Status de Val Carvalho
"O militante petista muitas vezes perde a paciência com Dilma porque acha que ela deve simplesmente mudar a política econômica – o que também defendo. Mas entendo que a presidenta fica sopesando, avaliando frequentemente as pressões do poder econômico e do poder popular. O primeiro se mede pelo percentual do PIB que controla. O segundo pelo grau de unidade e mobilização popular. Por enquanto a primeira pressão, do poder econômico, é de longe a mais forte, o que faz Dilma ser bastante cautelosa e ir tocando o barco como pode.
Temos de fortalecer o poder popular, reforçando a sua unidade na Frente Brasil Popular e elevando a capacidade de mobilização dos trabalhadores e da juventude como também a informação independente do povo. Sem isso não conseguiremos fazer com que Dilma mude, nem que seja parcialmente, essa política econômica antipopular quem vem dando tanto gás para os golpistas." (Val Carvalho, 22/10/2015)
https://www.facebook.com/val.carvalho.31/posts/948053135274549
Meu comentário
Val Carvalho. O poder econômico é mais forte agora, depois que a presidenta dividiu e desmobilizou a base social construída ao longo da campanha eleitoral, com a decepcionante política econômica que resolveu adotar. Para esta política, ela realmente só tem apoio da Globo e do conjunto da burguesia. Mas para o cumprimento do programa econômico que defendeu durante a campanha, ela teria o apoio decidido do conjunto das centrais sindicais, movimentos populares e partidos e militantes de esquerda e progressistas, que hoje se opõem às suas medidas.
Aécio e Marina anunciaram os nomes dos seus ministros da fazenda, caso eleitos, durante a campanha eleitoral. Armínio Fraga, o de Aécio; André Lara Resende, o de Marina. Dois neoliberais notórios. Dilma fez mistério, recusou-se a antecipar o seu. Mas apenas um mês depois do pleito, que venceu com 54 milhões de votos, anunciou Joaquim Levy, cujo perfil não difere dos ministros dos seus concorrentes, o que já desapontou boa parte do seu eleitorado. Que pressões a teriam obrigado a fazer esta escolha? Afinal, o poder econômico é que foi derrotado nas urnas pela unidade e mobilização popular em torno do programa econômico antineoliberal defendido por Dilma. E o que fez a presidenta? Resolveu adotar o programa dos derrotados.
Dilma não vai mudar a atual política econômica. Sabe por que? Em primeiro lugar, porque acredita nesta política, como declarou recentemente. E depois, porque não perde nada mantendo-a, já que o apoio que tem do PT e da Frente Brasil Popular é incondicional. Ela pode continuar desempregando e arrochando salários até o final do mandato, que o partido e sua frente vão continuar empenhados em lhe dar sustentação política no parlamento e na sociedade. Não é por outra razão que parte da esquerda que ajudou a elegê-la resolveu criar uma outra frente, a Frente Povo Sem Medo, do MTST.
A política econômica de Dilma dividiu e desmobilizou a esquerda e os movimentos sociais. E a política adotada pelo PT em relação ao governo tem contribuído para a manutenção desta divisão e desmobilização, que enfraquecem ainda mais a esquerda e os movimentos sociais. Não é possível combater seriamente uma política econômica e ao mesmo tempo apoiar incondicionalmente o governo que a concebe e implementa. Porque o apoio incondicional ao governo limita e mantém a pressão por mudanças num nível muito baixo, sempre insuficiente para fazer frente à pressão do poder econômico, que não tem limites.
Enquanto o PT mantiver apoio incondicional ao governo Dilma, será, a despeito do discurso crítico à política econômica, um agente desmobilizador dos trabalhadores e da juventude, que contribuirá permanentemente para a manutenção da divisão da esquerda e da anemia do poder popular.
Silvio Melgarejo
23/10/2015
https://www.facebook.com/notes/silvio-melgarejo/o-problema-%C3%A9-a-incondicionalidade-do-apoio/1149210915092306
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