quinta-feira, 25 de junho de 2015

O Titanic afundou porque não tinha democracia.

Se você estivesse no Titanic e avistasse à frente do navio um iceberg, o que faria para evitar a colisão e o naufrágio?

Gritaria "sai da frente" pro iceberg?

Gritaria para a tripulação mudar a direção do navio, para evitar o choque?

Ou se encolheria num canto do convés, rogando a Deus por um milagre?

Lanço estas perguntas aos petistas para que pensem na atitude que estão tendo ante as evidências de que o PT está fazendo de tudo para protagonizar a maior tragédia política da história brasileira, que pode destruir o partido, devastar a esquerda e mergulhar o país no abismo do obscurantismo, da estagnação e da falta de perspectivas.

O PT está atualmente defendendo uma política econômica que o bota em rota de colisão frontal com a classe trabalhadora.

Se bater, ninguém duvide, o partido afunda.

E como têm reagido os petistas?

Assim como a maioria dos passageiros do Titanic, a maioria dos petistas parece que só vai se dar conta do risco que corre quando a colisão se der.

Mas há, felizmente, ao lado destes, um razoável contingente de petistas já bastante conscientes de que, seguindo na rota que estamos, o desastre é inevitável.

Por isso ouvem-se apelos para que a direção do PT mude de rumo.

E por isso há tantos petistas encolhido pelos cantos, rogando a Deus por um milagre, que, pela primeira vez na história da humanidade, uma política econômica recessiva, como esta de Dilma e Levy, que o PT apoia, proporcione algo de bom para os trabalhadores.

Ainda não ouvi ninguém gritar pro trabalhador sair da frente, que não crie problemas para o governo que lhe cria problemas tão graves, como o desemprego e a redução de direitos.

Mas, pelo que leio e ouço, está faltando muito pouco prum absurdo destes começar a acontecer.

Há quem confie tanto no comando do governo e do partido e desconheça tanto as leis da economia e da política, que só vê nos apelos por uma mudança radical de política econômica intenções malévolas.

O instante do choque entre o PT e a classe que ele até hoje representou se aproxima.

E essa gente crédula empenha-se em tentar calar as vozes que alertam para a tragédia iminente, como se a mera negação do significado dos atos e omissões de Dilma e do PT tivesse o poder de evitar os efeitos destes atos e omissões na economia do país e na política.

A bordo do Titanic, prestes a colidir com o iceberg, estes petistas insanos gritam, delirantes, ao som de violinos, "todo apoio aos comandantes e ao rumo que eles imprimem a esta nau".

O fanatismo de amplos setores da base, aliado à insensatez arrogante e temerária da alta cúpula dirigente, transformaram o PT num partido suicida, alheio aos chamados de quem o vê, como que em transe, caminhar na direção de um precipício.

É possível que o instinto de sobrevivência e a consciência dos erros cometidos surjam no momento mesmo em que se inicie a queda.

Mas aí já será tarde, tarde demais para evitar o esboroamento no fundo do abismo.

Nas redes sociais multiplicam-se vozes descontentes com a entrega do destino do PT nas mãos do ministro neoliberal, Joaquim Levy, pelo recente congresso partidário.

E, em resposta a elas, às vozes descontentes, ouvem-se apupos indignados e anátemas dos que consideram a crítica de petistas à presidenta Dilma e à direção do PT, um ato inadmissível de traição e não uma contribuição ao aperfeiçoamento da atuação do governo e do partido, para a melhoria dos seus desempenhos.

Esta dissonância não significa, evidentemente, divisão quanto ao apoio ao mandato de Dilma e sim quanto à melhor forma de apoiar à presidenta, se apontando e tentando corrigir os seus erros, ou se tentando, em vão, ocultar estes erros e convivendo pacificamente com eles e até endossando-os.

Ocultar e conviver com os erros do PT e do governo Dilma e endossá-los é o melhor caminho para favorecer o fracasso de ambos.

Por isso tanta gente, de boa fé, critica o governo e o partido.

É porque quer o sucesso dos dois.

O PT está dividido e cada vez mais tensionado entre conservadores e mudancistas, porque o seu desastroso 5º Congresso não deu respostas satisfatórias sobre como o partido deve enfrentar os desafios que lhe estão colocados pela presente conjuntura política do país.

Os sinais de um agravamento ainda maior da crise que se arrasta desde o início do governo Dilma são cada vez mais claros.

Mar agitado, ventos fortes e nuvens carregadas indicam que temos à frente uma tempestade ainda mais forte do que todas as anteriores.

Há rumores sobre uma possível prisão de Lula, na próxima fase da Operação Lava Jato.

Seria um golpe violentíssimo não só para o PT, mas para o conjunto da esquerda e para a democracia brasileira.

O avanço das forças antidemocráticas se dá exatamente no momento em que Dilma e a cúpula do PT, apoiada em frágil maioria - 55% dos delegados do 5º Congresso -, investem numa política econômica que é claramente antipopular.

A direita avança sobre o espaço aberto pelo recuo deliberado da esquerda governista.

A sobrevivência da democracia, do governo e do PT depende hoje do apoio resoluto das massas e as massas não apoiarão uma democracia, um governo e um partido que lhes impõem sacrifícios imensos, enquanto poupam os ricos, no ajuste da contabilidade do Estado.

A conquista da classe trabalhadora para a defesa da democracia, do governo Dilma e do PT, só será possível se Dilma e o PT puserem um ponto final na atual política econômica e a substituírem por outra, que privilegie os trabalhadores na repartição dos ônus do ajuste fiscal.

A nau petista navega em mares cada vez mais turbulentos.

Veem, seus passageiros, uma terrível tempestade no horizonte e afligem-se com o futuro.

Boa parte não confia mais nos tripulantes e discorda de suas decisões.

A iminência de uma catástrofe torna urgentes medidas que possam evitá-la ou, pelo menos, atenuar seus efeitos.

Se Dilma e a cúpula do PT insistem na manutenção de uma política que está conduzindo o partido e seu governo a um naufrágio, não resta outra alternativa à expressiva minoria de petistas conscientes deste risco, senão o motim, como último recurso, para a legítima defesa do projeto e das instituições ameaçadas.

Os maiores inimigos do PT e do governo Dilma, neste momento, não são a direita e a burguesia, que têm feito exatamente aquilo que toda direita e toda burguesia sempre fizeram, em qualquer lugar do mundo.

Os maiores inimigos do PT e do governo Dilma, neste momento, são o próprio PT e a própria Dilma, quando assumem posições que os fragilizam imensamente perante a direita e a burguesia, no momento em que elas mantém feroz e permanente ofensiva.

O que Dilma e o PT têm feito é o que quase todos os partidos e presidentes de esquerda de outros países fizeram antes de serem derrotados: trair compromissos assumidos com a classe trabalhadora e privilegiar acordos que beneficiam a direita e a burguesia.

O maior problema de Dilma é o endosso do PT aos seus erros.

E o maior problema do PT é o endosso aos erros dos seus parlamentares e dirigentes pela maioria da base partidária, como se viu no 5º Congresso e como se vê, diariamente nas redes sociais.

Esta maioria fecha os olhos aos erros que cometemos e diz que a direita é que é culpada de tudo.

Ora, meus amigos, Dilma e o PT assumem o papel do Titanic, prestes a trombar com um iceberg, só porque querem.

A direita não os obriga a isto, apenas tira proveito, como qualquer exército tira proveito dos erros dos seus inimigos.

Cabe a nós, da base do PT, exigir da direção do PT a necessária e urgente correção de rumo, para que o partido ganhe condições de influenciar mais efetivamente o governo Dilma e contribuir para a correção dos erros da presidenta, evitando que se consume, como efeito destes erros, uma monumental derrota para a esquerda toda do país e para a classe trabalhadora.

A interdição do debate e a obstrução da crítica são venenos mortais para a democracia, porque ferem um dos seus mais importantes pressupostos, que é a liberdade de dissenso.

Deveriam, por isso mesmo, ser evitadas nos círculos petistas, já que o PT se propõe a ser um partido democrático.

Infelizmente, muita gente ignora o que isto representa.

E, no entanto, a salvação do PT depende hoje, exatamente, da radicalização da sua democracia interna.

É a partir do livre exercício da crítica sobre os atos e omissões do governo Dilma e do PT pelos seus membros e da livre expressão de propostas para uma saída bem sucedida da crise, que se formarão e consolidarão as correntes de opinião pública petistas que podem influenciar os próximos movimentos do PT.

Interditar o debate político, através da obstrução da crítica, como tentam alguns nas redes sociais, é sabotar a democracia petista e inviabilizar a construção dos consensos que ela possibilitaria, quanto à análise das atuais circunstâncias políticas e quanto à melhor forma de o PT lidar com estas circunstâncias.

O Titanic afundou porque os passageiros não tinham controle sobre os atos da tripulação.

Se não quiser que o PT também naufrague, a militância petista vai ter que assumir, sim, o quanto antes, o comando do partido.

A base partidária não pode mais admitir ser conduzida pelos dirigentes por um caminho que só pode levar o PT à destruição.

É hora de reagir e assumir a responsabilidade coletiva de impedir que se consume uma tragédia.

A vitória do PT sobre seus inimigos, depende da vitória do PT sobre o seu conservadorismo.

Vencer a luta interna é, portanto, condição para vencer a luta externa.

Porque a sobrevivência e o fortalecimento do PT exigem mudanças profundas e imediatas e há uma forte resistência a mudanças que precisa ser combatida e superada dentro do partido.

O tempo passa, a crise no país se agrava e o PT precisa agir rápido, para não ser tragado por ela, como o Titanic o foi pelo mar, depois de bater no iceberg, por imperícia dos seus tripulantes.

Saudações petistas.

Silvio Melgarejo

25-06-2015

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