Texto publicado em alguma comunidade do Orkut em 12 de junho de 2011
Há uma diferença grande entre a crítica política qualificada e o sectarismo irracional e desinformado. A primeira, sempre acrescenta, venha de onde for. A segunda, venha de onde for, para nada serve, só atrapalha. O trotskista argentino, Nahuel Moreno, diz em seu livro “Problemas de Organização”: “Para avançar pelo caminho que nos propomos, temos um grande obstáculo: nosso sectarismo.” E assevera: “Ser sectário de um partido de milhões de votos e dezenas de milhares de ativistas é grave, porém muito mais compreensível. Porém, ser sectários de um partido com uns poucos milhares e que, no entanto, não tem influência de massas, é uma tragédia.”
A oposição de esquerda espera tanto quanto a de direita pelo fracasso do governo Dilma. Mantém a mesma expectativa que alimentou durante todo o governo Lula. Lembro de ter recebido e-mail de um companheiro do PSOL festejando os possíveis impactos da crise econômica mundial no Brasil e por tabela na alta popularidade do então presidente. Teriam afinal um discurso e alguém disposto a ouvi-lo, a massa trabalhadora insatisfeita. Pois a crise afetou o Brasil muito menos do que imensa maioria dos países do mundo e rapidamente foi embora. A popularidade de Lula manteve-se intacta. E por uma razão óbvia. Os trabalhadores não se sentiram atingidos, ou se sentiram, entenderam que a crise veio de fora e que as medidas adotadas pelo governo foram as mais adequadas para enfrentá-la.
A oposição de esquerda precisa ouvir o que dizem os trabalhadores antes de despejar sobre eles o seu discurso vazio, raivoso e amargurado. Dialogar é falar sobre o que se ouve. Se continuar assim, apenas torcendo pelo fracasso do governo, negando valor ao que tem valor evidente e sem apresentar alternativas ao que haja de errado, a oposição de esquerda vai continuar isolada e sem perspectiva real de crescimento. O Brasil precisa de uma oposição de esquerda forte. Mas não vai ter se a oposição de esquerda continuar com a postura sectária que tem tido em relação ao PT. Vejam bem: radicalismo não é o mesmo que sectarismo. O radical dialoga, o sectário, não. Porque o diálogo, que pretende persuadir e não derrotar, exige que se tenha tolerância. Tolerância para ouvir e contestar os argumentos de que se discorda, demonstrando as suas inconsistências, e não ignorando o que o interlocutor tem a dizer e o cobrindo de insultos. Quem não dialoga não convence ninguém. E acaba ficando sozinho.
Silvio Melgarejo
12/06/2011
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