"'Estudei cultura e idiomas latinos na universidade de Groningen. E como parte do meu curso, tinha de fazer uma parte prática na Colômbia [em 1998]', contou Tanja anos depois durante uma entrevista à rádio Netherlands Worldwide.
'Passei um ano na Colômbia, mas nunca pensei em viver lá ou em me unir aos guerrilheiros. Mas quando voltei à Holanda e comecei a trabalhar como ativista política, percebi que a revolução nunca iria acontecer na Holanda. Ela estava acontecendo na Colômbia. E por isso resolvi voltar [em 2002]'."
Reproduzo a seguir a íntegra da reportagem da BBC-Brasil, veiculada pelo site R7.
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A guerrilheira holandesa que negociará pelas Farc. (Reportagem R7)
Tanja Nijmeijer, de 34 anos, faz parte da guerrilha há dez anos.
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Sua presença nas Farc ficou mais conhecida em 2007, quando o Exército tornou público parte de seu diário, encontrado após um ataque a um acampamento guerrilheiro |
É a guerrilheira de quem todos estão falando: uma jovem holandesa que entrou nas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) faz dez anos e agora participará das negociações de paz que podem encerrar quase meio século de conflito armado.
Seu nome de batismo é Tanja Nijmeijer, mas entre os guerrilheiros ela é conhecida como Eileen, Alexandra ou Holanda.
Especula-se inclusive que a inesperada inclusão de Tanja na equipe de negociação das Farc seja uma das razões pelas quais o início do diálogo atrasou. As negociações não devem mais começar nesta quarta-feira (17) em Oslo, na Noruega, como estava previsto, mas, sim, no dia seguinte.
Tudo parece indicar que a jovem de 34 anos somente se integraria à equipe negociadora na segunda fase das conversações, marcada para a capital cubana, Havana. E isso significa que ainda estaria nas selvas colombianas, onde Tanja entrou pela primeira vez no fim de 2002.
"Estudei cultura e idiomas latinos na universidade de Groningen. E como parte do meu curso, tinha de fazer uma parte prática na Colômbia [em 1998]", contou Tanja anos depois durante uma entrevista à rádio Netherlands Worldwide.
"Passei um ano na Colômbia, mas nunca pensei em viver lá ou em me unir aos guerrilheiros. Mas quando voltei à Holanda e comecei a trabalhar como ativista política, percebi que a revolução nunca iria acontecer na Holanda. Ela estava acontecendo na Colômbia. E por isso resolvi voltar [em 2002]".
Diário na selva
Ela contou ainda que começou como miliciana em Bogotá por seis meses e depois foi fazer um curso na selva. "Lá me dei conta que a guerrilha não era como pintava a mídia".
Sua presença nas Farc ficou mais conhecida em 2007, quando o Exército tornou público parte de seu diário, encontrado após um ataque a um acampamento guerrilheiro.
Nele, a holandesa criticava duramente a promiscuidade sexual dos guerrilheiros e o comportamento egoísta de alguns comandantes. "Como será quando tomarmos o poder? As mulheres dos comandantes em Ferraris, com implantes nos seios e comendo caviar?", diz um dos trechos.
Segundo o analista Leon Valencia, co-autor de um livro sobre a vida de Tanja, isso fez com que ela quase fosse fuzilada.
"[A publicação] teve um efeito demolidor para a imagem de Tanja dentro do comando das Farc e desatou uma onda de pressões por parte de alguns guerrilheiros, que decretaram sua pena de morte", conta Valencia em Tanja, uma holandesa nas Farc.
Guerrilheira até morrer?
Segundo o autor, ela foi resgatada pelo comandante guerrilheiro Raúl Reyes, que acreditava que Tanja podia ser útil para melhorar a imagem das Farc na Europa e atrair outros combatentes de lá.
O especialista diz que ela foi subindo de posto rapidamente dentro da guerrilha e não parece deixar dúvidas sobre sua fidelidade aos rebeldes.
"Sou guerrilheira das Farc e seguirei sendo até vencer ou morrer. Isso não tem volta", disse Tanja na época da entrevista.
Agora, porém, como negociadora, parece que sua missão não será trabalhar para tomar o poder, mas sim para alcançar a paz.
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Foto divulgada pelo jornal Dagblad van het Noorden mostra Tanja em 2001, antes de virar guerrilheira. Crédito: AP Photo |
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