quinta-feira, 30 de outubro de 2014

As incoerências do PSOL. Debate com Geyse Leopoldo.

A decisão da direção nacional do PSOL de liberar seus filiados para votarem nulo ou em Dilma no segundo turno, indicando Aécio Neves como o inimigo principal a ser batido para evitar maiores danos ao país e prejuízos aos trabalhadores, foi avaliada por muita gente, inclusive da base do próprio PSOL, como uma incoerência do partido, que sempre defendeu a tese de que PT e PSDB são a mesma coisa.

Da corrente de opinião que não vê nesta posição incoerência, Geyse Leopoldo, ex-companheira do PT, agora simpatizante do PSOL, publicou no Facebook, em 28/10/2014, um diagrama e um texto tentando explicar seu ponto de vista, inaugurando um pequeno debate, do qual participei, enquanto a tolerância às críticas que eu fazia ao partido da preferência dela permitiu. A partir daí, baixou a censura e nossa amizade no Facebook, infelizmente, teve que ser encerrada. Reproduzo abaixo o nosso diálogo.

GEYSE
"Percebi que algumas pessoas tiveram dificuldade de compreender o que se passou nas eleições, por isso resolvi ajudar. Por favor, observem este conjunto de setas. 
Como podem perceber, uma segue adiante (centro), uma vai para a esquerda e outra vai para a direita. Tudo bem até agora?

Quando as pessoas foram às ruas, elas queriam mudanças, ou seja, queriam mudar a seta que seguia em frente. Porém, boa parte delas (especialmente estas que compõem a maioria dos meus amigos) queria que a seta seguisse para a esquerda. Assim, votaram naquela mudança representada por partidos como o Psol. Ok?

No segundo turno, a opção apresentada como "mudança" não era mais a seta para a esquerda, mas sim a seta para a direita. Desta forma, as pessoas que protestaram por mudanças tiveram que optar entra a seta que seguia adiante (ainda que inclinadinha pra direita) e a seta totalmente voltada para a direita. Assim, muitas pessoas politizadas, engajadas, informadas e de esquerda entenderam que a melhor opção era seguir adiante. Certo?

Bem, tentei ser bastante didática para que entendam que não há uma incoerência entre ir às ruas protestar por melhorias e depois votar na continuidade. É só apresentarem uma opção pior, pois assim é como se não houvesse opção por melhoria diante da continuidade.

FIM."

TIAGO
"Já eu preferi ser coerente e não votar em FDP nenhum, porque não compactuo/ aceito nada do que está aí."

GEYSE
"Thiago, conheço muitas pessoas que fizeram o mesmo que você e não os julgo. Porém, como brasileira que mora no Brasil e é servidora público do governo do estado do Rio de Janeiro, seria incoerente da minha parte me omitir de escolher meu presidente e meu chefe! hehe

Então, por mais que não me representem inteiramente, optei por não anular. Tentei escolher a melhor opção possível e agora... voltamos à luta, né?"

TIAGO
"Eu entendo. Eu concordo (aliás sempre disse) que a Dilma, no frigir dos ovos era o menor dos males..."

SILVIO MELGAREJO
"A posição do PSOL neste 2º turno, apesar de compreensivelmente envergonhada, tinha um sentido muito claro. 

Era preciso impedir a vitória de Aécio Neves, porque o retorno do PSDB à presidência da república seria um retrocesso. 

E é aí que está razão para a vergonha.

Ora, considerar que a volta do PSDB seria um retrocesso nada mais é do que admitir que os governos do PT trouxeram avanços para o país, algo que o PSOL sempre negou, igualando os dos partidos e os dois governos.

E que avanços seriam estes? 

Três merecem destaque por corresponderem a bandeiras históricas da esquerda mundial e por terem se dado numa conjuntura econômica mundial adversa.
1º - O Brasil saiu do mapa da fome da ONU.
2º - O Brasil tem hoje as mais baixas taxas de desemprego da sua história.
3º - O Brasil valorizou os salários de todos os seus trabalhadores, tendo o salário mínimo recuperado, em 10 anos, 70% do seu poder de compra.
Durante os protestos de junho de 2013, Guido Mantega disse em uma audiência pública na Câmara:
'Nas manifestações, não vi ninguém perguntando: "cadê o meu emprego?"'
E era verdade. 

Ao contrário do que se via na Europa, ninguém protestava contra o desemprego, porque o desemprego era baixíssimo.

Ninguém protestava também contra o arrocho salarial, porque não havia arrocho salarial, ao contrário, os salários estavam sendo valorizados.

E ninguém protestava contra a fome e a miséria porque todos sabiam que a fome e a miséria já estavam sendo combatidas com sucesso pelos governos do PT.

Mas o combate ao desemprego, ao arrocho salarial, à fome e à miséria, não estiveram ausentes apenas da pauta dos manifestantes de junho de 2013. 

Estas bandeiras estiveram ausentes também da pauta do PSOL na eleição presidencial de 2014. 

É só ver a nota que o partido lançou para se posicionar no 2º turno. Diz a nota:
NOTA DO PSOL
'É preciso também afirmar que, diante do que foi o seu governo e sua campanha eleitoral, Dilma está distante do desejo de mudanças que tomou as ruas no ano passado. Seu governo atuou contra as bandeiras mais destacadas de nossa campanha, como:
- a taxação das grandes fortunas, 
- a revolução tributária que taxe os mais os ricos e menos os trabalhadores, 
- a auditoria da dívida pública, contra a terceirização e a precarização das relações de trabalho, 
- fim do fator previdenciário, 
- a criminalização da homofobia e a defesa do casamento civil igualitário, 
- uma nova política de segurança pública que acabe com a “guerra às drogas” e defenda os direitos humanos, 
- a democratização radical dos meios de comunicação, 
- o controle público sobre nossas riquezas naturais, 
- os direitos das mulheres, 
- a reforma urbana, 
- a reforma agrária e  
- a urgentíssima reforma política, que tire a degeneração do poder do dinheiro nas eleições, reiterado neste pleito, mais uma vez. 

Por tudo isso, se Dilma vencer o segundo turno, o PSOL seguirá como oposição de esquerda e lutando pelas bandeiras que sempre defendemos, inclusive durante a campanha eleitoral.'
Cadê o desemprego?

Cadê o arrocho salarial?

Cadê a fome e a miséria?

Como se vê, não estão na nota do PSOL, como não estavam nos protestos de junho de 2013, pela razão muito simples de que os governos do PT enfrentaram e venceram esses problemas.

O PSOL não perdeu porque nunca chegou a ter as bandeiras do emprego, do salário e do combate à miséria. Essas bandeiras, durante a última década, sempre foram e vão continuar sendo do PT.

E são bandeiras históricas não só da esquerda brasileira, mas da esquerda mundial, que o PSOL abandonou, prá não reconhecer os avanços alcançados pelos governos petistas e tentar se valorizar como alternativa de esquerda.

Mas que esquerda é essa do PSOL?

Esquerda que não valoriza a defesa do emprego?

Esquerda que não valoriza a elevação dos salários?

Esquerda que não valoriza o fim da fome e a drástica redução da miséria?

O PT, ao contrário do PSOL, prova com as ações de seus governos que tem compromisso real com estas bandeiras históricas da esquerda e da classe trabalhadora do Brasil e do mundo.

Mas o que valoriza ainda mais essas vitórias alcançadas pelo país governado pelo PT é o fato de elas terem se dado num contexto econômico internacional e num contexto político nacional inteiramente adversos. 

O mundo vive desde 2008 uma crise econômica que tem destruído milhões de postos de trabalho, reduzido salários e abolido direitos sociais e trabalhistas.

Pois os governos do PT, em meio a essa grave crise, fizeram um movimento inverso, adotando uma política econômica que priorizou a defesa do emprego, do salário e dos direitos sociais e trabalhistas.

É bom lembrar que a esquerda brasileira não chega a ter nem 1/3 das cadeiras do parlamento. 

Ou seja, o PT conseguiu fazer um governo que, em meio à crise, garantiu empregos, elevou salários e acabou com a fome, contra um Congresso e contra uma mídia completamente dominados pela direita.

'Os homens fazem sua própria história, mas não a fazem como querem; não a fazem sob circunstâncias de sua escolha e sim sob aquelas com que se defrontam diretamente, legadas e transmitidas pelo passado', dizia Marx em seu 18 Brumário. 

O PT está escrevendo sua história junto com o povo brasileiro, de acordo com circunstâncias desfavoráveis aos seus objetivos e que são inteiramente alheias à sua vontade. 

O PSOL quer discordar de Marx mas é difícil sustentar essa posição.

Se estivesse no governo federal, o PSOL ignoraria o fato de ser minoria no parlamento. 

Faria certamente como seu prefeito em Itaocara, que foi para o tudo ou nada contra a maioria oposicionista da câmara municipal, dominada por Cabral e Garotinho. 

Quando a oposição abriu processo de impeachment contra ele, o PSOL lembrou de Marx e mandou Freixo ir negociar com o Garotinho, que aceitou ajudar, não se sabe em troca de que.

É fácil condenar os acordos pela governabilidade feitos pelos outros, quando não se está no governo.

Agora, fazer acordos sem transparência, como este do Freixo com o Garotinho, e condenar os acordos feitos pelo PT para garantir a governabilidade, é no mínimo uma hipocrisia.

O PSOL sabe muito bem o que teriam feito os tucanos se estivessem governando o país durante a crise. 

Sabe muito bem o que fariam Aécio e Armínio Fraga se ganhassem essa eleição. 

Os tucanos, se eleitos, desmentiriam a propaganda psolista que iguala PT a PSDB.

Portanto, o voto do PSOL em Dilma foi incoerente, sim, com seus discursos e posicionamentos em relação ao PT e seus governos. 

Quem votou nulo foi coerente. 

Quem votou em Dilma foi incoerente.

Afinal, se se acredita que Lula e Dilma governaram como FHC, e se se acredita que o PT é igual ao PSDB, seria indiferente ter o país governado no próximo período pelo PT ou pelo PSDB, por Dilma ou por Aécio Neves. 

Se é tudo a mesma coisa, como sempre ouvi dos psolistas e da sua candidata, Luciana Genro, nos debates, a vitória de Aécio não ia mudar nada. 

Ou seja, na prática a 'esquerda coerente' do PSOL tem tanto de coerência quanto de novo tem a 'nova política' de Marina Silva. Nada.

Sobre os sentidos políticos. 

Quando o PSOL renuncia às bandeiras do combate ao desemprego, ao arrocho salarial e à miséria, e se apresenta como alternativa a um partido e a um governo que, em meio a uma crise econômica mundial, abraçam firmemente essas bandeiras, que são e sempre foram da esquerda, o PSOL está se alinhando na prática à direita.

Não só porque abandona bandeiras históricas da esquerda, mas também porque o faz incorporando o discurso da direita, que nega ou relativiza os avanços econômicos e sociais havidos no país, ao mesmo tempo em que criminaliza o PT. 

Agindo assim, o PSOL acaba servindo como linha auxiliar da direita em seu esforço para desgastar a imagem do PT e frear os avanços de seu governo.

Na luta contra a desigualdade social, o PT está muitíssimo à esquerda do PSOL porque implementou no governo uma política econômica e programas sociais que tiveram resultados espetaculares do ponto de vista dos trabalhadores, enquanto o PSOL abandonou até mesmo o discurso de defesa do emprego e do salário e do combate à miséria e à fome, substituindo-o pelo mesmo discurso hipócrita e falso-moralista dos tucanos em relação ao tema da corrupção.

Toda mudança é um processo. 

E o PT iniciou um processo de mudanças no Brasil que nunca parou desde o início do governo Lula. 

E não tem sido quaisquer mudanças. 

Tem sido mudanças no sentido da redução de todas as desigualdades. 

Ou seja, o Brasil tem mudado para a esquerda. 

Porque a luta por mais igualdade é uma luta da esquerda. 

Não reconhecer que este é o sentido das mudanças havidas nos últimos 12 anos é o que gerou esse racha no PSOL, com uns defendendo coerentemente o voto nulo e outros defendendo o voto em Dilma e tendo que fazer malabarismos retóricos e gráficos para tentar mostrar nexo onde não há.

Há uma evidente contradição entre o discurso do PSOL e sua posição no 2º turno da eleição presidencial. 

A posição está certa.

O discurso é que está errado."

GEYSE
"Silvio,  quando eu penso que escrevi muito, você me vem com um testamento desses!!!

Acho que você tem grandes doses de razão e concordo com bastante da sua argumentação. Os governos do PT sem sombra de dúvida trouxeram grandes avanços e você citou três dos mais importantes, fato. Meu voto na Dilma teve essa consciência, além da óbvia aversão ao Aécio. Você também tem muita razão em relação à dificuldade de realizar um governo com bandeiras de esquerda em meio a um congresso e uma mídia ultraconservadores, em sua maioria. A dita 'governabilidade' tem seu preço e o PT o está pagando.

Não concordo tanto com sua avaliação sobre as posições do Psol que, embora radicais, não chegam a negar os avanços sociais dos governos petistas. O Psol é oposição de esquerda crítica e tem uma função extremamente relevante, especialmente no legislativo. Não creio que o Psol desvalorize a redução do desemprego, a elevação dos salários, a realização de concursos públicos, a redução da fome e da miséria. Nunca vi essa desvalorização no discurso do Freixo, do Chico, do Jean, do Cinco. Pelo contrário, estes políticos reconheceram os avanços e o Jean chegou a fazer uma 'quase campanha', inclusive posando pra foto com a Dilma pós-eleito. 

Enfim, acho um pouco injusta sua avaliação. Se o Psol não puxar pra esquerda, o equilíbrio político do PT necessariamente se deslocará para a direita. Para enfrentar um Feliciano, é necessário um Jean Wyllys. A crítica do Psol não só é válida quanto necessária ao governo do PT, senão a pauta será definida por Bolsonaros e Kátias Abreu sem contraposição. Dou graças à participação da Luciana Genro nos debates, senão quem falaria em legalização do aborto, da maconha e criminalização da homofobia? O PT está rendido às bancadas evangélica e ruralista em nome da governabilidade, e eu compreendo, mas como evoluir sem a crítica??

Por isso, acho que o Psol é coerente em sua posição de oposição, papel que um dia teve o PT, lembre-se. E o discurso não era tão diferente do que hoje o Psol adota, certo? Dizer que o Psol abandonou bandeiras históricas da esquerda é um tremendo exagero.

O PT está anos-luz à frente do Psol em realizações porque tem muitos anos a mais de estrada, figuras políticas de muito destaque e uma base popular ainda muito forte, algo que o Psol vem montando aos poucos e possivelmente nunca chegará ao ponto em que chegou o PT. E não sei se o Psol almeja chegar, sinceramente, pois são projetos de poder muito distintos.

Daí... Que não vejo incoerência, pelo contrário, vejo coerência e me identifico, e acho até que o PT deveria agradecer por uma oposição crítica de esquerda pra tentar equilibrar posições em um contexto tão tão tão conservador, em que até um partido de centro-esquerda, em nome da governabilidade, acaba se perdendo um pouco."

SILVIO MELGAREJO
"Geisy. A oposição que o PSOL faz não equilibra a disputa entre esquerda e direita. Ao contrário, fortalece a direita. Vou te dar dois exemplos. 

O primeiro é o apoio que o PSOL deu à direita para a extinção da CPMF, retirando 40 bilhões de reais anuais da saúde. A intenção da direita era impor uma derrota ao PT e sabotar seu governo. E estou certo de que a do PSOL também. Senão estaria até hoje alardeando os benefícios do fim da CPMF para os trabalhadores, o que nunca aconteceu. Os trabalhadores não ganharam nada. A saúde perdeu. Só a direita e o PSOL ganharam alguma coisa, que foi o gozo efêmero de uma vitória que só pode envergonhar a um partido de esquerda.

O outro exemplo que te lembro do tipo de oposição que o PSOL tem feito ao PT é o endosso do partido à tese da direita de que houve mensalão no governo petista, ou seja, desvio de dinheiro público para compra de votos, e o apoio que deu a um julgamento fraudado, inteiramente manipulado pela mídia conservadora, engrossando o coro liderado pela direita que tratava os petistas como criminosos e os chamava de mensaleiros. 

A oposição de esquerda deve ser crítica, mas não precisa ser desonesta. O PCO tem as mesmas críticas que o PSOL ao PT. Mas não embarcou nessa de endossar a tese do mensalão. Ao contrário, repudiou-a, denunciando-a como farsa armada pela direita para criminalizar o PT.

Quanto à questão da governabilidade, penso que o PSOL usa dois pesos e duas medidas. Condena os acordos que o PT faz, mas faz também os seus acordos secretos, como no caso de Itaocara.

Dois pesos e duas medidas, o PSOL também usa quando trata de corrupção. Senão, o que explica a proteção que tem dado a Janira Rocha?"

GEYSE
"Silvio, é complicado, porque eu acho que concordo com o Psol tanto no caso da CPMF quanto no caso do mensalão - fato que basicamente deu origem ao partido, com a saída de nomes de peso do PT, como Chico Alencar e Heloísa Helena, entre tantos outros.
Digo 'acho' porque minha avaliação não é tão aprofundada, mas tendo a seguir políticos que admiro e a explicação dada pelo Jean para o caso do mensalão, por exemplo, embora um tanto diferente da divulgada pela mídia, é bastante convincente pra mim.
O Chico não ganhou muito saindo do PT, além de manter sua reputação política inabalada.
O PT não é perfeito, errar faz parte. O PT merece muitas críticas.
O PCO não existe, Silvio.
Olha, o caso de Itaocara ensinou muito ao Psol, mas cá entre nós... Curti a forma como os secretários municipais foram escolhidos. Quando o PT conseguiria fazer semelhante dentro de sua lógica atual?

Bem, como disse, acho que o caminho do Psol é aumentar suas bancadas no legislativo e se firmar como oposição de esquerda, função que exerce muito bem. Não creio que queria seguir fielmente a escola petista de política. O projeto é diferente.

No caso da Janira, abafaram o caso, mas ela não foi reeleita nem teve destaque na última campanha. Melhor assim. O Psol tb não é perfeito, mas ainda tem menos desculpas a apresentar que o PT."

SILVIO MELGAREJO
"Para mim, a reputação política do Chico Alencar foi destruída. Eu era eleitor dele e hoje o tenho como um homem desonesto.

Ele não tem o direto de desconhecer documentos públicos que provam a inexistência do mensalão.

O PSOL foi fundado em 2004. As denúncias do mensalão foram em 2005, quando o PSOL já existia. Portanto o PSOL não foi criado por causa do mensalão.

Você concorda com a retirada de 40 bilhões de reais anuais da saúde?"

GEYSE
"E quando que esses 40 bilhões foram de fato usados na saúde, gente?"

SILVIO MELGAREJO
"Na discussão sobre a prorrogação da CPMF foi proposta uma cláusula que vinculava o uso da contribuição exclusivamente para a saúde. A direita e o PSOL negaram.

Eu não sei que explicação o Jean Willys deu para o caso do mensalão. 

Eu sei é que li documentos que fazem parte dos autos do processo, que me deram a convicção de que não houve desvio de dinheiro público. 

O Banco do Brasil fez várias auditorias e até hoje não acusou desvio nenhum.

Compra de votos? 

Aonde as provas de que houve? 

Quem recebeu quanto para faze o que? 

E quando? 

Nada disso foi demonstrado. 

O jurista Ives Gandra, que não tem nada de petista, leu o processo todo e disse com todas as letras numa entrevista que não havia prova nenhuma contra José Dirceu. E ainda assim ele foi condenado.

É bom lembrar que Dirceu foi cassado por causa da denúncia de Roberto Jefferson.

Mas Roberto Jefferson foi logo em seguida também cassado.

Sabe porque?

Por ter feito a denúncia contra Dirceu sem apresentar provas.

O PT cometeu um crime que foi assumido desde que houve as denúncias.

O crime foi uso de caixa 2 de campanha, crime eleitoral que o próprio PSOL já cometeu segundo a Janira Rocha, em gravação feita sem o seu conhecimento e que foi amplamente divulgada. 

Nesta gravação Janira trata com dirigentes do Sindsprev/RJ do desvio de dinheiro do sindicato para financiamento das campanhas eleitorais do PSOL. 

Se fosse o PT, isso estaria sendo explorado pela Globo até hoje. Como envolve o PSOL, que tem sido muito útil à Globo, os irmãos Marinho resolveram abafar o caso. 

Mas o que mais me causa repulsa é o cinismo de gente como Chico Alencar, que sabe que não houve mensalão petista, que sabe que seu partido desviou dinheiro de sindicato, e ainda posa de honesto acusando o PT de corrupto.

O PSOL, Geisy, nem precisou chegar ao poder para se corromper. Veja as notícias abaixo:

Parte da verba do Sindsprevi/Rio teria sido usada para fundar PSOL

O QUE TEME A DIREÇÃO NACIONAL DO PSOL? POR QUE PROTEGE JANIRA? 
'Briga no Psol - A direção nacional do Psol cortou o repasse do fundo partidário (dinheiro do governo federal) para o diretório do partido no Rio. Tudo por conta da exclusão de Janira Rocha da propaganda eleitoral na TV. A deputada é acusada de reter parte do salário de funcionários e de desviar dinheiro do SindsPrev para sua campanha.'

Em gravação, Janira Rocha admite desvio de recursos para uso político

O ÁUDIO DA CONFISSÃO

Quer dizer que o PSOL é honesto e o PT é que é o corrupto?

 '... ou fundar o PSOL foi barato?' (Janira Rocha)"

GEYSE
"Silvio, não sei pra que entrar nesse debate contigo agora. Não sou psolista, muito menos petista, não tenho porque defender um ou outro. Falei acima que o Psol não é perfeito, nem nunca foi nem nunca será. O caso da Janira a gente já conhece. Não sei pra que esse seu dossiê agora. Você quer que eu chegue à conclusão de que o PT é melhor? Não vai acontecer, desculpa. Você mudou o rumo da conversa e ficou chato. Fanatismo é sempre chato, por isso não quero ser defensora de partido nenhum. Bem, é isso."

SILVIO MELGAREJO
"Fanatismo é o apego irracional a uma crença. Não é este o meu caso. Defendo posições sempre tomando como premissas fatos que podem ser confirmados de alguma forma por meu interlocutor. Se há algum raciocínio, partindo destes fatos que tomo como premissas, que você considere incorreto, peço que diga. 

Se você não questiona o valor das premissas dos meus raciocínios e chegamos a partir delas a conclusões diferentes, alguém está errado, e eu gostaria imensamente de saber se sou eu para não continuar em erro e para não seguir induzindo outros a erro. 

Não é verdade que eu mudei o rumo da conversa. O tema do seu primeiro post é coerência. É uma tentativa de mostrar aos psolistas críticos do voto em Dilma que isso não é uma incoerência. 

Eu me manifestei inicialmente concordando com esses críticos. E todos os meus demais posts foram respostas a comentários seus tratando o tempo todo do tema da coerência política. 

Recentemente critiquei uma declaração do ex-presidente do PSB, Roberto Amaral, que disse que seu partido tinha traído a própria história ao declarar apoio a Aécio Neves. 

Eu disse que a traição começou com a adesão do PSB ao programa ultra-neoliberal de Marina Silva, que ocorreu com a aprovação dele. 

Ouvi, então, de um petista que 'coerência é para Deus e as crianças'. Eu não concordo. 

Prá mim a coerência continua sendo um dos mais importantes valores da política, porque é ela que indica o grau de compromisso que se tem com os valores, com as causas e com as pessoas.

Eu nunca disse que quero te convencer de que o PT é melhor do que o PSOL. 

Não tenho culpa se meus argumentos te levam a essa conclusão e lamento muito que isso te deixe tão zangada. 

Tão zangada que me acusa injustamente de fanático sem perceber o fanatismo que se expressa nessas suas palavras:

'Você quer que eu chegue à conclusão de que o PT é melhor? Não vai acontecer, desculpa.'

Dizia Alan Kardec que 'Fé inabalável só o é a que pode encarar frente a frente a razão, em todas as épocas da Humanidade'. 

Acredito que isso valha também para a fé política."

GEYSE
"Silvio, já entendi seus argumentos, só não quero me alongar numa discussão pra saber se Psol é melhor que o PT ou se o PT é melhor que o Psol. Coerência é algo em falta no mundo, não quero cobrar isso nem de mim, quanto mais de um partido político, veja bem. É que você fez mil posts falando do Psol e da Janira, mas... e daí??? Você espera que eu chegue a que conclusão com isso? Que o Psol não é perfeito? Isso eu já sei, ora... Podemos finalizar agora?"

SILVIO MELGAREJO
"O PT é muito cobrado. Inclusive pelo PSOL. Você diz, inclusive, aqui mesmo nesta discussão, que o PT deveria agradecer ao PSOL pelas críticas que recebe. Mas não gosta e não admite que o PSOL seja criticado. Enfim...

Não vou te incomodar mais. Meu assunto é política e se você não quer ouvir o que tenho a dizer sobre política acho melhor puxar meu barco. Ler postagens e não poder responder não tem a menor graça. Me sinto censurado e isso não é uma boa.

Atendendo ao seu pedido, podemos finalizar."

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Nota do PSOL é um reconhecimento de que o partido perdeu as bandeiras da defesa do emprego e do salário. Estas bandeiras são hoje do PT.

(Publicado no Facebook)

A posição do PSOL no segundo turno da eleição presidencial é antes de tudo incoerente. Se os governos do PT foram iguais aos governos tucanos, como vivem dizendo, não há porque recomendar expressamente que não se vote em Aécio, ainda mais sob a alegação de que a volta ao poder dos tucanos seria um retrocesso.

Se a volta dos tucanos seria um retrocesso é porque houve avanço durante os governos petistas. Se houve avanço então não foram iguais.

E quais foram esses avanços?

O PSOL, pelo visto, sabe muito bem e considera, tanto que distingue os governos tucanos dos petistas.

Mas, então, por que não reconhece esses avanços e vive repetindo que é tudo a mesma coisa?

Por desonestidade e conveniência política.

O PSOL condena o governo Dilma por ter, segundo a nota divulgada ontem, atuado contra as bandeiras mais destacadas de sua campanha.

Ao relacionar as tais bandeiras, verifica-se a ausência de duas que historicamente sempre constaram da pauta da esquerda brasileira e que hoje, num contexto de crise econômica mundial, são tidas como prioritárias para os partidos de esquerda da maior parte dos países, especialmente da Europa. São elas a luta contra o desemprego e a luta contra o arrocho salarial.

Por que o PSOL não cobra de Dilma medidas contra o desemprego e o arrocho salarial?

Por uma razão muito simples.

Lula e Dilma já tomaram essas medidas, que constituem exatamente a política econômica que os psolistas tanto criticam.

Não teria sentido o PSOL lutar contra o desemprego se o país tem pleno emprego.

Não teria sentido o PSOL lutar contra o arrocho salarial se o salário mínimo teve uma valorização de 70% em 12 anos e se quase todas as categorias de trabalhadores tiveram aumento real de salário, todos os anos deste período.

O PSOL perdeu de fato as bandeiras da defesa do emprego e do salário. Elas são, hoje, efetivamente do PT. A nota divulgada ontem evidencia isso ao deixar de mencioná-las quando enumera as bandeiras de destaque do partido durante a campanha eleitoral.

A verdade é que nem nas mega-manifestações de junho do ano passado as demandas por salário e emprego estiveram presentes, pela indiscutível razão de que os governos petistas, de Lula e Dilma, já as haviam atendido com sucesso, através de uma política econômica que, diga-se de passagem, sempre foi duramente contestada, tanto pelos psolistas, quanto pelos tucanos.

Mas o PSOL não pode reconhecer isso agora, mesmo ante a possibilidade real de um retrocesso. Passaram anos mentindo para seus eleitores e filiados, dizendo que PT era igual a PSDB. A esta altura, os mais atentos e rigorosos com a lógica e coerência dos discursos devem estar aturdidos, tentando decifrar o que seus dirigentes querem dizer com "retrocesso", ao se referirem a uma possível vitória de Aécio. Retrocesso em que, se o PSOL nunca reconheceu avanço nenhum?

A nota do PSOL é quase uma confissão de culpa. O partido implicitamente reconhece que mentiu. Os governos petistas nunca foram iguais aos governos tucanos, ao contrário do que sempre disseram. Houve, sim, avanços importantes para a classe trabalhadora durante os últimos 12 anos, proporcionados sobretudo pela política econômica petista de defesa do emprego e do salário em meio à crise econômica mundial.

O Brasil tirou nesse período mais de 40 milhões de pessoas da miséria, saiu do mapa da fome da ONU e é um campeão de geração de emprego, quando o mundo tem registrado a extinção de milhões de postos de trabalho.

O PSOL despreza isso e tudo mais que foi e tem sido feito pelos governos do PT. Quando vê-se, afinal, ante o risco de o país ser conduzido ao buraco negro da recessão, do desemprego, do arrocho salarial, do corte de direitos sociais e trabalhistas, e da repressão sistemática e brutal aos movimentos sociais, com uma eventual vitória de Aécio Neves, apavora-se e apressa-se em dar um passo tímido em direção à verdade, porque sabe que isso tudo desmentiria a propaganda negativa que tem feito contra o PT, igualando-o ao PSDB.

O PSOL sabe muito bem a diferença entre um governo tucano e um governo petista. Falta, no entanto, honestidade aos seus membros, para reconhecerem essa diferença e coragem para tratarem da real divergência que há entre nós.

Essa divergência reside na diferenciada urgência que damos ao atendimento das demandas populares, na diferenciada avaliação que fazemos da disponibilidade de condições e de meios para atendê-las e na diferenciada avaliação que fazemos da admissibilidade ética do emprego desses meios.

O PSOL, em verdade, gostaria muito, estou certo, de ter realizado o que o PT realizou. Mas não fez nada e, talvez, nunca faça, limitado que é pelo desejo de aparentar sempre pureza. Não se mistura com os maus e desonestos, eleitos pelo povo em grande quantidade, e isola-se, em espera inútil, auto-satisfazendo-se com a própria retórica farisaica. Os fatos desmentem a propaganda que fazem de si mesmos como incorruptíveis. Basta que se lembre do pouco divulgado caso Janira Rocha.

Da lista de bandeiras enumeradas pelo PSOL em sua nota de ontem, nenhuma delas ele teria tido condições de conquistar caso estivesse no governo. Com menos de 1/3 das cadeiras do parlamento, a esquerda não tem poder de realizar tudo que quer. O PSOL, que teve na última legislatura apenas 3 deputados, sabe disso. Mas, desonesta e oportunisticamente cobra dos governos petistas algo que ele próprio não seria capaz de fazer nestas circunstâncias.

Desonesta e oportunista. Não há adjetivos que definam melhor a atitude do PSOL ante os governos petistas. A nota divulgada ontem atesta bem esse caráter do partido de Luciana Genro. Desonesto e oportunista, a despeito de toda defesa retórica da virtude. Os atos, de fato, desmentem seus frágeis compromissos verbais com uma ética superior.

Não passam de fariseus da política, orgulhosos e hipócritas, sempre dispostos a exigir mais dos outros do que de si mesmos, e a apontar erros alheios, reais ou inventados, enquanto ocultam os próprios vícios e desvios. É um partido de gente normal, fraca e imperfeita, que se dedica ao ridículo objetivo de tentar aparentar ser mais e melhor do que é.

O PT não quer aparentar nada. Quer cumprir sua missão de dar uma vida melhor aos trabalhadores brasileiros e acumular força na sociedade e no Estado para conduzir o Brasil ao socialismo democrático.

Silvio Melgarejo

9/10/2014

segunda-feira, 6 de outubro de 2014

Governos petistas, protestos de junho e divisão da esquerda. Comentário sobre texto de Rosana Pinheiro-Machado.

(Comentário postado no Facebook em 6-10-2014, sobre o texto de Rosana Pinheiro-Machado que reproduzo ao fim desta mensagem)

Quem já tem o "pé no barro", não como abastado visitante voluntário da pobreza, mas por imposição da própria vida, sabe que o governo do PT não proporcionou à classe trabalhadora desse país apenas programas sociais. Aliás, muita gente bem informada, que nunca botou o "pé no barro", sabe disso. Pleno emprego, recuperação de 70% do poder de compra do salário mínimo, reajustes, com ganhos reais, todos os anos, para quase todas as categorias de trabalhadores; ampliação de direitos sociais, como no caso dos trabalhadores domésticos; não são programas sociais. São efeitos sociais de uma política econômica que tem como objetivo exatamente a proteção do emprego, do salário e dos direitos sociais dos trabalhadores.

A maioria dos que tem os "pés no barro" por imposição da vida, não sabe que o mundo vive, desde 2008, uma crise econômica devastadora que tem massacrado os trabalhadores de boa parte da Europa, com desemprego, arrocho salarial e cortes de direitos sociais e trabalhistas. E isso, graças à opção que os governos desses países fizeram de enfrentar a tal crise com políticas econômicas chamadas "de austeridade", que só foram e estão sendo austeras com os trabalhadores, poupando de maiores prejuízos a burguesia financeira, causadora da crise.

A maioria dos que têm os "pés no barro" e, pelo visto, muitos dos não têm, não sabe ou não lembra que em 2008, Lula, presidente, foi pressionado pela Globo, pelos partidos da oposição de direita e pelos bancos privados a fazer o mesmo que estavam fazendo os governos da Europa. E Lula não fez. O que ele fez foi exatamente o contrário do que se fez por lá. Reduziu juros, aumentou a oferta de crédito através dos bancos públicos, desonerou impostos em setores da economia que tem capacidade de gerar muito emprego, e ainda foi para a televisão explicar, didaticamente, aos trabalhadores que o emprego e o salário deles dependiam da manutenção da demanda por produtos e serviços e que, por isso, eles não deveriam evitar o consumo, como à época começavam a sugerir colunistas da imprensa neoliberal.

Os efeitos sociais das políticas econômicas aplicadas pelos governos petistas de Lula e Dilma, no Brasil, e pelos governos dos países europeus, durante a crise, evidenciaram-se nas manifestações de rua que os trabalhadores fizeram em 2013, lá e aqui. Na Europa os trabalhadores protestaram contra o desemprego, o arrocho salarial e o corte de direitos sociais e trabalhistas. Aqui no Brasil não se viu uma faixa ou cartaz sequer falando desses temas. Sabe por que? Porque a Europa tem esses problemas; o Brasil, não, embora inserido na mesma economia globalizada que tudo conecta, para o bem e para o mal.

Os protestos de junho de 2013 tiveram uma marca que os distingue de todas as demais manifestações de massas já havidas nesse país, como por exemplo, os mega-comícios pelas eleições diretas, em 1984. Essa marca é o repúdio à política, aos políticos e aos partidos indistintamente, que foram inclusive proibidos de participar. Quem não lembra da recorrente palavra de ordem, mil vezes repetida em grandes coros, "sem partido, sem partido". Uma pesquisa de opinião feita na época entre os manifestantes indicava que a maior parte gostaria de ter como presidente da república Joaquim Barbosa ou Marina Silva, dois vocalizadores notórios do discurso anti-política de então.

Os protestos de junho foram despolitizados porque ignoravam as conexões entre suas demandas e a luta de classes realmente existente no país, seja no cotidiano da sociedade, seja no interior das instituições do Estado. Por isso foram facilmente instrumentalizados pela direita e por isso se esgotaram sem ter alcançado outro saldo político relevante senão a derrubada imediata da aprovação popular ao governo Dilma, a eleição agora de um Congresso ultra conservador de direita, a reeleição de Geraldo Alckmin, em São Paulo no 1º turno; a condução ao 2º turno do candidato a governador de Sérgio Cabral, no Rio; e a possibilidade real de retorno dos tucanos à presidência da república.

Este é o legado político daqueles protestos tão admirados por certa intelectualidade de esquerda, encantada com a quantidade de manifestantes e com as performances teatrais e pirotécnicas dos black blocs. Nenhum destes entusiastas e seus seguidores esquece até hoje de perguntar, vez por outra, "onde está o Amarildo". Mas ninguém lembra nem quer lembrar de Santiago Andrade, o cinegrafista da Band, assassinado por aqueles dois jovens irresponsáveis, embriagados pela emoção de se sentirem heróis ante os olhos da gente mais velha, sabida e importante, que elogiava os seus feitos. Os dois estão agora presos. E os velhos sabichões que lhes cobriam de elogios seguem suas vidas tranquilos, sem dramas conscienciais.

Os governos Lula e Dilma, do PT, tiraram o Brasil do mapa da fome da ONU e elevaram o nível de vida de milhões de brasileiros, não apenas com programas sociais, mas sobretudo com uma política econômica que conseguiu garantir a inclusão social através do emprego formal e da elevação dos salários. Para os petistas isso é motivo de muita alegria e orgulho. Para os psolistas, ao contrário, são feitos irrelevantes, sobre os quais até evitam falar. Críticas ao Bolsa Família e ao Prouni, que centenas de vezes ouvi de militantes do PSOL, na internet, jamais seriam vocalizadas por militantes de um partido com base social popular, como o PT. A base social do PSOL é de classe média. É ou não é? E a classe média não tem os "pés no barro". E nem precisaria ter. Bastaria tentar se imaginar no lugar dos mais pobres e pensar nas suas necessidades mais prementes. Mas nem todo mundo, infelizmente, é capaz de exercitar essa empatia. O PT também tem em sua base muita gente de classe média. Só que a classe média do PT se coloca no lugar dos mais pobres, ao contrário da classe média do PSOL.

O PT nunca abandonou suas bandeiras históricas, mas sabe que não tem força política hoje para realizar todas elas, porque tem a consciência de que a esquerda é minoria na sociedade e no parlamento. Por isso, aproveita as contradições da burguesia e faz alianças com alguns de seus setores e com setores da própria direita, para viabilizar os avanços possíveis dentro do seu projeto de melhorar o padrão de vida dos trabalhadores. O PSOL condena essas alianças táticas que o PT fez e não reconhece os avanços alcançados com elas para o país. Elegeu de fato o PT como seu inimigo principal, e luta contra o PT de forma muito mais aguerrida do que contra o PSDB e o DEM. A verdade é que o PSOL é mais anti-petista do que anti-tucano. Isso só não vê quem não quer. Não foi um ponto fora da curva o apoio do falecido Plínio a José Serra, contra Haddad, na última eleição para prefeito de São Paulo. Plínio foi coerente com a linha ferozmente anti-petista de seu partido.

Os psolistas desejam ardentemente derrotar o PT e fazem de tudo para consegui-lo. Até tirar 40 milhões de reais anuais da saúde, como fizeram, quando ajudaram os tucanos a derrubarem a CPMF, em 2007. É esse o nível dos ataques. E tem muito mais exemplos. A militância petista demorou mas começou a reagir. O PSOL escolheu o seu lado. E hoje um petista não tem razão para considerá-lo um inimigo menos perigo desse grandioso processo de inclusão social que está curso no Brasil, do que a Globo, o PSDB e o DEM, com quem o PSOL tem mantido sempre uma relação de colaboração mútua. O PSOL dando crédito à farsa do Mensalão. A Globo abafando o caso Janira Rocha. Uma mão lavando a outra, cada qual escondendo suas verdades indesejáveis.

Dizer que os protestos de junho de 2013 eram despolitizados é uma opinião com a qual pode-se ou não concordar. Eu sustento o que digo com argumentos cujo valor pode perfeitamente ser questionado. Há pessoas, no entanto, muito arrogantes, que se sentem pessoalmente ofendidas por opiniões e argumentos contrários ao que pensam. Normalmente reagem com grande indignação. Às vezes, até chamam o interlocutor de arrogante - prá não dizer, talvez, outra coisa - e o mandam se aposentar - pensando, quem sabe, em mandar praquele lugar. É um arrogante elegante e educado, que mede as palavras, mas nem por isso menos arrogante e autoritário que os arrogantes grosseiros e mal educados que se encontram aos montes na internet.

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Texto de Rosana Pinheiro-Machado que deu origem a este comentário:
Seis pontos de minha auto-crítica. Completamente desabafo, completamente insano, mas puramente verdadeiro.

1. A esquerda precisa fazer auto-crítica e entender que é minoria neste país. São esquerdas se matando neste país. Mas eu só queria lembrar que somos pequenos.

2. Deleuze não muda o Brasil. Uma visita na periferia muda. Aliás um pé no barro é o precisa muita gente que confunde a eleição do Bolsonaro e Feliciano com as classes médias coxinhas. Erro grave e desconectado. O preconceito e o fanatismo religioso estão em todas as classes, as quais reproduzem o pior de nosso passado: um ideário de modernidade baseado no distinção com raízes bem oligárquicas e escravagistas. E muita coisa mais.

3. Uma parte do PT (veja bem, uma parte) tem que parar de acusar o PSOL e as Jornadas de Junho (coisas bem diferentes, é verdade) de jogar para direita e a aceitar que existem muitas esquerdas - anarquistas, psolistas e até a deleuziana - e isso tende a crescer. É preciso olhar para seus próprios erros de trajetória, o abandono de algumas de suas bandeiras históricas e as alianças indesejadas pelo governo. Além de ser uma acusação desprovida de qualquer auto-crítica, ela é injusta. Afinal, a grande maioria dessas esquerdas plurais irá apoiar a Dilma no segundo turno por razões óbvias. E essa esquerda plural também apoia o programa social do PT, mas entende que ele não é tudo. E isso é um direito que quem está a esquerda.

4. Eu vivo repetindo, em diversos fóruns, que houve uma guinada à direita pós-junho. É bastante natural, na verdade, frente a uma esquerda desunida, que a direita ganhe espaço com seu poderio dos meios de comunicação. Ou todo mundo esqueceu que a Veja tem 5 milhões de likes no Facebook? Todo mundo esqueceu que uma parte imensa da população achou graça do negro menor de idade amarrado do poste?

5. Eu também vivo repetindo que é preciso que a esquerda coloque mais o pé no barro. Eu ando um pouco intolerante com palavras bonitas e delírios desconectados da realidade. Mas o pé no barro não significa falar com a militância: significa falar com quem não está identificado com nenhum partido, nem a esquerda nem à direita. Ampliar nossa base de diálogo. Ocupar os meios de comunicação disponíveis e parar de ter sentimentos desprezíveis por aqueles que fazem isso. Ser menos mesquinho em nossas próprias feridas e parar de odiar a classe média. Afinal, milhões de batalhadores do Brasil provavelmente votaram na Dilma porque estão satisfeitos com os programas socais (estes que eu defendo e admiro tanto e reconheço o grande trabalho do PT) mas também recebem informações da igreja e de grupos sectários, sexistas, racistas e homofóbicos e por aí vai.

6. Eu não pertenço à esquerda que acha que Junho foi a melhor coisa do mundo, mas também não pertenço àquela que despreza as Jornadas que tem a arrogância de dizer que elas foram despolitizadas. Para os que acham que junho foi "tudo" sugiro um dia na periferia, especialmente entre aqueles que não tiveram dinheiro para descer o morro e pegar um ônibus. Para os que acham que Junho e despolitização andam de mãos dadas, sugiro a aposentadoria.

Nós precisamos, eu repito, falar com a população que ainda é dialogável e chamá-la de coxinha não vai ajudar (eu disse, auto-crítica)

domingo, 5 de outubro de 2014

Estratégia e tática na luta pela saúde pública. Programa Mais Especialidades. Diálogo com Carlos Ocké.

No dia 3/10/2014, o companheiro Carlos Ocké, do 1º Diretório Zonal, postou o seguinte comentário no Facebook:
"SAUDE NÃO RIMA COM LUCRO - Desculpa, companheirada, mas que porra é essa de se defender a "articulação" da rede pública e privada de saúde na oferta de consultas especializadas em pleno jornal nacional? Dilma continua mal assessorada nesta área: o setor privado parasita e concorre com o SUS, em especial na média complexidade. Chega de subsídios destinados ao mercado e vamos ampliar os recursos públicos como o governo federal já vem fazendo!"
No dia seguinte, 4, respondi-lhe:
"O que a Dilma tem dito é que, a curto prazo, não há a menor possibilidade de se atender à demanda da população por médicos especialistas só com o SUS, que até para garantir clínicos gerais está tendo enorme dificuldade. 

O que temos é um fato. A população precisa de médicos especialistas para ontem. 

Temos estes médicos especialistas hoje no SUS? 

Segundo a Dilma, não. 

É possível contratá-los, mediante concurso público, em curtíssimo prazo e em número suficiente para atender à demanda existente? 

Segundo a Dilma, também não. 

Então, o que faz o governo? 

Manda a população esperar?

Não acho recomendável. Seria humanamente injusto e politicamente desastroso. 

O governo federal tem obrigação de prover atendimento médico nas diversas especialidades. Mas só pode fazê-lo com os médicos que existem e de acordo com as condições estabelecidas por estes médicos para prestarem seus serviços.

Saúde é direito? Acredito que sim e a constituição brasileira o reconhece. 

Saúde é mercadoria? Acredito que não deveria ser. Mas é, de fato e direito, uma mercadoria, na medida em que a constituição brasileira a reconhece como tal. Mudar isso, não depende da presidenta, depende de uma mudança na Constituição que tem que ser feita pelo Congresso. 
Agora, você imagine a guerra que não ia ser nesse país abolir a medicina privada e estatizar tudo. 

Se o Mais Médicos provocou aquela comoção toda das entidades de classe dos médicos, imagine o tamanho da reação caso o Congresso decidisse impedir que eles tivessem seus próprios consultórios. 

Como muitos destes médicos têm um pé no SUS e outro em clínicas particulares, é previsível que o próprio atendimento no SUS, pudesse ser comprometidos por ações de resistência da categoria.

Dilma eleita terá que dar respostas rápidas e efetivas ao problema da saúde dos brasileiros. 

E tem que dar essas respostas dentro dos marcos legais e constitucionais vigentes, sem deixar de considerar as circunstâncias políticas, e de acordo com a disponibilidade de recursos humanos e materiais.

Consideradas hoje, estas condições exigem a articulação do SUS com a estrutura de saúde do setor privado. Sem isso, não será possível, a curto prazo, atender à necessidade da população por mais médicos especialistas.

Acho, portanto, Carlos Ocké, que Dilma neste ponto está sendo absolutamente racional e realista. Ela e os que a assessoram nesta área.

Não é justo fazer os trabalhadores esperarem mais por algo a que têm direito. Eles têm que ter os médicos especialistas de que precisam JÁ e não daqui a 5 ou 10 anos. Que a Dilma faça, do modo possível, o que for preciso para lhes garantir esse direito.

Um abraço, companheiro."
Ocké retrucou:
"Não foi que ela disse Silvio"
Redargui:
"Não me referi a essa entrevista que você viu. Falo do que tenho ouvido dela ao longo da campanha.

Não assisti à entrevista. Li apenas este trecho aqui:

'Durante a minha campanha eu lancei o programa Mais Especialidades, esse programa reconhece um fato, de que há uma grande demora para marcar consultas. Vamos articular o sistema público com o sistema privado de saúde.'"
              Fonte:
              Dilma fala pouco e diz que já garantiu 'um minuto' na TV
Ocké respondeu:
"Esta errado Silvio, essa é minha opinião companheiro."
Eu disse:
"Não entendi."
Ocké:
"Nem vai entender aqui e agora compa, o mais especialidade deve ser estrategicamente um programa público, de relegitimização do SUS diante da nossa base social, conversamos depois, agora é hora de descer para o Rio fazer campanha, obrigado pela sua sempre honesta e exigente participação, abs"
Em resposta, postei o seguinte texto:
"Não vai haver possibilidade de implementar estratégia nenhuma se nossa base social nos retirar o seu apoio, companheiro Carlos Ocké.

E isso acontecerá se, a curto prazo, o governo Dilma não der respostas consistentes à demanda dessa base por saúde. 

'Quem tem fome, tem pressa', dizia o Betinho. Quem tem doença, também, digo eu, e é o óbvio.

E digo mais. Ai da organização que só tiver olhos para a estratégia, descuidando da tática. Porque é a tática que realiza a estratégia. 

Enquanto a estratégia persegue um ideal, que é o objetivo principal da organização, a tática visa um objetivo urgente e possível determinado pelas circunstâncias reais.

O tempo da estratégia é, portanto, inevitavelmente diferente do tempo da tática. 

No trato da questão da saúde pública, num contexto de acentuadas carências, como este que temos no Brasil, não basta ter visão estratégica, tem que ter sentido de urgência. Ter claros os objetivos principais mas não deixar de estabelecer e perseguir os objetivos intermediários e imediatos que permitirão que eles sejam alcançados no longo prazo.

É preciso também ter cuidado para não cair no exagero de defender o SUS e esquecer a vida e a saúde dos trabalhadores. O SUS não é fim, é meio. Fim é a vida e a saúde do povo. 

As pessoas doentes não podem esperar mais pela 'cura' do SUS para serem tratadas. Elas estão morrendo à míngua hoje sem qualquer cuidado. 

Não é possível que se despreze essas vidas e se admita o prolongamento de tanta dor e padecimento por conta de um projeto que não tem condições de ser realizado a tempo de salvá-las. 

É preciso fazer algo JÁ para socorrer efetivamente quem precisa de cuidados médicos. 

Se o SUS, como meio, não está ainda apto a responder a essa exigência ética, constitucional, social e política, o governo Dilma tem a obrigação de providenciar outros meios, estejam eles onde estiverem e custem o custarem. 

Trata-se de salvar vidas e aliviar dores. Adiar providências, neste caso, é continuar a tortura e a matança de gente indefesa que depende do Estado e não tem mais a quem recorrer.

Sem avaliar corretamente as circunstâncias e identificar o que precisa ser atacado com urgência, a cada momento, não há estratégia que se realize a contento.

Um abraço, companheiro."

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

A banqueira banca e comanda a "ex-Marina".

Flagrantes estranhos num veloriomício.



Marina Silva: A nova face da velha direita NEOLIBERAL.

Economista de Marina convenceu Collor a confiscar poupança de milhões de brasileiros.



Quem é o economista de Marina Silva, André Lara Resende


"Em entrevista a Globo News em 2012, no Dossiê GloboNews, o ex-presidente Fernando Collor de Melo afirma que André foi um dos que defendeu o confisco das poupanças, pois indicava que com a elevada liquidez do mercado financeiro brasileiro, a solução técnica era adequada apesar de politicamente ser considerada 'impossível'." (Wikipédia)


Assista o vídeo