quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Não cobrem da Dilma. Cobrem dos membros de diretórios.

"Está fadada à derrota uma esquerda que se ocupa mais com a crítica à composição de uma equipe de governo do que com a construção de um partido capaz de organizar e mobilizar as massas trabalhadoras."
Pela milionésima vez, lembro aos que me leem uma lição de Marx, do seu livro "18 Brumário", que até autodeclarados marxistas parecem ignorar. Diz o velho comuna:
"Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado."
Eu concordo com o Marx. E como concordo com ele, compreendo e aprovo as escolhas que Dilma tem feito para o seu ministério.

Dilma tem montado sua equipe de governo não como quer, nem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob circunstâncias que a ela se impõem, resultantes de um processo político sobre o qual nem ela, nem ninguém tem domínio, já que protagonizado por inúmeros atores que atuam de forma independente.

O primeiro mandato de Dilma se encerra com seu governo politicamente fragilizado, sob forte artilharia e implacável cerco de um setor da direita, capitaneado pela mídia conservadora e antidemocrática.

Pensando em iniciar o segundo mandato rompendo este cerco e respondendo melhor aos ataques destas forças inimigas, Dilma montou uma equipe cujas características lhe permitirão:
1) melhorar a articulação política para reforçar as bases possíveis de sustentação ao seu governo no Congresso;

2) melhorar a interlocução do governo com a sociedade e com os agentes econômicos para quebrar resistências e criar um ambiente mais receptivo às suas iniciativas; e

3) melhorar a capacidade de gerenciamento dos ministérios, para que apresentem melhores resultados.
A presidenta, muito criticada pelas escolhas que fez para sua equipe, não se cansa de reiterar os compromissos assumidos durante a campanha eleitoral e nunca deu motivos para que haja dúvidas quanto à sinceridade deste compromisso.

As realizações do seu primeiro mandato, no qual foi capaz de preservar empregos, salários e direitos sociais e trabalhistas em meio à longa e violenta crise econômica pela qual o mundo vem passando, rechaçando com firmeza e convicção inabalável à constante pressão para que adotasse as perversas políticas de austeridade aplicadas na Europa, são razões mais que suficientes para que a ela se dê crédito.

Por que, então, ainda duvidam da lealdade da presidenta à classe trabalhadora?

Por que ainda dão tanto ouvidos à Globo e ao esquerdismo tolo e desonesto que fez do PT seu principal inimigo?

Como podem os petistas permitir que inoculem, tão facilmente, em suas mentes o veneno da desconfiança contra a presidenta que acabaram de eleger a duras penas?

Não veem que a desconfiança é o primeiro passo para o abandono do governo à própria sorte e que, neste caso, a desconfiança, indiscutivelmente, não se justifica?

Dilma se prepara para defender seu governo de golpes e sabotagens cercando-se de ministros de centro e de direita pelas razões mais do que evidentes de que a esquerda tem uma presença ínfima no Parlamento e de que a esquerda não tem um partido sequer que seja capaz de organizar e mobilizar as massas trabalhadoras.

A correlação de forças na Câmara Federal é de apenas 16,37% de deputados de esquerda contra 83,63% de direita e de centro.

De um total de 513 deputados federais, são 429 de direita contra míseros 84 de esquerda.

Não é possível que uma diferença tão acachapante seja desconsiderada na análise que se faça da conjuntura política e dos limites que uma conjuntura assim impõem às ações de um governante de esquerda.

E, como se não bastasse, esse Parlamento, que já é tão fortemente conservador, só sofre pressão externa de uma única classe, a burguesia, que financia quase todas as campanhas eleitorais e detém um controle quase absoluto da mídia e do Judiciário.

Quanto tempo duraria, ou quanto de seu programa poderia realizar, um governo que ignorasse uma conjuntura assim tão adversa e compusesse afoitamente, como tantos exigem, um ministério com 83,63% de ministros de esquerda e 16,37% de direita, o inverso da correlação de forças existente a partir de janeiro próximo no Parlamento?

Dilma está montando o melhor ministério possível para enfrentar as circunstâncias políticas extremamente desfavoráveis que cercam e ameaçam a viabilidade e a sobrevivência do seu governo.

Circunstâncias desfavoráveis que, a julgar pelas manifestações de decepção e revolta que tenho lido, são desconhecidas ou simplesmente menosprezadas por grande parte dos petistas.

Quanta desinformação e quanta irracionalidade.

E quanta falta de noção do que é realmente decisivo e, por isso mesmo, prioritário.

Dilma não precisaria fazer os arranjos institucionais que tem feito se tivesse o apoio de uma maioria de esquerda no Congresso e se houvesse um partido de esquerda que fosse capaz de organizar e dirigir gigantescas e permanentes manifestações de apoio a ela na sociedade.

Parece que os petistas críticos da presidenta, que se revoltam contra suas escolhas, desconhecem que fazem parte de um partido inteiramente inerte e fragilizado pela pulverização de sua base de filiados, decorrente da falta crônica de comando, organização e disciplina em seus diretórios.

O PT seria outro partido se houvesse revolta igual contra o descalabro antigo e permanente de diretórios que não funcionam sequer para cumprir obrigações organizativas mínimas previstas em seu Estatuto, indispensáveis para garantir o poder de ação e o funcionamento da democracia interna dessas instâncias.

Mas não é isso que se vê., ninguém se revolta contra isso. Ao contrário. Os petistas que se escandalizam com o ministério de Dilma, não se escandalizam nenhum pouco com a inoperância da maior parte dos dirigentes do PT e com a falta de funcionamento dos diretórios, dessa inoperância decorrente.

O PT não tem sido capaz de organizar e mobilizar sequer a sua própria base de filiados para cumprir a meta de um simples abaixo-assinado, como o do Projeto de Lei de Iniciativa Popular da Reforma Política, quanto mais organizar e mobilizar o conjunto da classe trabalhadora para apoiar o governo Dilma.

Com uma democracia interna limitadíssima e uma absoluta falta de iniciativa e poder ação, em razão da precariedade do funcionamento dos diretórios e da resistência dos dirigentes ao uso efetivo da internet como instrumento de inclusão partidária, o PT, desorganizado e desmobilizado, é um partido fraco, incapaz de dar sustentação política sozinho ao seu governo.

O querem, então, os petistas críticos de Dilma?

Que ela faça milagres?

Ou que conduza o país a uma aventura inconsequente, ignorando as circunstâncias políticas, para agradar aos padecentes do esquerdismo histérico e delirante?

Está fadada à derrota uma esquerda que se ocupa mais com a crítica à composição de uma equipe de governo do que com a construção de um partido capaz de organizar e mobilizar as massas trabalhadoras.

Falta, ainda, ao conjunto da esquerda brasileira a consciência de que é preciso priorizar a construção desse partido.

As tendências das legendas existentes digladiam-se em acalorados e infindáveis debates sobre estratégias e táticas, desprezando inteiramente a reflexão sobre a construção do partido, que é o único meio capaz de realizá-las.

No PT, a inoperância dos dirigentes impede que os diretórios funcionem e com isso marginaliza centenas de milhares de filiados por todo o país, que ficam impossibilitados de exercerem em plenitude as suas cidadanias partidárias.

Como a democracia interna só permite a participação de uma minoria, perpetuam-se as velhas direções viciadas e suas não menos velhas claques, sem dar chance à formação e emergência de novas lideranças que as substituam, para recuperar a vitalidade, o entusiasmo e o vigor perdidos pelo partido ao longo das décadas.

Aos precipitados críticos de Dilma, peço que reflitam.

Não cobrem da presidenta o impossível, porque não é justo.

Cobrem o possível dos presidentes dos diretórios e seus respectivos secretários de organização, finanças, comunicação, formação política e mobilização.

São eles os maiores responsáveis pela construção e pela administração do PT como partido indutor, organizador e dirigente das mobilizações populares necessárias para o fortalecimento da esquerda na sociedade e dentro da coalizão liderada por Dilma Rousseff.

Não cobrem de quem já faz a sua parte, tirando leite de pedra. Cobrem de quem deve. E quem deve à militância petista, decididamente, não é a presidenta Dilma.

Quem deve muito a esta militância são os membros da maioria dos diretórios do PT, que deliberadamente se candidataram no último PED e que. eleitos, abandonaram as instâncias que se comprometeram a administrar.

Dirijam a eles as cobranças vigorosas que só à presidenta vocês têm feito injustamente. Porque, não sei se vocês sabem, presidente da república não é Deus. E sem partido organizado e mobilizado, todo ideal político morre no discurso.

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