“Golpe seria convocar nova eleição. Isso sim, seria uma artimanha, uma manobra diversionista para melar o jogo.” (Romero Jucá, PMDB, programa Roda Viva, da TV Cultura, 25/04/2016)Infelizmente, parece que governo e frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo rejeitam, mesmo, as propostas de eleições gerais ou antecipação da eleição presidencial como formas de impedir que os autores do golpe de Estado contra Dilma alcancem o seu objetivo, que é a tomada do poder político. Mantém-se, portanto, a estratégia de tentar pressionar o Senado e o Supremo com mobilizações de rua, para que eles votem contra a aprovação do impeachment. Tenho absoluta certeza, no entanto, de que boa parte dos defensores desta estratégia, talvez a maioria, não acredita realmente que ela possa ser exitosa, porque, assim como eu, não confia nenhum pouco na isenção e legalismo do Supremo e do Senado, tampouco acredita que eles possam ser mais sensíveis às manifestações contra o golpe do que foi a Câmara, em 17 de abril.***
“A crítica - a mais implacável, violenta e intransigente - deve dirigir-se não contra o parlamentarismo ou a ação parlamentar, mas sim contra os chefes que não sabem - e mais ainda contra os que não querem - utilizar as eleições e a tribuna parlamentares de modo revolucionário, comunista. “ (Lenin: Esquerdismo, a doença infantil do comunismo)
Mas se, como suponho, não acreditam na eficácia dessa estratégia, por que, afinal, a mantém, porque não mudam? Certamente porque o objetivo já não é mais derrotar o golpe e sim derrotar o governo golpista, cuja posse devem já ter como certa. Os discursos que tenho lido e ouvido deixam claro que se espera um governo Temer fraco, que poderá ser facilmente encurralado e derrubado por crescentes mobilizações populares. Isto, para mim, é uma ilusão. E uma ilusão perigosa. A conquista do Poder Executivo não enfraqueceria, ao contrário, fortaleceria muito a direita e lhe daria todos o meios para a implementação do seu programa de governo, inclusive os meios de repressão à resistência dos movimentos sociais. Quem, quanto isto, tem qualquer dúvida, leia as notícias abaixo.
Ruralistas querem Temer usando Exército para reprimir conflitos agráriosEspera-se, suponho, que a experiência das massas com o novo presidente, Temer, contribua para que a resistência ao governo golpista seja maior do que a resistência ao golpe, que hoje efetivamente resume-se a uma parcela da pequena burguesia. Como bem observou João Pedro Stédile e como já demonstrou, numa pesquisa, o instituto DataPopular, a imensa maioria da classe trabalhadora não tem ido às ruas se manifestar nem contra, nem a favor do golpe, tem estado à margem desta disputa, porque não entende, efetivamente, o que está em jogo. E não entende, obviamente, por falta de informação e reflexão crítica, em razão do controle absoluto que a direita mantém sobre as TVs e rádios do país.
http://fernandorodrigues.blogosfera.uol.com.br/2016/04/26/ruralistas-querem-temer-usando-exercito-para-reprimir-conflitos-agrarios/
Ruralistas querem Exército contra MST no governo Temer
https://www.brasil247.com/pt/247/brasil/228348/Ruralistas-querem-Ex%C3%A9rcito-contra-MST-no-governo-Temer.htm
O fato concreto é que a esquerda continua sem uma mídia que lhe permita dialogar com as massas. As únicas ocasiões em que este diálogo tem sido possível são os períodos eleitorais quando, por força da legislação, abrem-se espaços na programação das rádios e TVs para as manifestações dos candidatos e partidos, e quando as emissoras promovem debates, embora com restrições à participação dos concorrentes de menor desempenho nas pesquisas. Uma eleição, hoje, jogaria luz sobre a treva da desinformação e falta de reflexão crítica em que se encontram as massas trabalhadoras e ao mesmo tempo lhes daria o poder de decidir soberanamente o rumo que o país deve seguir.
Frustrar o objetivo do golpe, que é a tomada do poder, e derrotar o agente principal do golpe, que é o Congresso Nacional, através da renovação da sua composição, são objetivos que só poderão ser alcançados através de uma eleição geral, para todos os níveis parlamentares e de governo. Se o Supremo surpreender e barrar o golpe, que, pela vontade do Senado, é mais do que certo, Dilma não conseguirá governar, porque continuará tendo este mesmo Congresso a lhe sabotar. E se apenas a eleição presidencial for antecipada, será sabotado o governo de qualquer presidente que ganhe a disputa com um projeto de esquerda. Como bem resumiu um companheiro do PT, a derrota do golpismo no Brasil, passa pela derrota do atual Congresso Nacional. E derrotar o atual Congresso, significa botá-lo abaixo e renovar a sua composição através de uma eleição para o parlamento.
São evidentes os sinais de que a proposta de antecipação apenas da eleição presidencial é mais viável do que a de eleições gerais, já há inclusive alguma movimentação nesse sentido no Senado e ela tem, indiscutivelmente, base social para se sustentar. Segunda feira (24), o site Congresso em Foco noticiou que, segundo pesquisa Ibope, “62% dos brasileiros querem novas eleições”.
62% dos brasileiros querem novas eleiçõesHá espaço, portanto, para que este movimento por eleições diretas cresça na sociedade como expressão de repúdio à eleição indireta de Michel Temer pelo Senado Federal. Acredito que Dilma e as frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo deveriam abraçar esta ideia, que já tem tão boa aceitação na sociedade. A preferência por novas eleições, contra a posse de Temer, é um dado da realidade subjetiva das massas que não podemos ignorar na definição da nossa estratégia. E os problemas de governabilidade institucional para um possível novo presidente de esquerda, por absolutamente previsíveis, deverão ser tratados com transparência, franqueza e coragem durante a própria campanha eleitoral, pelos candidatos da esquerda, com a denúncia do golpismo e da corrupção da atual legislatura do Congresso e com a apresentação da proposta de antecipação das eleições parlamentares para o Senado e a Câmara.
http://congressoemfoco.uol.com.br/noticias/62-dos-brasileiros-querem-novas-eleicoes/
Faço um esforço para entender as razões da resistência das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo à proposta de uma campanha por eleições gerais ou mesmo de um acordo com setores da oposição para a antecipação da eleição presidencial. Nada do que li e ouvi até aqui me convence. Mas ocorre-me uma razão bastante válida: uma eventual recusa de Dilma. Neste caso, a esquerda se dividiria, parte apoiando as eleições e parte mantendo-se solidária a um suposto direito da presidenta de lutar até o fim pela preservação do seu mandato. Digo suposto, porque o mandato na verdade não é só da presidenta, é de todos os que ajudaram a conquistá-lo, a começar pelo seu partido. A divisão, neste caso, enfraqueceria as duas posições, o que não é desejável. Então, se Dilma não quiser, é melhor desistir da ideia.
Se for por esta razão, dou-me por convencido de que não vale lutar pelas eleições gerais já ou pela antecipação da eleição presidencial. Por ora, ainda tenho esperança de que Dilma se convença. Mas lamentarei muito se ela se mantiver irredutível porque, com a atual estratégia do governo e das frentes, nós vamos fatalmente ter que assistir ao golpe se consumar e esperar que a classe trabalhadora faça uma dolorosa experiência com o governo Temer, para só então ser ganha para o confronto com ele, em condições muito mais adversas do que as atuais, com a direita tendo ampliado bastante o controle que já tem sobre o aparato repressivo do Estado.
Além disso, já se diz na imprensa da própria direita que, deposta Dilma, uma das primeiras medidas a serem adotadas pelo congresso golpista será a legalização do financiamento empresarial de campanhas eleitorais, que o Supremo julgou inconstitucional, ano passado. Ou seja, vamos perder a chance de disputar uma eleição agora, em que, pela nova regra, a influência do poder econômico seria muito atenuada, para disputar só em 2018, quando a direita já terá restabelecido o mercado de candidatos para atender sua clientela de empreiteiras e bancos.
Por último, quero fazer referência às expressões de um certo preconceito contra eleições e de exaltação do poder das ruas, que tenho lido e ouvido recentemente de militantes da esquerda. Acusações de que defensores das eleições em outubro padecem de “eleitoralismo” e de que são revolucionários de palanque e casuístas fizeram-me lembrar Lenin, quando disse que:
“A crítica - a mais implacável, violenta e intransigente - deve dirigir-se não contra o parlamentarismo ou a ação parlamentar, mas sim contra os chefes que não sabem - e mais ainda contra os que não querem - utilizar as eleições e a tribuna parlamentares de modo revolucionário, comunista.“Quanto ao casuísmo da proposta de eleições em outubro, questiono: se toda tática de combate deve responder às circunstâncias da luta, que tática não é casuística? E não tem sido casuístas todos os processos movidos pela direita contra o PT nos planos político e jurídico? A acusação de casuísmo, aliás, já começa a ser usada com o nome de “golpe”, vejam só, pelos próprios golpistas da direita. Ontem mesmo, segunda feira, 25 de abril, o senador Romero Jucá, do PMDB, que é um dos principais articuladores do golpe, disse, sobre a proposta de antecipação da eleição presidencial, segundo relato da jornalista Tereza Cruvinel:
“Golpe seria convocar nova eleição. Isso sim, seria uma artimanha, uma manobra diversionista para melar o jogo.” (Romero Jucá, PMDB, programa Roda Viva, da TV Cultura, 25/04/2016)E não é este mesmo o objetivo da esquerda, melar o jogo dos golpistas, impedindo que eles atinjam o seu objetivo de tomar o poder político, sem precisarem passar pelo julgamento das urnas? E qual será o objetivo destes setores da esquerda que se alinham com o discurso de Jucá para condenar as eleições antecipadas? Será o medo do Lula a unir mais uma vez setores ideológicos tão antagônicos?
Tereza Cruvinel: Quem tem medo das diretas?
http://www.brasil247.com/pt/blog/terezacruvinel/228228/Quem-tem-medo-das-diretas.htm
A declaração do senador Romero Jucá é um reconhecimento explícito de que a estratégia da antecipação da eleição presidencial poderia, sim, comprometer o objetivo do golpe de Estado contra Dilma, que é tomar o poder de assalto para implementar um programa de governo que não passaria pelo crivo das urnas. A direita tem isso bem claro, a esquerda é que parece que não está enxergando. O golpe nada mais é do que um ardil para fugir da eleição que a direita, com o programa e os candidatos que tem, admite não ter condições de ganhar.
Ontem, terça feira (25), foi o próprio Michel Temer quem demonstrou considerar a antecipação da eleição presidencial como um golpe contra o golpe que lidera e do qual pretende beneficiar-se, conforme noticiam hoje a Folha e o Valor Econômico.
Temer classifica como “golpe” antecipação de eleiçõesO que está em jogo hoje não é mais a preservação do mandato de Dilma, que já está claramente perdido, é a preservação das conquistas sociais dos últimos 13 anos e o avanço do projeto que as possibilitou. Trata-se agora, não de conservar o mandato da presidenta, mas de derrotar a direita, impedindo que ela conquiste, através do golpe, a presidência da república. A resistência dos setores democráticos da pequena burguesia não tem sido suficiente para impedir que o processo de impeachment avance e só uma eleição nacional proporcionaria à esquerda espaço e meios para dialogar com as massas trabalhadoras e traze-las para a luta.
http://www.valor.com.br/politica/4539343/temer-classifica-como-golpe-antecipacao-de-eleicoes
Antecipar eleição presidencial seria uma tentativa de 'golpe', diz Temer
http://www1.folha.uol.com.br/poder/2016/04/1764795-temer-chama-de-golpe-antecipacao-de-eleicao-presidencial.shtml
O mandato de Dilma está nas mãos do Senado e do Supremo, cujas tendências são bem conhecidas. Por isso não vai chegar a 2018, vai terminar ainda este ano. Supremo e Senado vão aprovar o impeachment, ilude-se quem acredita que não. O que a esquerda precisa decidir agora, sem demora, é se vai consentir ou impedir que Michel Temer assuma a presidência da república. E se resolver “melar o jogo” do golpe, como diz Romero Jucá, impedindo a eleição indireta de Temer pelo Senado, só poderá conseguir fazer isto através de uma eleição direta, sem financiamento empresarial de campanha, em que o povo possa assistir e participar de um amplo debate político programático entre as candidaturas da própria esquerda e da direita.
A luta nas ruas pode ser imensamente potencializada pela mobilização eleitoral da sociedade. Como dizia o velho Lenin, é preciso aprender a usar de modo revolucionário as eleições e não descartá-las como se só a burguesia pudesse delas tirar proveito. Nas presentes circunstâncias uma eleição pode contribuir muito para o avanço da consciência política da classe trabalhadora e, consequentemente, para a sua decisão de aderir ao movimento de resistência à ofensiva conservadora neoliberal. Em 2018, as circunstância serão outras e talvez muito mais desfavoráveis do que as atuais para a reação popular, caso haja um governo Temer.
É hora de ousar, mas agir com inteligência e não só com a vontade movida por ilusões e preconceitos. Têm razão Temer e Jucá. A antecipação da eleição presidencial seria um golpe, sim, mas um golpe da esquerda no golpe da direita que está quase consumado. Um contragolpe, de fato, sendo que o nosso golpe é para restabelecer a democracia, dando ao povo o direito de decidir, enquanto o golpe da direita tem o propósito, diametralmente oposto, de marginalizar o povo do processo político afim de, mais facilmente, impor a ele os sacrifícios que a burguesia exige para manter seus privilégios.
Se a queda de Dilma é inevitável, que a classe trabalhadora decida quem vai sucedê-la e não duas instituições burguesas golpistas e corruptas, como o Supremo e o Senado Federal.
Fora Temer!
Eleições Diretas Já!
Silvio Melgarejo
26/04/2016
https://www.facebook.com/notes/silvio-melgarejo/elei%C3%A7%C3%A3o-melaria-o-jogo-do-golpe-reconhece-lideran%C3%A7a-golpista/1267351243278272
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