Terminou o primeiro tempo da partida do golpe e não se pode dizer que o resultado do jogo até aqui seja surpresa. As estimativas do governo sobre a votação de domingo (17) sempre apontaram para um resultado favorável, mas apertado, e a direita, afinal, acabou votando majoritariamente como direita, contra a legalidade e contra a democracia. Estamos sendo, até aqui, derrotados e é preciso que entendamos - para ter condições de virar o jogo - que isto se deve não apenas à canalhice de Cunha, Temer e demais parlamentares golpistas, mas sobretudo à irrestrita confiança depositada por Lula. Dilma e a maioria da direção do PT no compromisso da mídia e das instituições burguesas com a democracia. Tratamos inimigos de classe como amigos e esperamos deles uma lealdade e honestidade que nunca fizeram parte das suas naturezas. As traições que se sucedem agora mostram o quanto isto foi equivocado.
No dia 17 de abril, a mobilização social, dos partidos e do governo contra o golpe foi facilmente derrotada, não conseguiu evitar a aprovação da continuidade do processo de impeachment, que agora vai ser examinado e julgado pelo Senado. O governo acredita que o Supremo vai ser mais rigoroso com o Senado do que foi com a Câmara na exigência da observância das normas do chamado “devido processo legal”, o que tornaria quase certa a derrota do impeachment já que, neste caso, os autores da ação teriam que provar a existência e a autoria do crime de responsabilidade da presidenta da república. Mas será que o Supremo o fará, será que atuará como o governo espera que ele atue? O mais provável é que não, a julgar pelos sinais que tem dado.
A mim parece que só uma mobilização de massas de magnitude e intensidade equivalentes às das manifestações de junho de 2013 teria força para conter o movimento golpista que avança nas ruas e nas instituições do Estado. As belas mobilizações feitas até agora em defesa da democracia não foram suficientes para barrar o golpe na Câmara e não serão suficientes para barrar o golpe no Senado e no Supremo. Acredito, que com a atual estratégia da esquerda, o mais provável é que o golpe da direta se consuma, sem dificuldade. Por isso defendo que a esquerda mude a sua estratégia.
É preciso, em primeiro lugar, deixar de lado definitivamente a ilusão do compromisso da mídia e das instituições burguesas com a legalidade e com a democracia. A aprovação ou não do impeachment depende agora da vontade do Senado e do Supremo e nem o Supremo, nem o Senado merecem confiança. Por isso a esquerda deve se antecipar ao revés, que se afigura inevitável, e surpreender os inimigos do povo e da democracia com uma Proposta de Emenda Constitucional para a realização de eleições em outubro em todos os níveis parlamentares e de governo.
Se os golpistas querem o poder antes de 2018, vamos desafia-los a enfrentar o teste das urnas ainda este ano, agora sem o financiamento de campanhas eleitorais por empresas. Que o povo seja chamado a arbitrar o presente conflito político e a decidir soberanamente o que deseja para o seu futuro. Não podemos deixar que o destino do Brasil seja definido por um Poder Legislativo sem legitimidade e por um Poder Judiciário que é claramente submisso às Organizações Globo.
Esta proposta de Eleições Gerais, que já vinha sendo defendida pelo PSTU e por Luciana Genro, do PSOL, sempre me pareceu uma forma disfarçada de golpe, mas ganhou sentido novo agora, depois da derrota acachapante que a democracia sofreu na votação do processo de impeachment na Câmara. Na medida que as condições para o golpe se consolidam e ele se torna inevitável, a única saída possível para salvar a democracia é promover a devolução de todos os mandatos de representação ao povo, para que o povo os redistribua a novos representantes, através de eleições gerais.
Há uma outra proposta, que se tem divulgado na mídia, de antecipação da eleição apenas para presidente da república. Considero uma proposta ruim, porque não satisfaz de maneira plena o desejo de mudança manifestado pelos milhões que foram às ruas, contra ou a favor do golpe. A face medonha da atual legislatura da Câmara Federal, até à noite de 17 de abril desconhecida pela maioria dos brasileiros, encheu de vergonha a nação e justifica o baixíssimo conceito do Poder Legislativo perante a sociedade. Se Dilma, mulher digna e honesta, que nunca cometeu nenhum crime, é forçada a renunciar ao seu mandato, daquela corja imunda de canalhas não se pode deixar de exigir que faça o mesmo, pelo bem da democracia, da justiça e da ética na política. Acredito que deva ser esta a nova estratégia do governo Dilma e das frentes Brasil Popular e Povo Sem Medo para derrotar o golpe de Estado da direita e fazer avançar a democracia.
Fora Temer! Fora Cunha!
Abaixo o Congresso corrupto e golpista!
Eleições Gerais Já!
Silvio Melgarejo
19/04/2016
https://www.facebook.com/notes/silvio-melgarejo/contra-o-golpe-uma-nova-estrat%C3%A9gia-elei%C3%A7%C3%B5es-gerais-j%C3%A1/1263103133703083
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