(Publicado no Facebook)
A posição do PSOL no segundo turno da eleição presidencial é antes de tudo incoerente. Se os governos do PT foram iguais aos governos tucanos, como vivem dizendo, não há porque recomendar expressamente que não se vote em Aécio, ainda mais sob a alegação de que a volta ao poder dos tucanos seria um retrocesso.
Se a volta dos tucanos seria um retrocesso é porque houve avanço durante os governos petistas. Se houve avanço então não foram iguais.
E quais foram esses avanços?
O PSOL, pelo visto, sabe muito bem e considera, tanto que distingue os governos tucanos dos petistas.
Mas, então, por que não reconhece esses avanços e vive repetindo que é tudo a mesma coisa?
Por desonestidade e conveniência política.
O PSOL condena o governo Dilma por ter, segundo a nota divulgada ontem, atuado contra as bandeiras mais destacadas de sua campanha.
Ao relacionar as tais bandeiras, verifica-se a ausência de duas que historicamente sempre constaram da pauta da esquerda brasileira e que hoje, num contexto de crise econômica mundial, são tidas como prioritárias para os partidos de esquerda da maior parte dos países, especialmente da Europa. São elas a luta contra o desemprego e a luta contra o arrocho salarial.
Por que o PSOL não cobra de Dilma medidas contra o desemprego e o arrocho salarial?
Por uma razão muito simples.
Lula e Dilma já tomaram essas medidas, que constituem exatamente a política econômica que os psolistas tanto criticam.
Não teria sentido o PSOL lutar contra o desemprego se o país tem pleno emprego.
Não teria sentido o PSOL lutar contra o arrocho salarial se o salário mínimo teve uma valorização de 70% em 12 anos e se quase todas as categorias de trabalhadores tiveram aumento real de salário, todos os anos deste período.
O PSOL perdeu de fato as bandeiras da defesa do emprego e do salário. Elas são, hoje, efetivamente do PT. A nota divulgada ontem evidencia isso ao deixar de mencioná-las quando enumera as bandeiras de destaque do partido durante a campanha eleitoral.
A verdade é que nem nas mega-manifestações de junho do ano passado as demandas por salário e emprego estiveram presentes, pela indiscutível razão de que os governos petistas, de Lula e Dilma, já as haviam atendido com sucesso, através de uma política econômica que, diga-se de passagem, sempre foi duramente contestada, tanto pelos psolistas, quanto pelos tucanos.
Mas o PSOL não pode reconhecer isso agora, mesmo ante a possibilidade real de um retrocesso. Passaram anos mentindo para seus eleitores e filiados, dizendo que PT era igual a PSDB. A esta altura, os mais atentos e rigorosos com a lógica e coerência dos discursos devem estar aturdidos, tentando decifrar o que seus dirigentes querem dizer com "retrocesso", ao se referirem a uma possível vitória de Aécio. Retrocesso em que, se o PSOL nunca reconheceu avanço nenhum?
A nota do PSOL é quase uma confissão de culpa. O partido implicitamente reconhece que mentiu. Os governos petistas nunca foram iguais aos governos tucanos, ao contrário do que sempre disseram. Houve, sim, avanços importantes para a classe trabalhadora durante os últimos 12 anos, proporcionados sobretudo pela política econômica petista de defesa do emprego e do salário em meio à crise econômica mundial.
O Brasil tirou nesse período mais de 40 milhões de pessoas da miséria, saiu do mapa da fome da ONU e é um campeão de geração de emprego, quando o mundo tem registrado a extinção de milhões de postos de trabalho.
O PSOL despreza isso e tudo mais que foi e tem sido feito pelos governos do PT. Quando vê-se, afinal, ante o risco de o país ser conduzido ao buraco negro da recessão, do desemprego, do arrocho salarial, do corte de direitos sociais e trabalhistas, e da repressão sistemática e brutal aos movimentos sociais, com uma eventual vitória de Aécio Neves, apavora-se e apressa-se em dar um passo tímido em direção à verdade, porque sabe que isso tudo desmentiria a propaganda negativa que tem feito contra o PT, igualando-o ao PSDB.
O PSOL sabe muito bem a diferença entre um governo tucano e um governo petista. Falta, no entanto, honestidade aos seus membros, para reconhecerem essa diferença e coragem para tratarem da real divergência que há entre nós.
Essa divergência reside na diferenciada urgência que damos ao atendimento das demandas populares, na diferenciada avaliação que fazemos da disponibilidade de condições e de meios para atendê-las e na diferenciada avaliação que fazemos da admissibilidade ética do emprego desses meios.
O PSOL, em verdade, gostaria muito, estou certo, de ter realizado o que o PT realizou. Mas não fez nada e, talvez, nunca faça, limitado que é pelo desejo de aparentar sempre pureza. Não se mistura com os maus e desonestos, eleitos pelo povo em grande quantidade, e isola-se, em espera inútil, auto-satisfazendo-se com a própria retórica farisaica. Os fatos desmentem a propaganda que fazem de si mesmos como incorruptíveis. Basta que se lembre do pouco divulgado caso Janira Rocha.
Da lista de bandeiras enumeradas pelo PSOL em sua nota de ontem, nenhuma delas ele teria tido condições de conquistar caso estivesse no governo. Com menos de 1/3 das cadeiras do parlamento, a esquerda não tem poder de realizar tudo que quer. O PSOL, que teve na última legislatura apenas 3 deputados, sabe disso. Mas, desonesta e oportunisticamente cobra dos governos petistas algo que ele próprio não seria capaz de fazer nestas circunstâncias.
Desonesta e oportunista. Não há adjetivos que definam melhor a atitude do PSOL ante os governos petistas. A nota divulgada ontem atesta bem esse caráter do partido de Luciana Genro. Desonesto e oportunista, a despeito de toda defesa retórica da virtude. Os atos, de fato, desmentem seus frágeis compromissos verbais com uma ética superior.
Não passam de fariseus da política, orgulhosos e hipócritas, sempre dispostos a exigir mais dos outros do que de si mesmos, e a apontar erros alheios, reais ou inventados, enquanto ocultam os próprios vícios e desvios. É um partido de gente normal, fraca e imperfeita, que se dedica ao ridículo objetivo de tentar aparentar ser mais e melhor do que é.
O PT não quer aparentar nada. Quer cumprir sua missão de dar uma vida melhor aos trabalhadores brasileiros e acumular força na sociedade e no Estado para conduzir o Brasil ao socialismo democrático.
Silvio Melgarejo
9/10/2014
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