemos tudo. Fomos à luta. Não fomos para a rua”, compara.

Leila critica programas populares

Apesar de dizer que defende uma política social e o retorno do projeto da Fazenda Modelo — casas de vivências mantidas pelo município —, para abrigar quem vive na rua, a vereadora escorrega de novo no preconceito para justificar como o problema de moradores de rua surgiu na cidade: 
“Aumentou a mendicância no Rio devido a esses programas de R$ 1. Faltou também controlar crescimento de moradias nas áreas verdes. A população achava que vir para o Rio era só para invadir. O comerciante que paga impostos, gera emprego, tem que competir com o mercado que surge na porta dele”.

Proposta de plano de ação para o 1º Diretório Zonal


No dia seguinte, 5, publiquei o seguinte comentário:
"Minha gente, não vamos perder de vista que este fato, como outros semelhantes, se deu no âmbito da jurisdição do 1º Diretório Zonal do PT. Portanto, essa é uma briga nossa, não é possível que não se deem conta disso. 

Existe uma forte cultura de apartheid racial e social e de desrespeito a direitos humanos na zona sul do Rio de Janeiro, que tem inclusive uma expressão política muito atuante na institucionalidade, que é a vereadora Leila do Flamengo, do PMDB, como se pode ver no link que postei acima. Essa cultura, companheiros, precisa ser dura e permanentemente combatida por nós. 

O 1º Diretório Zonal não pode deixar de se manifestar publicamente, sobre fatos como este que foi noticiado, mas também sobre declarações como a da vereadora Leila do Flamengo, que já expressava claramente, no fim do ano passado, as disposições hostis de setores da classe media da região contra a população de rua. 

O 1º Diretório Zonal não pode se omitir, deve assumir a defesa intransigente dos direitos humanos e civis dessa parcela da classe trabalhadora que o querido padre Júlio Lancelotti costuma chamar de Povo da Rua. 

Essa briga é nossa, companheiros, do 1º Diretório Zonal do Partido dos Trabalhadores contra a direita que está atuando de forma cada vez mais organizada na zona sul do Rio de Janeiro, especialmente no Flamengo. Notem que a vereadora Leila e a gangue de linchadores estão sediados neste mesmo bairro e comungam dos mesmos valores e disposições."
O companheiro Sebastian, da base do 1º Diretório, comentou:
"Já aconteceram outras tantas e poucos se deram conta!"
Eu retruquei:
"Quer dizer que se depender de você..."
Sebastian:
"Já interpelei o partido por diversas vezes e o próprio ministério público!"
O companheiro Edsel, também da base, publicou relato de um morador do Flamengo sobre a ação violenta de crianças e adolescentes moradores de rua. Disse-lhe:
"É evidente que tá faltando policiamento. Nós temos que cobrar. Mas não dá prá admitir que se espalhe aqui uma cultura de Ku Klux Klan."
Sebastian prosseguiu:
"Como assim, se ainda estão em período de festas! Tivemos 22 pessoas torturadas na Rocinha. Tivemos agressões policiais na Babilônia e o setorial de DH ou SP não se pronunciaram.

Só uma pergunta: qual será sua ação concreta o caso?

Por falar se depender hoje temos ações em algumas áreas precarizadas, provavelmente vc. esteja em todas Silvio Melgarejo."
Respondi-lhe no mesmo dia, 5:
"Acho engraçado que, na lista de emails, a Eugênia me acusa de querer 'aplicar soluções individuais', e aqui você, ao contrário, me cobra uma ação individual. Eu sempre propus e continuo propondo ações coletivas ou institucionais. 

E acho que, neste caso, a primeira ação tem que ser institucional. O diretório zonal tem que lançar uma nota à imprensa se posicionando em relação ao episódio em questão, fazendo a vinculação dele com a declaração da vereadora Leila do Flamengo, e cobrando do governo do estado punição dos linchadores e mais policiamento para o bairro do Flamengo. 

A outra medida seria a seguinte. Quando eu criei esta comunidade, criei também uma página aberta com o mesmo nome, que está em desuso. O que eu proponho é que o 1º Diretório Zonal assuma também esta página, para seu uso exclusivo em manifestações oficiais dirigidas à sociedade. Através desta página, o diretório poderia se posicionar oficialmente sobre este caso.

Ações institucionais como estas podem ser executadas imediatamente, não estamos tratando de uma questão polêmica no partido, até eu e você concordamos. Não precisamos esperar pela festa do dia 14 para lançar uma nota à imprensa. O diretório tem toda legitimidade para fazer isso.

No mais, qualquer ação física e coletiva exige planejamento e organização, algo que ainda nos falta. Por exemplo, a mesma nota divulgada pela imprensa e pelo Facebook, poderia ser impressa e panfletada nas ruas do Flamengo. Mas para isso precisaríamos mobilizar recursos humanos e financeiros.
Estes recursos, a meu ver, deveriam ser procurados no próprio bairro do Flamengo, entre os filiados do PT ali residentes, como forma de estimular a organização partidária por bairro, de que ainda somos tão carentes. Os filiados residentes em outros bairros poderiam participar como forças auxiliares.

Agora, o diretório não pode ficar esperando que a base venha até ele. Tem que ir até à base, prá fazer o trabalho político e organizativo. Senão nada acontece, como vimos nos últimos quatro anos."
No dia seguinte, 6, Sebastian falou:
"Eu não lhe cobrei uma ação individual! Lhe cobrei uma ação!"
Ao que eu lhe respondi:
"Que ação? Se não é uma ação individual que me cobra, deve ser a participação em alguma ação partidária física e coletiva que esteja ocorrendo e da qual você, certamente, deve estar participando. Que ação é esta?

Não há ação nenhuma. Enquanto isso o caso ganha repercussão nacional, a direita deita e rola e o 1º Diretório Zonal do Rio, em cuja jurisdição os fatos se deram simplesmente silencia, não dialoga com a sociedade, não contradiz a direita local, não cobra nada do estado."


Quem é o menino de 15 anos, vítima da Ku Klux Klan do Flamengo


No dia 6, postei o link da seguinte reportagem da revista Veja:

Jovem preso a poste por ‘justiceiros’ perambula há dois anos pelas ruas do Rio 

Proibido de voltar para casa por ter furtado uma furadeira, adolescente de 15 anos conta ter sido perseguido por cerca de 30 ‘playboys’ na madrugada de sábado, acusado de roubar bicicletas e cometer assaltos. 

Pai foi assassinado na guerra do tráfico. 

Avó foi localizada, mas recusa-se a ficar com o neto

A história de vida do jovem encontrado amarrado a um poste no Rio de Janeiro, com o pescoço preso a uma tranca de bicicleta, é uma coleção de tragédias da infância. O adolescente cuja imagem ganhou as redes sociais no último domingo prestou depoimento à delegada Monique Vidal, na 9ª DP (Catete) na noite desta quarta-feira, e revelou os detalhes da madrugada de horrores vivida na calçada da Avenida Rui Barbosa, um endereço nobre do Rio.
O rapaz afirmou que tem condições de reconhecer alguns dos agressores, e disse, desta vez, que cerca de 30 jovens o perseguiram - ele não sabe precisar quantos efetivamente o agrediram. A delegada também ficou sabendo a verdadeira idade da vítima: 15 anos, não 17, como acreditava a Polícia Civil até então.

Ele tem mãe e dois irmãos, de 12 e 9 anos, mas atualmente pouco sabe da família. O pai morreu há tempos, assassinado por ter envolvimento com o tráfico de drogas. Morador de uma favela do bairro de Campo Grande, na Zona oeste, até dois anos atrás, o menor passou a perambular pelas ruas depois que ficou marcado em sua região, por furtar uma furadeira elétrica de um vizinho. Sem poder voltar para casa, ele perambula pelas ruas da Zona Sul, tendo passado cinco vezes por abrigos da prefeitura desde novembro.
O rapaz negou ser usuário de drogas e admitiu ter participado "uma vez" de um furto, de uma motocicleta - sem dar detalhes do caso. Assistentes sociais da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social conseguiram localizar a avó paterna do garoto, em um morro da cidade. Ela, no entanto, recusou-se a receber ou abrigar o neto.

O adolescente detalhou, em depoimento, seus passos na noite de sexta-feira. Contou que seguia para Copacabana com três amigos, também moradores de rua, para tomar "banho de mar". Depois de passar pelo local onde funciona uma academia ao ar livre, no Aterro do Flamengo, o grupo foi perseguido pelos cerca de 30 jovens que estavam no local, alguns deles motociclistas, segundo conta.
Um dos homens estava armado com uma pistola, disse. Dois dos amigos moradores de rua escaparam. Com o rapaz que não conseguiu fugir, ele passou a ser agredido e ameaçado. Em dado momento, o outro jovem também escapou, e passou a ser ele o único em poder do grupo. Os homens o acusavam de roubar bicicletas e praticar assaltos naquela região.

Os agressores aplicaram uma "banda" e ele foi ao chão. Começaram, então, agressões com capacetes, pontapés e várias humilhações. Acusado de roubos, ele acreditava que seria morto pelos jovens que descreveu como "brancos e fortes" e "playboys" - apenas um deles era "pardo", segundo contou o rapaz a um funcionário da Secretaria Municipal de Desenvolvimento social. O pardo, segundo conta, pediu desculpas.

Depois do fim da sessão de agressões, ele foi atado ao poste, e passou a sentir medo de ser assassinado por um dos jovens agressores, que poderiam retornar para terminar o "serviço". O rapaz foi localizado e socorrido por alguns moradores do Flamengo - entre eles a artista plástica Yvonne Bezerra de Mello, fundadora da ONG Projeto Uerê, de educação infantil. Depois de medicado, ele se desvencilhou e procurou ajuda em um abrigo da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social no Centro, onde estava desde então, sem ser identificado. Outro dos quatro perseguidos também ficou no abrigo, anonimamente.

Na tarde desta quarta-feira, segundo contou, a diretora do abrigo o reconheceu, e comunicou o caso à Secretaria, que auxiliou o rapaz a prestar depoimento. A delegada Monique Vidal apresentou a ele fotografias dos 14 detidos na noite da última segunda-feira, em um tumulto no Flamengo, no qual dois menores disseram ter sido ameaçados. O jovem não reconheceu nenhum deles, o que, por ora, descarta a suspeita de que os casos estejam conectados e que sejam grupos de agressores com integrantes em comum.

A delegada Monique Vidal tenta, agora, encontrar imagens das cenas de perseguição, tortura e humilhações ocorridas entre a noite de sexta-feira e madrugada de sábado, para tentar chegar aos agressores. A Polícia Civil informou que o adolescente tem uma passagem pela Delegacia Especial de Proteção à Criação e ao Adolescente, que cuida de crimes cometidos por menores, mas não detalhou que delito foi atribuído a ele.

Funcionários da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social descreveram o jovem como um menino calado, pacato e muito querido pelas assistentes sociais. Ao ser identificado pela diretora do abrigo, ele chorou compulsivamente.

Quem são os agressores


Na mesma data, compartilhei o link da reportagem a seguir, do Diário do Centro do Mundo:

Rapaz que ficou preso a poste narra as agressões que sofreu


O adolescente de 15 anos torturado e preso pelo pescoço a um poste do Aterro do Flamengo com uma tranca de bicicleta, na sexta-feira, 31, estava desde sábado em um abrigo da prefeitura no centro do Rio. Ele já conhecia a diretora dessa unidade e aguardou a funcionária voltar de férias, ontem, para narrar as agressões que sofreu.

Após conversar com a diretora, o adolescente prestou depoimento à Polícia Civil e, nesta quarta-feira, 5, à noite, seria conduzido a abrigo que a prefeitura não vai divulgar onde fica, por segurança.

Segundo a Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social, responsável pelo abrigo onde o adolescente estava, ele foi para a unidade logo após fugir do Hospital Souza Aguiar, no centro, onde foi atendido após ser libertado por bombeiros do poste em que ficou preso. O menor já foi apreendido duas vezes pela polícia por furto e agressão.

Para a diretora da unidade, o adolescente contou que estava com três amigos na avenida Rui Barbosa, seguindo para a praia de Copacabana, na sexta à noite, quando foi abordado por cerca de 30 pessoas em 15 motos.

O quarteto tentou fugir, mas ele e outro menino pararam ao ver um dos homens armado com pistola 9 mm. A arma não chegou a ser usada, mas os dois adolescentes foram agredidos a socos. Um deles conseguiu fugir depois de apanhar, mas o outro foi deixado nu e preso a um poste. Os agressores fugiram.

O morador do Flamengo de 22 anos que admitiu em depoimento 'patrulhar o Aterro em busca de autores de delitos' publicou no Twitter, no dia 9 de janeiro, o 'novo esporte' que tinha começado a praticar com os amigos: “caçar vagabundo roubando para meter a porrada”. Lucas Correia Pinto Felício afirmou que estava com “vontade de comprar uma arma e dar tic tac nesses vagabundos todos”.

Em seu perfil no Twitter, ele também publicou a seguinte mensagem: 'Vou caçar mais de um milhão de vagabundo (sic) por aí, eu só quero bater em você e quando acordar vou te matar rs'. Nenhum dos 220 seguidores de Felício comentou ou replicou as postagens."